sábado, novembro 28, 2015

Os novos camaradas

Estava-se em outubro de 1995. O Partido Socialista ia constituir um governo minoritário, chefiado por António Guterres. O Palácio das Necessidades fervilhava de agitação. Quem seria o ministro? Quem seriam os secretários de Estado? Que mudanças iriam ocorrer? Alguns postos seriam "mexidos", fruto da nova onda política? Haveria "saneamentos", depois de uma década de cavaquismo?

Era não conhecer o PS, era não entender que a história da gestão da máquina diplomática pelos socialistas, desde os tempos de Mário Soares em 1974, se pautou sempre pelo privilégio do mérito profissional, nunca optou por práticas sectárias de promoção e benefício da "sua gente". As opções ideológicas de cada um, legítimas e naturais (os diplomatas não são eunucos políticos, como eu repito há anos), não são levadas em conta na generalidade das colocações. Nesse ano, e nos seguintes, Jaime Gama daria aliás prova concreta do rigor dessa orientação. Como seu secretário de Estado por cerca de cinco anos e meio, fui disso testemunha privilegiada.

Um determinado diplomata, de categoria profissional média, homem conservador, que tinha gozado de uma boa carreira no consulado cavaquista, andava contudo ansioso por se colar ao novo poder, convencido que disso poderia vir beneficiar no futuro. O medo leva ao oportunismo e este é um espelho do caráter.

Poucos dias depois dessas eleições de 1 de outubro de 1995, numa escada do palácio das Necessidades, o tal diplomata encontra um colega que era conhecido como socialista, creio mesmo que militante do PS. Com a cordialidade que era habitual entre eles, mas com uma pretendida "camaradagem", o diplomata lança, ao ouvido do colega socialista, esta pérola, em linguarejar que ele achava adequadamente popularucho: "Os gajos estão à rasca com a nossa vitória!" O diplomata socialista fez uma cara de espanto, sem saber o que dizer, mas o outro lá partiu, feliz e contente, "mensagem" transmitida. E, vá lá!, não lhe correu mal a vida...

6 comentários:

opjj disse...

Caro Dr. Seixas da Costa, seja um pouco menos tendencioso. O cartão do PS sempre foi um passaporte para tudo. Eu tive amigos socialistas que me contavam como as admissões eram feitas. Sabiam as perguntas e as respostas.EU SOFRI na carne por não ter militância com qq partido. Veja o nº de funcionários públicos antes e depois de Mário Soares.
Apesar de não concordar muitas vezes consigo, aprecio o seu combate, o seu trabalho e até a sua inteligência.Não exagere, p.f.
Cumps.

António Azevedo disse...

No dia a seguir às eleições aqui na avenida é facílimo assistir a alguém dar umas palmadinhas nas costas de outro e exclamar: Então lá ganhámos!
Qualquer que seja o vencedor, diga-se. Há muito mais igualdade no interior...

antónio pa

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro opjj. Esta minha coluna está aberta para a denúncia de casos em que, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no tocante a diplomatas de carreira - foi só de isso que eu falei, não sei se notou - tenha havido declarados benefícios por via de proximidade política. Pode crer que o PS, nesta área e nessa categoria profissional, é um jardim de infância se comparado com outros partidos. E também em matéria de "saneamentos", e sei bem do que falo, como saberá!

Maxmilianno disse...

A argentina se livrou dos socialistas, o Brasil está acabado e a caminho, Venezuela que sumir do mapa com a ditadura bolivariana, aos poucos a América esta se livrando dessa praga que se chama socialismo de esquerda, de centro ou de direita. Vai fundo Portugal, vão ver o que é bom para tosse.kof, kof,kof...

aamgvieira disse...

Força camaradas! é só reverter.....

aamgvieira disse...

Concordo com os camaradas, o salário mínimo devia se 1000 euros/mês e o Estado ser patrão único, assim evitam-se os impostos sobre o povo.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...