segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Citações

Muitas pessoas quiseram ter a simpatia de se referir a este blogue - em mails, em imprensa, nos comentários ou em outros blogues, os quais agora aqui se assinalam por ordem alfabética, embora correndo o risco de alguma involuntária omissão:

The Abrantes Partnership,
Maquiavelencias,
Praça Stephens
A Cagarra,
Politeia,
Enxuto,
Criativemo-nos,
Tomar Partido,
A Origem das Espécies,
Causa Nossa,
Rever Portugal,
Locutório,
Notas Verbais,
Mundos Paralelos,
A Nossa Candeia,
Delito de Opinião

Colisões

Dois submarinos nucleares, um britânico e um francês, colidiram no Atlântico. Há dias, dois satélites, um americano e outro russo, colidiram no espaço. É obra!

Rádio Alfa

Há dias, visitei pela primeira vez a Rádio Alfa, uma emissora luso-francesa da região de Paris, onde a Embaixada de Portugal tem um espaço regular de informação, criado pelo meu antecessor.

A Rádio Alfa é propriedade do comendador Armando Lopes, uma força da natureza, um poço de simpatia, um homem de sucesso, nascido em Caxarias (Leiria), que alimenta o orgulho nas suas origens.

Nos corredores da Rádio Alfa, para além de me ter cruzado com simpáticos conhecimentos de outras eras, tive o gosto de encontrar, pela primeira vez, João Paulo Diniz, um grande senhor da história da rádio portuguesa.
Quem dera que a Língua portuguesa pudesse ter muitos espaços como este em França!

domingo, fevereiro 15, 2009

Cravos vermelhos

Depois do bloqueio, Israel autorizou a primeira exportação de flores produzidas em Gaza pelos palestinianos: 25 mil cravos vermelhos, destinados à Europa.
(Com vénia ao Corta Fitas)

Rui Paula

É necessária alguma coragem para nós, portugueses, nos aventurarmos pelas sendas da alta gastronomia, perante um país como a França, de onde partem os critérios de avaliação mais exigentes, como os guias Michelin anualmente fazem questão de recordar-nos. Justo ou injustamente, as coisas são assim.

A realidade, porém, é que Portugal tem já hoje uma série de chefes de cozinha que, sem favor, se apresentam num patamar de qualidade muito apreciável, pedindo meças a muitos estrangeiros.

Conheço relativamente bem um deles, Rui Paula, que hoje dirige o restaurante duriense DOC, depois de anos à frente do Cepa Torta, em Alijó. Em pouco tempo, Rui Paula fez do DOC uma referência da boa gastronomia portuguesa.

Recentemente, lançou um belo livro - "Uma Cozinha no Douro" -, escrito por Celeste Pereira e com fotos de Nelson Garrido, que agora acaba de ser galardoado com dois prémios do Gourmand Word Cookbook.

O autor deste blogue sente-se feliz por ter feito uma apresentação pública deste livro e de para ele ter modestamente contribuído com um pequeno texto.

No futuro, é minha intenção trazer Rui Paula a França - bem como outros destacados chefes portugueses -, a fim de podermos provar aos franceses que a nossa cozinha está num belo momento. E para adverti-los de que se cuidem...

sábado, fevereiro 14, 2009

Passaporte

Há dias, referi casualmente, num grupo de amigos europeus, o facto de que, ao chegarmos ao aeroporto de Lisboa, vindos de um país estrangeiro fora da área Schengen (que já abrange muitos Estados europeus), os novos passaportes portugueses já nos permitem entrar no país (bem como dele sair) sem que nos confrontemos com a cara de qualquer funcionário policial. Muitos quase não acreditaram.

Expliquei, com algum orgulho, que a simples colocação desse nosso novo passaporte numa máquina, combinado com o olhar para uma câmara, resulta na abertura de uma porta de vidro, com livre passagem e imediata entrada no país. Tudo em 30 segundos.

Posta de parte a leitura pessimista de um amigo, que é simultaneamente meu e da onça, o qual objecta que, dessa forma, ficamos mais tempo à espera das malas que tardam a chegar às esteiras, há que reconhecer o muito que andámos desde os tempos em que a rapaziada da Pide nos escrutinava com um olhar oblíquo que, por mais inocentes que estivéssemos, nos provocava alguma pontual taquicardia. Eu sei que há uma diferença imensa entre a sinistra Pide e o benévolo SEF, mas, mesmo assim, confesso que prefiro o anonimato orweliano da nova máquina. E, a julgar pela cara dos meus amigos estrangeiros, eles também…

São Valentim

É curioso recordar que na cidade de Chicago, faz hoje precisamente 80 anos, a noite não ficou famosa pelos jantares dos pares de namorados.

Crise?

Como há dias dizia por aqui um comentador televisivo, estará com certeza bem melhor na vida quem perdeu "tudo" numa operação com o especulador Madoff do que um desempregado da Renault.

Ao olhar para os números do leilão das peças de arte da colecção de Pierre Berger e de Yves Saint Laurent, que daí a dias aí vem (o lucro das vendas pode ir até 400 milhões de euros), e cujo catálogo custa uns meros 200 euros, vê-se melhor como há vários mundos neste mundo e que, enquanto alguns estão já definitivamente no zero, para outros a crise será sempre e apenas uma questão de um zero a mais ou a menos.

Este leilão de um verdadeiro museu privado, que o último "Nouvel Observateur" nos descreve e a que muito poucos tiveram acesso - com Picasso, Degas, Klimt, Goya, Gauguin, Ingres, Manet, Seurat, Cézanne e tudo o mais que se possa imaginar) -, terá como compradores garantidos novos nababos russos, casaques e outros mais, que já rondam Paris em jactos privados, à procura das vantagens da globalização do mercado da arte. Daqui a semanas, estas preciosidades espalhar-se-ão por vários países, como que democratizando o seu usufruto (provavelmente, continuando em domínios privados), até que o futuro lhes aplique a velha filosofia redestributiva dos três D das oportunidades no mercado de obras de arte: "death, divorce, debts".

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Alain Oulman

Alguns portugueses surpreendem-se, por vezes, ao verem o nome francês de Alain Oulman assinar alguns dos mais belos fados de Amália Rodrigues.

Oulman era filho de um industrial francês, mas nasceu em Portugal, em 1928. Apresentado a Amália por um diplomata português, musicou para ela textos de poetas como Camões, David Mourão-Ferreira, Alexandre O’Neill, Ary dos Santos, Pedro Homem de Melo ou Manuel Alegre.

Em 1966, envolvido na vida política portuguesa, Alain Oulman foi preso pela Pide, vindo a conseguir ser expulso para França, graças à intervenção de Amália junto do então embaixador português em Paris, Marcello Mathias. Após o 25 de Abril, quando Amália foi acusada de cumplicidade com o regime ditatorial português, Oulman surgiu a defendê-la na imprensa.

Ontem à noite, em Brunoy, perto de Paris, ao assistir a um belíssimo espectáculo de fado protagonizado por Kátia Guerreiro, que cantou uma sua canção, lembrei-me deste luso-francês a quem a música portuguesa tanto deve. Oulman morreu em Paris, em 1990.

O frio

Há dias, ao passar pela Place da la Nation, aqui em Paris, veio-me à memória um episódio, no mesmo local, sobre a qual já lá vão, quase dia-por-dia, 38 anos.

Era Março de 1971 e eu caminhava distraidamente pela praça, naquele tipo de turismo para quem o simples passeio por Paris era já metade do usufruto da viagem, quando dou de caras com um antigo colega de liceu, que sabia ter saído “a salto” de Portugal, e a quem tinha perdido, por completo, o rasto. Fizemos aquela festa tradicional, típica de dois transmontanos que se prezam. Generoso, convida-me a ir beber uma cerveja à sua casa, ali perto.

Foi-me contando que lavava janelas a partir das 6 da manhã (“não é nada mal pago, sabes? Mas é muito chato ter de sair de casa às 4!”). Em fins de tarde, aproveitava para assistir a uns cursos livres na universidade de Vincennes. Sem mo dizer expressamente, deu-me a entender que era militante de um partido político português na clandestinidade, o que conteve a minha curiosidade inquisitiva sobre o resto da sua vida em Paris.

Subimos ao apartamento onde vivia, uma sala e um quarto, num 4º andar sem elevador, com uma cozinha a meias com um argelino, de cuja área da casa chegava um cheiro a comida pouco apelativo. “O problema é o frio. A casa não tem aquecimento. Temos de pôr aquecedores, mas a electricidade é cara. Às vezes vou para a cama mais cedo, só para me aquecer”. E, num tom mais triste, daquela saudade que a minha presença lhe trazia, acrescentou: “Queres saber uma coisa? Lá em Vila Real, o nosso frio era diferente”.

Pois era. O frio da terra portuguesa, para quem sofria a distância e a tragédia da emigração e do exílio, tinha outro calor.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Não há coincidências?

O cenário é a Hatchards, uma bela livraria de Londres, na tarde de ontem. Passo lentamente os olhos pelas estantes especializadas em temas internacionais e, subitamente, deparo com um livro de memórias políticas de Stephen Wall, antigo embaixador britânico em Lisboa e, mais tarde, junto da União Europeia.

Durante quase seis anos, a partir de 1995, negociei com Wall, em Bruxelas, coisas tão variadas como os pormenores dos tratados europeus, os fundos comunitários, a doença das vacas loucas ou os direitos humanos no Timor ocupado. Wall havia sido assessor de John Major e sê-lo-ia também de Tony Blair. É unanimemente considerado um dos grandes especialistas britânicos em temas europeus. Perdi-o de vista a partir de 2001 e tinha a ideia de que havia abandonado as tarefas de “civil servant”, que andava pela vida empresarial.

Volto-me para ir pagar o livro e com quem dou de caras, a dois metros de mim? Com Stephen Wall, aliás, Sir Stephen Wall. Um abraço, trocámos novos telefones actualizados, falámos das famílias e despedimo-nos, com um almoço combinado para daqui a semanas.

Dando eu de barato que Wall não se dedica a controlar, nas tardes chuvosas de Londres, as estantes das lojas onde se vendem as suas obras, há que convir que a ocorrência deste encontro, na ocasião da compra do seu livro, configura uma hipótese entre milhões. Não há coincidências? Sei lá! (citando dois títulos de Margarida Rebelo Pinto, que, talvez também por um acaso, não li.)

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Bartolomeu Cid dos Santos

Olá, Bartolomeu

Hoje à noite, para as bandas de Gower Street, nessa Londres chuvosa, estaremos juntos a saudar a memória do nosso velho Joseph Crabtree, essa figura de perfil renascentista cuja eterna glória anualmente nos reúne, na clássica jantarada das 2ªs quartas-feiras de Fevereiro, quase sempre de recorte gastronómico duvidoso, mas que nós aprimoramos com alguns alcoóis de boa cepa.

Agora que as mulheres já podem assistir ao repasto (também graças ao teu e ao meu voto, lembras-te?), a Fernanda lá estará, como sempre esteve, a teu lado. Eu vou de Paris, o António vai de Lisboa, o João vai do banco e o Helder, desta vez, é obrigado a faltar. Tu, presumo, és capaz de te atrasar. Mas, num paradoxo digno do Huxley, todos estaremos presentes desde o primeiro momento.

Sabes bem que guardaremos o teu lugar, esse lugar único que soubeste criar, em nós, para ti. Porque, como dizia o teu apreciado Lopes Graça, tu serás sempre dos que "vão ao nosso lado".

E mais não digo, porque não sei nem consigo.

So long, Barto

Estou certo que o leitor perdoará o intimismo desta evocação simultânea do grande gravurista português que foi Bartolomeu Cid dos Santos (1931-2008) e de uma figura, não bafejada pela existência, que dá pelo nome de Joseph Crabtree (1754-1854).

Gastarbeit?

Pode parecer estranho que o embaixador de Portugal em França aborde um tema relativo ao Reino Unido. Mas a verdade é que, hoje em dia, nada do que é europeu nos é alheio.

A reacção nacionalista dos trabalhadores britânicos, ao procurarem limitar a contratação de operários estrangeiros, mesmo aqueles que são oriundos de países nos quais eles próprios têm direito de trabalhar, deve ser analisada com grande atenção. O que se passou no Reino Unido pode, com muita facilidade, repetir-se aquém-Mancha.

Esta reacção de proteccionismo nacional pode ter o seu quê de compreensível, se pensarmos na angústia dos desempregados britânicos. Mas compete aos governos - a todos os governos europeus - terem a frieza de esclarecer os seus cidadãos, desempregados ou não, que, ao limitar-se a livre circulação de trabalhadores, está-se a ferir o contrato europeu, está a desrespeitar-se o compromisso assumido formalmente por todos os subscritores da União Europeia - protegerem as "quatro liberdades": mercadorias, serviços, pessoas e capitais.

Se acaso amanhã viesse a considerar-se legítimo limitar a possibilidade dos trabalhadores serem recrutados livremente dentro do espaço da União Europeia, independentemente do seu país de origem, então seria igualmente legítimo que nos interrogássemos por que razão deixamos entrar os produtos estrangeiros nos nossos supermercados, qual o motivo por que permitimos que as nossas empresas possam ser adquiridas livremente por estrangeiros, que lógica existe para que uma seguradora, um banco ou uma construtora de um país europeu possa actuar sem entraves noutro, etc.

A União Europeia é um todo, as suas vantagens e desvantagens compensam-se entre si, pelo que a bondade das suas diversas dimensões não pode ser considerada e avaliada isoladamente. Se acaso algum governo europeu se sentisse tentado a dar cobertura política a quaisquer sentimentos populares assentes em reacções emocionais da índole dos que afloraram na desesperada reacção dos trabalhadores britânicos, isso significaria entreabrir uma porta trágica para o regresso da intolerância. Daí à xenofobia e até ao racismo seria um curto passo. Entendamos as razões da angústia de quem sofre, mas encontremos para ela respostas racionais e serenas.

O cartaz acima reproduzido é, a meu ver, a triste marca de uma Europa que nos compete recusar, em absoluto. Até por todas razões subliminares que porventura ocorram ao leitor, ao olhar para ele.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Scolari


Já se ouvem os "eu bem dizia!" dos detractores de Scolari, nesta sua intempestiva saída do Chelsea.

Lamento muito, mas não partilho dessa alegria. Também eu, como "treinador de bancada", discordei bastantes vezes das suas opções técnicas, de alguma tibieza nas substituições, de certas teimosias que talvez fossem despropositadas.

Mas pergunto: quem, para além de Otto Glória, ajudou a dar mais alegrias aos Portugueses espalhados pelo mundo?

Um abraço luso-brasileiro de solidariedade, Felipão!

domingo, fevereiro 08, 2009

Um pouco de energia

Em tempos económicos menos bons, como aqueles que atravessamos, talvez faça um pouco de bem à nossa auto-estima verificar como outros reconhecem alguns sectores de excelência que existem em Portugal.

Esse é o caso das indústrias dedicadas às energias renováveis, analisado por esta reportagem da CBC, do Canadá.

sábado, fevereiro 07, 2009

Livros

Interessante o que escreve hoje, no "Libération", Luis Sepúlveda - um jornalista e escritor chileno cuja leitura muito recomendo: "A vida em sociedade torna-se estranha quandos nos aproximamos dos 60 anos; eu falo de livros que os outros não leram e os outros falam de livros que eu não tenho nenhuma vontade de ler".

E ele ainda não sabe que isso se torna porventura mais verdade quando já se passou dos 60 anos...

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

JL

Só esta semana tive a possibilidade de olhar, com olhos de ler, para o nº 1000 do "Jornal de Letras, Artes e Ideias", o JL.

Comprei e li (li o que pude, e foi sempre menos do que deveria) o JL desde o seu primeiro número, tendo encadernado as suas primeiras 500 edições. Continuo a comprá-lo (julgo não ter falhado um número) e a lê-lo (como disse, à medida do que o tempo me deixa possível).

Porque se trata de uma publicação de grande dimensão (e já foi maior), e a maioria de nós vive em casas e não em bibliotecas, vi-me na obrigação de me "desfazer" dessa preciosa colecção, tendo-a oferecido ao Instituto Camões, ao tempo em que era dirigido pelo meu amigo Jorge Couto - hoje director da Biblioteca Nacional de Portugal. Julgo que por lá continuará...

No Brasil, de onde há pouco saí, o JL é venerado nas cátedras de literatura, na Academia Brasileira de Letras, entre os jornalistas e os escritores. É que, em todo o mundo, e para as coisas em língua portuguesa, não há nada que se lhe compare ou equivalha.

Hoje quero apenas prestar aqui uma singela homenagem ao JL e, muito em especial, ao seu director, José Carlos de Vasconcelos. O país ainda não terá medido o quanto deve ao esforço que o JL tem feito para a divulgação da cultura e das artes portuguesas. É uma obra monumental, que se estende aos restantes países onde se fala português e cujas produções literárias e produções artísticas merecem sempre um cuidado permanente no jornal.

Estes 1000 números do JL representam muito do que se melhor se tem feito pela cultura portuguesa, de quem José Carlos de Vasconcelos é, sem a menor sombra de dúvida, o maior embaixador. Com estes 1000 números do JL, pode dizer-se que a cultura portuguesa fica "milionária".

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Toma!

Será um pouco de Portugal que se irá perder se acaso se confirmar a possibilidade de encerramento das conhecidas Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha.

A crise económica leva muita coisa à sua frente, mas é mesmo totalmente impossível evitar que ela também nos leve a nossa memória, algo tão identitário como as figuras de Bordalo Pinheiro?

Por mim, ainda tenho esperanças de que o Zé Povinho vá conseguir fazer um manguito à crise.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

António Maria Pereira

Com a morte, há dias, de António Maria Pereira, a França perdeu um grande amigo em Portugal.

O cosmopolita e bem sucedido advogado de Lisboa, especialista reputado em propriedade intelectual, que desapareceu aos 85 anos, foi o criador do Círculo Voltaire, que, durante anos, trouxe a Portugal vultos importantes da cultura francesa.

Em reconhecimento dessa dedicação, em 2002, a Academia Francesa atribuiu-lhe um "Prix du Rayonnement de la Langue et de la Littérature française".

Para além dessa dimensão francófila, António Maria Pereira era o orgulhoso descendente de uma familia de importantes editores portugueses e, no plano dos valores, um grande defensor dos direitos humanos e, com grande e regular evidência pública, dos direitos dos animais. Foi, também, em Portugal, das pessoas que mais abertamente apoiaram a criação do Tribunal Penal Internacional (TPI), quando a respectiva consagração era ainda insegura.

Um homem de bem, portanto.

O nome

Pergunta-me um amigo a razão pela qual este blogue tem o nome que tem.

A resposta é fácil. A mim disse-me sempre muito o cinema francês da Nouvelle Vague, com figuras como François Truffaut, Jacques Rivette, Eric Rohmer, Claude Chabrol ou Jean-Luc Godard. Lembrá-los era o mínimo que poderia fazer, ao vir viver para Paris. E dado que seria, com toda a certeza, muito estranho eu dar a este blogue o nome do filme mágico de Godard - "À bout de souffle" -, optei por plagiar parte do título do seu "Deux ou trois choses que je sais d'elle".

terça-feira, fevereiro 03, 2009

André de Gouveia

Residência André de Gouveia
Muitos desconhecem a figura de André de Gouveia, que dá o nome à residência portuguesa que, há mais de 40 anos, existe na Cidade Internacional Universitária de Paris, graças à generosidade da Fundação Calouste Gulbenkian.

André de Gouveia foi um humanista do século XVI, que residiu em Paris e fez parte de uma importante geração de figuras portuguesas educadas então em vários países da Europa. Foi graduado pela Universidade de Paris, doutorou-se em Teologia, tendo chegado a director do Collège de Sainte-Barbe. Em 1533, foi eleito reitor da Universidade de Paris, tendo, mais tarde, regressado a Portugal para fundar o Colégio Real das Artes, de Coimbra.

Elogiado como como pedagogo por Montaigne, Gouveia privou com Martinho Lutero e teve uma grande importância na reforma dos estudos superiores em Portugal. É uma figura que honra Portugal em França mas de que, infelizmente, em Portugal pouco se fala.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

A abrir

Por que diabo se lembrou o embaixador de Portugal de criar um blogue (escrevo sempre assim, à portuguesa) ? Imagino que essa deva ser a pergunta, de legítima curiosidade, de quantos chegam a este primeiro texto, publicado no dia da minha chegada a Paris.

Pois bem, a resposta é simples: porque entendi que poderia valer a pena testar esta via como forma de dar a conhecer, a quantos considerem minimamente interessante sabê-la, a minha perspectiva sobre factos que, de certo modo, se liguem à actividade que actualmente exerço, bem como sobre diversos aspectos da vida e da actualidade portuguesa ou luso-francesa - acontecimentos, pessoas e ideias - que entenda valer a pena sublinhar aos potenciais leitores. E algumas notas pessoais, que me pareça curioso deixar expressas.

Que fique bem claro que este não é um portal oficial: para isso, a Embaixada tem os seus veículos próprios de informação e de diálogo. Aliás, usá-los é um direito que estimulo muito que seja exercido.

Este será - convém ter claro - um espaço de aparição irregular, sem uma tentação de actualidade, ao qual não quero, por isso, associar nenhuma temporalidade cíclica, diária ou outra. Desenganem-se os que esperam um diário.

Não excluo que possa parecer algo pretensioso, aos olhos de alguns, dar à estampa textos na primeira pessoa, como que assumindo que a visão do embaixador português possa, pelo mero usufruto desse estatuto, ter um mérito que justifique a sua leitura. Mas fico confortado com a ideia de que só me lerá quem quiser e que ninguém será obrigado, por dever oficioso ou outro, a seguir o que aqui se colocar.

Noutras funções, embora também num outro modelo, já utilizei o blogue como forma de comunicação e, confesso, o seu resultado foi muito reconfortante. Agora, neste caso, e ao fim de algum tempo, logo se verá. Se a assiduidade dos leitores o justificar, o exercício continuará. Se não for esse o caso, o blogue terá o destino óbvio.

Duas questões finais, para bem esclarecer.

A primeira para dizer que o espaço de comentários estará aberto a quem os desejar fazer, no entendimento que, tal como este blogue, não sejam anónimos. E que sejam escritos em tom construtivo e com a necessária urbanidade, como é óbvio.

A segunda para esclarecer que, embora, como disse, este espaço não tenha uma natureza oficial, naturalmente que quem o escreve assume, em pleno, a responsabilidade da função que exerce e que, por essa razão, não se esquece dela ao escrever. "À bon entendeur"...

Hoje, aqui na Haia

Uma conversa em público com o antigo ministro Jan Pronk, uma grande figura da vida política holandesa, recordando o Portugal de Abril e os a...