quarta-feira, julho 01, 2015

UNESCO

Em 2012, este governo decidiu que a nossa missão junto da UNESCO deveria deixar de ter um embaixador dedicado exclusivamente à organização e que o lugar deveria passar a ser exercido, cumulativamente, pelo embaixador em França. 

Várias vozes se fizeram então ouvir contra esta decisão, tentando mostrar a insensatez da mesma, num tempo em que o país comemorava ainda a elevação do Fado a "património imaterial" da UNESCO, quando, no seio da organização, levávamos a cabo uma delicada negociação para a compatibilização da construção da barragem Foz Tua com o estatuto do Alto Douro Vinhateiro como "património material", para além de outros dossiês complexos em curso. 

Procurou-se mostrar que não tinha sentido Portugal enfraquecer uma das principais frentes de defesa e promoção da língua portuguesa, numa organização a que o Brasil ou Angola dedicavam embaixadores e grande atenção, onde um modelo como o português, no quadro da União Europeia, só era seguido por um grupo reduzidíssimo de minúsculos países. Finalmente, explicou-se que o acompanhamento das questões do Mar, a que Portugal dedicava uma atenção, pelo menos retórica, ficaria debilitado por este gesto. Nada feito: a decisão de retirar o embaixador dedicado à UNESCO era definitiva.

O diplomata que ocupava o posto da UNESCO estava nele há menos de um ano e foi transferido para outro destino. Mudar um embaixador é caro, envolve encargos importantes, significa a perda de uma rede de contactos entretanto estabelecidos. Encerrar uma residência de uma embaixada também, com finalização de contratos, despedimento de pessoal, transporte de mobiliário, etc. Mas a decisão do governo, e do ministro que a titulou, cumpriu-se. E o embaixador em Paris (que, por acaso, era eu) assumiu as funções e as respetivas tarefas.

Passaram três anos. O governo decide agora recolocar um embaixador na UNESCO. Nunca o devia ter retirado. E lá vamos agora ter que realugar uma casa, mobilá-la, recontratar pessoal e toda a imensidão de passos necessários à instalação do novo chefe da missão, o qual, entretanto, nem gabinete passou a ter nos escritórios junto da UNESCO, dispensado então por desnecessário. 

O que é que se terá passado para justificar que o mesmo governo que, com "sólida" argumentação, tomou a anterior decisão assuma agora uma posição inversa? Mudou o ministro? Ora essa! Então as decisões não são colegiais, do governo? E nesse governo não é hoje vice-primeiro-ministro a mesma pessoa que, em 2012, era o ministro dos Negócios estrangeiros? 

Andam a brincar com o dinheiro e a dignidade do Estado, com este ao sabor de humores de quem conjunturalmente o titula. 

14 comentários:

Bartolomeu disse...

Se em 2012, para o ministro que tutela a "coisa" deixou de fazer sentido manter um embaixador para a UNESCO e todos os encargos inerentes ao cargo, (como muito bem pergunta) o que é que desde aí mudou para que hoje se considere necessário nomear e instalar um novo chefe de missão na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura?
Hmmm...
Das duas, uma: ou em 2012 quiseram dar mais trabalho ao Embaixador Seixas, ou então... estão a pensar elevar a património imaterial da UNESCO o nosso valioso e genuíno "NACIONAL BACOQUISMO".
Voto na segunda... ou na terça... na qurta, aliás!

Anónimo disse...

Sr. Embaixador,

Antes de andarem a brincar com o dinheiro e a dignidade do Estado andam a GOZAR connosco. Povo Português!

Depois querem ser levados a sério. Por favor!!!

Se isto continua assim termina muito mal. Todos os partidos têm de começar a pensar melhor as suas atitudes.

Ésse Gê (sectário-geral) disse...

Nem Mais:

“ANDAM A BRINCAR COM O DINHEIRO E A DIGNIDADE DO ESTADO, COM ESTE AO SABOR DE HUMORES DE QUEM CONJUNTURALMENTE O TITULA.”

MM disse...

Quem sera que vai ocupar o lugar? Talvez ai se encontre a resposta à inversao da decisão de 2012...

Anónimo disse...

E na UNESCO havia uma equipa formidável, a apoiar excelentemente os embaixadores mencionados. Falo de Pedro Sousa Abreu e de Teresa Salado - e sei do que falo.

JPGarcia

Anónimo disse...

Nem mais! O que esteve por detrás desta decisão terá sido o de satisfazer uma ambição pessoal de quem queria ir para Paris, inicialmente o Consulado Geral e depois, como entretanto "reservado", para o que se teve de reabrir o que se tinha fechado. Portas tomou uma decisão lamentável, ao encerrar a RP na Unesco e agora engole a sua reabertura, por decisão do PM, e não do Ministro. O MNE ao sabor de pequenos e egoistas interesses. Você tem razão. Convém sublinhar que quem saiu, quando se encerrou a RP da Unesco era um diplomata, embaixador, muito considerado e competente. Fosse outra pessoa, do circulo pessoal e politico de Portas que lá estivesse e a nossa RP junto da Unesco ainda hoje continuava e esta transferencia teria sido agora um acto normal de mudança de cadeiras diplomáticas. Assim não é. Ou não foi.
a)Rilvas

Majo disse...

~~~
~ Muito bem inferida,
~~~~~~~~~~~~~~~~
a conclusão da sua interessante crónica.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Anónimo disse...

Principalmente com a educação, que segundo alguns "foi uma festa"; do Blog "Delito de Opiniâo"

"Perpétuo Engano de um Aluno do 9º Ano
por Francisca Prieto, em 01.07.15:

Navegávamos em auto mar

Anónimo disse...

Talvez seja para encaixar alguém do grupo. Até tremo, só de pensar que ainda podemos levar com eles de novo. Pois são de alta confiança e competência e só pensam no País e nos Portugueses (PaF).

Já agora. 19 menos 1, quantos ficam?

Anónimo disse...

Infelizmente, na questão do Vale do Tua a UNESCO e o nosso Governo optaram pela decisão errada.

As Novas Barragens estão a ser construídas para servirem de apoio às Eólicas (para acumular o excesso de energia produzido pelas Eólicas). Ainda por cima, há poucos dias foi assinado um acordo, para as interligações da energia (redes eléctricas) dos vários países europeus o que torna as Novas Barragens um verdadeiro absurdo.

Este é mais um exemplo onde se vão gastar milhares de milhões para coisa nenhuma.

Envio a notícia que foi publicada no Jornal Público do 2-07-2015


Portugal, Espanha e França assinam acordo para as interligações de energia

www.publico.pt/economia/noticia/portugal-espanha-e-franca-assinam-acordo-para-as-interligacoes-de-energia-1700509

Anónimo disse...

Chico Amigo

Depois do texto como sempre muito bem escrito, vivido e comentado que mais poderei dizer a não ser quem 2012 se tratou de uma decisão irrevogável...

Andam mesmo a gozar connosco, i.e. com os Portugueses.

Quo usque tandem abutere, Belém & S. Bento & MNE, patientia nostra?

Abç

Anónimo disse...

E sobretudo reabre-se uma missão diplomática para colocar um jovem apparatchick que convém encaixar em phasing Out do poder laranja. É fartar vilanagem, que com Jaime Gama não se podia beneficiar os socialistas em nome do sentido de Estado e da equidistância. Volta Luis Amado para continuar o franquear de portas ao poder laranja!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro João Vieira. Ser de direita não lhe dá carta de alforria para ser "caceiteiro" por aqui. Ou escreve as suas ideias com elegância e educação ou corto-lhe a "coleta" e vai pregar para outra freguesia. Está entendido? Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro Francisco Seixas da Costa
E o que escrevi sem elegância e correção? Não o fiz, mas penso que escrevi qualquer coisa com o propósito de o incomodar.
João Vieira

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...