segunda-feira, novembro 27, 2023

O lançamento é amanhã, terça-feira, dia 28

 ... e não hoje, segunda-feira, dia 27, como esteve previsto.


Peço antecipadamente desculpa a quem, por falta de informação, se desloque à Gulbenkian no dia 27.

Sou insuspeito, claro!


Uma recomendação a ter em conta! 

Conversa no taxi


"O senhor desculpe, mas eu não pude deixar de ouvir a conversa com o seu amigo, em que falaram muito de política", disse-me o taxista, há pouco.

Eu e o Álvaro Vasconcelos, saídos em Santa Apolónia, vindos do Porto, tinhamos tido, dentro do taxi, uns bons dez minutos de análise retrospetiva do 25 de novembro de 1975. Os nomes e os factos de então, ditos numa linguagem de quem viveu por dentro essa época, devem ter sido de difícil entendimento para o taxista, um homem na casa dos 40. Mas, visivelmente, tinham aguçado a sua curiosidade. E como ambos tínhamos falado do PCP com grande distância crítica, ele terá ficado seguro de que não éramos "desses".

Deixado o Álvaro em casa, nos pouco mais de cinco minutos que mediaram até chegarmos à minha, o taxista abriu-se: "Já vi que o senhor sabe de política. Acha que o Chega vai ter um bom resultado?"

Disse-lhe que tudo parecia indicar que sim, a acreditar nas sondagens. "E o PS vai ser derrotado?" Respondi-lhe que, por agora, a esta distância, ainda era difícil saber qual virá a ser o partido mais votado. E, já pressentindo "do que a casa gastava", fui adiantando: "Quanto mais o Chega crescer, menos votos terá o PSD e, dessa maneira, menos hipóteses o PSD terá de ser o partido mais votado."

Tinhamos parado no semáforo do largo Ribeiro Santos. O homem, que pareceu alarmado com o que eu tinha acabado de dizer, voltou-se para trás, olhando-me pela primeira vez. E abriu-se: "Eu vou votar Chega. Já votei três vezes no André Ventura. Mas acha então que quanto mais ele crescer mais há o risco do PS poder continuar no governo?"

Eu estava deliciado, confesso, com a perplexidade que tinha criado no homem. Apenas disse: "É só fazer as contas. O senhor, se não votasse no Chega, em quem votava?" Não respondeu.

Foi então que, perante o silêncio a que me remeti, ele pegou definitivamente na conversa, disse mais do que cobras e lagartos dos socialistas, elogiou imenso Passos Coelho e concluiu: "O senhor desculpe este desabafo, eu não sei nada de política, não me posso comparar consigo, mas é isto que eu penso".

Respondi-lhe: "Essa agora! O peso do seu voto, no dia das eleições, é igualzinho ao meu. Cada eleitor "sabe" tanto de política como o outro. A democracia é isto mesmo: ninguém tem um voto melhor do que o outro."

Tínhamos chegado a minha casa. Enquanto ele me dava a mala e eu lhe pagava, disse-lhe: "Desejo-lhe muitas felicidades pessoais e só não lhe desejo felicidades políticas porque o meu voto vai para um partido diferente do seu". 

Ambos sorrimos. E lá fomos, cada um à sua vida.

domingo, novembro 26, 2023

"Escondidinho"



Sá Carneiro iria ali jantar no dia 4 de dezembro de 1980, se a tragédia, uma hora antes, o não tivesse feito aterrar, para a morte, em Camarate. (Por essa altura, eu abancava na "Farmácia", em Matosinhos, onde então soube da notícia).

Falo do restaurante "Escondidinho", na rua Passos Manuel, no Porto, ali à beira ("à beira" diz-se no Porto, em Lisboa seria "perto") do "Majestic". Neste último, um simples café (não, já ninguém diz "cimbalino", aprendam os lisboetas, sempre à cata do tipicismo tripeiro), nos dias de hoje, está quase ao preço de uma entrada num restaurante. 

A sala, com lareira a luzir, neste dia de almoço domingueiro, era um mar de taiwaneses e chineses. Contei-os: mais do que todos os restantes clientes que por ali estávamos. "Comem separados, mas é a mesma empresa turística que os traz. Vêm com o mesmo menu, já combinado", disse-me um empregado. Afinal, o entendimento entre ambos os lados da China pode não estar muito distante, a avaliar pelo acordo existente em torno de gostos comuns à mesa.

Agora, um pouco mais a sério. O "Escondidinho" já não é o que era, claro. No recato, no ambiente, no formalismo. E, sejamos verdadeiros, na comida, embora seja justo dizer que o preço pedido está à altura da expetativas. Mas, claro, ainda restam as belas madeiras e a inconfundível entrada. 

Já não se vêm, por ali, no topo de mesas, os cavalheiros engravatados que, aos domingos, arrastavam netos, noras e genros, com o tempo algo relutantes, para o ritual almoço familiar, o qual, para muitos, constituía um padecimento hebdomadário. Nada diferente de muitos outros que sempre houve, pelo país: nos "Arcos", em Paço de Arcos, no antigo "English Bar", no Estoril, no desaparecido "Iris", em Famalicão, no "Mário Luso", nos Carvalhos, no velho "Paris", no "Gambrinus", para os mais abonados. Em outras mesas familiares ainda os vislumbro, da "Colina" ao "Líder", do "Montemar" ao "Gaveto", do "São Gião" ao "António Tá Certo".

O menu do "Escondidinho" não é imensamente criativo, "to say the least". É um restaurante de recorte clássico, algo rotineiro nas suas propostas. Tudo o que hoje se experimentou, contudo, estava bem. Foi uma oferta excecional? Não. Mas, no atual mundo restaurativo do Porto, o "Escondidinho" acaba por ser um espaço com algums graça, diferente e típico, que vale a pena ser estimulado nas suas propostas. Eu não desgostei ter lá passado hoje. Mas, se calhar, é esta minha imparável mania de me passear por um Portugal que já lá vai.

sábado, novembro 25, 2023

Um belo teste

Um belo teste à democraticidade de quantos se entusiasmaram a comemorar os 48 anos do 25 de novembro será vê-los, de cravo ao peito, nas comemorações do cinquentenário do 25 de Abril. Se os encontrar por lá, a gritar "Viva o 25 de Abril, sempre!", então sim senhor!

O dia da democracia

A propósito do 25 de novembro, ontem, numa aula no ISCTE, foi-me perguntado por um aluno qual o momento que eu achava ter consagrado a democracia em Portugal. Não tive a menor hesitação na resposta: quando a direita, com Sá Carneiro, formou governo, inaugurando a alternância.

"A Cozinha do Miguel"



Que bem que se come na "Cozinha do Miguel", em Lisboa. Bem e barato! Fui lá hoje pela primeira vez e saí cliente. Onde fica? Não sei explicar. É perto do Eixo Norte-Sul e não longe da Universidade Católica, junto a uns campos de padel. Ponham no Wase; foi assim que lá cheguei!

No dia 25 de novembro...

 


... a primeira página do "Record".

25 de novembro

Há precisamente 48 anos, um grupo de militares, defensor de uma leitura extremada da Revolução de Abril, tentou organizar uma operação para controlo do poder político-militar no país. Contavam, para tal, com a cumplicidade de algumas forças políticas marginais e altamente minoritárias, embora muito vocais na rua política de então. Mas só com elas.

O caminho para esta ação, no formato em que veio a ter lugar, bem como em outros desenhos operacionais que também eram presumidos como possíveis, estava, desde há algum tempo, a ser monitorizado pelos setores que, dentro do Movimento das Forças Armadas, alimentavam uma orientação política moderada e que era consonante com o modelo político-social que a Constituição de 1976 acabou por consagrar. 

Este último setor já era, à época, claramente dominante no seio da máquina militar. Foi assim que, com relativa facilidade e rapidez, no dia 25 de novembro de 1975, foi posto cobro à desastrada tentativa sediciosa que envolveu escassíssimas unidades militares. 

Ao contrário do mito então posto a correr, e sempre alimentado, desde então, por alguma direita, Portugal estava já então muito longe de correr o risco de "cair no comunismo".

Nesses meses finais de 1975, o país político-militar vivia distante do equilíbrio de forças que era patente ao tempo da manifestação da Fonte Luminosa. Foi a coragem política de Mário Soares que, a partir de então, contribuiu para animar os setores moderados do MFA a se exprimirem e a reforçarem a linha que, em agosto desse ano, veio a ser consagrada no "Documento dos Nove", posição que, de forma decisiva, separou as águas dentro do MFA. Basta olhar para o que se já tinha passado dentro da Assembleia do MFA, a partir da reunião de Tancos, para se perceber para que lado tinha passado a pender, desde há meses, a balança do poder militar. 

Contudo, a tal narrativa de que o país, ao tempo do 25 de novembro, estava à beira de ser tomado pelo extremismo veio, a partir daí, a dar imenso jeito a certos setores de direita, que progressivamente, acabariam mesmo por meter no mesmo saco os responsáveis pela revolta e os setores moderados do MFA que puseram termo à sedição. Basta ver como alguns ainda hoje olham os subscritores do "Documento dos Nove", começando por Vasco Lourenço e acabando em Pezarat Correia, passando pela memória de Melo Antunes, para se perceber o caminho que a mentira percorreu e como progrediu na nossa história recente. 

Os militares efetivamente envolvidos no movimento de 25 de novembro, e outros apenas presumivelmente implicados nessa tentativa de golpe, acabaram detidos e as suas carreiras militares afetadas. Nenhuma força político-partidária foi formalmente implicada na tentativa de golpe. Em especial, resultaram frustrados todos os esforços feitos para ligar o Partido Comunista Português às movimentações militares que então tiveram lugar. Esta é uma realidade que continua dolosamente a ser iludida.

Os setores da direita radical que se acobertaram atrás do MFA moderado - e que tiveram em Jaime Neves a sua cara operacional mais evidente - ainda tentaram "explorar o sucesso" para ilegalizar os comunistas, mas a clarividência dos militares moderados, em especial a coragem de Melo Antunes, colocaram a verdade no seu lugar. A maior prova da sua razão é que o PCP continuou a fazer parte do VI Governo Provisório, depois do 25 de novembro e até à entrada em vigor da Constituição de 1976.

No 25 de novembro de 1975 foi derrotada uma linha extremista de esquerda que quis desviar a Revolução de Abril do seu curso em direção a uma sociedade democrática. Da mesma forma que as tentativas de golpe em 28 de setembro de 1974 e em 11 de março de 1975 tinham antes tentado uma subversão de sentido direitista. 

Há quem, na sociedade política portuguesa de hoje, pareça já incomodado com as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que, daqui a uns meses, aí vêm. E é óbvio que, à falta de outros instrumentos, essa gente continuará a tentar usar o 25 de novembro como arma de arremesso contra o 25 de Abril.

sexta-feira, novembro 24, 2023

Entrevista ao "Jornal Económico" (24.11.23)


- Para além da evidência do título, o que esteve por trás da elaboração de ‘Antes que me esqueça’?

Basicamente, foi a vontade de dar guarida, em livro, a relatos de memória que tinha juntado no meu blogue "Duas ou Três Coisas", nos últimos 15 anos. Não tenho quaisquer arquivos, papeis, registos. Apenas possuo uma memória que considero boa (já foi bem melhor, claro!) e, com ela, fui reconstituindo episódios que pessoalmente me marcaram, quer na vida diplomática, quer na passagem pelo governo, a qual, de certo modo, foi também um tempo diplomático, dessas quase quatro décadas. Assim, à medida que me recordava de factos e pessoas relevantes, ou que algum acontecimento os suscitava, elaborava textos e publicava-os, de imediato, no blog. Sempre num estilo completamente despretensioso e sem a menor preocupação literária. Criei assim uma espécie de "gaveta" de episódios e retratos. O "Antes que me esqueça" é, no fundo, um "best of" daquilo que, sobre a minha profissão, tinha escrito no blog. E tenho escrita uma imensidão de outras recordações (não gosto de chamar a isto memórias) que não excluo poder vir a publicar.

- A memória futura - é aí que, digo eu, o livro se inscreve - é uma forma de combater as fake news? Ou mais de explicar o passado recente de uma forma linear e inteligível?

Não tive um objetivo concreto ao fazer este livro. Não quis repor qualquer verdade que estivesse prejudicada por relatos falsos ou distorcidos. Procurei apenas dar um testemunho de cenas que testemunhei, quase sempre na qualidade de ator secundário, porque é esse o papel de um diplomata ou de um político "por empréstimo" como eu fui. Entendi que seria uma pena perder-se o registo de certos episódios, alguns dos quais, por vezes, contava a amigos, que me estimulavam a dar-lhes uma forma escrita. Mas - que fique claro! - não tive a menor pretensão de vir a fazer História! Admito que algumas coisas que coloquei no livro possam ajudar as pessoas a contextualizar certas questões internacionais de que ouviram falar. Em especial, estou seguro que talvez isso os ajude a compreender melhor, quer as tarefas dos diplomatas, quer, em especial, a lógica subjacente a certas tomadas de posição da diplomacia portuguesa. Mas, repito, sou muito modesto quanto aos objetivos deste livro. Longe de mim querer "to put the record straight".

- Até que ponto a diplomacia é, para além dos jornais e dos compêndios de história, um lugar onde as ‘fake news’ são um instrumento de trabalho?

A diplomacia apoia-se essencialmente em factos, embora não deixe de estar atenta ao fenómeno criativo que são as deturpações dos mesmos, que as "fake news" representam. Os diplomatas procuram sempre não se deixar apanhar por uma visão deturpada da realidade. O diálogo bilateral com entidades institucionais estrangeiras ou com os atores político-sociais dos países ajuda a evitar isso. É muito importante saber hierarquizar a qualidade das fontes e, a jusante delas, destrinçar a verosimilhança daquilo que nos chega. Da mesma maneira que o faz a "intelligence", é fundamental para o diplomata aprender a "recortar" as notícias para as transformar, posteriormente, em informação fiável. Passei a minha vida a tentar só usar coisas seguras e "checkadas", mas fui muitas vezes induzido em erro por aquilo que é a mais perigosa forma de "fake news", a informação "orientada", algo que, não sendo em absoluto falso e tendo em si parte da verdade, nos condiciona muito a interpretação dos factos. 

- A verdade, ou toda a verdade, é muitas vezes maçadora, pouco empolgante, descabida ou mesmo perigosa. A ‘razão de Estado’ é motivo suficiente para o seu encobrimento ‘diplomático’?

Esse é um tema muito sensível! O António conta tudo à sua mulher? Nunca contamos, sejamos honestos. E as nossas mulheres sabem disso! Também o público, o cidadão, tem a consciência de que o poder é, muitas vezes, "económico com a verdade", como dizia um político britânico. A questão está sempre no grau de abertura e transparência usado. Os brasileiros têm uma fórmula deliciosa: "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". Não estou a afirmar que haja sempre uma verdade visível e outra verdade escondida, mas é óbvio que há uma propensão oficial para dar conta do que corre melhor. É também por essa razão que, nas sociedades democráticas, deve haver um forte escrutínio público - pela oposição, pela imprensa, pelas estruturas da sociedade civil, pelo próprio funcionamento da separação de poderes. Mas há limites para a transparência? Acho que deve haver. As questões de defesa, de segurança, de interesse nacional relevante (você perguntar-me-á: quem decide isso?) devem ser protegidas. Bom senso e sentido de Estado devem prevalecer. Às vezes consegue-se, outras vezes não.

- Dizem alguns que a diplomacia é um assunto demasiado sério para ser deixado das mãos amadoras dos políticos de passagem (necessariamente breve) pelo ministério da tutela. Subscreve esta ideia?

Não, de todo. Os diplomatas executam a política externa e, na maioria das vezes, são eles quem sugere o tipo de intervenção que o Estado deve levar a cabo, na sua ação internacional. Mas quem responde pelos resultados dessas ações, perante os cidadãos, são os políticos. São eles que são eleitos e removidos do poder. Por isso, é natural que sejam eles a orientar a ação do Estado. Nós somos uma espécie de guardiões do "fogo sagrado", que preservamos a continuidade da ação externa do Estado, a própria coerência dessa ação. Mas os políticos podem decidir fazer inflexões, às vezes roturas, e nós temos de aceitar. Podemos e devemos dizer-lhes o que pensamos, mas a última palavra é deles. Quando um determinado governo decidiu, em 2003, ofendendo a honra nacional, organizar a "cimeira" das Lajes, a diplomacia portuguesa teve de obedecer. E muitos de nós éramos contra. A esses políticos nunca foi pedido que mostrassem as "armas de destruição maciça" que os levaram a desrespeitar a ONU e o multilateralismo. E fizeram-no, usando o nome de Portugal. Porque tinham sido eles que tinham sido eleitos. Chama-se a isso diplomacia democrática.

- Do seu ponto de vista, quais são, na história contemporânea, os grandes momentos da diplomacia portuguesa? Timor-Leste faz parte da lista? Se sim, é capaz de aceitar que o jovem país não tem viabilidade, como quem diz ‘tanto esforço para nada?

Em democracia, a luta pelo direito à autodeterminação do povo de Timor-Leste terá sido, de facto, o grande momento da diplomacia portuguesa. Foi uma ação que nos prestigiou, que nos deu "galões" internacionais no âmbito dos Direitos Humanos e que, de certo modo, contribuiu para aproximar os Estados que falam português, que criou lastro à CPLP. Devemos estar orgulhosos desse trabalho - e digo-o com todo o à-vontade, porque só muito indiretamente participei nele. Mas também, sejamos justos, foi importante para Portugal a tentativa de pacificação da situação em Angola, através dos Acordos de Bicesse, muito embora o processo, num tempo posterior, tivesse descarrilado. No resto, nestes 50 anos de democracia, a diplomacia portuguesa esteve muito bem nas suas passagens pelo Conselho de Segurança da ONU e nas presidências da União Europeia. E quer maior êxito do que ter António Guterres como secretário-geral da ONU?

Quanto a Timor-Leste, discordo, em absoluto, de si. Sou um fã de Timor-Leste, tenho grande admiração pelos timorenses, por Xanana Gusmão, por Ramos-Horta, pelo passado do bispo Ximenes Belo.

- A diplomacia ainda é o que vai salvar o mundo? Em Israel, na Ucrânia, no Iémen, nos Balcãs, etc.?

A diplomacia é uma ação de criação e desenvolvimento de pontes entre os povos, através de técnicos especializados para tal, os diplomatas. Atrás dos diplomatas estão os Estados, os decisores, os políticos. Nós podemos propor e forjar soluções, à luz da nossa experiência anterior, lida na História. Mas não fazemos milagres! Sem a existência da vontade política, não há espaço para a diplomacia intervir. Em todos os cenários de conflito que referiu, há soluções diplomáticas possíveis, mais ou menos agradáveis ou desagradáveis para as partes em litígio. Nós conhecemo-las todas. A questão é apenas haver condições para as "enforce", como se diz na nossa gíria.

- Qual é a diplomacia mais poderosa da atualidade? A chinesa? 

A diplomacia chinesa está muito atrasada face ao poder real que a China tem pelo mundo. Mas lá chegarão! São poderosas as diplomacias dos países poderosos. Se eles têm força, as suas diplomacias ganharão com isso. Eu costumo dizer que, em qualquer parte do mundo, um embaixador americano é sempre influente, não porque seja mais competente ou capaz mas, muito simplesmente, pela força que tem por detrás. Como um embaixador francês ou alemão na União Europeia. Difícil é conseguir ser relevante representando um país sem grande expressão de poder. E alguns diplomatas portugueses provaram e provam que isso é possível.

- Qual foi a personagem mais fascinante que conheceu na sua atividade profissional?

Confesso que não sou muito dado à "glorificação" dos meus interlocutores - ou, então, não conheci mesmo gente muito fascinante. Encontrei pessoas competentes, capazes, com visão, com carisma. já não fui do tempo de um Churchill, de um De Gaulle. Nunca tive o ensejo de me cruzar com Thatcher ou Mitterrand, nem conheci o Mandela. Falei, mas já tarde na sua vida, com uma figura por cuja visão tenho um imenso respeito e que teve uma grande importância na política europeia: Jacques Delors. Ainda vi Helmut Khol em ação, assisti a reuniões com Bill Clinton, Tony Blair ou Jacques Chirac, conversei com Gorbachev e com Arafat, falei bastante com Lula. Foi tudo gente com relevância para o nosso mundo. Quanto a portugueses, pude testemunhar o prestígio internacional de Mário Soares e de António Guterres.

- Quem foi o político mais importante com quem teve de lidar?

Quando exerci funções políticas, estava subordinado a uma hierarquia e os políticos "importantes" tinham como interlocutores pessoas que estavam acima de mim. Enquanto embaixador, os políticos não nos têm, em geral, por interlocutores, salvo para conversas sociais. 

- Porque é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros não é sempre atribuído a um diplomata do topo da carreira?

Em democracia, já aconteceu, por mais de uma vez, o lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros ter sido ocupado por diplomatas do topo da carreira, embora sempre por períodos curtos. Mas, na minha perspetiva, essa não parece ser a solução que melhor protege as Necessidades, no equilíbrio interno dentro dos governos. O MNE ganha sempre, em força e relevância, quando a sua titularidade é atribuída a um político com poder no respetivo partido. E os diplomatas nunca têm esse poder.

(Texto completo da entrevista concedida a António Freitas de Sousa)

quinta-feira, novembro 23, 2023

"Antes que me esqueça"


É na terça-feira, dia 28 de novembro, e não no dia 27, como inicialmente esteve previsto, o lançamento do meu livro "Antes que me esqueça".

Será na Fundação Calouste Gulbenkian, pelas 18.30 horas.

Não é preciso convite. Quem quiser aparecer será muito bem-vindo!

Entrevista na "Visão"


É este o titulo, na capa, da entrevista que a "Visão", através da sua diretora e do seu diretor-adjunto, me faz na sua edição de hoje, a propósito da publicação do meu livro "Antes que me esqueça". Se tiverem tempo, leiam. São apenas 10 páginas da revista... Não, não há "link" para o texto. Há que comprar a revista.

quarta-feira, novembro 22, 2023

Príncipes e principados


Graças à greve dos controladores de tráfego aéreo em França, tive, na tarde de hoje, o privilégio de fazer um belo "détour" em avião, num voo entre Varsóvia e Lisboa, que passou sobre a margem norte do Mediterrâneo. 

Dediquei-me então, com os meus parceiros de viagem, ao clássico "jogo" de identificação do que está "lá em baixo": "É o lago de Como, não é?". "Olha Génova!". A certo passo, com Nice perto, identificámos o Mónaco. 

Quanto estive como embaixador em Paris, ocorreu ter sido o primeiro embaixador português acreditado no Principado do Mónaco. Portugal tem, desde há muito, uma excelente relação com o Principado, mas nunca tinha feito o "upgrading" dessas relações, nomeando um embaixador não residente. Acabei por ser eu. 

Assim, um dia, fui de Paris apresentar credenciais ao príncipe Alberto, tendo depois regressado por lá outras vezes. Numa dessas ocasiões, a mais curiosa, calhou-me a função de representar o Estado português no casamento do príncipe com a sul-africana Charlene.

O Mónaco é um micro-estado, mas, em termos de "agitação" sentimental, é uma verdadeira potência. 

Quando era miúdo, as revistas encheram-se, por anos, da glamourosa saga que foi o namoro e, depois, o casamento do príncipe Reinier com a estrela de cinema Grace Kelly. 

Nas décadas seguintes, passou a viver-se a crónica, a cores, da vida da respetiva descendência: de Carolina a Alberto, passando pela agitada Stéphanie, todos temos sido involuntários "voyeurs" de um mundo de aventuras de todo o tipo - que foram desde ligações sentimentais a figuras daquilo que então se chamava o "jet-set" a personagens pescadas no cesto da aristocracia europeia, muitos deles "playboys" (expressão do tempo), mas igualmente de pilotos de automóvel a artistas de circo e artistas de outras artes igualmente performativas à sua maneira, mas também de hospedeiras de bordo a modelos de "passerelle", numa lista sem fim de casos e casinhos, de amores e separações, com algumas tristes tragédias à mistura. A geração seguinte, entretanto, não perdeu a mão à tradição e já iniciou novos capítulos da saga familiar. O mundo, cá fora, pareceu sempre hesitar entre invejar ou ter pena daquela vida de ciclotimia romântica.

Um dia, foi anunciado que o príncipe Alberto decidira "assentar", casando com uma bela sul-africana de cor de boer, uma desportista com um sorriso sofrido, com quem já vivia. E lá fomos nós, umas centenas de convidados, mobilizados para o casamento "principal" (por contraponto a "real", alvitro eu). 

Tive então o ensejo de testemunhar uma jornada, de três dias, genuinamente jubilosa para as gentes do Principado, com bandeiras e festas por todo o lado. Recordo uma divertada noite musical com Jean-Michel Jarre, a cerimónia religiosa no palácio e, a culminar o evento, o faustoso jantar de gala no Casino. 
Por ali, as casas reais europeias, ou o que de algumas restava, Braganças incluídos, estavam alinhadas pela precedência do Gotha, numa grande mesa ao centro, connosco, os "comuns" mortais, em mesas redondas espalhadas pela varanda. 

Não fora o privilégio único de ter podido provar uma refeição de deuses preparada por Alain Ducasse, que fazia vir os pratos numa "navette" contínua de empregados, saídos do vizinho "Hôtel de Paris", e ter-me-iam pesado na memória positiva as quase três horas de uma imensa chatice: à mesa, de um dos lados, ficou uma "perua" monegasca que só me falava dos negócios imobiliários do marido e, do outro, a embaixatriz da Mongólia, com quem, à falta de um Esperanto comum, só consegui trocar sorrisos e cansativas onomatopeias.

Entretanto, nos dias que antecederam o casório, a imprensa cor-de-rosa tinha estado prenhe de boatos de que a cerimónia poderia vir a ser anulada. Ao que constava, a noiva teria tentado desistir do enlace, por ter confirmado, no rol de infidelidades do príncipe, uma nova aventura, da qual teria mesmo resultado um rebento. Rumores de que Charlene só à última hora teria sido convencida a ficar, quando já estava no aeroporto de Nice, prestes a partir para a África do Sul, encheram o "gossip" da imprensa social, até à véspera da realização da cerimónia.

No banquete final, assistiu-se a algo que, curiosamente, nunca vi referido na imprensa. O príncipe Alberto, num inesperado improviso, desbobinou um longo "mea culpa", dirigido à mulher, falando abertamente dos seus muitos erros na vida, embora, gentilmente, poupando-nos a pormenores, bem como dos sofrimentos pelos quais a princesa teria passado, pelos quais lhe pedia público perdão. A noiva, essa, chorava como uma Madalena, perante as espantadas centenas de convidados. Olhando em perspetiva, foi tudo um tanto patético. O futuro viria a demonstrar que a princesa, ao contrário do final dos contos de fadas, nunca mais foi feliz.

A noite acabou com um grande baile nas salas do Casino, que entrou bem dentro da madrugada. Nele, o príncipe ia fazendo despedidas, visivelmente com gosto, dançando com algumas amigas, que, depois, se viam chorosas pelos cantos. Acabou por ser uma festa interessante - e eu que até nem sou muito dado a festas! 

Lembrei-me deste episódio, há poucas horas, quando passava sobre o Mónaco.

segunda-feira, novembro 20, 2023

Já se pode contar


Foi algures em 2015. As eleições legislativas portuguesas vinham aí em breve, a votação sobre o Brexit também, uns meses mais tarde. Nesse entretanto, o governo de David Cameron procurava, a todo o custo, garantir concessões da parte da União Europeia que lhe permitissem convencer o eleitorado britânico das vantagens de votar "Remain", no referendo com que, irresponsavelmente, os conservadores tinham aberto a "caixa de Pandora" da sua ligação à Europa. 

Algumas dessas cedências implicavam com interesses nacionais, porque se ligavam a temas de livre circulação e de direitos sociais dos cidadãos portugueses que viviam no Reino Unido.

Um dia, recebi um convite da embaixadora britânica para ir jantar, em "petit comité", com o então chefe da diplomacia de Londres, o "Foreign Secretary" Philip Hammond. 

Quando cheguei à embaixada e olhei os restantes convivas, percebi melhor o sentido da ocasião: ali estavam António Vitorino, o ministro Jorge Moreira da Silva e o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães. Vitorino e eu, por essa altura, aconselhávamos António Costa na preparação do programa socialista para as eleições legislativas, nas questões europeias e internacionais. 

Hammond foi muito claro: o Reino Unido contava com a ajuda de Portugal para obter certas garantias, com que pudesse mostrar ao eleitorado que tinha conseguido algumas novas "exceções" ao regime comum da União Europeia. 

Teve alguma graça ver o que se seguiu. Creio que António Vitorino foi o primeiro a falar e disse o que pensava sobre aquilo que nos era proposto. Eu, que não tinha minimamente coordenado com ele nenhuma posição, ecoei uma perspetiva basicamente idêntica. Ambos considerámos que Portugal não podia aceder às pretensões britânicas e creio que deixámos bem claro que, embora nenhum de nós tivesse qualquer mandato para falar em nome de um eventual futuro governo socialista, não iríamos nunca aconselhar que o nosso país viesse a aceitar o que nos era pedido. 

Hammond voltou-se então para os membros do governo do PSD presentes. E deve ter ficado desiludido: quer Jorge Moreira da Silva, quer Bruno Maçães, no essencial, concordaram connosco. 

Imagino que a embaixadora britânica, que talvez esperasse uma cisão esquerda-direita à volta da mesa, deva ter ficado algo desiludida com o resultado do repasto. 

E Hammond regressou a Londres, como no poema de Irene Lisboa: com uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma. De facto, poucos meses depois, o governo de António Costa manteve-se renitente em anuir às cedências que o Reino Unido desejava e que, a terem sido aceites, teriam afetado os interesses dos nossos concidadãos. 

Lembrei-me desta cena, ao ver o antigo primeiro-ministro David Cameron, agora transformado em ministro dos Negócios Estrangeiros, num derradeiro esforço de Rishi Sunak para "recentrar" o seu executivo, agora que se aproximam, a passos largos, umas eleições legislativas no seu país que, ao que tudo indica, podem afastar os conservadores e trazer de volta ao poder os trabalhistas.

É a vida, como diria António Guterres.

Cameron ou o prémio para o erro


Ver aqui.

E a Ucrânia, lembram-se?

 


Ver aqui.

Só pode melhorar...


Javier Milei tem muita sorte: nada pode correr pior do que as expectativas.

Varsóvia


Um dia dos anos 90, o então embaixador polaco em Lisboa contou-me uma história. Tinha nascido em Varsóvia, durante a guerra. A capital polaca era, no final do conflito, uma cidade completamente devastada. As suas imagens de infância eram marcadas, quase exclusivamente, pelas ruínas que via à sua volta. Um dia, com cinco ou seis anos, levaram-no a Cracóvia, uma bela cidade que o destino poupou às destruições físicas da guerra. Foi só então que ele percebeu que as ruínas não eram, necessariamente, a paisagem natural dos locais onde as pessoas viviam. Afinal, havia lugares onde as casas estavam todas de pé. Disse-me que recordava que isso trouxe um imenso contentamento à criança que então era. 

Lembro-me sempre disso quando, como hoje acontece, regresso a Varsóvia.

domingo, novembro 19, 2023

Fui ver, a neve caía


Não, não é o Carvalho Araújo, na avenida do mesmo nome, lá por Vila Real. É um histórico cavalheiro polaco, aqui por Varsóvia, onde, a esta hora cai uma bela e suave neve.

sábado, novembro 18, 2023

Israel - falar claro

 


Veja e ouça aqui.

Artigo no 'Jornal de Letras"



Na primeira pessoa

Qualquer cidadão sensato, ao deparar com um volume de quase 700 páginas, tem o direito de interrogar-se: "o que é que, de tão importante, este tipo tem para dizer que justifique esta dimensão de escrita?" 

Percebo lindamente a perplexidade, porque ela sempre me atravessa quando, numa livraria, sou tentado por algum cartapácio deste tamanho. Raramente consigo obter a resposta antes ler o livro. Vou, assim, procurar ajudar o potencial leitor.

Quase quatro décadas de vida diplomática, com mais de cinco anos de atividade política pelo meio, por vezes em quadros funcionais de responsabilidade, representam, há que convir, um património de alguma experiência. Achei que podia ser interessante partilhá-la, referenciando episódios que, nesse percurso, mais me marcaram, recortando figuras e refletindo sobre conjunturas atravessadas.

Da revisita feita a esses tempos, em retratos isolados cuja possível coerência apenas uma leitura conjunta pode garantir, o eventual leitor poderá ajuizar sobre se consegui decantar um registo escrito apelativo, seja na diversa forma expositiva escolhida, seja na valia intrínseca daquilo que optei por destacar.

Quem me conhece sabe que procurei, às vezes até de uma forma algo obsessiva, ainda que me não compita aferir com que sucesso, conciliar uma empenhada atenção aos deveres funcionais com um modo de estar na vida que fugisse ao estilo bisonho e oficioso do burocrata de escritório ou do profissional de salão.

Isso conduziu-me a um olhar sobre as coisas e as pessoas à minha volta que tentei despir do rigor sombrio de quem se leva demasiado a sério. A ironia e o humor andaram sempre por ali. E procurei passar isso à escrita.

Mas, no fim de contas, pensará o putativo leitor, um livro de 700 páginas é, necessariamente, um livro "pesado". Não, não é. O "Antes que me esqueça" tem um "tom leve, na atitude e na escrita, porque esse é também o sentido algo lúdico do saldo que guardo de uma experiência que, no seu todo, me deu um imenso prazer". Digo isto mesmo na introdução. Os episódios que agora convido a ler foram sendo colocados por escrito ao longo de 14 anos. Não têm a menor ordem sequencial entre si, pelo que o livro pode ser aberto indiferentemente em qualquer página, em qualquer texto, com o leitor seguro de que aí encontrará sempre a respetiva contextualização. Pode mesmo dar-se ao luxo de andar para a frente ou para trás no volume, com a certeza de que nunca se perderá. Faça a experiência.

Convenci-o? Não sei, mas gostava de saber.

Entrevista ao jornal "Novo"


Diplomata, consultor estratégico, gestor, Francisco Seixas da Costa representou o país no Brasil, em França e nas Nações Unidas, além de ter passado pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entre outros cargos de relevo. Aos 75 anos, lança "Antes que me esqueça", em que reune "episódios e retratos" que lhe marcaram a vida e a carreira. Ao
Novo, fala sobre o livro que chega às bancas dia 21, e sobre o mundo que vê.

Porque decidiu publicar este livro agora?

Boa questão! Ao longo do tempo, alguns amigos foram insistindo para que juntasse, num volume, parte das centenas de episódios e retratos que tinha deixado no meu blog - e já lá vão quase 15 anos. Mas interrogo-me sobre se o conjunto de textos que escolhi resiste a um teste de coerência global. Terão de ser os leitores a fazer essa avaliação. Por mim, olhando o resultado, relendo o livro impresso, sinto que estou todo por ali - com a minha ironia e, vá lá!, com algum egocentrismo à mistura. Mas já estou numa idade em que não me angustio com os meus defeitos.

Antes Que Me Esqueça” é um livro de memórias, mas também um relato da história que foi vivendo ao longo destes anos a exercer funções de embaixador. Apesar do distanciamento temporal, teve de deixar episódios de fora por questões de sensibilidade?

Claro que sim. Há coisas que testemunhei e que nunca escrevi. Algumas, com algum jeito no modo como fossem relatadas, talvez pudessem ser passadas a papel. Outras, porém, terão que ficar, para sempre, apenas na minha memória, até porque afetam terceiros e a discrição que devo ter pelas funções exercidas. Além disso, há coisas que se diziam há uma ou duas décadas e que passou a não ser possível escrever hoje. Há um texto no livro, sobre um anão, que não sei se passará no teste do politicamente correto. Mas é verdade: deixei de fora algumas coisas por uma questão de sensibilidade. E, com isso, sinto estar a perder alguma liberdade...

Não há só política, há aqui humor, intriga e até futebol... como escolheu o que incluir e o que deixar de fora, de uma experiência certamente riquíssima?

No livro há pouca intriga... e venho de um ministério onde, historicamente, ela se passeia pelos claustros! Procurei selecionar alguns temas mais substantivos, que mostrassem a diversidade das coisas com que um diplomata lida. É que a diplomacia não é, glosando Amália, "uma estranha forma de boa vida". A profissão diplomática, quando levada a sério, dá muito trabalho. E eu trabalhei sempre muito. Mas, até porque gostei bastante do que fiz, dei-me ao luxo de me divertir nessa vida, olhando-a e olhando-me com ironia. E isso também está no livro. Essa minha dualidade está toda lá. Para o bem e para o mal.

Quais foram os destino ou episódios a que a carreira diplomática o levou e que mais o surpreenderam – pela positiva e pela negativa?

A mais traumática experiência que tive, posso confessar hoje, foram os meus dois últimos anos na profissão - 2011 e 2012. Representar um país sujeito a um processo de resgate foi extremamente pesado e angustiante. Mas um diplomata é "a man for all seasons" e está ali tanto para os bons como para os maus momentos. O grande teste à qualidade de um diplomata é a sua capacidade de representar orientações com que profundamente discorda. A diplomacia democrática é isso mesmo. Tive 21 ministros dos Negócios Estrangeiros e nem sempre me agradou o que me mandaram fazer. Mas era serviço...

Quanto aos choques pela positiva, não tenho a menor dúvida: foi o gosto de conviver com essa reserva saudável de patriotismo (porque também há o patrioteirismo nacionalista, que abomino) que são as comunidades portuguesas tradicionais lá fora. Tenho uma imensa admiração pelo esforço daquela gente, que conquistou, a pulso, algum bem-estar que, por cá, lhe foi negado. Representei Portugal nos dois países com maior diáspora: Brasil e França. Senti-me aí um embaixador-cônsul. E fui-o com muito gosto, como essas comunidades bem sabem.

Há certamente momentos numa carreira diplomática que ajudam a entender com uma perspetiva diferente, mais informada, os eventos que acabam por ocorrer e que surpreendem quem não está por dentro destes temas... A invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo, foi menos inesperada para si?

Podia dizer-lhe que não me surpreendeu, mas estaria a mentir. Sempre pensei que, não obstante as crescentes divergências que ia alimentando com o mundo ocidental, a Rússia teria um mínimo de racionalidade, não sendo tentada a fazer ruir o que restava da arquitetura de segurança pós-Guerra Fria. Putin cometeu um erro monstro: achou que a América de Biden estava num "mood" de derrota, depois do Afeganistão, e que, por outro lado, tinha a Europa como refém pela energia. Enganou-se redondamente e, com isso, acabou por obrigar a China a saltar para o ringue da disputa com os EUA, mais cedo do que Pequim queria. E, pela primeira vez, mas para sempre, a Rússia vai ficar política e economicamente subordinada à China. A Rússia, por muita coreografia que faça, será sempre, no futuro, um ator de segunda linha. Faz-me lembrar os "canastrões" do cinema, que não percebem que o seu tempo passou.

E sente que a sua visão sobre o atual conflito no Médio Oriente é diferente precisamente por essa proximidade que adquiriu nomeadamente pelo “convívio” com personalidades como Shimon Peres, Arafat ou mesmo Ariel Sharon?

Fui a Israel nos anos 70 e regressei lá depois. Criei, para sempre, uma ideia clara: uma grande percentagem dos israelitas não aceita a solução dos dois Estados e, no fundo, acredita que aquela terra toda lhes é devida, embora hesite no que fazer com os palestinos - alguns têm ideias sinistras, outros cínicas, outros hesitam. Alguns políticos israelitas tiveram a tentação sábia de "comprar a paz pela terra", mas não conseguiram fazer aceitar internamente essa ideia. A única potência que tem algum "leverage" em Israel são os EUA, mas estes não são capazes de gerar, dentro de si, um consenso mínimo para forçar a mão aos governos israelitas. Israel não cumpre, com a bênção americana, as resoluções da ONU que os próprios EUA aprovaram! E agora? Depois desta guerra, as coisas vão piorar muito. Israel pode ter comprado algum tempo mais, mas vai ficar cada vez mais longe da paz. O Médio Oriente é a única zona do mundo onde o conceito de "pós-guerra" não existe. Os ódios não se apagam sem justiça e, para haver justiça, tem de haver vontade de fazer concessões fortes. E essa vontade existe cada vez menos. Ter ouvido Rabin e Peres ajudou-me a pensar assim? Talvez.

A diplomacia mudou muito desde que se estreou nesta vida – o lado económico, por exemplo, tornou-se muito mais presente ou sempre existiu mas não era tão visível?

Em quase quatro décadas de carreira, tenho a sensação de que nunca as questões económicas abandonaram o meu quotidiano. A diplomacia é um conceito compósito, onde se insere a política, a geoestratégia, a economia, a dimensão consular, a cultura e tudo o resto, parte do qual não passa já pelos Estados. Mas acho muito importante que os diplomatas sejam chamados a apoiar a ação empresarial e saibam lidar com os dossiês técnico-económicos. Estando a trabalhar, há mais de dez anos, em importantes empresas com forte ação externa, entendo hoje melhor o que a diplomacia pode fazer em apoio ao setor económico nacional. E acho que o MNE, nessa dimensão, não se tem portado mal.

Tendo sido um pivô na implementação do Acordo de Schengen e embaixador na OSCE, que visão tem sobre a atual situação e riscos das fronteiras europeias numa década em que o Ocidente foi por diversas vezes alvo de ataques terroristas e onde os extremismos têm crescido? Há preocupações de segurança que não estão a ser olhadas com a devida atenção?

O sistema de informações de Schengen parece ser eficaz. O terrorismo que ocorre na Europa, em regra, não vem de fora: é praticado por quem já cá nasceu, oriundo de comunidades mal integradas e radicalizadas. O extremismo crescente em algumas sociedades europeias, que a crise Israel-Hamas só tenderá a fazer crescer, é um fenómeno que basicamente radica em razões nacionais específicas e que só em cada um desses contextos pode ser tratado. Temos de ser cuidadosos, vigilantes com os abusos e os desvios à ordem democrática, mas temos de fazer isso sem afetar a democracia e as nossas liberdades. E nem sempre cultivamos essas liberdades: o que se passa com a proibição dos canais russos é um abuso europeu, intolerável e vergonhoso.

Que cargo gostaria de ter ocupado na carreira diplomática? 

Um lugar para o qual fui convidado e, erradamente, recusei: embaixador em Madrid. Com Angola e o Brasil, essa experiência teria completado o triângulo bilateral mais relevante para Portugal. Optei por ir para Paris. Foi bom? Foi, mas não é a mesma coisa.

E estaria disponível ainda para assumir um lugar, por exemplo nas Nações Unidas?

Há muito que não tenho idade para aventuras! Nem cá, nem lá fora. O que hoje faço, em consultoria estratégica e em comentário internacional, preenche-me a vida - se calhar até demais!

Num mundo em reequilíbrio geopolítico e geoestratégico, marcado por fenómenos de radicalização e extremismos, o que mais o preocupa atualmente?

Exatamente isso que disse: a radicalização e os extremismos. O futuro da América assusta, aquilo que pode vir a acontecer em França é alarmante, a crescente incapacidade dos moderados para fazerem ouvir a sua voz nas sociedades democráticas é trágica. A mim não me assusta um quadro internacional mais equilibrado, com um mundo ocidental - que é um eufemismo recorrente para o poder hegemónico de Washington - menos poderoso, mais contido e mais respeitador dos interesses dos outros. O que me angustia é a possibilidade de essa ordem alternativa, afinal, poder não ser a solução para se evitar um novo conflito mundial.

(Entrevista por Joana Petiz, diretora do "Novo", na edição de 18.11.23)

sexta-feira, novembro 17, 2023

Ainda a Europa


Aquela capa não me dizia nada. O livro tem 17 anos e foi editado pelas representações do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia em Portugal, pela mão da jornalista Paula Moura Pinheiro. Estava numa mesa de uma feira no Jardim Constantino. O preço era altamente convidativo. Olhei o índice e notei uns textos e debates com gente que já se foi: Jorge Sampaio, Miguel Portas, Eduardo Prado Coelho, Vasco Graça Moura. Pensei: "Isto deve estar muito desatualizado, mas é capaz de ter piada." E continuei a ver quem mais tinha colaborado. De repente, dou por lá com um artigo meu, de que já não me recordava, entre escritos de pessoas como Maria Carrilho, Maria José Morgado, João Ferreira do Amaral e Adriano Moreira, entre alguns outros. Tem graça descobrirmo-nos assim num livro, por um mero acaso. Sou um desorganizado, é o que é! 

quinta-feira, novembro 16, 2023

Metro


Já não andava de metro há uns tempos. Hoje, entrei na Alameda e saí no Rossio. Na carruagem, olhei à volta: eu era a única pessoa de fato e gravata. Fiquei com a sensação de que, se estivesse de turbante, passava mais despercebido. 

quarta-feira, novembro 15, 2023

Refugiados


Foi numa noite de finais de 1980, na residência da nossa embaixada em Oslo, na simpática casa de que Portugal é proprietário na capital norueguesa, na Drammensveien. Um importante armador norueguês era um dos convidados. O nosso embaixador, António Cabrita Matias, fazia as honras da casa.

A certo ponto da conversa, o "shipowner" norueguês referiu que, em agosto de 1975, quando a guerra civil eclodiu em Dili, tinha sido um dos seus barcos que transportou mais de mil refugiados timorenses para Darwin, na Austrália.

Vi Cabrita Matias entusiasmar-se com o relato do armador. A razão era óbvia: ao tempo, ele era o embaixador português na Austrália. "Eu estava em Darwin, à chegada do barco com os refugiados", referiu o embaixador, que também se recordava bem da contratação do navio norueguês. 

Elaborou então sobre esse tempo difícil e traumático do fim do império lusitano, em que Lisboa vivia em tempo revolucionário, num ambiente que, segundo ele, tinha acabado por criar o caldo de cultura de descaso que dera alento à invasão indonésia. E lembrou que a administração portuguesa em Macau e as representações diplomática e consular portuguesas na Austrália foram, à época, a guarda avançada de Portugal na região.

O jantar terminou e, como era de simpática regra com aquele embaixador, ele e eu ficámos um pouco mais à conversa, depois da saída dos convidados. Cabrita Matias era adepto de um champanhe para fechar a noite, eu optava quase sempre por um whisky, nesse tempo em que o meu fígado me dava boas noites. 

Contou-me, então, um episódio.

O dia já ia longo, depois da chegada dos refugiados. Com a ajuda do governo australiano e, creio, de algumas estruturas do mundo multilateral e não-governamental, os timorenses tinham sido alojados, na medida do que era possível e nas condições que a emergência justificava.

Cabrita Matias estivera por algum tempo no porto de Darwin a observar as operações. Tendo regressado ao seu hotel, a certo passo, teve um pressentimento: "E se ficou alguém para trás, no porto?" E decidiu passar por lá.

Foi então que a viu: uma senhora timorense estava sentada junto a uma mala. Sozinha. O embaixador aproximou-se dela e inquiriu o que se tinha passado. Ela referiu que, por uma confusão qualquer, se tinha afastado do autocarro que levara os últimos dos seus compatriotas e ficara para trás.

Cabrita Matias, que não era muito dado a fazer transparecer emoções, disse-me que ficou comovido quando a senhora notou, com uma imensa calma e um sentido do destino: "Eu sabia que alguém viria buscar-me". 

O embaixador, que era um homem religioso, ligara o pressentimento à situação e extraía dali conclusões de vontades celestiais. Mas logo acrescentou, para mim, num desânimo sorridente: "Mas eu sei que você não acredita nestas coisas, não é?". Era e é.

Há dias, na Gare Marítima da Rocha do Conde d'Óbidos, foi inaugurado um memorial ao fotógrafo francês Roger Kahan, que registou fabulosas imagens dos refugiados estrangeiros, muitos deles judeus, que chegaram a Lisboa no início da Segunda Guerra mundial, procurando depois refúgio na América.

A fotografia que está na capa do livro em que José Ferreira Fernandes relata a saga de Kahan é a que a imagem mostra, representando uma refugiada, sentada com uma mala, junto do marco do correio que ainda hoje existe no local.

Na primeira vez que olhei aquela fotografia, veio-me à memória a história que Cabrita Matias me havia contado, há cerca de 43 anos. E creio que não preciso de explicar porquê. As circunstâncias seriam com certeza muito diferentes, mas, na sua tragédia comum, não há nada mais parecido com um refugiado do que outro refugiado. E este é o tempo certo para falar deles.

terça-feira, novembro 14, 2023

A Cidade Especulada


Há horas, num evento público, aproximou-se de mim um cavalheiro, dizendo: "Comprei, numa loja, em Vila Real, o seu livro "A Cidade Imaginária" por 300 euros. Disseram-me que foi graças à sua intervenção pessoal que o preço de 400 euros, que inicialmente me pediram por ele, acabou por sofrer uma redução."

Fiquei aquilo que os franceses qualificam como "bouche bée". Não estava a acreditar no que estava a ouvir! O meu amigo Eduardo Marçal Grilo, que ao meu lado ouvia a história, devia estar quase tão espantado como eu.

A pessoa que me abordou recordou-me (eu tinha uma vaga ideia) que, há meses, me tinha escrito e que eu o informara de que não só não tinha qualquer livro para vender (nunca tive) como não sabia indicar-lhe quem poderia ter. Mas ele lá descobriu.

O livro "A Cidade Imaginária", uma edição com a chancela da Biblioteca Municipal de Vila Real, em setembro de 2021, de que tenho os direitos autorais, foi vendido ao público pelo preço unitário de 18 euros, muito embora fosse um volume de capa dura e com quase 500 páginas. 

A ideia que tive e propus à Biblioteca foi, desde o primeiro momento, tentar colocar o livro à venda ao preço mais acessível possível, para facilitar a sua aquisição. Nem eu nem a Biblioteca ganhámos um cêntimo com a edição. Apenas ganhou, naturalmente, quem o comercializou. 

O livro esgotou-se ao final de algumas semanas. E, por minha decisão definitiva, porque sou o autor e assim me apetece, não irá ser reeditado.

Porém, quem o quiser ler pode fazê-lo sem o menor encargo, obtendo acesso ao texto completo, apresentado tal como na forma impressa, através do meu blogue "... Ou Quatro Coisas" (http://ou-quatro-coisas.blogspot.com).

Um livro é um objeto. Quem o possui e o quer vender pode fazê-lo pelo montante que lhe oferecer quem estiver disposto a adquiri-lo (espero que tenha declarado o IVA ao fisco). 

Só não admito que ninguém meta o meu nome ao barulho como suposto parceiro para a sua negociata!

segunda-feira, novembro 13, 2023

"Antes que me esqueça"


Em rigor, não são memórias, são lembranças de algumas décadas de vida diplomática, com passagem pela política.

Todos serão bem vindos!

sexta-feira, novembro 10, 2023

Kahan


Roger Kahan foi um fotógrafo francês que, no início da Segunda Guerra mundial, registou, em Lisboa, imagens raras e tocantes dos refugiados que, como ele, por aqui passavam, fugindo ao horror do conflito, procurando sair da Europa para a liberdade que a América lhes proporcionava. 

O jornalista José Ferreira Fernandes investigou a figura e a sua trajetória, que veio a culminar nos EUA. Escreveu agora um livro, "O Cais da Europa: Roger Kahan. Refugiado, fotógrafo - Lisboa, 1940", editado pelo Porto de Lisboa, com a colaboração da "Mensagem de Lisboa", um jornal digital de que Ferreira Fernandes é fundador.

Na quinta-feira, dia 9 de novembro, sob a moderação da jornalista Manuela Goucha Soares, integrei um painel, no auditório da Gare Marítima de Alcântara, em torno do livro e da circunstância histórica que o motivou. Participaram no debate, além de Ferreira Fernandes e de Catarina Carvalho, diretora da "Mensagem de Lisboa", os historiadores Irene Pimentel e José Pacheco Pereira.

Na morte do João Durão


quinta-feira, novembro 09, 2023

Então, João?!


Então, João?! A Teresa tinha ontem combinado com a Gina irmos os quatro almoçar ao Nobre, no domingo. Acabo de saber que não vais. Então isso faz-se, João? Deixas cair assim os amigos?! E as novas quartas-feiras da Mesa Dois do Procópio, onde, ainda ontem, no WhatsApp, tu escrevias que, para a semana, podíamos contar contigo? E, por esta hora, nesta quinta-feira, não devias estar a almoçar com o Chico e com o Matias, comigo ausente, saído do dentista?! Que diabo, João! Faltas assim aos compromissos? Deixas-nos cair na vida e, com o teu sorriso bom e único, sais sozinho pela hora da morte. Porra, João! Isto não se faz!

O rácio da impunidade

Um dia, ainda alguém irá avaliar o rácio entre as ondas de suspeitas lançadas pelo Ministério Público, que mancharam a honra de muitas pessoas públicas, e as condenações efetivas a que esses procedimentos conduziram. Pode é já ser tarde para o tempo da democracia.

SIC

A cara dos dois jornalistas da SIC a observarem, aturdidos e gaguejantes, um dos mais escandalosos momentos de irresponsabilidade mediática que até hoje teve lugar numa televisão portuguesa é uma imagem que vai ficar para a história do nosso jornalismo. Ou do que dele resta.

quarta-feira, novembro 08, 2023

Na Bertrand

 


Belém

António Costa nunca tinha desejado ser presidente da República. Será que o dia de ontem o pode ter feito mudar de ideias? A ver vamos. 

Segredos da justiça

 ... e, não deve tardar muito, vão começar a ser alambicadas, com origem nas "gargantas fundas" do costume e pela mão dos tarefeitos mediáticos de serviço, as escutas e outros elementos dos processos.

terça-feira, novembro 07, 2023

A pena

Ontem, pedi a alguém para me dar o contacto de um seu familiar, um amigo com quem pretendia falar, para o convidar para a apresentação pública do meu livro. Resposta triste: "Não vale a pena, está com Alzheimer". Há muito tempo que já não ouvia algo tão chocante como aquele definitivo "não vale a pena".

Pois

"Em política, o que parece é". Não é por acaso que o alegado autor desta frase terá sido António de Oliveira Salazar.

segunda-feira, novembro 06, 2023

Escolham

A confusão que, nos últimos dias, tem sido feita, aqui nas redes sociais mas também em alguns media, entre os conceitos de "genocídio" e de "limpeza étnica", cujas diferenças são abissais, parece-me derivar de duas razões: desonestidade ou ignorância. 

Números

A propósito da questão da utilização dos números (mortos, feridos ou dados materiais) referentes aos conflitos armados, tenho como critério nunca tomar por bons aqueles que são apresentados por qualquer das partes, bem como por quaisquer parceiros externos que as apoiem, por maior simpatia ou antipatia que as respetivas causas e razões me mereçam. Em regra, uso apenas os números que são divulgados pelas organizações internacionais ou por ONG com reputação firmada. Se, por qualquer razão, sou obrigado a recorrer a dados fornecidos por uma das partes em conflito, sublinho bem essa mesma origem. Nas guerras, todos mentem, a começar pelos nossos amigos e a acabar nos outros.

Crianças mortas em Gaza

Na CNN Portugal, a propósito das crianças mortas em Gaza, referi isto e só isto:

Limpeza étnica

Na CNN Portugal considerei que as ações de intimidação desencadeadas pelos colonatos judaicos, apoiados por força armada israelita, para forçar o abandono dos palestinos da Cisjordânia pode configurar uma ação de limpeza étnica. Apoiei-me nos factos e neste texto da ONU.


domingo, novembro 05, 2023

Ha 28 anos, dia por dia


Chegada a Gaza, em 5 de novembro de 1995, dia da morte de Yitzhak Rabin. 

... quem pode!

De hoje a um ano, no dia 5 de novembro, saberemos quem vao ficar a mandar na Casa Branca, a partir de janeiro de 2025. O poder global dos Estados Unidos também se mede pela expetativa com que todos aguardamos as eleições americanas.

Kamala

O politicamente correto impede, em regra, que alguém afirme, alto-e-bom-som, que uma mulher de cor não tem competência para exercer um determinado cargo. Mas quase não há democrata americano que não diga isso de Kamala Harris, embora com pena. A realidade é mesmo muito poderosa.

Dois Estados

Aqueles que agora enchem a boca com a ideia dos "dois Estados", sabendo que Israel nunca a aceitará, são os mesmos que estiveram silenciosos sobre o assunto nos últimos anos, talvez esperando que os acordos de Abraão e o dinheiro no bolso da Autoridade Palestina o apagassem.

Lembram-se da Ucrânia?


Ver aqui.

Falando de Israel

 


Ver aqui.

O Irão como "trouble-maker"


Pode ler aqui

Tarde do dia de Consoada