Conheço Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, há bastantes anos. É uma personalidade a quem sempre reconheci um elevado sentido de responsabilidade no serviço público, uma pessoa séria e dedicada, com grande conhecimento da área financeira e europeia. Não tenho a menor dúvida em considerá-lo um dos grandes técnicos que Portugal possui nesta área.
Todos estes atributos não excluem a possibilidade de Carlos Costa poder cometer erros. No caso BES pareceu-me ter ficado evidente que Carlos Costa, podendo tendo visto chegar a "vaga" da tragédia que se aproximava, não foi capaz, em tempo útil, de "puxar o tapete" a Ricardo Salgado. A doutrina divide-se sobre as razões por que assim procedeu, sendo que a versão menos benévola é a de que teve receio de provocar um embaraço público ao governo no termo da presença da "troika", com risco de afetar a "glória" da "saída limpa".
Já me parece menos criticável a solução encontrada para o BES, embora todos devamos estar solidários com os custos que a mesma implicou para muitos. Naqueles difíceis dias, julgo que Carlos Costa - que o executivo deixou, de forma cobarde, sozinho no meio da praça - teve uma atuação muito responsável e tecnicamente tão boa quanto era possível. Com a única exceção, como à época aqui disse: não ter acautelado a eventualidade do processo poder acabar por ter um encargo substancial para o erário. Neste particular, ao afirmar, com aparente convicção, aquilo que não era uma evidência, fez um desnecessário frete ao governo e não prestou assim um serviço à imagem do Banco de Portugal. Foi pena.
A recondução de Carlos Costa por Passos Coelho não me surpreendeu. Como também não me surpreendeu que os tenores da maioria na Assembleia da República, que haviam sido estimulados pelas declarações da ministra das Finanças a criticar a supervisão na Comissão parlamentar de inquérito sobre o BES, tivessem mudado de agulha verbal, quando confrontados com (mais um)a cacofonia dissonante do governo - e isto não é um elogio para eles, é claro.
O primeiro-ministro quer no Banco de Portugal, nos próximos anos, alguém que prolongue, qualquer que seja o seu destino nas urnas, a defesa da bondade da solução encontrada para o BES. Melhor: alguém que lhe sirva de pára-raios retroativo no caso do processo Novo Banco vir a obrigar um forte custeio orçamental. Passos Coelho, lá de Massamá, irá silenciosamente fazer dizer que a decisão da solução foi de Carlos Costa. Se acaso as coisas correrem menos mal, então não deixará de lembrar que foi ele quem renomeou Carlos Costa.
Termino dizendo que Carlos Costa não deveria ter aceite continuar sem exigir ao governo que o PS ficasse associado à sua recondução. Da mesma maneira que, quando foi nomeado por um governo PS, este não deixou de tomar em conta a opinião do então principal partido da oposição, o PSD, partido de quem Carlos Costa nunca escondeu estar politicamente próximo. Tenho muita pena que isso não tivesse acontecido, por Carlos Costa e pelo país, que necessitaria de ter, nos próximos anos, um governador do Banco de Portugal forte e com um reforço político assegurado.