segunda-feira, novembro 30, 2015

Reacionário me confesso...


A pressa (qual é a pressa?) de legislar para acabar com o exame da "quarta classe" (sou de um outro tempo, pois claro) é algo que não consigo entender. Ou melhor: posso perceber que estas micro-agendas dos "compagnons de route" do PS possam fazer sentido para eles, mobilizados por temáticas modernaças e de "contemporaneidade". Mas não entendo por que é que o PS vai a reboque delas.

O exame colocava "stress" nas criancinhas? Claro que sim! E depois? Lembro-me de ter dormido muito mal antes do meu exame da "quarta classe", de ter tido pesadelos nas vésperas do "exame de admissão" ao liceu (e fiz também à Escola Comercial e Industrial, não fosse dar-se o caso de reprovar no liceu). E o que eu passei, entre angústias e insónias, antes da montanha de exames do 2º ano do liceu, com os meus pobres 12 anos. E as noites longas, a "marrar" temas áridos de História do Matoso (do outro) no 5º ano? Ou a decorar as funções da Câmara Corporativa, no exame de OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação) do 7º ano? (Saí com com 20 - vinte, ouviram?).

Tive suores frios, tomei Fosfero Ferrero, desesperei, perdi horas, sublinhei, reli alto, decorei montes de coisas inúteis, para poder estar preparado para todos os muitos exames que fiz ao longo da minha vida? Claro que sim. E também "chumbei" em alguns, perdi um ano inteiro, tive de repetir cadeiras (em segunda e terceira "época") e, nem por isso, tive depressões ou me suicidei ou sequer fiquei psicologicamente afetadoo. E, claro, fiz exames para o meu primeiro emprego público, passei na prova exigentíssima para a minha segunda e última profissão e, querem saber?, dei-os a todos por muito bem empregados. Endureci na vida, "saiu-me do pêlo", aprendi (sem gravurinhas para amenizar a dificuldade dos temas) o que tinha de aprender, se calhar ainda menos do que devia mas, de certeza!, muito mais do que aquilo que observo (e mais não digo!) na esmagadora maioria dos alunos que agora tenho. E, com tudo isso, construí uma carreira e progredi e tive nela o sucesso que consegui ter - sempre com todas essas chatices, essas tensões, essas exigências, essas muitas horas de trabalho e de esforço. Teria tudo sido melhor se tivesse tido menos exames, se tudo fosse de avaliação mais "diacrónica" e menos "sincrónica"? Não sou dado a teses de que "no meu tempo é que era bom", mas que não vejo a menor desvantagem nessa aferição pontual de conhecimentos que os exames constituem, lá isso é verdade.

Volto ao princípio. Percebo que o Bloco de Esquerda tenha esse tipo de agendas. Já percebo menos que o PS se deixe ir nessa onda "modernaça", que entre pelo facilitismo, que queira reverter a obrigatoriedade dos exames para a miudagem, os quais, é sabido, podem provocar stresses, angústias e tremores, mas que não matam ninguém e ajudam os miúdos a perceber que a vida não é um armazém do Toys r Us e que não há nenhum direito divino às playstations, às roupas de marca e aos hamburgers na Disneylândia. 

E já agora, também não percebo que se volte atrás na exigência dos exames àqueles que querem ser professores. Eu também fiz um exame de admissão profissional, depois de acabado o curso. Às tantas, talvez valesse mesmo a pena que alguns dos docentes atualmente em atividade, que por vezes andam aí com um ar que converte os arrumadores de carros em "gentlemen" do Downton Abbey, que devem funcionam como "belos" exemplos e modelos para as crianças, fossem também obrigados a efetuar provas a meio da carreira. E a alguns outros profissionais, tal como os diplomatas, menos do que avaliação contínua muito deficiente como a que hoje têm com o famigerado Siadap, talvez uns examezitos a meio do percurso lhe não fizesse mal e os forçasse a atualizarem-se e a ler mais.

Isso, aliás, devia ser obrigatório para os ex-professores que "sindicalizaram" grande parte da sua vida, por forma a se aferir se já "perderam a mão". Ou não será estranho que esse tal de Mário Nogueira, que regularmente agita o bigode, a raiva e o verbo pelas grades da multidão com cartazes na 5 de outubro, tenha dado a sua última aula presumo que ainda antes do novo ministro da Educação nascer?

"Estás um bom reacionário, estás!", já estou a ouvir de algumas amigas e amigos, daqui a horas, quando lerem este post. E então dos corajosos anónimos que por aí polulam vai ser um fartote. Mas, como costumava dizer uma sobrinha minha, na sua infância: e a mim que me importa!

58 comentários:

aamgvieira disse...

Texto bem real !Parabéns !

Unknown disse...

PERDOADO!

Unknown disse...

e são dois!Reaccionários,claro!

Um Jeito Manso disse...

Embaixador,

A Finlândia tem o melhor sistema de ensino do mundo. Isso é aferido através de uma bateria de indicadores. E, no entanto, assenta em princípios muito pouco ortodoxos. Vi um documentário que me impressionou pela positiva e li alguns artigos sobre isso pois acho que deveria ser um exemplo a seguir.

Agora, numa pesquisa rápida encontrei uma síntese para a qual lhe deixo o link, para o caso de querer ver:

http://www.businessinsider.com/finlands-education-system-best-in-world-2012-11?op=1

Poderá ver que lá a excelência no ensino se atinge de várias maneiras e nenhuma delas passa por pôr as criancinhas a fazer exames ou a causar-lhes stress.

PS: Também fiz exame na antiga 4ª classe, porque era obrigatório, e não acho que isso tenha sido benéfico para a minha vida futura. Depois, no liceu, como era boa aluna, dispensei de todos os exames até entrar para a faculdade e, uma vez mais, o não ter feitos esses exames não me prejudicou em nada.

Uma boa noite, Embaixador!

António Azevedo disse...

Só não concordo com os exames aos profissionais! Os profissionais têm de ser bem licenciados para o exercício profissional pelas instituições academicas com exames e outras provas exigentes quanto baste, ponto final! A sociedade tem que ter essa garantia. Se isto não está a acontecer é muito mau e não se resolve com exames à posteriori fora daquelas instituições como já se viu.
Não estão bem licenciados? voltem à escola! A solução não é inventar exames por outras instituições "que têm mais que fazer"!
O concurso para um lugar ou a avaliação de desempenho são outra coisa!

Mas... ainda andam por aqui anónimos?...

antónio pa

Unknown disse...

Vejamos. Começando pela substância do que escreveu, direi que concordo na generalidade com aquilo que aqui escreveu. De facto, esses tempos eram exigentes e isso nunca afectou quem a eles se teve que submeter. Todavia, convém não esquecer que, naquele tempo, o objectivo governamental era - na medida do possível – que todos pudessem beneficiar do tal ensino básico, a chamada 4ªClasse e o respectivo exame, que não era o mesmo do que se seguia, o exame de admissão ao Liceu, ainda mais exigente. Só uma percentagem, cada vez menor, chegava ao final, o tal 7ºano do Liceu (hoje, creio que o 12º ano). Quando a política da Educação mudou, depois do 25 de Abril, as reformas naquele sector foram sendo alteradas por forma a abrangerem objectivos que levassem à progressão nos escalões escolares. Uma das Minstras que teve um papel preponderante nesse sentido, mais tarde, foi Maria João Rodrigues, a ex-Ministra da Educação do governo de José Sócrates (que posteriormente veio a ser julgada - e condenada - com sentença transitada em julgado, por motivos de outra ordem) . Na opinião de muitos uma má Ministra. Mas, convém recordar, M.J.Rodrigues abriu ainda mais uma porta que já tinha sido entreaberta antes e que, desta forma, foi entretanto escancarada. Nem Mário Nogueira, nem o BE fazem mais do que prosseguir aquilo que já tinha sido “atapetado”. Se, de facto, o objectivo dos governos é permitir a progressão dos alunos até ao topo, ou seja, o tal 12ºano, embora com exigências cada vez maiores, à medida que progridem, com vista a permitir-lhes uma base diferente daquela que 5 décadas atrás existia, com a 4ªClasse como limite rigoroso mínimo (sem o tal exame de admissão ao Liceu), então talvez não seja assim tão mal. Dá-me ideia de que a postura crítica que tem contra Mário Nogueira, ou o BE, assenta quem sabe em argumentos assaz aceitáveis e perfeitamente razoáveis, embora desfocados da questão essencial, pela simples razão de que os objectivos dos governos pós-25 de Abril, sobretudo sob a égide do PS, convém sublinhar, mas, mesmo assim, com algum assentimento da Direita, designadamente nas útimas décadas, tem sido a do “facilitismo”, que aqui veio falar. Como digo, não discordando do que escreveu, convém sempre ter presente o passado recente de como se chegou a isto. Se para melhor, ou pior, vamos ver. Mesmo assim, tenho fé no Ensino que se vem praticando. Olho para familiares e filhos de amigos e vejo-os a conseguir qualificações académicas meritórias que há 5 décadas atrás tinham limitações do ponto de vista social para a generalidade dos jovens (embora houvesse sempre excepções). Hoje um jovem de uma aldeia tem o mesmo acesso ao Ensino, incluindo o universitário, que o seu congénere da cidade. Graças à política de Ensino que se seguiu depois do 25 de Abril de 1974. Embora com alguns defeitos, é melhor do que a que existia.
David Fonseca

Majo disse...

~~~
~~ A sua pedagogia resume-se a esta conclusão:
se sofreu e, por acaso sobreviveu - eu também -
então, trata-se de um bom processo de avaliação...

~~ Não se trata de ser reacionário, mas sim um
conservador, renegador das Ciencias de Educação.
~~ O que muito lamento.

~~ Sabia que ia ser assim,
porém, preferiu semear tempestades...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

septuagenário disse...

O Bloco vai ter todos estas crianças a votar nele, daqui a nove anos.

O Bloco não dá ponto sem nó.

Mas que grande agenda a do Bloco.

Costa trocou o exame da 4ª pelo voto do Bloco no orçamento

Vamos ver o que o PCP tem para troca.

Isto vai ser tipo feira da ladra, ou troca de selos e moedas de numismática.

disse...

Não quero estar sempre em contradição consigo, mas não acho bem que se sujeitem crianças tão novas a stresses deste tipo. Acho que não contribui para que se tornem melhores adultos. A responsabilidade de garantir que as crianças aprendem o que devem aprender é dos docentes e dos pais. Não é das crianças. Estamos a falar de miúdos de 9 e 10 anos. Parece-me que há outras maneiras de se lhes ensinar valores como o trabalho e a responsabilidade; por exemplo, garantindo que fazem os trabalhos de casa (o que passa por não se lhes exigir demasiados). Em todo caso, acho que neste tipo de coisa, como em tantas outras, devíamos tentar copiar os países mais bem sucedidos em vez de estar sempre a re-inventar a roda.

José Fragoso Santos

Francisco Seixas da Costa disse...

Para quantos dão como exemplos a Finlândia e outros países mais evoluídos, sublinhando a importância prioritária do acompanhamento familiar, gostava de lembrar que o nível cultural médio de enquadramento está muito distante do nosso. Mas reconheço que, sobre este tema, a minha conversa é "de café". Só estranho, contudo, que havendo tantos especialistas, haja tantas divergência e se ande para-a-frente-e-para-trás com sucessivas reformas. Mas então h+a ou não consenso?

Karocha disse...

Também sou reaccionária Caro Embaixador.

E dispensei do exame de admissão aos liceus.

Anónimo disse...

A mim nunca me enganou o embaixador. Nem o seu amigo Alcipe, mas a esse ninguém o lê! Uma cambada de reaccionários, ao serviço do grande capital e dos monopólios ou cúmplices do perverso meio literário português, onde a literatura do Povo não penetra! Aqui me terão a comentar e não vos pouparei, lacaios da burguesia! Tremei! E agora sem filtro...

a) Feliciano da Mata

Comité "Morte aos Traidores" Partido do Proletariado da Diáspora (PPD)

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, estranho que depois de um texto em defesa dos exames do quarto ano, uma coisa tão boa para endurecer as crianças, torná-las uns homens (irem à recruta também dá resultado) acabe por concluir que isto é tudo conversa de café. Enfim, afinal o senhor Embaixador estava só a reinar.
Quanto à sua pergunta no seu último comentário, não sei se há consenso, se não há, apenas sei que cada um deve defender o que acha certo.
Não acho nada que o senhor Embaixador seja reacionário, é apenas um homem do seu tempo e da sua geração, aquela que neste pais nunca ligou nada à pedagogia e isso é transversal à direita e à esquerda, a respeitável, aquela que sabe que a vida é dura e feita de sacrifícios. imagine-se que até empinar coisas sem utilidade alguma, têm o mérito intrínseco do valor do sacrifício. Há é para ai uma esquerda nova, festiva e caviar (é assim que se diz, não é?), que quer é festa e meninos mimados.
O Verney, por exemplo, ainda hoje é visto, no nosso país como um estrangeirado.
Quanto à Finlândia, não percebi essa do "nível cultural médio de enquadramento", com que despacha a coisa. Como é que isso aconteceu? Por geração espontânea?


António

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Só não digo que me "roubou as palavras" porque a forma irrepreensível com que foram escritas só podia ser escrita por si. Só lamento que a seguir as tenha desvaloarizado ao chamar-lhes "conversa de café".

A este propósito, se me permite, transcrevo uma síntese de Vital de Moreira no Causa Nossa que igualmente subscrevo:

"Em vez de enveredar pelo facilitismo, a esquerda deveria apostar no rigor e na exigência da escola pública. Quanto mais se promove a complacência no recrutamento dos professores e na avaliação dos alunos da escola pública tanto mais se promove a procura das escolas privadas por parte das famílias mais exigentes quanto à educação dos seus filhos"

guz disse...

É o exame do 4.º ano. Crianças de 10 anos. É aqui que se determina o facilitismo? Alguém passa de uma faculdade sem exames dificílimos? Ui, o que eu me esforcei nos estudos para compensar um 12.º ano com 3 cadeiras, onde não se fazia nada. Mas não é a fazer exames que se aprende no secundário. É com o trabalho contínuo, com acompanhamento na escola. Agora tratar do assunto com exemplos pessoais, é pensar que nem todos são super alunos. Este exame não existiu durante décadas. Esta malta que anda a arruinar os bancos fez o exame de 4.º ano? Se calhar até fizeram.

Unknown disse...

Senhor Embaixador

Leio assiduamente o seu blogue e muitas vezes divirto-me, outras aprendo. As vezes não estou de acordo com as suas ideias, mas respeito-as pq assim me ensinaram!
Também eu fiz os exames todos que referiu! E sobrevivi! Aprendi que às vezes as coisas correm mal, somos rejeitados, ultrapassados e às vezes injustiçados!
Vamos em frente e como diria alguém "É a vida"!!!!!!!!!!!

Os meus cumprimentos
Deolinda Rugeiro Cruz

Anónimo disse...

Um exemplo prático:

o meu filho num colégio privado, com a restante turma (3 colegas), passou boa parte dos dois últimos meses a praticar para os exames. Tiveram todos excelente notas, magníficas mesmo.

A partir daqui se percebe a razão pela qual sou contra estes exames.

Anónimo disse...

E qual o objectivo desses exames se não servem para absolutamente nada a não ser queimar tempo do ano lectivo que serviria para dar o programa e que é utilizado para preparar os alunos para os ditos exames. É que desde que há esta brincadeira dos exames os programas ficam por dar.

Anónimo disse...

Será que Salgado, Bava, Rendeiro, Oliveira e Costa, entre outros também fizeram o exame da 4ª classe com distinção e tornaram-se naquilo que se tornaram?

Anónimo disse...

Já somos dois, Francisco. Não há paciência para estas cenas, em que o exame do 4º. ano é a tragédia, os professores não podem ser avaliados, mas não têm vergonha de serem representados há anos por esse cromo... Depois falamos. Beijos. São Jordão

josé ricardo disse...

Caro embaixador, temo que fique um pouco parecido com o comentador Marcelo, que vai aprofundadamente da política à bola, passando alegremente pelo campeonato mundial de berlinde.
Um abraço,
José Ricardo

Ricardo Simaes disse...

Boa tarde,

Sigo o seu blogue diariamente porque gosto das histórias que conta, da forma que escreve e, de uma forma geral, concordo mais vezes do que discordo das suas opiniões. Mas neste caso, acho realmente reaccionário o seu texto. Não o digo como um insulto, naturalmente. É uma opinião. Não tenho filhos na primária, não sou professor, não votei BE nem PC, portanto não tenho nenhum conflito de interesses neste assunto. Não faço a apologia do facilitismo. Mas o tempo gasto na preparação para os exames de Português e Matemática é, na minha opinião, demasiado. E é tempo que poderia ser utilizado na aprendizagem de outras coisas igualmente importantes. E é indutor de um stress e ansiedade que, penso eu, nesta idade é desnecessário. Existem outras formas de avaliação. E não é por ter sido assim no passado que deve continuar a ser. Já parece a argumentação da PAf relativamente às "tradições" governativas...
Quanto à prova de acesso para professores não sou, por princípio, contra um exame de admissão à carreira. Já não percebo bem a utilidade de um exame à admissão para a precariedade de um, dois ou três anos a dar aulas e, depois, ter que se submeter a novo concurso, nova prova, ad eternum... não falando do ridículo do enunciado das provas do ano passado. Por fim, acho a alusão a Mário Nogueira, que não conheço mas por quem não nutro simpatia (no domínio das suas intervenções públicas), desnecessária. Retira o foco da questão. Mário Nogueira é um sindicalista, não é um professor, em termos práticos.

Continuação de boas "postagens", que eu cá continuarei a lê-lo. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Concordo com a sua observação.
Frequentei o ensino nos anos 80 e 90, tive colegas, actualmente professores das mais variadas disciplinas, nomeadamente matemática, que reprovaram nas provas especificas (nomeadamente matemática) e actualmente dão aulas de matemática a alunos da idade dos meus filhos...
Viva o facilitismo!!!

Anónimo disse...

A questão não é alguém ficar com depressão ou suicidar-se por causa de exames. Tudo se aguenta, incluindo a mediocridade. Os meus avós também andaram descalços praticamente até casarem e viveram até muito tarde. Por falar nisso, se calhar deixámos de ganhar medalhas em corridas de fundo no atletismo, porque as crianças agora andam de sapatilhas, ao contrário das etiopes, que andavam descalças atrás das cabras, durante quilómetros.
Porque estamos a falar de educação, a questão aqui é se os exames nestas idades fazem uma geração culta, competente e educada. Ora, ou muito me engano, ou tanto empinanço e exames, não formaram exatamente uma geração educada e competente, pois não? Falo de gerações, da construção de um país, não falo das excepções, que não contam. Tenho muita pena, mas encontro mais educação e criatividade em miúdos de 15 anos, do que na grande maioria daqueles que se orgulham dos exames da quarta classe e de ainda saberem agora a cantilena da tabuada. A maior parte dos que conheço, com 60 ou mais anos, pouco sabem de ciência e de literatura. Aposto que muitos sabem ainda de cor a composição do núcleo atómico, embora não façam a ideia do que se pode fazer com o raio do átomo. E sabem de cor versos inteiros do Guerra Junqueiro. O zénite, creio, é um professor meu que dizia saber de cor os Lusiadas inteiro, juro. Obviamente, também não lhe fez mal nenhum e, pelo contrário, ter-lhe-á permitido um 20 na oral no seu tempo e a entrada para o topo do quadro de honra. Conclusão, tivemos gerações de almanaque dos pobrezinhos: sabiam de muita coisa um pouquinho e às vezes sabiam imenso de uma só coisa com que brilhavam e continuam a brilhar nos salões.
Todos aqui conhecem o O’Neill, não? Bem, sabem frases. Teste: o que queria ele dizer com
“(…)
ó Portugal.
Se fosses três silabas de plástico que é mais barato!”…

António

diogo disse...

os exames às criancinhas não são mais do que uma forma de avaliar a capacidade dos respectivos professores lhes passarem o conhecimento necessário .
acabam-se assim todas as formas de aferição da qualidade dos ditos formadores .
vivam os mini concursos e outras formas de dar emprego aos doutores que não têm lugar na política .

Anónimo disse...

Nos anos 40, quando então fiz o exame da 4ª. classe, lá na aldeia todos ficavam por aí. Menos um, que iria fazer o exame de admissão ao liceu. Para ele serviu o meu teste do "desenho" já que a mim, naquela altura, não me servia para nada.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Não creio, pelo seu depoimento, que deva ser considerado reacionário, mas pertencerá aquele grupo de pessoas que não se conseguiram desprender das condições em que decorreu a sua educação, num tempo muito distante. Mais velho cerca de dezena e meia de anos que o senhor Embaixador, conheci a via-sacra de todos os exames nacionais (excepto o da admissão às escolas comerciais e industriais), incluindo os exigidos para a obtenção do título de professor do ensino liceal e depois necessários para uma carreira académica; e acrescentei-lhes muitos outros, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América. E, como se vê, sobrevivi. Isso não me leva a que considere hoje os exames como a melhor arma contra o que se chama facilitismo.

Vou colocar entre parêntesis o que motivou o seu post, ou seja, a aprovação pela maioria de esquerda parlamentar da extinção dos exames do 4º ano. Eu preferiria que tal ocorresse na sequência de legislação (necessária) que “remendasse” algumas das medidas de Nuno Crato, e por isso até posso brincar com o “qual foi a pressa”.

Mas o que me leva a participar neste quase debate é pôr em perspectiva uma visão diferente. Já há alguns anos que o Ministério da Educação havia introduzido, no calendário escolar, as chamadas provas de aferição, que no fundo são semelhantes aos exames mas não têm consequências para a classificação do aluno, fornecendo contudo elementos interessantes sobre a aprendizagem. A realização dessas provas não implicava grandes perturbações na vida das escolas e, para as crianças, não revestiam o mesmo grau de preocupação que, inevitavelmente, o exame acarreta. Se bem que mesmo para essas provas de aferição muitos professores não resistissem à tentação de as treinar, a introdução dos exames exacerbou essa tendência de “ensinar para o exame”. Semanas a fio, tudo na sala de aula gira à volta do futuro exame, desvirtuando uma verdadeira situação educativa. Português, Matemática – muito bem; as restantes áreas curriculares são praticamente esquecidas.

Ota bem, e tudo isto a troco de quê? O exame vale 30% da classificação final. E o aluno foi avaliado continuamente desde o início da sua escolaridade. Será que é tão importante introduzir aos 9, 10, 11 anos, uma prova selectiva? A maior parte dos estudiosos diz que não, e a verdade é que são raros os países em que ela existe. A educação básica em como principal objectivo dar a todos os alunos os instrumentos indispensáveis para a vida em sociedade e para que possam continuar a aprender para além da escola. Em rigor, nenhum aluno deveria ficar para trás, todos deveriam terminar esse ciclo de estudos. É evidente que tal nunca acontecerá, por muitas razões, mas deve tentar-se uma aproximação a esse ideal. Uma selecção em fase tao precoce é um elemento que não está em sintonia com os objectivos educacionais.

Dito isto, não quero negar que, em determinados momentos da vida escolar (e profissional) o exame faça sentido e deva existir. Consolidado um percurso escolar significativo (o ensino secundário geral, por exemplo) um exame pode ser importante. Como o será à entrada da universidade.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Acrescento mais dois parágrafos que o editor não me deixou publicar no post anterior...

Uma última palavra para o que foi dito sobre a avaliação dos professores. O Estado, como empregador principal, deve ter uma palavra sobre a admissão dos professores nas suas escolas. Antes do 25 de Abril existia mesmo o chamado Exame de Estado, que era o momento em que o professor era titulado para exercer a profissão. Simplesmente a organização posterior cometeu ao ensino superior (universitário e politécnico) a formação de docentes, pelo que os alunos terminam os seus cursos com um estágio e têm uma classificação que conta para a sua posterior entrada na carreira. A prova agora tão contestada (e que foi criada, aliás, pelo governo socialista de José Sócrates) aparece assim como uma duplicação para quem já está no sistema. Por outro lado, as provas já realizadas deixam muito a desejar, percebendo-se mal o que pretendem, de facto, avaliar. Em suma, estarei de acordo se se legislar no sentido de poder existir um exame de entrada após o curso obtido, mas não depois de o professor ter sido admitido como docente.

Anónimo disse...

Querem mesmo falar de facilitismo? Difícil, no ensino, não é fazer e avaliar exames no fim do ano. Se passam todos, o professor é excelente; Se chumbam, o professor é muito rigoroso. Já não era assim há 50 anos? Pronto, e assim se faz a avaliação dos alunos e do professor. Difícil é fazer avaliação continua e decidir no fim em função da evolução e características de cada criança, suas potencialidades, etc, etc. Isso sim, dá uma trabalheira. O ensino difícil não é aquele que pensam. Mas se calhar estou enganado e fomos um exemplo para o mundo durante o longo período em que houve exames na quarta classe.

António

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Ricardo. Isto aqui é, hoje e sempre, apenas conversa lúdica de café. Escrevo o que me dá na real gana, mais substantivo ou mais levezinho. Este blogue é meu. Lê-o quem quer, ninguém a isso é obrigado. Quem não gostar, pode ir tomar a bica a outro lado. Tão simples como isso. Pensei que já estava habituado. As cerca de 1600 pessoas que diariamente, em média, por aqui passam, parece terem entendido isso.

Flor disse...

Coitadinhas das criancinhas ficarem stressadas por causa do exame da 4ª classe... E os telemóveis? E a internet? E o facebook? E os jogos de consola? Será que não as deixam mais stressadas?

Também acho muito bem quanto aos exames aos docentes e digo mais, os médicos também deviam ser sujeitos a exames. Tenho a certeza que iam aparecer muitas surpresas.

Tenha uma boa noite :)

Isabel Seixas disse...

“O principal objetivo da Educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.” (Jean Piaget)

Eduque-o como quiser; de qualquer maneira há-de educá-lo mal.
Sigmund Freud

Anónimo disse...

- Para não se repetir o que as outras gerações fizeram é necessário saber o que elas fizeram e ter a certeza que se vai fazer mais e melhor!
- Sabe que o vai educar mal, mas eduque-o, já agora não faça de conta!

Anónimo disse...

Isabel Seixas, o Piaget? Ui, isso é demasiado modernaço ;)

Anónimo disse...

Senhor embaixador, não se aborreça. Já sabemos que a bola é sua e que se o jogo não lhe agrada, pode sempre pegar na bola e levá-la para casa. Isto é, o blogue é seu e pode sempre eliminar os comentários que não lhe agradam, sem que tenha de dar satisfações a ninguém, incluindo este. Quem quiser discutir isto de forma séria, pode sempre fazê-lo num outro lado qualquer. Este assunto merece mais do que um tom levezinho de conversa de café, mas o seu blogue não é o lugar para esta discussão. Mas já que pretende manter esse tom blasé, pelo menos não trate, por favor, os que têm ideias diferentes das suas neste tema como desmiolados modernaços.
Apesar de tudo, ainda tinha esperança que conseguisse explicar como é que este país foi sempre tão medíocre, em todos os campos do conhecimento, nos tempos em que imperava esse conceito tão marialva da educação.

António

Anónimo disse...

A questão não é o stresse, e não foi por causa do stresse que se acabaram com os exames do 4º ano. A questão é a finalidade dos exames. passava-se um período escolar a preparar os miudos..a treinar como macaquinhos, os miudos para os exames em vez de de lhes transmitirem os conteúdos programáticos.
Quanto ao stresse, se a coisa for bem preparada os miúdos levam, no 4º ano, os exames como um jogo, "vamos lá ver onde está a rasteira" e posso falar do exemplo da minha casa onde as minhas duas filhas fizeram este exame, a mais velha melhor aluna,com conhecimentos mais sólidos teve piores resultados que a mais nova, que sabe jogar melhor ao jogo, onde é que está a rasteira....Mgantes

josé ricardo disse...

Tem toda a razão, sr.embaixador, tem toda a razão... Foi apenas um picantezinho da minha parte.

Um abraço,
José Ricardo

Pedro Almeida disse...

"Endureci na vida, "saiu-me do pêlo", aprendi (sem gravurinhas para amenizar a dificuldade dos temas) o que tinha de aprender, se calhar ainda menos do que devia mas, de certeza!, muito mais do que aquilo que observo (e mais não digo!) na esmagadora maioria dos alunos que agora tenho."

Isso também parece atestar a sua qualidade como professor.

Helena Sacadura Cabral disse...

Francico o seu post merecia um Prémio de Educação, pela análise justa, criteriosa e desassombrada que faz. Parabéns!
Discordamos várias vezes. Mas, ao menos quando concordamos, eu sinto que nunca será casual a estima e admiração que tenho por si!

Fátima Diogo disse...

Sobre os exames no 4º ano, embaixador, eles têm pouco a ver com o stress das criancinhas ou dos paizinhos das criancinhas, isso é conversa lateral para distrair patetas.
Quando foram instituídos fiquei satisfeita, dado que tinha constatado ( como prof do superior a fazer supervisão de estágios dos meus alunos no 2º ciclo) ,tinha constatado que cada vez mais alunos estavam a chegar ao 5º anos sem saber ler - pensei que os exames iriam acabar com tal balda e levar os profs. do "primário" a ensinar todos os alunos a ler, tarefa básica e simples e para a qual são os únicos especializados.
Depois vi que ,afinal, os exames não iriam servir para isso ,mas apenas seriam uma desculpa para a progressiva retenção de alunos no 4º ano. E isso não! Na maioria dos países ocidentais não existem tais exames nem tais retenções numa idade tão tenra. Por isso o que tem que mudar são as mentalidades e o ensino tradicional que se faz, ainda na maioria das escolas "primárias" públicas. E não é com estes exames que se muda isso - fiquei feliz por terem desaparecido já do mapa e quanto mais cedo melhor.

albino zeferino disse...

Não entendo a razão pela qual 40 anos e 20 ministros da educação depois ainda andamos a discutir se os meninos (alguns já são homenzinhos hoje) devem ter ou não exames durante a sua formação académica. Quem se contentar com saber ler e escrever (mesmo mal) que não faça exames. Quem queira progredir na vida terá sempre que se sujeitar a isso. Nos países que se dizem civilizados é assim.
Parabens pelo magnifico artigo Francisco
Abraço do Albino Zeferino

Teixeira Lopes disse...

A lucidez habitual. Subscrevo o texto, por inteiro.

M. Lúcia G.M. disse...

Maria Lúcia Garcia Marques
Fui professora de todos os graus de ensino menos o primário que considero em tudo o PRIMEIRO fiz e dei a fazer os exames em vigor e não creio que tenha morrido alguém por isso. Sou professora de língua portuguesa e gostaria que olhassem mais para e por ela. O saber não se adquire em auto estradas mas em caminhos pedregosos que estimulam o esforço e a imaginação. Bem haja, Seixas da Costa por lembrar isso, em tempos em que parece terem subido crianças ao poder...!

Unknown disse...

Só agora li.
Sem cuidar do atraso, quero expressar-lhe a minha total concordância com as suas reflexões. Aflige-me, aliás, que se possa estar em tão grande desacordo com o que parece evidente, a tal ponto que se tenha de fazer um DL "de emergência" sobre o assunto.
Começamos mal...(ou menos bem...).
João M. A. Soares

ANÍBAL MARTINS disse...

DE ACORDO DR. SEIXAS DA COSTA. TAMBÉM PASSEI PELO MESMO E NÃO ME FEZ MAL NENHUM.
JÁ TODOS VERIFICÁMOS QUE A POLITICA DO FACILITISMO EM NADA CONTRIBUI PARA A EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DOS JOVENS E DOS VINDOUROS.
ALIÁS CRIA É UMA ONDA D INCOMPETÊNCIA E IRRESPONSABILIDADE.


ANÍBAL MARTINS

Unknown disse...

Concordo genericamente com os seus comentários.
Armando Santos

Unknown disse...

Concordo em absoluto com esta lúcida abordagem. Parabéns e obrigada.

Nina disse...

Melhor é impossível!..Concordo plenamente. Amei este artigo, muitos Parabéns.

Anónimo disse...

20 Valores ! Ao ler o seu artigo voltei à infância, adolescência, juventude, idade adulta e aqui estou eu sem traumas nem depressões, pronta a enfrentar a vida co as suas vicissitudes.




Anónimo disse...

Totalmente de acordo.
Já foi mencionado tudo o que eu poderia igualmente afirmar. Resta-me concluir que, desta geração "rasca" sairá a geração de "caca" (perdoe-me o termo).
Parabéns!

Anónimo disse...

Concordo quase com tudo do artigo.
No entanto, com exames só em Português e Matemática a valer 30% da nota final?!!!
A pressão e o acréscimo de trabalho é para os professores destas duas disciplinas de quem depende a passagem ou a retenção dos alunos.
Chega a junho, estes professores ficam nas mãos com 50 ou 60 provas para classificar, enquanto os das outras disciplinas podem ou não cumprir os programas e ir comer sardinhas para os arraiais dos santos Populares!....

Aniceto Carvalho disse...

Estudei sozinho já adulto, a partir dos anos 60, com a 4ª. Classe e uma vida de trabalho em cima. Sei como é. A maioria não sabe do que fala.

Anónimo disse...

A demagogia chegou e instalou-se em conluio com o lacismo, para distrair os incautos ou os seguidistas. Alfabetismo não equivlale a literacia. Pela vida fora os actuais jovens irão ser sujeitos a "exames" para se aquilatar os seus saberes, porquê então esta aberração de se legislar sob pressão e a pedido de certas "correntes de irresponsáveis" que provavelmente singraram à custa de passagens administrativas?

Anónimo disse...

E que tal se os licenciados que desejem ingressar nas carreiras docentes tivessem que frequentar uma pós graduação em "Ciências da Educação" em cujo "curriculum" constassem não só as matérias específicas relativas ao "Modo de Leccionar", como também as matérias que o candidato pretendesse ensinar?
Isto é, serem Formadores por vocação e não desejarem uma profissão de recurso, por falta de emprego na sua área de preparação académica.
E qual será a opinião dos pais dos alunos vs opinião dos candidatos a Professores, porque para estes não haver qualquer obstáculo é o ideal.
E se o consenso é de que "a vida não é fácil", como e quando iniciaremos a preparação dos nossos descendentes para essa vida, de modo a ultrapassarem as dificuldades com que se confrontarão mais adiante?

Carlos Azevedo disse...

Sr. Embaixador Seixas da Costa, Concordo consigo totalmente. Tambem passei por todos os exames que o ensino obrigava, sobrevivi e aprendi a lutar pelos objectivos de quem estuda, DESENVOLVER CAPACIDADES e aprender.
Os exames eram algo natural, nao eram diabolizados pelos defensores do facilitismo...Recordam-se da professora de matemática que foi a um concurso na TV e nao sabia quanto era 8X7 ?
Pois...era uma pergunta dificil, cheia de stress...
E isto para nāo falar do português que alguns estudantes, jornalistas, etc empregam, tal como " saiu para fora"
E quando chegam ás universidades, a desgraça vem ao de cima. Fiam-se no corrector do word e sai bronca.
Ainda ninguém demonstrou que os exames prejudicam o que queer que seja. Mas a sua falta já tramou muitos.

Anónimo disse...

Caro Sr.Embaixador
Li e concordo inteiramente com o que escreveu pois penso que os exames são absolutamente necessários para avaliar os conhecimentos dos alunos.
Quanto ao Sr. Nogueira tem toda a razão, mais uma vez,só não percebo como pode uma classe "professoral" ter uma tal figura a representa-la.

Jorge Felner da Costa disse...

Caro Francisco,
Revi-me no seu artigo e comungo das mesmas críticas que fez à precipitada decisão do PS em alinhar neste ataque à avaliação dos alunos e dos professores.
Por sinal era nos exames que conseguia tirar as melhores notas, talvez porque me aplicasse mais do que durante o ano lectivo, mas nunca me passou pela cabeça que ficaria melhor sem essas provas.
Sinto que este alinhar por baixo, tanto para alunos como para professores, é apenas uma promoção do facilitismo, para que todos sejam iguais perante as parcas ofertas do mercado de trabalho, perturbando a meritocracia tão indispensável à evolução e ao progresso do nosso pobre País.
Parabéns e um abraço
Jorge Felner da Costa

António Borges de Carvalho disse...

Muito bem!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...