terça-feira, maio 12, 2015

A mesa e o negócio


O debate em torno da promessa socialista de baixar fortemente o IVA que incide sobre a restauração veio chamar a atenção para a importância de uma das atividades económicas com maior impacto na criação direta de emprego, como é testemunhado pelas recuperações sazonais que se refletem anualmente sobre esses índices. O que se passou nos últimos anos neste setor, fortemente fustigado pela carga fiscal e pela perda de poder generalizado de compra dos potenciais clientes nacionais, representou um golpe fatal para muitas PME do setor, com consequências no encerramento de muitos milhares de pequenas unidades, um pouco por todo o país.

Em certas zonas, contudo, graças ao esforço denodado de muitos operadores e a um notável trabalho das entidades promotoras do nosso turismo, os impactos negativos conseguiram ser relativamente atenuados e muitos restaurantes foram capazes de sustentar a sua atividade e, em alguns casos, a melhor qualificar a sua oferta.

Olhando para as últimas décadas, somos forçados a constatar que a crescente atratividade da nossa gastronomia se constituiu como um dos fatores em que se alicerça parte significativa do novo turismo que procura Portugal, o que também se liga ao reconhecimento, cada vez mais evidente, dos nossos vinhos à escala global. Basta estar atento às grandes revistas internacionais da especialidade, bem como aos suplementos da grande imprensa mundial, para concluir que, dia após dia, o produto turístico português, sem perder a tradicional oferta do sol-e-praia, e conjuntamente com a requalificação da oferta cultural, está a atrair pela gastronomia um novo mundo de clientes.

As “estrelas” obtidas por alguns restaurantes e “chefes” portugueses, que alguns ainda olham com pateta sobranceria, fazem hoje parte integrante da subida do nosso turismo na escala internacional de valor. O produto gastronómico português funciona igualmente como um meio para aumentar a visibilidade da nossa cada vez mais sofisticada indústria agro-alimentar - dos vinhos às conservas, do azeite aos queijos e outros produtos que, dia após dia, ganham relevância no nosso setor exportador e, simultaneamente, criam e fixam postos de trabalho em zonas do país até aí condenadas ao abandono e à desertificação.

Termino com uma nota de reconhecimento para duas figuras a quem o país muito deve neste domínio. Refiro-me ao jornalista e crítico José Quitério, cujo trabalho de quatro décadas em prol da cultura gastronómica portuguesa e da qualificação da oferta em matéria de restauração foi recentemente reconhecido pela Universidade de Coimbra, ao atribuir-lhe o seu prémio anual, e ao engenheiro José Bento dos Santos, produtor vinícola e presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia, a cujo assinalável prestígio internacional, a cumular uma vida dedicada ao aprofundamento desta temática, muito se deve o facto de o nosso país ter sido recentemente escolhido para sede da Secretaria-Geral da Academia de Gastronomia da União Europeia.  

(Artigo que hoje publico no "Diário Económico)

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Agostinho Jardim Gonçalves

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