domingo, novembro 29, 2015

O cromo


Na minha infância, havia muitas coleções de cromos, uns que vinham com revistas, outros com chocolates ou rebuçados, outros em pequenos envelopes que se adquiriam nas tabacarias. Comprava-se as cadernetas e iam-se colando, desde os jogadores de futebol às raças humanas, passando por detetives e escritores de ficção policial, entre muitos outros. Quando as coleções se aproximavam do fim, as coisas fiavam mais fino. A probabilidade de nos surgirem os cromos em falta ia diminuindo e entrava-se então nas trocas com os que sobravam aos outros, às vezes tendo de mercadear um "custoso" por vários exemplares que tínhamos repetidos. Não sei onde param as minhas cadernetas de infância, mas as bolandas das casas em que os meus pais viveram faz-me pensar que devem ter ido desta para melhor. 

Porque é que me lembro disto agora? Porque, ao ler na net um jornal lisboeta de hoje, verifico que, finalmente, um certo cromo, dos que me faltava na minha galeria de adversários políticos, finalmente me arremessa uma farpa, num seu artigo semanal. Já tinha quase todos na minha "coleção" particular (se o leitor deteta algum gozo no que ora escrevo, tem alguma razão para isso) mas este nunca mais aparecia. Pronto, quebrou-se hoje o enguiço, ufh!

Por que fui atacado? Aparentemente por eu ter lançado, noutro espaço informático, a ideia (pelos vistos tenebrosa e atentatória das liberdades) de que deveria acabar-se em absoluto com o anonimato na internet. Essa proposta "radical" de propor que quem faz uma afirmação ponha o seu nome real por baixo, sem refúgio em pseudónimos ou iniciais equívocas, é, pelos vistos, altamente sinistra. Cá para mim, quem não deve não teme - embora imagine que seja muito "corajoso" e cómodo insultar e caluniar os outros, sem mostrar a cara. 

Vá lá que o cromo assina todos os artigos, o que só lhe fica bem.

5 comentários:

Maria disse...

Bom Dia (Chuvoso)

Essa dos cromos tem que se diga. Deixo-lhe aqui uma dica: Aparentemente apareceram agora novos cromos -GUERRA DAS ESTRELAS -. Um dos meus filhos e o meu neto ja tem as frepectivas cadernetas e como no nosso tempo da para a troca! E "Star Wars" da pano para mangas no real e no metaforico Ai ai


Bom domingo

F. Crabtree

Majo disse...

~~~
~ Fez muito bem, caro Embaixador. Concordo consigo.

~ Quer se trate se trate de pusilanimidade ou falta

de verticalidade, as intervenções anónimas - verbais

ou escritas - continuam com a mesma merecida conotação

abjeta, facto imprescindível a uma sadia liberdade de

expressão.


~ É confortante verificar

como os apreciadores das suas interessantes crónicas

estão mais participativos, fazendo deste espaço um

interessante pólo de convívio e troca de ideias.
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Unknown disse...

Sempre achei uma questão sem sentido: escreve como jose francisco ou anonimo muda o quê?
Quem tem o dever de fazer a triagem é o leitor; querer inventar lapis azuis é que me parece uma ideia que não se pode prever onde vai parar. Cada um assume as suas responsabilidades e faz com o que lê o que bem entende; não precisa dum paizinho que decide o que se pode ou não ler.
Não somos todos charlie nem é saudável que sejamos; o macrathismo anglosaxonico levou a criar sociedades assustadoras, que quem possa pode e deve conferir, nunca claro em redomas protegidas onde as regras são diferentes

António Azevedo disse...

Há anónimos (alguns) que têm coisas importantes a dizer! E toda a gente sabe o que são insultos.
Mas há sempre quem goste da coscuvilhice!
Até já disseram aqui que os anónimos não têm tomates. Como sabem?

O quê que acham do braço no ar?

antónio pa

José Corvo disse...

Toda a vida vivi camuflado. Nunca me revelei inteiramente. Sempre entrei no emprego às 9 e saí às 18. Sempre fui contra o patrão que fingia servir. Antes do 25 de Abril éramos mais criativo com a PIDE sempre no horizonte mas não se pense que um proletário passou a ter mais liberdade com o 25 de Abril. Quando um patrão descobre que o trabalhador é comunista instala-se uma guerra surda. Não há igualdade. O Patrão não ganha só o que menciona para a Segurança Social. Ele dispõe do dinheiro da empresa e não passa fome e por isso ele dispõe da vida do trabalhador, isto é, do pão, da saúde, da habitação do trabalhador. Acabar em absoluto com o anonimato é impossível, nem na internet, nem em lado nenhum. O perigo espreita por detrás de cada vírgula. Em Portugal 99% dos patrões são pequenos e médios empresários que não têm ética empresarial. Eu também gostava de ter estudado, andar no Liceu, ser doutor e embaixador para poder falar à vontade, mas não. Enquanto eu passava 9 a 10 horas no trabalho certos corajosos andavam a estudar e a fazer carreira.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...