O debate em torno da promessa socialista de baixar
fortemente o IVA que incide sobre a restauração veio chamar a atenção para a
importância de uma das atividades económicas com maior impacto na criação
direta de emprego, como é testemunhado pelas recuperações sazonais que se
refletem anualmente sobre esses índices. O que se passou nos últimos anos neste
setor, fortemente fustigado pela carga fiscal e pela perda de poder generalizado
de compra dos potenciais clientes nacionais, representou um golpe fatal para muitas
PME do setor, com consequências no encerramento de muitos milhares de pequenas
unidades, um pouco por todo o país.
Em certas zonas, contudo, graças ao esforço denodado de
muitos operadores e a um notável trabalho das entidades promotoras do nosso
turismo, os impactos negativos conseguiram ser relativamente atenuados e muitos
restaurantes foram capazes de sustentar a sua atividade e, em alguns casos, a
melhor qualificar a sua oferta.
Olhando para as últimas décadas, somos forçados a constatar
que a crescente atratividade da nossa gastronomia se constituiu como um dos
fatores em que se alicerça parte significativa do novo turismo que procura
Portugal, o que também se liga ao reconhecimento, cada vez mais evidente, dos nossos
vinhos à escala global. Basta estar atento às grandes revistas internacionais
da especialidade, bem como aos suplementos da grande imprensa mundial, para
concluir que, dia após dia, o produto turístico português, sem perder a
tradicional oferta do sol-e-praia, e conjuntamente com a requalificação da oferta
cultural, está a atrair pela gastronomia um novo mundo de clientes.
As “estrelas” obtidas por alguns restaurantes e “chefes”
portugueses, que alguns ainda olham com pateta sobranceria, fazem hoje parte
integrante da subida do nosso turismo na escala internacional de valor. O
produto gastronómico português funciona igualmente como um meio para aumentar a
visibilidade da nossa cada vez mais sofisticada indústria agro-alimentar - dos
vinhos às conservas, do azeite aos queijos e outros produtos que, dia após dia,
ganham relevância no nosso setor exportador e, simultaneamente, criam e fixam
postos de trabalho em zonas do país até aí condenadas ao abandono e à desertificação.
Termino com uma nota de reconhecimento para duas figuras a
quem o país muito deve neste domínio. Refiro-me ao jornalista e crítico José
Quitério, cujo trabalho de quatro décadas em prol da cultura gastronómica
portuguesa e da qualificação da oferta em matéria de restauração foi
recentemente reconhecido pela Universidade de Coimbra, ao atribuir-lhe o seu
prémio anual, e ao engenheiro José Bento dos Santos, produtor vinícola e presidente
da Academia Portuguesa de Gastronomia, a cujo assinalável prestígio internacional,
a cumular uma vida dedicada ao aprofundamento desta temática, muito se deve o
facto de o nosso país ter sido recentemente escolhido para sede da
Secretaria-Geral da Academia de Gastronomia da União Europeia.
(Artigo que hoje publico no "Diário Económico)
Sem comentários:
Enviar um comentário