segunda-feira, novembro 09, 2015

O "vigésimo" premiado

As ilusões com que se procura "enganar o parceiro", nos dias que correm, são muito mais sofisticadas do que eram no passado. Aos incautos que, da província, vinham a Lisboa, acontecia, por vezes, serem ludibriados por espertalhões que lhes tentavam "vender gato por lebre".

Um dos truques mais conhecidos era o do "vigésimo premiado". Em que consistia? Alguém se aproximava de uma potencial vítima e dizia estar num embaraço: ia partir dentro de minutos num barco para África ou para o Brasil e não tivera tempo de ir trocar uma cautela de lotaria que comprara dias antes e que tinha nesse dia sido premiada. Em apoio do que afirmava, mostrava a lista da Santa Casa (provavelmente relativa a uma outra semana) que "provava" o "valor" desse talão - geralmente o chamado "vigésimo", correspondente a 1/20 de um bilhete completo. O que era então proposto ao incauto? Que ficasse com o "vigésimo", que logo que trocado lhe garantiria uma boa maquia, e que adiantasse ao apressado viajante "apenas" uma compensação financeira razoável - geralmente todo o dinheiro que o inocente trazia consigo. Este, convencido de que fazia um ótimo negócio, era desembolsado e ficava na mão com o "vigésimo", que, afinal, quando chegasse à casa de câmbios, verificaria que nada valia.

O truque do "vigésimo premiado" já tem barbas mas, às vezes, ainda há quem caia nele. Mas também há quem perceba que o "vigésimo" afinal, não vale nada e não o aceite. Cada vez há menos inocentes, embora esses, às vezes, ainda continuem a jogar na lotaria. É que a miragem da "sorte grande" é sempre muito atrativa.

(em tempo: a subtileza é uma arte que eu não domino)

3 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Eu sou desse tempo! E muito popular a vigarice do vigésimo premiado, à volta da estação de S.Bento, no Porto. Na próximidade a Casa da Sorte.
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Dos lados da linha da Régua chegavam pessoas, simples, que vinham ao Porto vender ou comprar umas coisitas. No átrio da estação de S.Bento movimentavam-se os maozinhas leves, não-violentos, à espera dos incautos.
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Normalmente trabalhavam por equipas. Seguiam o “pândego” estudavam-no e encenada a vigarice do vigésimo premiado. O sistema sempre o mesmo: “ó tio tenho este bilhete da lotaria premiado com 50 contos, mas preciso, antes do cambiar do empréstimo de 500 q.uinhentos escudos. Confio em si... Favor não saia daqui...”

Porém o incauto depois de passar os 500 “palhaços”, dizia para seus botões: o bilhete tem 50 contos de prémio, o dono levou-me 500 escudos, porque vou esperar por ele?
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Dirigia-se aos balcões da Casa da Sorte e o vigésimo branco como a cal!
O Jornal de Notícias o mais lido pelos tripeiros noticiava estas e outras vigarices, só que os caídos na armadilha do vigésimo premiado não sabiam ler.
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Era eu, na altura, marçano de uma queijaria da Rua Loureiro e do lado oposto da estação de S.Bento e o centro do vigarismo, popular, não-violento da década 40 do século passado.
Saudações de Bangkok

Majo disse...

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~~ Agora
as armadilhas são «muito mais sofisticadas»...

~~ Boa reflexão para os dias que correm...
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aamgvieira disse...

António Costa voltou a dizer ontem, no Parlamento, que o acordo das esquerdas "derrubou um muro", ou qualquer coisa assim. Alguém devia explicar-lhe que o outro Muro caiu para tirar os comunistas do governo e não para os levar para lá.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...