Depois das bravatas iniciais, para alemão ver, as vozes governamentais portuguesas foram moderarando a sua hostilidade pública contra a Grécia, confiando em que os gregos se encarregariam, eles mesmos, de cavar a sua própria cova. No que quase acertaram... É hoje claro que o Portugal oficial era, de há muito, bastante favorável à saída da Grécia do euro.
O governo português foi dizendo o contrário, claro, aliás como todos os que, pela Europa, partilhavam a mesma ideia. Até que aconteceu o referendo grego. Aí, com a cambalhota de Tsipras, a quem não se viam artes de fazer o contrário daquilo para que fora votado, alguns Estados acharam ter encontrado o pretexto ideal para pôr a Grécia "com dono". O argumento da "perda de confiança" caiu como sopa no mel no Eurogrupo e, daí, foi transportado politicamente para os "adultos" (como diz Christine Largarde). Parecia descoberto um motivo natural para a "eurolândia" se livrar da Grécia, para "purificar" o euro e regressar à "pax germânica". Berlim aí se encarregaria de proteger os seus "länder" ibéricos, tremidos nas eleições que se avizinham.
Porém, enganaram-se numa coisa: a Grécia tudo faria para continuar no euro. Mesmo um "hara-kiri". Mesmo que isso implicasse cair no ridículo negocial e ter de aceitar condições muito mais duras do que as que, sob a indignação maioritária do país, tinha acabado de recusar com estrondo. Imagino que, para cabeças nórdicas, nada disso fizesse sentido. Até para nós, confessemos, não fazia muito...
Mas a Grécia vive noutro mundo! E, para além das suas erráticas táticas, terá tido um sobressalto estratégico e percebeu que (1) uma certa Europa estava, de facto, fortemente predisposta a afastá-la do euro e (2) que isso corresponderia à sua irrecuperável periferização e agravamento de empobrecimento, para além de que (3) era dessa mesma Europa que, a bem ou a mal, poderia surgir o financiamento para a sua sustentação, depois da trágica experiência partilhada com as receitas do FMI. Porém, esta obstinação grega, aliás num registo algo masoquista, não teria servido de muito se não encontrasse eco em quem tem ainda, sabe-se lá por quanto tempo, a possibilidade de levantar a voz à Alemanha.
Assim, seria graças à teimosia da França, aliás por razões que foram muito para além da mera "salvação" da Grécia, que Berlim foi impedida de levar a sua avante e criar condições para uma saída imediata do país da zona euro. Digo "imediata", porque é evidente que nada está ainda "perdido" para quantos acreditam que uma purga do euro é a solução ideal para o futuro. Isso aliás pode observar-se lendo a esperança raivosa que é alimentada por algumas "viúvas do Grexit" na nossa imprensa, no dia de hoje.
Dia de hoje que é o "14 juillet", a data nacional francesa. Dia em que, também por isto, apetece dizer: "Vive la France!"