Posso estar enganado, mas não me parece que projete na opinião pública portuguesa um sinal de que a nova maioria parlamentar tem um sentido certo das prioridades políticas fundamentais para o país o facto de serem escolhidas questões como a eliminação das taxas moderadoras para o aborto ou a adoção por casais homossexuais como os primeiros temas em que se objetiva o respetivo entendimento. Embora pessoalmente não tenha objeções substantivas perante ambas as iniciativas, não me parece correto que se crie a ideia de que a agenda parlamentar está como que refém de causas "fraturantes", que o país está muito longe de assumir como urgentes. Em especial, fica criada a ideia de que o PS vai a reboque de uma agenda que não é a sua. Menos feliz e sintomático me parece também o facto de se terem detetado, e evidenciado a público, divergências formais entre os partidos da nova maioria quanto ao modo de apresentação da questão da reposição dos feriados, o que obrigou ao atraso na iniciativa legislativa - cuja pressa, aliás, não é nenhuma. "First things first", dizem os ingleses e com razão.
Em tempo: um amigo faz-me notar, em jeito de remoque, que o PSD/CDS defende a posição que exprimi neste texto. "And so what?". Eu penso pela minha cabeça. E acho muito bem que, por uma vez, sigam o que eu digo...
9 comentários:
Andou Mário Soares a servir sapos durante tantos anos, para agora o PS recolher alguns sapitos que sobraram.
Talvez Costa e o seu partner açoriano os recolham e guardem só para eles.
Custa-me perceber porquê que não percebem que o Povo não quer qualquer destes protagonistas desde a direita à esquerda. Tanto os que votaram como quem não pôs lá os pés.
Vê-se que não têm vergonha e não dão espaço a quem a tem!
antónio pa
Não concordo com o post. A questão é a seguinte: enquanto não há governo, a Assembleia da República não tem muito que fazer. Tem portanto tempo para se dedicar a coisas que só a ela dizem respeito, como sejam estas questões ditas "fraturantes", que são questõs que não carecem de uma proposta de lei da parte do governo nem do assentimento deste.
A bandalheira e a falta de valores a institucionalizarem-se no meu querido Portugal
Subscrevo inteiramente este post. E é assim, com estes deslizes desnecessários, que o "estado de graça" de um governo PS, ainda antes de o ser (e veremos ainda se o será), se esvai num "ai". E é mau, muito mau, que o PS deixe instalar a ideia de que vai andar a reboque. E este ponto é um dos meus receios.
O comentador Luís Lavoura tem razão. Todavia, a questão que refere dos Feriados é igualmente pertinente. A posição do PCP, com base em procedimentos da A.R não caiu bem. Mariana Mortágoa, no debate com Teresa Leal Coelho, na Sic, tentou, com sabedoria e diplomacia, dar a volta ao texto (embora se percebesse o seu descoforto). Fica-me a impressão de que o único parceiro político com alguma solidez, para o PS, é o BE. E, quem sabe, talvez o PEV. Enfim, vamos lá ver como seguirá a caravana. Conduzida com mestria e imansa paciência por António Costa. Será que, em boa verdade, o PCP nunca mudará?
David Lencastre
Mas como é que o PS pode não andar a reboque? Quem vota neles?
João Vieira
claro! Evidentemente...
"José Tomaz de Mello Breyner disse...
A bandalheira e a falta de valores a institucionalizarem-se no meu querido Portugal "
Desde quando? Desde que o poder se comporta como o herdeiro, daqueles que perderam a revolução. Os valores de Abril não são só esquecidos, como são atacados. E não é a burguesia, que sucedeu à nobreza, que está preocupada pela situação, porque a provocam.
A saúde, a educação, a segurança Social, o direito ao trabalho, a reforma, são direitos que não lhes interessam. Por isso os atacam, Senhor Mello Breyner.
O "seu querido Portugal" é vendido em leilão e comprado pelo estrangeiro a vil preço. O nosso, o meu Portugal onde nasci vejo-o representado aqui, neste país onde vivo, por aqueles que não tiveram um futuro e foram obrigados a emigrar, assim aconselhados pelos seus amigos do governo. Muitos, continuam a ser concierges, empregadas domésticas, (uma promoção, porque ai os burgueses chamam-lhes criadas) e no que podem encontrar, segundo as suas capacidades.
O governo hipoteca de maneira perigosa a nossa soberania, o nosso futuro. A fome é agora quotidiana em certas camadas da população, enquanto que os ricos se enriquecem cada vez mais. A injustiça social reina. Quem transforma os Portugueses em sob proletariado da Europa, incitando-os a emigrar? Se é isso estar na Europa, não sei se não valia melhor não ai estar!
A democracia não se resume ao voto. Implica um contrato entre eleito e eleitor. O neo fascismo aponta o nariz em muitas declarações de certos ministros.
A verdade é que não têm a coragem de dizer que são contra o 25 de Abril.
A maioria pratica a política em voga no mundo ocidental: servem-se em vez de servir; lutam pelos interesses em vez de lutar pelos valores.
São estes e aqueles que os apoiam, que criam a bandalheira.
A liberdade, a democracia, a solidariedade, a justiça social, estão longe das suas preocupações.
Antes de lamentar a bandalheira e a falta de valores, seria bom de olhar à sua volta, neste belo país minado pela corrupção das elites, tão longe do sonho que cada Português teve, quando ouviu alguém, em frente do Castelo de Guimarães, em 1940, dizer: " Portugal pode ser se nós quisermos, uma grande e prospera Nação".
Não existe prescrição contra a verdade: os erros pelo facto de serem velhos não são melhores.
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