sexta-feira, novembro 06, 2015

Olhe que não?


Foi há 40 anos. .

O país estava dividido ao meio.

          (nessa altura, o risco de guerra civil existia realmente. Nos dias que correm, as trincheiras são de retórica).

O governo também era "provisório".

          (mas era de outro tipo: tinha até comunistas, imaginem!).

Os sindicatos também rodearam o palácio de S. Bento

          (agora, lamentavelmente, também vão rodear, embora, desta vez, pacificamente, valha-nos isso, apenas para poderem dizer, para dentro do parlamento, com voz grossa, "também estamos aqui").

Mário Soares e Álvaro Cunhal enfrentaram-se então, a 6 de novembro desse ano memorável de 1975, num debate televisivo, moderado por José Carlos Megre (que é feito de ti?) e Joaquim Letria que parou o país.

         (hoje, um debate entre António Costa e Jerónimo de Sousa, além de impensável, teria a agressividade de um jogo entre-solteiros-e-casados).

Dessa conversa histórica, ficou o jocoso, "Olhe que não, olhe que não!", com que Cunhal afastava, sorridente, as acusações de deriva ditatorial que Soares lhe fazia. Menos de três semanas depois, parte do país político-militar anularia o aventureirismo da outra parte. E assim se caminharia para a democracia ("burguesa", claro, como Cunhal não gostava mas que, como Churchill disse, é "a pior forma de de governo, com exceção de todas as outras"). A mesma democracia ("burguesa", não é?) que hoje permite que o PCP possa ser chamado a ser parte da solução (I cross my fingers), se bem que, há já muito, tivesse deixado de ser parte do problema.

Será que António Costa já perguntou abertamente a Jerónimo de Sousa se o PCP vai, um destes dias, romper o acordo? E será que este lhe respondeu: "Olhe que não, olhe que não!"?

(Para quem tiver vontade de ver o debate, ele aqui fica. Quem quiser ouvir apenas uma síntese que, quase no final tem a "boutade" histórica de Cunhal, aqui está ela)

10 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Vale mais uma hora primeiro-ministro que uma vida presidente da câmara!
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António Costa para atingir sua ambição, claramente, fazia acordos com deus, os anjos, o diabo e fê-los. Difícil vacticinar o tempo que os acordos vão durar e se terminam à “batatada”.
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O Partido Comunista vai continuar, politicamente, um insatisfeito e a puxar a brasa à sardinha para os camaradas, cujo vergar a espinha não é com eles.
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Quanto ao debate de Mário Soares e Álvaro Cunhal é uma felicidade para aqueles desse tempo que pelo mundo seguem vivos para a análise de que em 4 décadas os políticos não se combinaram e “fora da barra nada se avista!”
Saudações de Banguecoque

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Martins. Não estou nada de acordo consigo quanto aos motivos de António Costa. E eu conheço-o bem.

Anónimo disse...

Senhor Embaaixador,
Se estou errado penitencio-me.
Saudações de Banguecoque

José Sousa e Silva disse...

Gostei do que li.

António Pedro Pereira disse...

Caro Senhor Embaixador:
Há uma frase famosa de um verso de Camões, popularizada por José Mário Branco numa canção que daria o título ao disco, nos idos de 70, que migrou para a discussão política, «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...».
Por que não dar um exemplo da mudança do tempo e da vontade de um protagonista dos tempos que correm?
E chamar a atenção que não é só o queijo que faz perder a memória, o leitão da Mealhada também.
Independentemente de, muito legitimamente, cada um pode alterar as suas convicções.
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«Há dez por cento da esquerda que tem representação parlamentar mas não têm representação na governação.
Isso introduz assimetrias no sistema político e prejudica a esquerda.
E basta haver uma aliança à direita para percebermos exactamente as consequências negativas para uma política que se situe à esquerda.
Depois da queda do Muro, da desintegração da União Soviética, da falência do modelo marxista-leninista, acho que o PCP, não querendo mudar intrinsecamente, já mudou a sua posição na sociedade.
Assim, devemos ter com os comunistas uma relação que é esta: eles são como são, têm as posições que têm e ainda a identidade que têm, evoluirão como evoluirão, não está ao nosso alcance determinar a maneira como vão evoluir.
Agora o que penso é que deve haver um diálogo duro, sério, muitas vezes difícil.
Como fazemos às vezes aqui na Assembleia da República e, por isso, já garantimos a aprovação de algumas coisas. (...)
Se está demonstrado que ainda não é possível um entendimento geral de incidência governativa com este PCP a verdade é que já é possível estabelecer alguns acordos com vantagens. (...)
Se não corremos o risco de, daqui a alguns anos, continuarmos a dizer que não há condições para uma coligação e a direita estará reorganizada.»
Francisco Assis (na entrevista concedida a Ana Sá Lopes e São José Almeida, a 25 de Março de 2001).

Carlos Fonseca disse...

Se esta espécie de coligação correr como correu há anos na Câmara de Lisboa, pode ser que não haja o desastre que receio. E que naturalmente não desejo.

aamgvieira disse...

Agora é que, com aqueles que NÃO BRINCAM Á DEMOCRACIA OCIDENTAL EM ("serviço") (PCP)vão subtilmente propor para arrendar as Lajes ao Putin, pobtendo assim receitas para que compensem as despesas públicas que vão disparar....

Defreitas disse...

Numa ditadura , as pessoas não têm ilusões: sabem que o que lêem na imprensa ou vêem na televisão não é verdade, é pura propaganda. Aprenderam a ler entre as linhas. Nisso teem uma vantagem nós .

Defreitas disse...

Entre a foto de 1974 e a de hoje com Jerónimo não vejo nenhuma diferença. Na frase “olhe que não “ de Soares a Cunhal, vê-se nos olhos de Soares o reflecto do olhar de Carlucci.
Hoje nada mudou, porque muito claramente , no pensamento de todos os actores políticos portugueses não é o olho de Moscovo que se vê, mas o de Merkel e só em pano de fundo se vê o da NATO.
Porque muito claramente , desde a camisola de força de Carlucci , o projecto europeu é a nova camisola de força para os povos. Vimos a Grécia. Não existe margem de manobra permitindo a um governo eleito democraticamente de por em ordem de marcha políticas ao serviço do interesse geral e de respeitar ao mesmo tempo as regras europeias, isto é, de dar a palavra ao povo e a democracia.
E toda a gente sabe que se a esquerda portuguesa chega ao poder ( calculo de Cavaco) as armas estão afiadas em Bruxelas para o derrubar. O bom aluno foi bom enquanto reembolsava as dividas sm pedir a renegociação, posição facilitada pelas taxas de juro baixas ou inexistentes. Será fácil.”acelerar” a maquina infernal para estrangular o paciente. O horrível holandês Dissjselbloem esta pronto.

Defreitas disse...

Peço desculpa, no comentário das 10:38, ler por favor :Nisso tem uma vantagem sobre nós.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...