quarta-feira, novembro 11, 2015

Facebook


Há uns anos, alguém me disse: "então não colocas nada na tua página do Facebook? Increvi-me como teu amigo, mas, afinal, nada..." Não tinha aberto nenhuma página naquela rede social mas, por curiosidade, fui ver. E não é que lá estava eu, com uma fotografia que alguém tinha retirado não sei bem de onde?! Alguém tinha criado uma página em meu nome, com uma profissão totalmente inventada.

Escrevi ao Facebook. Expliquei a situação, pedi o fim da página, mas sem efeito prático, exceto na desaparição da menção da profissão. Decidi então abrir uma página própria. Pelo menos, podia controlá-la. De início, coloquei lá escassos textos, na maioria dos casos chamando a atenção para posts deste blogue ou para artigos que publicava em jornais. Depois, com o tempo e com o tempo que ia tendo, fui depositando naquele espaço umas coisas leves, despretensiosas, graçolas, chamando a atenção para coisas curiosas ou de interesse. Fui sempre muito errático nas minhas respostas ou comentários. Às vezes, passavam-se semanas sem escrever uma palavra. Nalguns dias, "dava-me" para responder, opinar. Sem a menor regra, o que levava a "ofensas": então eu respondia a uns e não a outros? Não percebendo as pessoas que a liberdade é isso mesmo.

Não atribuia a mais pequena importância ao Facebook e - não vão acreditar, mas é verdade! - não sabia que podia "ver" as páginas dos outros. O meu amigo Luis Castro Mendes é testemunha dessa surpresa, perante a "revelação" que, numa noite de Estrasburgo, me fez. Eu só olhava a minha página! Não era por narcisismo, era por nabice informática! Verdade seja que nem essa "descoberta" me fazia ir ver o que os outros "postavam". Raramente o fiz, talvez uma vez por semana, por alguns minutos.

O resultado global da minha experiência no Facebook só não foi surpreendente para mim porque "eu sei do que a casa gasta", isto é, sei o que o país informático é - embora o Facebook, os blogues e o Twitter tenham clientes muito diversos, se bem que alguns comuns, como era o meu caso. 

Inscreveu-se na minha página (diz-se "portal", não é?) imensa gente como "amigo". Os comentários começaram a emergir, na maioria dos casos serenos, mesmo quando frequentemente contraditórios, noutros mais agressivos. Também os "gostos" emergiram e uma coisa chamada "toques", que nunca percebi muito bem o que era. Alguns dos comentários passaram as marcas que eu considerava razoáveis e, com naturalidade, os seus autores foram postos fora de cena. Em "waiting list" para "amigos" está ainda bastante mais de um milhar de pessoas que, ao que me dizem, só podem comentar se acaso eu lhes atribuir essa qualidade.

Nos últimos meses, o Facebook cansou-me. Alguns comentadores entraram muitas vezes em violenta troca de palavras com outros. A radicalização política seguiu a dualização ideológica em que o país caiu. O espaço tornou-se tenso, desconfiado, ácido, às vezes insultuoso. Algumas pessoas não gostaram do qualificativo de "loja dos trezentos das redes informáticas" como o designei. Dei a mim mesmo um tempo para reflexão sobre se por lá continuaria. Porém, a "gritaria" escrita dos últimos dias decidiu-me: deixei ontem de "postar", não consulto a minha página nem a dos outros, não vou ver as mensagens. Quem quiser ter a simpatia de ler o que escrevo tem este blogue como espaço de consulta.

Voltarei ao Facebook? Não sei. Pelo menos, nos tempos mais próximos, estou "out". Só peço que ninguém leve a mal, por favor.

PS - Há menos de cinco minutos, recebi um telefonema de um jornalista, perguntando se o anúncio da decisão de suspender a presença no Facebook podia ter uma leitura política... Ah! e o PS com que se inicia este parágrafo significa "post scriptum"...

10 comentários:

diogo disse...

Ah! e o PS com que se inicia este parágrafo significa "post scriptum"...

estará aqui sim alguma leitura política ??
ahahaahahhaha
provocação ...não leve a mal
um abraço

Alcipe disse...

Francisco, tu podes apagar os comentários que quiseres. Podes bloquear quem te apetecer. Podes pedir aos amigos, por mensagem pessoal, que não usem determinada linguagem (já o fiz em dois casos). Não podes é esperar que as pessoas não reajam ao que pões no facebook...

E, insisto, se no blog tens moderação pré-publicação, no facebook podes eliminar à vontade quaisquer comentários. Eu só discuto quando e com quem quero.

Luis, de Estrasburgo. Que será feito dp Feliciano da Mata?

Abraço

Jacinto Saramago disse...

Sem que tenha a notoriedade do Francisco, também eu tive o mesmo problema. Certo dia, alertado, encontrei uma "página minha", que alegadamente não actualizaria.
Com alguma paciência e (talvez) a ajuda do facebok (?!) consegui apoderar-me dos códigos. Depois, em vez de desactivar/apagar, mantive a página, alterada, revista e formatada. Não aprecio o facebok, mas de vez em quando por lá passo para "por uma foto".

Cumprimentos.

aamgvieira disse...

As pessoas conhecem antonio costa....."hoje conhecem muito bem".... não há pachorra

Unknown disse...

Concordo com o que aqui diz. Também não tenho Facebook. Talvez pelas mesmas razões.
David Lencaste

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Esqueca-o!
O Facebook é rasca, indecente e pornográfico!
Aquilo está destinado a betinhos e betinhas.
Saudações de Banguecoque

Francisco Seixas da Costa disse...

Tens razão, Luis. Mas isso implica ler os comentários com regularidade, o que eu não faço. Quanto ao Feliciano, dizem-me que tem uma start-down em Bubaque, tendo como parceiro um tal Ronaldo Azenha de Noisiel, que tinha uns primos em Casamansa que lhe adiantaram o capital, em espécie. Têm uma empresa de formação de quadros de protocolo, com o estranho nome de "As Tias de Gotha". Asseguram-me que estão a ter imensa saída

António Azevedo disse...

Só entendo as redes sociais para os provocadores!
Não faço distinção entre qualquer uma. Quem acha que não é, não deve usar!...Haverá sempre quem faça mau uso!
antónio pa

Felipa Monteverde disse...

Quando o descobri no Facebook, e sendo pessoa que eu conhecia do blogue, e apenas do blogue, pedi amizade. Foi-me recusada.
Explicação: só aceitava pessoas que conhecesse pessoalmente.
Respeitei. Durante algum tempo o Facebook incluiu a sua página no meu "feed", sem eu perceber porquê, e fui lendo algumas das suas postagens. Depois desapareceu.
E é tudo o que me apetece dizer por agora.

PS: comentário sem conotações de nenhuma espécie.

Joaquim de Freitas disse...

Também por lá andei, Senhor Embaixador! E depois de sofrer alguns insultos e mais ainda, e perante a "poubelle" na qual se transformou esta rede social, perante o obscurantismo, o analfabetismo politico e o analfabetismo "tout court",decidi sair. Como muito bem escreveu, o ambiente é insalubre.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...