"O senhor desculpe, mas eu não pude deixar de ouvir a conversa com o seu amigo, em que falaram muito de política", disse-me o taxista, há pouco.
Eu e o Álvaro Vasconcelos, saídos em Santa Apolónia, vindos do Porto, tinhamos tido, dentro do taxi, uns bons dez minutos de análise retrospetiva do 25 de novembro de 1975. Os nomes e os factos de então, ditos numa linguagem de quem viveu por dentro essa época, devem ter sido de difícil entendimento para o taxista, um homem na casa dos 40. Mas, visivelmente, tinham aguçado a sua curiosidade. E como ambos tínhamos falado do PCP com grande distância crítica, ele terá ficado seguro de que não éramos "desses".
Deixado o Álvaro em casa, nos pouco mais de cinco minutos que mediaram até chegarmos à minha, o taxista abriu-se: "Já vi que o senhor sabe de política. Acha que o Chega vai ter um bom resultado?"
Disse-lhe que tudo parecia indicar que sim, a acreditar nas sondagens. "E o PS vai ser derrotado?" Respondi-lhe que, por agora, a esta distância, ainda era difícil saber qual virá a ser o partido mais votado. E, já pressentindo "do que a casa gastava", fui adiantando: "Quanto mais o Chega crescer, menos votos terá o PSD e, dessa maneira, menos hipóteses o PSD terá de ser o partido mais votado."
Tinhamos parado no semáforo do largo Ribeiro Santos. O homem, que pareceu alarmado com o que eu tinha acabado de dizer, voltou-se para trás, olhando-me pela primeira vez. E abriu-se: "Eu vou votar Chega. Já votei três vezes no André Ventura. Mas acha então que quanto mais ele crescer mais há o risco do PS poder continuar no governo?"
Eu estava deliciado, confesso, com a perplexidade que tinha criado no homem. Apenas disse: "É só fazer as contas. O senhor, se não votasse no Chega, em quem votava?" Não respondeu.
Foi então que, perante o silêncio a que me remeti, ele pegou definitivamente na conversa, disse mais do que cobras e lagartos dos socialistas, elogiou imenso Passos Coelho e concluiu: "O senhor desculpe este desabafo, eu não sei nada de política, não me posso comparar consigo, mas é isto que eu penso".
Respondi-lhe: "Essa agora! O peso do seu voto, no dia das eleições, é igualzinho ao meu. Cada eleitor "sabe" tanto de política como o outro. A democracia é isto mesmo: ninguém tem um voto melhor do que o outro."
Tínhamos chegado a minha casa. Enquanto ele me dava a mala e eu lhe pagava, disse-lhe: "Desejo-lhe muitas felicidades pessoais e só não lhe desejo felicidades políticas porque o meu voto vai para um partido diferente do seu".
Ambos sorrimos. E lá fomos, cada um à sua vida.
1 comentário:
Ao fim e ao cabo, o Francisco está totalmente de acordo com o taxista: o Francisco vai dar um voto ao PS e o taxista vai tirar um voto ao PSD. Porreiro, pá!
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