segunda-feira, junho 29, 2015

As leituras e as ideias

Alimento, com regularidade diária, desde há mais de seis anos, este blogue. 

Amigos e conhecidos perguntam-me, por vezes, que outros blogues leio. Ficam surpreendidos quando lhes confesso que, por falta de tempo, raramente leio blogues alheios. Mas mais surpreendidos ficam quando lhes asseguro que, desde há muito, deixei de ler blogues cujos autores professem ideias que sei, à partida, que são próximas das minhas. Procuro alimentar-me cada vez mais do contraditório e, em prioridade, só leio aqueles com quem, em princípio, sei que não vou concordar. Faço isso, não por masoquismo, mas porque o estímulo intelectual é-me cada vez mais essencial, para não me sentir preso a um mundo a-preto-e-branco, em que nos sentimos acomodados às palmadas nas costas das ideias confortáveis.

O maniqueísmo que o caso grego introduziu no debate entre nós, é um sintoma doentio, bastante triste e muito empobrecedor. Ontem, numa mensagem de Facebook, um leitor sugeria-me que eliminasse um link para um artigo de Jean Quatremer. Porquê? Porque entendia que as ideias nele refletidas tinham uma visão errada da situação grega...

10 comentários:

Bartolomeu disse...

Penso que qualquer um que tenha os sentidos da sensatez e da realidade bem afinados, perceberá que qualquer previsão do que será o desfecho da actual situação Grécia/UE e dos reflexos e impactos que esse desfecho venha a causar nas economias e finanças dos vários países e no equilíbrio dos vários governos políticos, é uma pre visão errada.

Unknown disse...

Nos blogues não costuma existir o necessário exercício do contraditório, e isso é complicado e preocupante. Abundam opiniões infundadas, distorcidas, comprometidas. O Fernando faz muito bem ao procurar e ler aquilo que entende que não concordará, pois essa atitude ajuda no exercício do contraditório, na formulação das suas opiniões, cada vez mais ponderadas e fundamentadas. Penso que é essa atitude a base fundamental do jornalismo sério e nobre. Digamos que opinadores há muitos, mas bons jornalistas ou bons cronistas há poucos.

Anónimo disse...

Faz falta Na actual Grécia um novo Sócrates: o nosso filósofo, infelizmente conhecido como o 44 !

Anónimo disse...

Faz muito bem. A única razão para o ler é discordar basicamente de si.
João Vieira

Anónimo disse...

Por acaso já aconteceu eliminar (censurar?) aqui no blog um ou outro comentário contrário. Não sei porque o fez e não me pergunte qual porque já não me lembro. Só me interessou que o tivesse lido.
Agora, quem se considera seguro sobre a situação grega, tem um imaginação tal que, certamente, para ele, ver o universo e quatro dimensões deve ser uma brincadeira, quando para mim a três já é o cabo dos trabalhos.
E como estivemos (e estamos?) perto disso (60€/dia, bancos fechados, combustíveis racionados…)!
Bem, mas como dizia ontem um nosso conterrâneo a culpa de termos maus políticos é dos abstencionistas. Ou seja a solução é substituir o hemiciclo por um círculo e considerar, também, as proposta de quem não vota, vota em branco ou nulo…

Anónimo disse...

João Vieira, discordador básico :)

Anónimo disse...

Caro Chico

O contraditório é essencial e também no jornalismo. Sempre que concordo - digo-o; sempre que discordo - digo-o... E tento (sempre tentei) ouvir a outra parte. Posso (podia) correr o risco de perder uma cacha... Que se lixasse...

O problema é que neste blogue é difícil discordar; as mais das vezes concordo contigo...

Abç

Anónimo disse...

Caríssimo Chico

A Lusa acaba de dar a público uma notícia muito interessante; tanto que mesmo sem te pedir licença aqui transcrevo a primeira parte dela:

Fontes comunitárias admitem um terceiro programa de resgate, após expirar o atual esta terça-feira, mas as condições dos credores para emprestar dinheiro a Atenas seriam semelhantes.
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou hoje que está aberta a porta para novas conversações sobre ajuda financeira à Grécia "após o referendo" que o país vai organizar no domingo.
"Se após o referendo o governo grego pedir para retomar as negociações, naturalmente que não nos vamos opor", declarou Merkel, numa conferência de imprensa em Berlim.
O referendo "está evidentemente ligado à manutenção no euro", afirmou, sem dar qualquer conselho de voto aos "cidadãos gregos responsáveis".
O ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, na mesma conferência de imprensa, foi mais direto e disse que a questão colocada no referendo é "sim ou não à continuação na zona euro".
O governo grego "deve dizê-lo claramente aos cidadãos", defendeu, na mesma linha do que foi dito pouco antes pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.


Se ainda houvesse dúvidas sobre quem é a patroa da (des)União Europeia elas ficam esclarecidas. Mesmo sem ter reeditado o Mein Kampf a dona Angela já domina a Europa e mesmo sem necessitar a Wehrmacht do Adolf, mas com o saudosa Deutsch Mark que cada vez mais (como sempre foi...) é o padrinho do Euro

Abç

patricio branco disse...

bastam 2 ou 3 blogues de fundo, penso assim

Defreitas disse...

Como é possible que ainda existam pessoas que não compreendem que o governo anterior a Syrisa caiu porque já os mesmos lobos o queriam devorar, enquanto sabiam bem que os empréstimos feitos a Grécia foram parar aos bancos para indemnizar os seus clientes, e que estes enviaram os fundos rapidamente para o estrangeiro. O povo grego recebeu algumas migalhas.
A crise actual , consequência da crise financeira de 2008,provocada pêlos americanos, deixou a Grécia sem meios de subsistência. Perder um quarto do PIB em cinco anos , sem crescimento económico para criar rendas, como querem estes funcionários sem escrúpulos que um povo que vive a míngua possa reembolsar o que quer que seja. Imoral e criminoso da parte dos verdadeiros culpados da crise, a não ser que as reformas e os salários de miséria sejam a causa do desastre.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...