domingo, maio 17, 2015

Paris, Grécia


Há coincidências curiosas.
 
Ontem, ao final da tarde, fui atestar o depósito do carro numa bomba de gasolina na rua Domingos Sequeira, entre a Estrela e Campo de Ourique. Olhei então, com a habitual tristeza, a ruína do Paris-Cinema, que ali está há anos, sem solução urbanística à vista, já que é óbvio que a sua recuperação como casa de espetáculos estaria sempre fora de causa.
 
Entrei uma única vez naquela sala de cinema. Fará exatamente meio século, lá para outubro. Passei então duas semanas em Lisboa e, com um primo, fui lá ver o "Zorba", o filme com Anthony Quinn, Alan Bates e Irene Papas, uma mulher com beleza mediterrânica muito interessante, com um olhar simultaneamente rude e misteriosamente doce. Foi um filme que, à época, me impressionou imenso. E me fez conhecer, pela primeira vez a música belíssima de Mikis Teodorakis (ao lado de quem, uma vez, viajei entre Benghazi, na Líbia, e Atenas, apenas com coragem para lhe dizer como apreciava a sua música). Foi o "Zorba" que, se bem me lembro, despertou o meu primeiro interesse pela Grécia.
 
A coincidência está no facto de, há minutos, o "Zorba" ter surgido na televisão. Não consegui evitar rever o filme e, mais do que olhar de novo a sua trama, dei comigo, como sempre acontece com coisas que me marcaram (filmes, livros, situações), a recordar-me de como, neste caso há 50 anos, eu sentira o que vira. É enquanto estou a vê-lo que escrevo este post. 
 
Sei que a Grécia não está na moda, embora creia que vai estar cada vez mais nas notícias, talvez dentro em pouco, pelas razões menos boas (no entanto, alguns palermas domésticos não deixarão de aplaudir a tragédia alheia). Foi com essa nuvem de algum desgosto que hoje apreciei o "Zorba". E a sua dança.
 
Deixo a foto do Paris-Cinema como foi no passado. Uma imagem antiga, porque a ruina que agora lá está parece-se cada vez mais com alguma Grécia dos tempos de hoje e, provavelmente, dos que aí virão. 

13 comentários:

jose neves disse...

Snr. Embaixador, penso eu que essa rua deve ser uma onde morei como estudante e chamava-se Domingos de Siqueira.

opjj disse...

V.Exª estará a chamar palerma a talvez mais de metade do país. Poços sem fundo não existem para pagar a gregos que têm salários e pensões mais altos que por cá.Isto acontece pq não se ajudaram a si próprios e não diga que foi por falta de serem ajudados.

Cumps

Abraham Chevrollet disse...

Vamos deixar morrer a Babulina sem qualquer ajuda? Vi o filme há cinquenta anos e nada esqueci.

Anónimo disse...

Lembro-me com saudade do Paris onde ia ao sabado ha 45 anos com uma amiga e colega de faculdade convidadas, pelo avo dela que morava em Campo de Ourique. Nao me recordo que filmes vimos entao mas certamente franceses e italianos. Uma amiga minha dizia-me que costumava ir com o marido as sessoes duplas do Paris onde encontravam regularmente Almeida Negreiros e Sara Afonso de quem eram amigos.

Nao havera um rico homem cinefilo que queira investir na recuperacao de uma sala de cinema com historial para exibir filmes de qualidade sem pipoca? As salas de cinema em Lisboa fecham a velocidade relampago - Londres, King, sei la que mais e as salas de cinema em centros commerciais e quem mais ordena. Que tristeza!

Acaba de ser recuperada uma sala de cinema em Londres-O Regent Street Cinema onde foram exibidos os primeiros filmes dos manos Lumiere. As obras demoraram uns anos,felizmente mantiveram os elementos "deco" e o orgao que subia/vai subir das entranhas para o palco.Faz parte da Universidade de Westminster e vai inaugurar com o "Citizen Kane". Ainda nao fui ver, nem por dentro nem por fora mas irei em breve. Amanha e dia de curtas metragens (mudo) de Chaplin no NFT e ainda esta semana "8 e meio" restaurado.

Terminando: nao consigo lembrar-me em que cinema vi o Zorba pela primeira vez. Marcou-me, marca-me pela realizacao, musica actores, certamente Maria Papas, excelente actriz de uma beleza nao espampanante que muitos realizadores notaram e aproveitaram. Se nao estou enganada tambem Manoel de Oliveira. Vou verificar.

O melhor possivel para a Grecia e a U.E.neste dia de sol.

Bom domingo para si. Vai ao Nimas?

Abraco

F.Crabtree

Joaquim de Freitas disse...

Dois aspectos a analisar para comentar OPJJ: Salàrios minimos em Janeiro 2015:



Allemagne 1 473 €
Belgique 1 502 €
Bulgarie 184 €
Croatie 395 €
Espagne 757€
Estonie 390 €
France 1 457 €
Grèce 520
Hongrie 333 €
Irlande 1 462 €
Lettonie 360 €
Lituanie 300 €
Luxembourg 1 922 €
Malte 721€
Pays-Bas 1502 €
Pologne 410 €
Portugal 590 €
République tchèque 332 €
Roumanie 218 €
Royaume-Uni 1379 €
Slovaquie 357 €
Slovénie 791 €



2° Já muito se escreveu neste blogue sobre a corrupção das elites gregas de todos os partidos, que meteram no bolso as verbas da UE e não dirigiram o país. Se o ministro das finanças do governo precedente foi para a prisão - 20 anos - não é por outra razão.

Que cidadãos dum país , Portugal, que se arrasta na miséria à tantos anos, que viu nestes últimos anos meio milhão dos seus filhos emigrarem, possam ser adeptos daqueles que roubaram o povo grego é de espantar.

Que fizeram os gregos para ver a sua dívida pública aumentar? O governo grego aplicou muito simplesmente o programa da Troïka, definido pelos economistas liberais, isto é o programa daqueles que querem que o mercado se substitua às escolhas políticas da democracia.

Objectivo fracassado! Fazer repartir o crescimento reduzindo os salários, as pensões, as reformas, privatizando a economia, permitir a "investidores" de se substituir ao "Estado".

Os resultados estão patentes. Brutos de verdade. Um cataclismo social.

E o Senhor OPJJ acha que é bem ? Seriam aqueles que ganham 520 euros por mês ou mesmo 600 que puseram a Grécia no estado em que se encontra hoje? E se eu fizesse a mesma pergunta aos Portugueses ?
Haja pelo menos um pouco de solidariedade entre aqueles que vivem de pouco. Já que os grandes , aqueles que detêm 90% da riqueza nacional, não precisam deste conselho.

Donelvira disse...

Credo! O que para aqui vai.
Só falta promoverem mais um corso sob o slogan: ORGULHO GAY.
HOMENS deste país : desfilem e promovam o ORGULHO HETERO.

Unknown disse...

Quem faz muito bem em analisar com muita atenção a tragedia grega que aí deve vir, são os que tanto negaram as evidencias: a Grecia estava a ser mal governada; e se possivel atuarem para que não aconteça o mesmo aqui: manterem a esperança e o sonho com realismo e boa governação.

Anónimo disse...

Foi neste cinema que, em 1969, vi o filme Seduzida e Abandonada, do Pietro Germi.
Adorei o filme, uma comédia à italiana das melhores que vi até hoje.
E nunca mais pude revê-lo.
Já o procurei na FNAC que edita tanto filme clássico - alguns verdadeiramente dispensáveis - mas este não há maneira de aparecer.
E nem a RTP 2, que volta e meia projecta filmes italianos, nem essa me acode.

Anónimo disse...

Foi no Monumental, que em Lisboa se estrou o filme Zorba o Grego. Não lembro o ano, mas foi na década de 60.

Anónimo disse...

Comentarista Joaquim de Freitas: Uma coisa eu tenho a certeza, o Senhor não ganha o ordenado mínimo em Portugal, pois se assim fosse não teria escrito 590 Euros.
Será que também errou nos outros países?

Joaquim de Freitas disse...

Até pode ser que o Senhor anónimo das 21:56 tenha razão e que os números indicados sejam falsos, mas são os fornecidos pela EUROSTAT.

De qualquer maneira, para todos aqueles que pensam que a UE é uma assembleia de economias coerentes, o exame das estatísticas sobre os salários mínimos publicados é um espectáculo de miséria e de injustiça.

Sobre 22 países europeus que aplicam um salário mínimo (nem todos aplicam), a diferença varia de 1 a 10.

8 Países em 22 aplicam um salário inferior 500 euros por mês, e 7 aplicam um salário mínimo superior a 1 000. Os outros, entre 500 e 1 000 é a miséria envergonhada.

E é nos primeiros que os segundos encontram a mão de obra barata ,que exploram ,para fazer frutificar os seus investimentos!

Não, não ganho 590 euros por mês. Teria fugido dum tal pais se ganhasse isso. Foi o que fiz há 50 anos.

Mas compartilho do sofrimento dos meus compatriotas quando vejo o que se passa em todos os campos em Portugal.

Como compartilho do sofrimento do povo grego, que deveríamos todos apoiar no seu combate contra a politica económica da UE . A derrota eventual do povo Grego não vai aliviar o povo Português. Ao contrário : vai confortar a troika na sua ideia que a austeridade é o futuro de Portugal. E que o povo Português está muito bem assim.

Reaça disse...

Aquela irresponsabilidade do Zorba grego que atira o casaco ao chão e dança...dança...! grande Antony Queen que bem retrata o espírito destes siryzas.

Estes siryzas nunca pagarão nem a água que bebem.

Anónimo disse...

Estamos todos a ficar mais "gregos" e com menos actores como o Antony Queen... e ainda por cima se escrevo mais algumas consoantes... o tal "acordo" come-as todas!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...