quarta-feira, novembro 25, 2015

O novo governo

Começo por uma constatação que me parece uma evidência: este governo é incomparavelmente melhor do que aqueles que existiram desde 2011. O perfil técnico e político das figuras escolhidas por António Costa é de grande qualidade, seguindo aliás aquilo que o PS costuma fazer nos inícios de ciclo, isto é, juntar figuras independentes e com prestigiado perfil académico com fortes e experimentados quadros políticos. 

António Costa começa muito bem. Escolhe uma equipa relativamente jovem, colocando na sensível área económica nomes com grande credibilidade, que os mercados acolherão, com toda a certeza, com total confiança. Ninguém poderá dizer que este é um governo "esquerdista" e nenhum dos nomes apresentados pode sugerir que o primeiro-ministro fez, na escolha da sua equipa, qualquer concessão aos seus apoiantes da "esquerda da esquerda". Noto que os nomes-surpresa nas quatro pastas de soberania (aquilo a que os franceses chamam as pastas "régaliennes": Justiça, Administração Interna, Defesa e Negócios Estrangeiros) são, sem exceção, figuras de elevada e indiscutível qualificação, que dão fortes garantias.

Uma nota particular sobre os Negócios Estrangeiros. Como quem me conhece sabe desde há muito, considero que ter diplomatas à frente das Necessidades, independentemente da sua qualidade profissional e sensibilidade política, não é necessariamente uma boa ideia. O MNE sempre ganhou, em termos da sua força relativa no seio do governo, quando foi titulado por personalidades com peso político próprio. E isso é o que acontece com Augusto Santos Silva.

O novo ministro não é apenas um intelectual prestigiado e com elevada qualificação académica. Estamos perante aquele que é o mais experiente membro do governo, que dispõe do mais competo currículo ministerial, pela diversidade dos cargos exercidos (Educação, Cultura, Assuntos Parlamentares, Defesa). Em especial, noto que, na Defesa, uma pasta delicadíssima, Augusto Santos Silva desenvolveu um trabalho notável, claramente reconhecido pelas Forças Armadas.

A política externa portuguesa fica excelentemente servida com o nome escolhido por António Costa para a dirigir e Augusto Santos Silva vai rapidamente dar-se conta de que terá à sua disposição um dos mais qualificados, dedicados e leais corpos profissionais da nossa Administração Pública.

14 comentários:

disse...

"este governo é incomparavelmente melhor do que aqueles que existiram desde 2011"

Oh Senhor Embaixador! Um bocadinho menos de parcialidade também lhe ficava bem. Tenha paciência. Pelo menos concretizava... Então quem são os ministros do governo de PPC cujo CV lhe inspirava inquietações?

Para que não haja dúvidas comparemos então os CVs (já que aparentemente estamos tão melhor servidos).

Finanças: Víctor Gaspar quando foi para o governo tinha já sido director do departamento de research do BCE, professor associado na católica, e era, à data, director do BdP. Mário Centeno é... um quadro do BdP (special advisor of the board).

Saúde: Paulo Macedo dispensa apresentações. Foi um excepcional director da DGCI. Tem enorme experiência na banca comercial e em sistemas de saúde privados. Alberto Campos Fernandes é... um gestor hospitalar nomeado por um anterior governo socialista.

Educação e ciência: Nuno Crato além de ser cientista, divulgador de ciência e um pensador das questões da pedagogia, foi pro-reitor da UTL e exerceu um sem número de funções administrativas na orgânica do ISEG. Tiago João Rodrigues era antes do convite de António Costa... um jovem investigador em Cambridge sem experiência em cargos de gestão universitária e/ou cientifica.

Administração Interna: Anabela Rodrigues é professora catedrática na FD da UC. Constança Urbano lecciona no ICPSI. Ou seja, ensina Direito aos futuros polícias.

E no âmbito da cultura, nem vou tentar comparar Francisco José Viegas com João Soares. Como diriam os brasileiros, me poupe! (já se fala da cultura gastronómica... mas acho que nem aí).

Eu podia prosseguir mas não vale a pena. Honestamente, este governo até me parece bastante razoável, mas isso não serve de desculpa para criticar gratuitamente o CV das pessoas que escolheram servir o país no governo anterior. Até porque é evidente que uma grande parte o fez com grande sacrifício pessoal e unicamente por devoção à causa pública. Estou a pensar particularmente em Vítor Gaspar, Anabela Rodrigues, Paula Teixeira da Cruz, Nuno Crato, Francisco José Viegas, e Miguel Poiares Maduro.

Fátima Diogo disse...

Embaixador, comungo desta sua visão: não conheço os perfis como o senhor, mas os que conheço são magníficos - Augusto Santos Silva, para além de tudo o que disse, é o brilhante autor de estudos de Sociologia que admiro, sua área intelectual de eleição. Um intelectual admirável e único no mundo político português.
E quanto a Costa, embora tivesse já boa ideia dele, nunca esperei tanto : que comportamento excelente tem tido, de um nível que pensei já não existisse no mundo político português - não há nada que eu goste mais de ver do que a inteligência em acção.
Enfim satisfeita com o país, eu.

Unknown disse...

O governo é sem dúvida melhor do que o anterior. Este passou à história ( com h pequeno ) mas não completamente. Ainda teremos que passar 105 dias com o chefe da ex-maioria, o futuro ex-locatário de Belém. Como se mete o Natal e o Carnaval pelo meio, deve custar menos a passar. Mas contemos com todas as tentativas de estorvar. Aquele homem é comprovadamente capaz de grandes e más surpresas.

António Azevedo disse...

Prognósticos só depois do jogo.
Pesava eu que ontem também seriam favas contadas…
antónio pa

aamgvieira disse...

Que pensa da Cultura?......

AV disse...

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Há escolhas muito fortes (e.g., Vieira da Silva, no Trabalho e Segurança Social), outras que não se compreendem bem (e.g., Brandão Rodrigues na Educação - simpático, mediático, mas ...um research associate muito novo numa Universidade inglesa, sem experiência de gestão académica). Enfim, bom vento e boa sorte para todos, a bem do País.

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Ó zé, poupe-nos.

Apesar da juventude de alguns estreantes, parece-me estarmos diante de um governo experiente e sólido. Há um "senão" na pasta da Justiça. É ser magistrada. Há três ministérios com fortes tendências corporativas que se agravam quando o ministro é oriundo da corporação: Justiça, Saúde e Defesa. A ver vamos. Quanto à cultura, João Soares não é um nome que suscite a simpatia do sector, mas não sendo homem da cultura é um homem de cultura, dinâmico, como se viu quando liderou a Câmara de Lisboa, e de diálogo sem que fuja, antes pelo contrário, das decisões. Santos Silva é um nome forte e uma grande escolha de António Costa, com a particularidade, que me dá um especial gozo, de irritar uma certa direita. Irá ter uma marcação cerrada por parte da TVI do Sérgio Figueiredo. Temos governo.

Joaquim de Freitas disse...

Não farei comentários sobre as personalidades deste governo, nem ...do precedente. Por uma razão simples : não conheço nenhuma.

Mas analiso a "performance" do governo anterior. Pelo que vi, nalgumas viagens a Portugal estes últimos quatro anos e pelo que li e ouvi sobre o dia a dia dos Portugueses. Recordo as promessas, vejo os resultados, analiso o balanço no momento da mudança de "gerência"!
Tenho pena dos Portugueses, da pequena classe média e dos trabalhadores.

Metade das famílias portuguesas com filhos menores sobrevive com menos de mil euros por mês e 18% não consegue pagar a prestação da casa e as contas da água, luz e gás.

Só isto chega para classificar o governo precedente. Mas quando penso na hemorragia da juventude, na perda da soberania, no leilão do património, na corrupção generalizada, então digo que, como se diz nos casos de falência das sociedades comerciais, "quando os números não são bons, deve mudar-se os autores dos números = a gerência"

Portugal continua na cauda da Europa... e não está melhor que quando o deixei há 50 anos!

Faço votos que outros homens, com outras ideias, e, espero com outra ética e outras ambições nacionais, faça melhor. Em princípio, quando se começa pelo fundo, melhorar deve ser fácil..

aamgvieira disse...

Uma medida essencial:serviço militar obrigório.

Em França está a caminho.

ARPires disse...

"...grande parte o fez com grande sacrifício pessoal e unicamente por devoção à causa pública. Estou a pensar particularmente em Vítor Gaspar"

Oh ZÉ com esta é que eu fiquei quase em estado de choque!...

Este senhor foi tão sacrificado, tão sacrificado que depois de tanto sacrifício foi chamada para a sede do FMI, a ganhar uma PIPA de massa para compensar taaaaaaaaaaanto sacrifício.

Há gente que mesmo perante as evidências não consegue mesmo enxergar um palmo à frente dos olhos, tal a cegueira e a lavagem que lhe fizeram ao cérebro.

Maxmilianno disse...

De ilusão também se vive.

disse...

Ó ARPires, o Vítor Gaspar já tinha LIDERADO o departamento de research do BANCO CENTRAL EUROPEU antes de ir para o governo. Está a compreender? LIDERADO o departamento de investigação da MAIOR instituição financeira na UE. Outra vez: LIDERADO o departamento de investigação da MAIOR instituição financeira a nível EUROPEU. Já conseguiu perceber a ideia? Acha que uma pessoa com este CV precisa de ir para ministro para arranjar uma posição num sítio qualquer? Tenha juízo.

E já agora, diga-me lá se não é mais confortável chefiar o departamento de estatística do BdP, onde ninguém o chateia, e ganhar um chorudo salário, ou ir para ministro e ter de lidar com os problemas de um estado sem dinheiro e com uma data de fanáticos que só sabem papaguear meias verdades acriticamente (sem olhar para dados, contextos, ou alternativas).

ARPires disse...

Oh Zé o que defende já deu bem para entender, não precisa de se justificar...
O vitinho largou um tacho dos grandes para se meter dentro do pote e quando viu que as teorias não se ajustavam à realidade deu de frosques.
Deixou-nos com uma brutal carga de impostos, não resolveu nada nem coisa nenhuma,agravou pelos visto para seu consolo e piiirouuuu-se...
Depois temos os Zés que com todo o juízo defendem o indefensável, mas problema seu...
Esta é a minha opinião sobre a personagem, as suas considerações sobre a mesma pessoa ficam consigo, porque eu as dispenso.
Se lhe for possível seja feliz.

disse...

Enfim, já percebi que desta discussão não sairá nada. Pela minha parte, prefiro ser governado por pessoas bem preparadas, realistas e pragmáticas, que recusem deixar às gerações futuras e aos jovens de hoje a responsabilidade de pagar o estilo de vida de uma determinada classe que se habituou à protecção do estado (independentemente das crises que o país atravessa). Comigo não contam para financiar esta fratura social. Sorry. Vivo em Londres, tenho acesso a serviços públicos de qualidade e pago impostos que considero justos. As minhas poupanças também estão cá, de modo que, pessoalmente, o sistema financeiro português e o governo do estado interessam-me pouco. Mas não consigo deixar de achar triste que a esquerda não perceba que o que empurra os jovens para fora do país não são cortes em salários e pensões superiores a 1500 euros. O que nos empurra para o estrangeiro são os salários de 600 euros no sector privado, quando se encontramos, por exemplo em Londres, empregos a ganhar o triplo ou o quádruplo. Nestas condições, quem é que vai continuar a financiar o status quo? O último a sair que feche a porta.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...