segunda-feira, maio 18, 2015

Embaixadorias


O meu amigo Ascenso Simões publica hoje no jornal "i" um artigo sobre a nossa diplomacia. Nele escreve algumas coisas com que concordo e outras de que discordo. É a vida.
 
(Tenho com Ascenso Simões cumplicidades antigas. Na cidade de onde ambos somos originários, há 18 anos, partilhámos uma aventura política numa candidatura ao município. Ele para presidente da Câmara, eu para presidente da Assembleia Municipal. Fomos ambos derrotados. No meu caso, por Passos Coelho ... pai!)
 
Uma das ideias que avança no seu artigo, porém, não apenas merece apenas a minha discordância como convoca a minha profunda rejeição. Vou transcrever o que escreveu:
 
"A perda de valor da CPLP deve assustar os próximos governos, deve implicar uma nova parceria entre Portugal e o Brasil, por assumir parte fundamental da penetração, na Europa e nas Américas, do poder lusófono. Esta realidade deveria elevar a nossa representação em Brasília. Se as diplomacias de outros países revelam a permissão de agentes fora da carreira, tendo em conta o posto e a estratégia para cada região, Portugal deveria poder assumir a nossa representação no território onde mais falantes de língua portuguesa se revelam, através da consagração do lugar a um antigo Presidente da República ou um anterior primeiro-ministro".
 
Três comentários.
 
O primeiro para sublinhar, sem mais delongas, que a nossa "representação em Brasília" não tem estado ao nível das exigências de Ascenso Simões. Tomo a devida nota, no que pessoalmente me toca.
 
O segundo para registar que um qualificado militante socialista entende que o corpo profissional de que a diplomacia portuguesa hoje dispõe não está à altura das exigências de projeção da nossa política externa, pelo que seria necessário um "reforço", quiçá vindo de hostes político-partidárias. Constato assim que, do seio do PS, emerge, uma vez mais, o tropismo para a nomeação de "embaixadores políticos".  
 
Um terceiro comentário. Ao localizar esta aparente exceção na "nossa representação no território onde mais falantes de língua portuguesa se revelam", Ascenso Simões mostra algum pragmatismo e alarga, com generosidade, o âmbito de recrutamento: de facto, qualquer político português possuiria o requisito linguístico indispensável para o exercício do cargo. Valha-nos isso!
 
Um quarto e último comentário.
 
Um antigo presidente da República? Sabe Ascenso Simões que a lei não permite que ninguém permaneça no serviço diplomático no estrangeiro depois dos 66 anos? Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco já passaram esse limite etário, como sabe. Muda-se a lei? Vale tudo? 
 
Um antigo primeiro-ministro? Balsemão também passou a fasquia etária, Guterres acaba de lá chegar. José Sócrates, por óbvias razões, parece excluído das contas de Ascenso Simões. Restam Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho. Venha o Ascenso e escolha... Fico curioso! 
 
Dirão alguns que este post é inoportuno. Talvez seja, tal como entendo que o artigo o foi. Porém, comigo, já deviam ter aprendido: quem se mete com o MNE leva!

15 comentários:

Alcipe disse...

Muito bem!

Anónimo disse...

Não por isto, mas eu cá mudava a lei. Que sentido faz que não se possa estar ao serviço após os 66, em querendo? Os legisladores obrigam o pessoal a trabalhar até mais tarde e depois impede-os de ter emepregos depois de determinadas idades. Eu que estou desempregado há quatro anos já não escapo a ter de trabalhar até depois dos setenta.

Vou ter de ir para as obras onde estão os colegas de escola de Jorge Jesus já que não posso estar nas embaixadas, onde está gente com habilitações e origens sociais burguesas como as minhas?

Anónimo disse...

Eu, socialista, creio que este artigo foi escrito à imagem de Sócrates.

Sabendo da amizade do Ascenso com o ex-PM - que aliás o tratou bem antes de ir embora ao nomeá-lo vogal da ERSE, matéria na qual era um especialista nato (ironia) - e que foi o impulsionador público para que Cavaco o agraciasse...

Só um MNE doido ou um PM cairia nisto. O individuo gozando de imunidade e ainda por cima embaixador politico num país com o Brasil.

Havia de ser bonito!!!



Anónimo disse...

Para além de mero corporativismo não se enxerga como é que alguém fora da carreira não poderá dar um bom embaixador. José Augusto Seabra foi seguramente melhor representante de Portugal na UNESCO. Pela mesma ordem de ideias então Sampaio da Nóvoa, que o embaixador Seixas da Costa aliás apoia, também não poderia servir como PR pois vem de fora do mainstream. Onde é que está a diferença? Eu sei que um acesso de corporativismo cai sempre bem na carreira...
Sócrates embaixador no Brasil daria seguramente um excelente Embaixador. Mas o que está mesmo é na altura de Soares, que tem sido como sempre um Homem destemido e corajoso, vir a terreiro e explicar porque é que a magistratura lhe deve um pedido de desculpas. É que se os falsos testemunhos levantados contra Sócrates não irão dar em absolutamente nada era bom que Soares viesse a público explicar por a+b os motivos da inocência de Sócrates. Por mim nunca me conformei com o mau serviço prestado à democracia pelos juízes pela prisão de Sócrates. É que se Sócrates nos enganou e nos mentiu a nós votantes seria bom confrontá-lo a céu aberto e em público a nós votantes com os barretes. Se o barrete vem dos juízes e procuradores então era bom que estes fossem postos a andar. Quanto antes.

Carlos Fonseca disse...

O seu amigo Ascenso Simões parece estar a passar uma fase um tanto confusa.

Hoje, a propósito da "agressão" de um adepto benfiquista, que quis danificar o bastão de um polícia com o próprio corpo, escreveu esta pérola:

"Perante situações em que esteja em causa a ação policial o meu primeiro comentário é sempre de apoio, incentivo e compreensão para os soldados e agentes das forças de segurança."

Um amigo meu diz que ele deve estar à espera de uma secretaria de Estado no MAI, no próximo Governo PS.

Eu não vou tão longe. Todos temos dias (e semanas e meses - às vezes anos) menos felizes.

Anónimo disse...

CArlos Fonseca põe o dedo numa ferida socialista.

"Perante situações em que esteja em causa a ação policial o meu primeiro comentário é sempre de apoio, incentivo e compreensão para os soldados e agentes das forças de segurança."

E onde se lê acção policial pode ler-se acção judicial.

Depois admirem-se que o braço judicial-policial ande como anda. Se nem um próximo de Sócrates percebeu o que está em causa e entre pelos olhos dentro como a porcaria de uma xulipa de via férrea.

Anónimo disse...

Quem é o Ascenso?

Paulo Correia disse...

Meu Caro Seixas da Costa,

O Ascenso Simões revela uma imaturidade nada abonatória para um quadro do PS. Não sei que qualificações extra terá um ex-presidente da república ou um ex-PM. Aliás, como demonstra, a escolha é diminuta e... discutível.

Além do mais revela uma deselegância para um "compagnon de route". Preocupante, no mínimo...

Uma proposta para ignorar com toda a diplomacia. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Ao anónimo das 18:06

Quanto mais anos as pessoas trabalharem menos emprego haverá para as mais jovens.

E quando se fala tanto em empreendedorismo, gostaria de saber qual a alminha que tanto o propaga que empresa/empresas montou com viabilidade e saúde financeira, sem ter dinheiro algum para a(s) montar? É que com as taxas que os bancos cobram, para além de cada vez menos quererem assumir riscos, ou se tem fundo de maneio (algo quase impossível nos dias de hoje) ou é para esquecer.

Assim sendo, a idade de reforma devia era diminuir. Como mais jovens a trabalhar mais fácil será de estes suportarem as reformas.

O busílis está é no valor das reformas em Portugal. Coloque-se um teto máximo com há na Suíça.

patricio branco disse...

em suma, o sr quer é embaixadores politicos e de proveniencia politico-partidária

Anónimo disse...

Ao anónimo de "19 de maio de 2015 às 10:46"

Vou explicar devagarinho.

Eu não fiz ABSOLUTAMENTE NENHUM comentário quanto à bondade de aumentar a idade de reforma.

O que disse foi FACTUAL. Que os legisladores têm aumentado a idade de reforma e as idades de desconto, enquanto valorizam a dão gás aos que impedem os mais velhos de trabalhar.

É melhor repensar o que diz, que não resolve em nada o meu problema, nem o de milhões de portugueses futuros.

Que é mau trabalhar também eu acho, mas não vejo maneira de me arranjarem sinecuras.

Anónimo disse...

Caro Anónimo de 18 de Maio às 18h41,

Terá sido certamente um acaso, a imagem da grã-cruz da ordem de Cristo que encima este post... só por azar se lembraria, a Ascenso Simões, a carta que escreveu - em Outubro passado - "a consagrar uma visão mais ampla das funções do Chefe de Estado" e a exigir essa mesma condecoração para um ex-primeiro-ministro.

DH


Anónimo disse...

Ah, o famoso "esprit de corps" ;)...Senhor embaixador, eu tenho a certeza de que há diplomatas de carreira que fazem asneiras, assim como diplomatas políticos que as fazem e entre os dois géneros haverá também bons exemplos de competência. Não sei qual a percentagem de uns e outros, mas tenho a certeza de que os diplomatas de carreira não são formados de nascença, como se diz dos príncipes, para servir a pátria com alto sentido de Estado. Depende.

Francisco Seixas da Costa disse...

Ao Anónimo das 20.32. Não há "diplomatas de carreira" e "diplomatas políticos". Há políticos que, não tendo essa profissão, tiveram inopinado acesso a ela por via ... política. Alguns fizeram a tarefa bem? É verdade, mas a mim ninguém me deu a oportunidade de ser Chefe do Estado Maior da Armada ou Juiz do Supremo Tribunal de Justiça. E, se calhar, fazia bem essa função. Por alguma razão há carreiras: cada macaco no seu galho...

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, não sei se faz sentido a sua comparação com o Supremo Tribunal de Justica ou Forças Armadas. Isso levar-nos-ia para o tema do acesso à carreira da diplomacia, qualificações e formação dos diplomatas, que gostaria que desenvolvesse. Sobre isto, julgo que reconhece a alguns embaixadores politicos alguma competência e a um ou outro até um trabalho meritório. Seria muito mais dificil reconhecer-se a alguém sem uma longa formação académica e prática na justiça um bom trabalho à frente do Supremo Tribunal de Justiça, ou não? Nem sequer consigo conceber tal coisa. Mesmo não percebendo nada do assunto, tenho pelo menos esta dúvida razoável.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...