sábado, novembro 14, 2020

A cidade e a alcatifa



Nem me perguntem para que é que eu queria um pedaço de alcatifa, em Luanda. A verdade é que, tendo sido obrigado, por falta de casa, a ir ocupar um pequeno apartamento que, na altura da independência de Angola, tinha sido acabado por um “pato bravo”, a “mata-cavalos”, com torneiras cimentadas à parede (sem nenhuma canalização por detrás, é verdade!), havia nele partes da sala com um “soalho” de cimento, que só um pedaço de alcatifa disfarçaria. Mas onde comprá-la, nessa Luanda sitiada pela guerra civil, quase sem lojas, no início dos anos 80?

O chanceler da embaixada, Novais Ferreira, que conhecia os escaninhos de Luanda como os dedos das suas mãos, disse-me que, em tempos não muito distantes, um determinado comerciante português tinha tido alcatifas. Não custava nada passar por lá, embora a esperança de que ainda houvesse algo à venda fosse ínfima.

Mas eu, que estava farto daquela nódoa na minha sala, que lhe dava um ar de terraço, nem quis ouvir outra coisa. E partimos para a loja do tal português, Lousada, de seu nome, situada num edifício relativamente novo da zona baixa da cidade, na rua paralela à marginal, à Avenida 4 de Fevereiro.

Era uma sala comprida, com escassíssimos produtos, a maioria dos quais com ar de ali estarem, não para consumo, mas “para encher montra”, como então por ali se dizia muito. Ao fundo, estava um homem na casa dos 60 anos, refastelado numa cadeira, em frente a uma mesa de vidro. Era o tal Lousada, disse-me, baixo, o Novais Ferreira.

O Lousada falava, num tom bem audível e que era para o ser, para uma pessoa que entretanto ia saindo, cruzando-se connosco, dizendo: “Ó homem! Nem as pense! Alcatifa? Por estes tempos, o meu amigo não encontra um metro que seja de alcatifa em Angola. De Cabinda ao Cunene! Tire daí o sentido!”

Que raio de coincidência! Olhei para o meu companheiro de diligência, disposto a acabar logo com a aventura. O Novais Ferreira continuava, contudo, a avançar pela sala, até que chegámos junto do homem. Apresentou-me como um dos diplomatas da embaixada, chegado a Luanda há uns meses. O Lousada não pareceu muito impressionado: estendeu-me a mão, mas não se levantou.

Nesse instante, vislumbrei, debaixo do vidro da mesa, uma fotografia. Era do próprio Lousada, com duas crianças pela mão. Atrás, na imagem, estava a estátua de Carvalho Araújo, na avenida com o mesmo nome, em Vila Real. Arrisquei: “O senhor Lousada tem alguma coisa a ver com Vila Real? É que eu sou de Vila Real.”

O Lousada abriu-se num sorriso, levantou o corpo, que então vi ser pequeno mas pesado, da cadeira onde até aí se tinha mantido sentado, deu a volta à mesa e veio dar-me um abraço. “Eu sou de ...” e disse-me um nome de uma localidade do distrito que tanto podia ser Justes como Alijó ou Murça ou outra por ali; tenho boa memória, mas nem tanto! Voltei a atirar ao alvo: “Por caso, não é parente do senhor Lousada, da tipografia da rua Central?” Algo me sugeriu essa hipótese.

O sorriso do homem aumentou. Era, era de facto irmão daquela figura muito pequena, casado com uma senhora do mesmo porte, que, desde a minha infância, eu via passear, de costas muito estendidas, pela ruas da cidade. Pelos vistos, não eram uma família que se distinguisse pelo grande porte físico. Talvez mesmo pelo inverso.

Com a Minerva, o Vilarealense e o Agostinho da Travessa, a indústria do Lousada fazia parte do quarteto de tipografias locais. Tinha porta aberta entre a tabacaria do Fernando Choco e a sapataria do Julinho, em frente à casa fotográfica do Marius e aos eletrodomésticos do irmão deste, o Dionísio. Inundei o Lousada de Luanda com estes pormenores, para adensar a confiança e a cumplicidade regionalista.

No final deste reconhecimento mútuo, embora ainda sem a menor esperança, adiantei: “Indo agora ao que me trouxe aqui, senhor Lousada. Ando à procura de uns metros de alcatifa, mas, pelo que lhe ouvi dizer ao cliente que ia a sair, não há hipóteses, não é?”

O Lousada olhou para mim, sempre sorridente, pôs-me a mão no braço e disse: “Não faça caso! De que cor quer a alcatifa?”

Pandemia

Para que se não venha a dizer que houve falta de planeamento, não seria de montar, desde já, uma estrutura que estabelecesse uma criteriosa e transparente hierarquia de prioridades na distribuição das futuras vacinas contra a covid? Já existe? Ótimo, então é bom que se saiba.

É a vida!

Almocei, a dois, com uma pessoa. No dia seguinte, essa pessoa sentiu-se menos bem. No outro dia, fez o teste à Covid. Ao quarto dia, chegou o resultado: positivo. Avisou-me. Eu alertei a Saúde 24 e, por duas semanas, segui todos os procedimentos que me indicaram. Nunca tive o menor sintoma, nem fiz qualquer teste. Hoje, ao final da manhã, acabava o meu “recolhimento” em casa. Logo hoje, começa o primeiro dos fins de semana de confinamento obrigatório parcial. Já é azar! Cumpro com gosto cívico, embora com custo pessoal. É a vida!

sexta-feira, novembro 13, 2020

Brasil - Portugal


Farei a conferência inaugural do XVII Seminário Brasil Portugal sobre internacionalização de empresas, organizado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade de Lisboa, e pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pode saber mais aqui.

O alívio


A vitória de Joe Biden - pedindo desde já desculpa a quem acredita que, qual Elvis Presley, Trump ainda vai voltar - criou uma onda de alívio em todo o mundo.

Se, em 2016, não obstante a estranheza de ver surgir na Casa Branca uma figura com aquele recorte, alguma réstia de expetativa de bom senso ainda podia existir, depois destes quatro anos, a simples possibilidade da renovação do seu mandato era um susto para a sensatez.

Há mais de um século que América é uma potência que determina ou influencia fortemente, pela positiva ou pela negativa, os rumos da vida internacional. Mesmo em cenários onde não se jogam os seus interesses diretos, os Estados Unidos acabam por funcionar sempre como um poder condicionador dos movimentos de terceiros.

Sempre assim tem sido, mas nunca se tinha assistido a uma afirmação tão despudorada da preeminência dos interesses americanos, em detrimento dos interesses dos outros, sem o menor respeito por regras e com total descaso, não apenas dos compromissos, mas igualmente do comportamento que, em todos os casos, se esperaria de um aliado.

O que se passou na atitude de hostilidade que a América de Trump assumiu face à Europa - combatendo a União Europeia, nomeadamente favorecendo o Brexit, criando tensões na Nato e revelando uma imensa falta de atenção por aliados fiéis - ultrapassou tudo o que se supunha possível numa ordem global que, mesmo sob crises, costuma respeitar algumas “liturgias”, que são uma espécie de “boas maneiras” em que se baseia o diálogo e a convivência internacional.

Um mundo em paz é gerido por um misto de interesses e de princípios, com estes a limitarem a expressão crua dos primeiros – assim diferenciando a convivência entre os países de uma selva institucional. A cooperação, a solidariedade e até um certo património histórico de relacionamento fazem parte da matriz dessa convivência.

Ver a maior potência mundial tornar-se no principal fator disruptor dessa ordem, ao assumir-se como um ator egoísta, imprevisível e quase sem baias normativas, foi uma imensa surpresa para os amigos da América.

O alívio de que falei no início do texto foi assim um sentimento comum em várias partes do mundo. Pensar em quem pode estar a lamentar a saída de Trump talvez nos ajude a perceber melhor o que essa saída traz de benéfico.

Tenho para mim que, por muitos que tenham sido os efeitos negativos do consulado de Trump, à escala global – e poderia elencar vários – nenhum teria maior gravidade, se acaso ele tivesse sido reconduzido na Casa Branca, do que a questão climática.

O negacionismo ambiental que levou Trump a abandonar o Acordo de Paris foi uma atitude de uma extrema gravidade, porque todos sabemos o efeito simbólico, para os mais graves poluidores mundiais, que a auto-exclusão americana representa. Só por isso, se mais não houvesse, e há, a vitória de Biden deveria ser amplamente saudada.

A exportação e a pandemia


No número relativo a novembro de 2020, da revista PortugalGlobal, publico, a convite da AICEP, um artigo sobre os efeitos da pandemia no setor exportador português. Pode ser lido aqui.

Square one?


Nos jogos de salão, com dados, há um resultado que obriga ao regresso à primeira “casa”. Há dias, ao ouvir alguns comentários sobre o que se espera do novo presidente americano, em termos da sua atuação na ordem internacional, quase me pareceu que se prenunciava um regresso ao início do “jogo”, ao tempo antes de Trump.

Fazer de conta que Trump não existiu, que é possível voltar ao que muitos acham terem sido os “good old days” de Obama, é pura ilusão. Os países não são jogos. A América depois de Trump será, goste-se ou não, a América pela direção da qual a presidência Trump entretanto passou. E isso deixou marcas. E feridas, lá e nos outros. Mas é natural que algumas das decisões do presidente cessante venham a ser revertidas, embora provavelmente com um afã menor do que ele utilizou para tentar desmantelar o Obama tinha feito.

Vale a pena dizer, para sermos totalmente honestos, algo que, podendo não soar muito bem aos ouvidos de alguns, é uma pura verdade: a herança de Obama, em termos internacionais, é medíocre. A segurança do mundo, no fim dos seus oito anos, não estava em melhor estado do que aquela em que ele a encontrou – e isto, note-se, na sequência do desastre, quase criminoso, que George W. Bush tinha entretanto provocado.

Não tendo conseguido ter tempo para montar a agenda contra a China que tinha em carteira – isto, quase sempre, não é tomado em conta –, por ter ocorrido o 11 de setembro, a administração Bush atuou com toda a legitimidade no Afeganistão, com o apoio não apenas dos aliados como de outros parceiros, estes últimos aturdidos com a condenação esmagadora da barbárie terrorista.

Só que a América, tal como aqueles construtores civis que sempre nos convencem a fazer mais qualquer coisa na obra, na lógica do “já agora!”, achou que tinha de “explorar o sucesso”, como se diz em linguagem militar. Não só começou a entrar em “águas territoriais” russas, na Ásia Central e no Cáucaso, como mexeu no vespeiro do Iraque, tornando-nos a todos usufrutuários do Estado Islâmico, de que foi o involuntário criador. Recuou, ambas as vezes.

Obama herdou essa realidade e, sentindo o tropismo nacional favorável a um recuo do intervencionismo, foi incapaz de montar uma “exit strategy” minimamente eficaz. Lidou pessimamente com as “primaveras árabes”, deu vento ao aventureirismo franco-britânico na Líbia, hesitou no modo como tratar com a Turquia e Israel, revelou-se tíbio na Síria e na Ucrânia, deixou os aliados do Golfo em orfandade e apenas desenhou uma estratégia de contenção económica das ambições chinesas. O seu saldo é pífio e nem sequer com a Europa conseguiu estabelecer um laço sólido e operativo, salvo no acordo nuclear com o Irão.

Alguns dirão: mas, se passamos o tempo a acusar os Estados Unidos de excesso de intervencionismo, que autoridade temos para condenar aqueles que, em seu nome, procuram recuar dessas atitudes intrusivas?

Temos esse direito: é a mesma América que está em ambos os movimentos. A uma potência que se imiscui nos assuntos dos outros, à luz de uma leitura unilateral dos seus interesses, que tenta fazer passar por desideratos do mundo livre, é exigível que os “phasing out” dessas situações sejam feitos de forma responsável e, em especial, sem com isso fazer incorrer a outros, nomeadamente aos seus aliados, riscos que eles não criaram.

O modo como a América de Obama estava a sair da Síria já era irresponsável. Trump seguiu a mesma linha e, como que por “subcontratação”, deixou esse dossiê nas mãos da Rússia, que nunca esteve tão forte e presente na região. E, “para inglês ver”, deixa agora pelo Médio Oriente uma frágil aliança de pânico contra o Irão, em que mistura Israel e os regimes medievais do Golfo. Ao mesmo tempo, anuncia-se um novo caos no Afeganistão, onde a América enterrou muitos milhões de dólares, e os aliados europeus demasiadas vítimas, sem o mínimo resultado.

Esperemos pela política externa de Joe Biden. E que seja nova, não um “remake” de qualquer passado. Não se regressa à “square one”.

No fim do buraco

 


Da notícia, ontem à tarde, só vi o título, que dizia que a Apple ia ficar com as instalações de um restaurante de luxo, no Porto. Fiquei curioso, embora não espantado. A pandemia está a arruinar o setor da restauração e, neste, os espaços de maior luxo, aqueles que são muito impulsionados pelo turismo, estão a ser fortes vítimas. 

Qual era, então, o restaurante “de luxo” que a notícia dizia que ia fechar? Nem o restaurante era de grande luxo, nem sequer ia fechar, sendo transferido para outra área do imenso edifício onde estava instalado, debaixo do Hotel Intercontinental.

Trata-se do Café Astória, uma “marca” consagrada no imaginário portuense. Desde há alguns anos, o antigo café, embora mantendo o mesmo nome, tinha passado a restaurante. Era relativamente sofisticado, tinha um carta interessante, mas não se pode dizer que fosse de luxo. A relação qualidade/preço, com uma simpática decoração a ajudar, era bastante boa.

O Café Astória é um café com alguma história. Situado na esquina do Passeio das Cardosas, no fundo da Praça da Liberdade, a sua entrada dava para a estação ferroviária de S. Bento, que, ao contrário do que hoje acontece, foi, durante muitas décadas, o termo de quase todos os comboios que chegavam à cidade. E um café em frente a uma grande estação tinha então muita importância.

O Astória abria muito cedo. Muito mais cedo do que os vizinhos Imperial, Embaixador ou Brasileira. Lembro-me de aí se poder tomar (o último ou o primeiro, dependendo do freguês) café às seis da manhã, tendo a abertura, mais tarde, passado para as sete, ao que vim a saber. 

Na Baixa do Porto, a casa que encerrava mais tarde era a Stadium, uma espécie de bar na zona sul da rua do Bonjardim. Fechava às cinco. Começava então o “buraco”. 

O “buraco” era a designação que dois notívagos colegas - o Tavares e o Susano -, vagos estudantes de Economia, chamavam à hora que mediava entre o fecho da Stadium e a abertura do Astória. Mais velhos do que eu, tinham-me “adotado” para essas aventuras, às vezes com outros colegas.

Lembro-me de algumas noites começadas a jantar no Ginjal, pouso de algumas horas na Candeia, na rua do Almada, com um salto à Japonezinha, na praça da República, que acabavam inevitavelmente na Stadium. Depois, para “encher o buraco”, passeávamos até à ponte dom Luís. 

Não se bebia muito, nem eu tinha dinheiro para grandes folias, mas eles tinham artes de conseguir “estacionar”, sem gastos, por essas casas da boémia portuense, julgo que graças ao estatuto de universitários e à cumplicidade adquirida dos porteiros. Víamos o que por ali andava, entremeando com conversas interessantes e alguns conhecimentos de ocasião. Às vezes, recordo, essas noites tinham mesmo muita graça, naquilo que foi a minha iniciação à “grande cidade”.

Às seis, acabado o “buraco”, bebíamos um galão e uma torrada no Astória, antes de recolhermos aos lares universitários respetivos, eles na rua do Rosário, eu na Torrinha. 

Não é impunemente que demorei dois anos para fazer duas cadeiras, no meu nunca acabado curso de Engenharia Eletrotécnica. Mas a verdade é que só tive 18 anos uma vez na vida.

quinta-feira, novembro 12, 2020

As meninas da rampa


Quem se lembra? Era a meio da rampa do Calvário, lá por Vila Real, nos tempos em que o fluxo de trânsito era outro.

Os instrutores de condução levavam por ali os instruendos a aprender a fazer “inversão de marcha” - tal como os ensinavam a estacionar entre as árvores, a caminho da Meia Laranja. Os carros eram sempre uns Volkswagen ”carocha”, com dois volantes.

Era então uma delícia ver os atrapalhados alunos a fazer “ponto de embraiagem”, para a frente e para trás, com as mudanças “a arranhar”, fortes gemedeiras do motor, frequentemente a “ir-se abaixo”.

Lembro-me de meninas de pescoço esticado para os retrovisores, bem agarradas ao volante, afogueadas e coradas, pelo esforço que lhes era exigido, somado à “vergonha” pelos nossos olhares e ditos atrevidos. Elas apressadas pelo embaraço, nós sem ter nada para fazer, na cidade chata de então.

E recordo-me bem do olhar feroz do senhor Miguel do Bazar, de cotovelo de fora da janela da porta do carro, a ouvir o Olívio das bicicletas recomendar, da comodidade gozona do passeio: “Ó menina! Meta bem a primeira!”

Ainda Ribeiro Telles


A morte de Ribeiro Telles leva-me a contar, de novo, um episódio que creio que já aqui referi um dia.

É uma história que Nuno Brederode Santos ouviu a Melo Antunes, passada num Conselho de Ministros nos tempos do PREC. Nem o Nuno nem o Ernesto Melo Antunes já estão vivos para fixarem melhor os pormenores do episódio, que o primeiro contava, com a sua graça insuperável, nas grandes noites da “mesa dois” do Procópio. Vou tentar ser fiel àquilo que me lembro de ter ouvido.

Nesse ano de 1974, durante um dos três primeiros governos provisórios, o primeiro-ministro Vasco Gonçalves decidou levar a conselho de ministros o tema dos efeitos negativos de certas ações humanas na mudança no habitat que tradicionalmente acolhia a passagem de aves pelo estuário do Tejo.

A título excecional, para abordar o tema, decidiu convidar para ir ao conselho, para apresentar o assunto, o subsecretário de Estado Gonçalo Ribeiro Telles.

A temática ambiental, por essa época, era um assunto ainda muito pouco mobilizador, tratado mesmo com alguma sobranceria, pela classe política.

Ribeiro Telles, que os anos viriam a demonstrar que tivera razão antes do tempo, preocupava-se genuinamente com o assunto, mas, nesses dias de “politique d’abord”, era ainda difícil para ele captar a atenção dos seus pares.

Acresce que esse Conselho de Ministros estava estão, em absoluto, concentrado num determinado tema, sobre o qual era fundamental conhecer a posição do PCP, pelo que era importante ouvir o ministro sem pasta Álvaro Cunhal.

Naquela mesa em forma de ferradura, fechada no fundo, que Marcelo Caetano mandara construir, muito poucos anos antes, numa sala do primeiro andar da residência oficial de S. Bento (ainda por lá me sentei uma meia dúzia de vezes, vinte anos depois), Cunhal tinha um dos lugares imediatamente à esquerda do primeiro-ministro Vasco Gonçalves. À sua direita, o primeiro-ministro tinha sentado Ribeiro Telles.

Depois de uma (como habitualmente) longa introdução de Vasco Gonçalves, com que abriu o debate, iniciou a “volta à mesa” pela direita, isto é, por Ribeiro Telles.

À medida que este falava, percebeu-se que tinha aproveitado o ensejo para derivar para uma interpretação profunda das decorrências ambientais do que se pretendia fazer no estuário do Tejo. De certo modo, o raciocínio, típico do mundo do ambiente, era uma versão daquela metáfora científica consagrada de que “o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode provocar um tufão no Texas”. Ribeiro Telles explicava as consequências multiplicadoras de uma possível interrupção do pouso no Tejo das aves, no seu ciclo migratório.

Para o que aqui interessa, tratava-se de uma abordagem que, pela sua tecnicidade, suscitava um interesse apenas limitado por parte dos restantes membros do governo presentes. Ao que reza a crónica que me chegou, a maioria começava a revelar a sua impaciência: ansiavam ouvir o que Cunhal tinha para dizer e isso só ocorreria no fim da ronda de intervenções iniciada em Ribeiro Telles e que nele estacara.

Como sempre acontece nestas ocasiões, em que o que os outros dizem começa a interessar menos, a sala foi invadida por diversas conversas a dois entre membros do governo vizinhos de mesa, criando um crescente “bruá” de fundo que indisciplinava o exercício.

Vasco Gonçalves, ao contrário dos seus ministros, mostrava-se interessadíssimo naquilo que Ribeiro Telles dizia e, por mais de uma vez, pediu “silêncio” aos impacientes governantes. E, para crescente desespero destes, ia mesmo colocando questões ao interventor, inquirindo sobre pormenores que Ribeiro Telles, com o maior agrado, lhe ia detalhando, alongando assim, perante a impaciência geral, o seu tempo de palavra.

Foi numa dessas perguntas que o primeiro-ministro inquiriu: “E que ave seria mais prejudicada, nas suas migrações, por essa possível intervenção?” Ribeiro Telles respondeu-lhe: “O maçarico de bico direito”.

Nessa altura, as conversas na distraída sala estavam a tornar o Conselho já um tanto caótico e Vasco Gonçalves, desagradado, deu então um murro na mesa e, elevando a voz e com cara grave, disse: “Senhores ministros! Peço o favor da vossa atenção! O senhor engenheiro Ribeiro Telles está a falar sobre o maçarico de bico direito”.

A sala “acordou”, não tanto por um remorso de atenção, mas numa genuína gargalhada coletiva. E, agora já perante as caras sorridentes de todos, com Vasco Gonçalves furioso, Ribeiro Telles lá concluiu a sua explicação sobre os riscos que impendiam sobre o futuro do maçarico de bico direito, se privado de amarar no nosso Tejo e zonas adjacentes.

Minutos depois, finalmente, Cunhal teria oportunidade de intervir sobre o tal tema grave que a todos preocupava, quiçá, embora injustamente, um pouco mais do que o destino da ave que, por instantes, pousara, com inegável graça, nesses dias da Revolução.

Ribeiro Telles pode ter sido pouco ouvido nessa ocasião. Mas o tempo veio a provar que, afinal, era ele quem tinha razão ao dar voz e razão às questões ambientais que hoje determinam o nosso futuro.

quarta-feira, novembro 11, 2020

Conversas globais


O jornalista e professor universitário Pedro Pinto conversou na TVI com 27 pessoas, em 2019 e 2020 - sobre globalização, China vs EUA, economia portuguesa, competitividade europeia, robótica e digitalização e, nos últimos tempos, também sobre a pandemia.

O resultado dessas conversas está agora em livro. Por ali estão as ideias de figuras como Paulo Portas ou Mariana Mortágua, Jorge Braga de Macedo ou Fernando Rosas, António Costa Silva ou Carlos Moedas, entre outros. Como foi também o meu caso.

Gonçalo Ribeiro Telles


2020 é um ano sinistro. Com 98 anos, desaparece hoje Gonçalo Ribeiro Telles.

Somos um país com muito poucas unanimidades. Ribeiro Telles fazia parte das escassas figuras, em Portugal, que merecia um generalizado respeito. Isso era devido à sua obra profissional mas, essencialmente, por ter visto, antes de quase todos, a importância das questões ambientais para o nosso futuro coletivo e de ter tido a coragem e o desassombro de nos alertar para elas, num tempo em que fazê-lo era considerado uma bizarria, quase uma ideia ridícula e sem sentido. 

Gonçalo Ribeiro Telles foi um cidadão de bem, cujo empenhamento cívico, sem abandonar a bandeira monárquica que sempre foi a sua, honrou o país e a nossa democracia. 

Deixo aqui um abraço sentido ao seu filho Francisco e, nele, a toda a família enlutada

Paridade


E ninguém faz o favor de notar que, após a sua última recomposição e para os próximos três anos, no Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, órgão que escolhe a administração da empresa e vela pelo cumprimento do serviço público, vai passar a haver uma perfeita paridade homens-mulheres (três cada)?

Alguém é capaz de indicar uma outra estrutura em que as coisas se passem desta forma?

Artur Portela


Morreu Artur Portela. Há minutos, um jornalista pediu-me um comentário sobre a sua figura. Tive de dizer-lhe que, embora conhecendo muito bem a sua obra, só o tinha encontrado uma única vez.

Foi há poucos anos, num almoço com amigos comuns, organizado precisamente com esse objetivo. Recordo-me de lhe ter então dito que julgava ter lido todos os seus livros - e não foram tão poucos como isso. “Também os da fase ‘nouveau roman’?”, estranhou. “Claro! O ‘Avenida de Roma’ e o ‘Rama, verdadeiramente’ “, assegurei, para espanto dele.

Mas julgo não lhe ter referido que, então com bastante menos prazer, porque estava à época no outro lado da “barricada”, também recordava os seus (politicamente ácidos) editoriais no “Jornal Novo”, um órgão de combate político por ele dirigido e criado por quem se opunha ao PREC, o que não era o meu caso.

Artur Portela (assinou, por muito tempo, Artur Portela Filho, para não se confundir com o pai, também um grande nome do jornalismo português de outros tempos) dirá pouco às novas gerações. E, no entanto, essa figura consagrada do mundo da publicidade foi uma personalidade muito original na nossa imprensa, devendo-se-lhe também algumas incursões interessantes na literatura e até na história. 

Entre o muito que fez, relevo que Portela trouxe um novo estilo à crónica de atualidade. A leitura da sua coluna “A Funda” - publicada no “Jornal do Fundão” e, depois, no “República” - tornou-se num vício para muita gente, desde logo para mim. Nunca esquecerei ”Os Árabes da Rua do Século”, um texto antológico a gozar a patranha que um grupo de foliões pregou ao jornal “O Século”, tendo como vítimas Roby Amorim e José Mensurado. 

Mas também recordo a dimensão polémica da sua vida de publicista, porque Portela não fugia a ela - e quem é do meu tempo e estava atento a esses meios tem, com certeza, bem presente uma deliciosa e famosa troca de argumentos com Mário Castrim, no “Diário de Lisboa”.

Na língua portuguesa que Portela usou nos seus textos, de forma imensamente criativa, é clara a influência de Eça de Queiroz - de quem teatralizou “A Capital”, o que motivou um artigo crítico meu, no “Comércio do Funchal” (ou seria no “& etc”?), intitulado “Ora Eça, ó Portela!”, creio que em 1972. 

Julgo ter-lhe referido isto, durante a chanfana que partilhámos, servida pelo João “Espetáculo”, na Imperial de Campo de Ourique, onde agora não tenho ido, por precaução contra a Covid. A mesma Covid que, ao que leio, apanhou Artur Portela, aos 83 anos.

O império


Vi por aí uma polémica em torno de um cantor, autor de uma canção com o título de “Império”. Confesso que a minha curiosidade não vai ao ponto de ir ouvi-la.

Mas a polémica lembrou-me o Alberto. O Alberto era o meu cozinheiro em Luanda. Herdei-o do meu antecessor, tal como a lavadeira, a Domingas.

O apartamento em que eu ia ficar instalado, na marginal de Luanda, nesse longínquo ano de 1982, “eclipsou-se”, da noite para o dia, entre a partida desse meu colega e a minha chegada. Parece que foi “requisitado” pela Secretaria de Estado da Habitação local, embora a doutrina se divida sobre o que realmente se passou.

Quando cheguei a Luanda, instalei-me num hotel, num tempo em que a penúria de bens também atingia essas unidades. E aí tive de viver quatro meses, com as minhas mobílias encaixotadas na embaixada, até que arranjei uma nova casa. Foram tempos bastante complicados, mas ser novo ajudava.

O Alberto apresentou-se “ao serviço”, logo no meu primeiro dia de Angola. Por meses, não tive nada para lhe dar que fazer, embora pagando-lhe sempre.

Achei contudo estranho encontrar o Alberto, várias vezes, pelas escadas da embaixada, ao longo desse tempo. “O que anda a fazer por aqui?” (eu nunca consegui tratar um empregado, ou um soldado, por tu). Ele metia os pés pelas mãos, até que alguém me explicou: a embaixada tinha um acordo com uma padaria e o meu antecessor recebia uma partida de pão todos os dias, que era essencial para a alimentação da família do Alberto, que tinha muitos filhos e vivia num musseque junto ao aeroporto. Essa “pontualidade” ao serviço tinha, assim, uma explicação simples...

O Alberto, Resende de apelido, já não devia ser novo, porque tinha passado a idade militar. Tinha uma cara séria, fechada. Com o tempo, tive ocasião de apreciar esse fácies com ar de zangado. É que os problemas só surgiam quando o Alberto sorria: significava que tinha bebido, e isso acontecia bastantes vezes.

Sóbrio, o Alberto era um razoável cozinheiro, não o estando era um trapalhão e era preferível mandá-lo para casa. Quantas vezes, ao abrir-lhe a porta, de manhã, deparando com um sorriso escancarado e um hálito inconfundível, eu lhe dizia: “Vá-se embora, Alberto. Volte amanhã!” E o Alberto rodava os calcanhares e zarpava de volta ao musseque... com o pão do dia, claro.

Para além do resto dos copos de vinho, de toda a gente que tinha estado à mesa, num almoço ou jantar lá em casa, que ele escorropichava da bandeja entre a sala e a cozinha, o Alberto era fã de “caporroto”, uma aguardente cuja fermentação era às vezes acelerada com uso do ácido de pilhas elétricas... A sério! Uma vez provei! Não era mau de todo...

Um dia, fui com o Alberto à Corimba, um subúrbio de Luanda, no meu carro, buscar qualquer coisa para casa. Em Luanda, nesse tempo, passávamos metade do tempo a tentar arranjar coisas para comer e a outra metade a comê-las, em jantaradas com os amigos. Também havia bastante trabalho e tempo para dormir, claro!

Nessa viagem, pela estrada acidentada, a fugir aos buracos, perguntei ao Alberto que diferenças ele achava que havia em Angola, desde a independência, que tinha ocorrido apenas sete anos antes. Vivia-se então em guerra civil, Luanda era uma cidade sitiada, parte do país estava a ferro e fogo.

O Alberto nunca me pareceu ser um grande fã do MPLA. Sempre desconfiei que tinha simpatias pela Unita. Ele era de Sumbe, antigo Novo Redondo, uma localidade que ficava a algumas horas de Luanda, por uma estrada que, com o tempo, veio a tornar-se muito perigosa. Depois da independência, Sumbe chegou a chamar-se Nzunga Cabolo, até a historiografia do MPLA ter descoberto que esse herói tinha tido os seus “podres”. O Alberto, às vezes, enganava-se e falava da sua terra como Nzunga.

Nessa conversa, e via-se que o fazia com naturalidade, sem ser para me agradar, o Alberto disse muito bem do “tempo do colono”, designação muito comum em Angola, para identificar a época local “da outra senhora”. Esse tinha sido um período, segundo ele, em que “os mercados estavam cheios”, as estradas não tinham covas, “as coisas funcionavam”. A certo ponto da conversa, entusiasmou-se e disse mesmo: “Os portugueses deviam regressar”.

Achei aquilo um tanto exagerado e retorqui: “Mas quer que Angola volte a ser colónia de Portugal?” O Alberto olhou-me, com a cara séria que era a sua, e afirmou, com clareza: “Não, não! A independência é nossa, ninguém a leva!”. Tomei nota. O Alberto tinha toda a razão. E hoje é 11 de novembro, dia da independência de Angola.

Ao ouvir falar hoje de “império” lembrei-me desta conversa com o Alberto Resende, meu cozinheiro em Luanda. Que será feito dele?

Declaração para o Fórum Demos

 "Só o tempo nos dará bem a noção do tempo, e dos estragos feitos nesse tempo, que estes quatro anos de Donald Trump fizeram perder ao mundo. No que toca à Europa, de cuja unidade no pós-2ª Guerra Mundial os Estados Unidos foram o grande promotor, a América de Trump revelou-se um aliado hostil, agravando o relacionamento com os parceiros e favorecendo mesmo alguns fatores desagregadores, como o Brexit. A meu ver, a grande distância, contudo, a mais gravosa atitude de Trump foi a sua oposição ao Acordo de Paris, um passo vital para a sobrevivência da humanidade, que o presidente americano tornou refém de interesses económicos de curto prazo. A reversão dessa insensatez foi já anunciada por Joe Biden. Esperam-se também da nova administração, ainda na área multilateral, gestos concretos para recuperar o caos que os EUA induziram na funcionalidade da Organização Mundial de Comércio, bem como na revitalização e credibilização da Organização Mundial de Saúde. E um regresso à Unesco. No plano bilateral, veremos se a sintonia que os democratas têm com os republicamos na questão da China se expressa ou não num discurso diferente. O possível regresso dos EUA ao acordo gizado pela administração Obama, com aliados europeus, para conter as ambições nucleares do Irão é outra das questões a observar. Do mesmo modo, como se comportará a nova América quanto a outros “avanços” entretanto ocorridos no cenário do Médio Oriente. A embaixada dos EUA volta a Tel-Aviv? E as relações com a Rússia? Depois das “cumplicidades” de Trump com Putin, que fará Biden? E a Coreia do Norte? E a Venezuela? E Cuba? E Guantanamo? A prometida “Cimeira das Democracias” pode fazer perigar a inclusividade da ordem internacional, tutelada pelas Nações Unidas, introduzindo uma nova clivagem à escala global? Até ver, António Guterres tem razões para dormir descansado - e razões para crer que o poderá continuar a fazer em Nova Iorque no próximo quinquénio."

Um manifesto de decência


Um texto publicado ontem no “Público”, subscrito por figuras da direita, situadas numa faixa etária que, em média, deve rondar os 40 e poucos anos, assume-se como um separador de águas entre esse grupo de “conservadores, liberais, moderados e reformistas” e uma “direita autoritária”, com uma postura “nacionalista, identitária e tribal”, que por aí anda.

Devo dizer que, independentemente de interpretar a presença de alguns nomes dentre os subscritores como uma reserva de mercado para as suas próprias apostas partidárias, vi esta tomada de posição como a coisa mais saudável que, nos últimos anos, surgiu oriunda daquela área política.

Era tempo da direita democrática, sem a presença ativa da qual o nosso regime constitucional não tem o menor sentido, deixar uma nota explícita de repúdio pela sua frequente amálgama com algumas correntes populistas, com laivos racistas e xenófobos, no limite com contornos fascistas e afins.

A culpa de se ter deixado envolver pela caricatura resultou do silêncio até agora mantido por essa mesma área política, como o surgimento deste texto bem evidencia. Mas esta é também uma bela justificação para os seus adversários, nos quais me incluo, passarem a olhar este setor, sempre e quando a sua postura e ação se afirmar no sentido que agora revelou, como um parceiro na defesa do processo democrático.

Não é uma coincidência que o texto tenha surgido depois do anúncio do compromisso, em termos escritos, entre o Chega e a coligação que agora assume o governo dos Açores. E porque o não é, este manifesto acaba por ser uma manifestação de repúdio daquela obscena aliança.

É muito saudável para a salubridade da nossa vida política ver alguma direita democrática afastar-se de um ato de puro oportunismo, que abre a porta e estende a mão a um partido que traz consigo uma agenda que cavalga medos, preconceitos e sentimentos mesquinhos, indignos de um mundo civilizado e tolerante. E, como bem refere o texto, não é por outros, à esquerda, terem “cedidos a frentismos que anteriormente rejeitavam” que, do outro lado do espetro político, se vão “cooptar radicalismos de sentido contrário”.

Mas o Chega não é um partido legal? Claro que é. Cumpre formalmente os requisitos para se enquadrar na moldura constitucional. Porém, o seu discurso e propostas têm demonstrado que alimenta uma doutrina que o coloca, claramente, fora dos limites da decência política democrática, como os subscritores deste manifesto bem observaram. Coisa que, pelos vistos, o Dr. Rui Rio não terá visto.

terça-feira, novembro 10, 2020

Ditos

Nunca como nesta pandemia vi melhor aplicada a velha fórmula “querer sol na eira e chuva no nabal”. Ou a tradicional expressão anglo-saxónica NIMBY (“not in my back yard”). Ou, ainda, o dito popular antigo “só sábios éramos sete”. Por este andar, alguém ainda cita uma frase clássica da Dra. Manuela Ferreira Leite!

segunda-feira, novembro 09, 2020

Cruzeiro Seixas



Morreu ontem, à beira de fazer 100 anos. Artur Cruzeiro Seixas foi uma grande figura da cultura portuguesa, da pintura à poesia. A coincidência do nome comum não nos tornava parentes.

Conheci-o em 1975, através do meu primo e seu grande amigo Carlos Eurico da Costa, colega no Grupo Surrealista de Lisboa. Jovem diplomata, eu trabalhava no recém-criado setor da cooperação para o desenvolvimento. Cruzeiro Seixas tinha a intenção de ir como cooperante para a Guiné-Bissau independente. Falámos umas boas horas.

Há não muito tempo, retomámos essa conversa com mais de 45 anos, num jantar simpático de amigos. Recordo-me que gostou de ver, numa minha parede, um seu quadro. Tinha uma imensa lucidez e uma bela memória. Queixou-se-me de que, no sítio onde passava os dias, tinha pouca gente com quem pudesse ter uma conversa com interesse. Mas gostava muito da vida.

A hora de Cinderela


Em 1983, quando vivia em Luanda, colocado na nossa embaixada, foi, a certa altura, decretado um recolher obrigatório, que, ao que recordo, se prolongou por um período superior a dois anos. As embaixadas tinham livre-trânsitos próprios, mas, mesmo assim, a circulação nesse período era muito pouco confortável. Havia controlos armados em certos pontos da cidade, assegurados por jovens soldados, cuja fragilidade à progressiva influência da cerveja tornava tudo muito imprevisível. A “hora da Cinderela” era a meia-noite, a partir da qual a proibição de circular se iniciava, até às cinco da manhã.

Quando nos distraíamos, depois de um jantar mais prolongado, havia que conduzir com a máxima das cautelas, ao aproximarmo-nos desses controlos. Nem deveríamos ir demasiado lentamente, para não dar impressão de que podíamos estar a tramar algo, nem mais rapidamente, para não criar a ideia de que nos preparávamos para fugir à fiscalização. Depois, era o diálogo, sempre sorridente, com os “camaradas”, até termos a luz verde para avançar. Aí vinha o último perigo: tinha de haver a noção exata de que fôramos autorizados a prosseguir. Como, por vezes, as confusões de linguagem existiam, recordo-me que arrancava sempre com os olhos postos no espelho retrovisor, não fosse dar-se o caso do militar ter entretanto mudado de ideias e querer ver mais algum papel. É que se ele interpretasse esse arranque como uma desobediência, era difícil depois arguir contra uma rajada de Kalashnikov...

Em casa, a tentar dormir, no silêncio da capital angolana, sem carros a circular, começou por ser desagradável ouvir, com uma regularidade quase quotidiana, essas rajadas de metralhadora. No dia seguinte, de se perguntasse, ninguém tinha ouvido falar de qualquer incidente grave, pelo que essa sonoridade passou a fazer parte da nossa paisagem auditiva. Confesso que, ao fim de uns meses, aquilo quase que não interrompia o sono.

Nestas noites silenciosas de Lisboa, que agora começam, esse risco não existe. No que me toca, pouco sensível aos pruridos libertários que agora por aí emergem, apoio e respeito as medidas decididas, pelo interesse comum que reconheço na sua entrada em vigor.

Mas irei lembrar-me deste recolher obrigatório na próxima noite de Santo António em que, tão cedo quanto possível, todos nos possamos cruzar sem máscaras, bebendo copos pelas ruelas de Alfama, em espaços atulhados de gente, sardinhas e fumo. Essa é a minha Lisboa! Não a dispenso!

domingo, novembro 08, 2020

Observare


Nesta segunda edição do programa “Observare”, na TVI, dirigido por Pedro Pinto, com Carlos Gaspar, Luís Tomé e eu, desta vez a partir de casa. Falámos naturalmente dos Estados Unidos, mas não só. Veja aqui.

Vitória

Uma bela frase de um amigo: “Como monárquico que sou, fiquei ontem muito contente com a derrota dos republicanos”

Apontar é feio!


Ainda um dia nascerá um presidente americano que não tenha aquele irritante gesto de apontar para a plateia

Os portugueses

Os portugueses refilam quando o governo não apresenta medidas para fazer face às movimentações de pessoas que ajudam à propagação da pandemia. “Anda tudo à balda!”

Quando o governo impõe medidas, os portugueses reagem logo quanto às medidas determinadas, muitas vezes ridicularizando-as, porque acham que as medidas, afinal, deveriam ter sido outras, porque a malta (os gajos lá do café, um dos quais tem um primo que é político e outro um cunhado na GNR) é que sabem as medidas “que deveriam ser”. 

Quando as medidas do governo são duras, queixam-se de que são duras demais, que a economia é abafada, que as liberdades estão ameaçadas, que vem aí o fascismo. “Já quase só falta a pide!”.

Quando as medidas são brandas, flexíveis, com margens deixadas ao bom-senso e ao espírito cívico, acham que medidas dessas não vale a pena, que “o pessoal assim não respeita nada” e, claro, conclui com o definitivo “assim não vamos lá!”.

Têm toda a razão! Assim não vamos lá! Porquê? Porque são os portugueses. Somos.

sábado, novembro 07, 2020

No “Jornal de Notícias”

 

                                                        (Clique na imagem para aumentar)

É o que eu penso!

Não quero ser desmancha-prazeres, mas acho mil vezes mais importante a notícia da saída de Trump do que o facto de Biden assumir a presidência. Mesmo podendo dizer-se que uma coisa decorre da outra. O fim da era Trump é, para o mundo, a grande notícia da década!

Até o Indian summer ajuda!


 

Uhf!

 


O carteiro



Hoje, no DN, li um carteiro queixar-se da sua categoria profissional não ter ainda sido destinatária de um agradecimento público, pelo trabalho que executam, com os riscos inerentes, neste tempo de pandemia.

Humanamente, percebo-os, mas também eles já devem ter entendido que a imagem dos CTT se degradou muito, com efeitos no seu reconhecimento público, a partir do momento em que a empresa foi privatizada. Privatizada, sublinhe-se, quando era lucrativa e esse lucro ia para o erário público. Privatizada, assim, por uma mera decisão ideológica, tornada mais evidente ao ter sido ainda dada, como brinde no negócio, uma licença bancária. É que se era para melhorar a rentabilidade ou a qualidade dos serviços, o resultado aí está, bem à vista. Os CTT de hoje pouco têm a ver com os “Correios” que conhecíamos no passado. O seu serviço desceu a níveis inimagináveis, com uma imprevisibilidade de entrega da correspondência que os torna praticamente inúteis em casos de urgência.

As suas lojas converteram-se numa espécie de tabacarias, com os pobres dos empregados, muitos deles com um ar embaraçado, a serem forçados a tentar impingir-nos lotarias e bugigangas. Essa mudança de cultura de negócio confere à imagem dos honrados profissionais, que têm a seu cargo essa coisa da maior responsabilidade que é levar uma comunicação privada ou uma encomenda de valor, um ar de banalidade feirante, de ânsia obsessiva pelo lucro, que reduz fortemente a confiança na seriedade do seu trabalho. E o “llega cuando llega”, agora associado à incerteza na entrega da correspondência, acaba por ser a cereja no bolo da sua descredibilização profissional. 

Sei do esforço, para produzir melhorias, que hoje existe, por parte de quem tem a responsabilidade de gerir os CTT. Mas essas pessoas, bem como os trabalhadores da empresa, não escapam a ser hoje as caras do “pecado original” que foi colocar em mãos privadas um serviço público essencial. E pagam, inevitavelmente, por isso.

Deixo-os com um carteiro de outros tempos: aqui.

Obscenidades políticas

Era só o que faltava que o PS pudesse argumentar, sem ninguém com boa memória se rir, que nos Açores deve governar o partido mais votado.

Mas o PS, e muito boa gente com ele, até do PSD, tem mais do que razão ao considerar obscena uma geringonça açoreana que inclua o Chega.

Saudades

Está a acabar um tempo delicioso em que me dava ao luxo de estar de acordo com gente com ideias bem opostas às minhas, só porque todos “não íamos à bola” com Trump. Vou ter saudades.

Uma certa América

 


Já agora...


Se Trump consegue interromper a contagem, não entendo por que não exigimos o mesmo.

sexta-feira, novembro 06, 2020

“Isto é pior que Braga, Topsius!”


Foi há 25 anos, nos primeiros dias de novembro. 

Estávamos nos sofás do King David Hotel, em Jerusalém. Mário Soares tinha acabado de ter uma conversa solta com jornalistas portuguesas. 

Por esses dias, viviam-se por ali tempos de imensa tensão. Três dias depois, o primeiro-ministro israelita seria assassinado. 

Era a primeira visita de um presidente da República portuguesa a Israel e, depois, a Gaza. Eu era o membro do governo, recém-empossado, que acompanhava o chefe do Estado.

Soares recordou que aquele mesmo edifício fora objeto, em 1946, de um ataque bombista de um grupo radical judeu, o Irgun, que havia vitimado cerca de uma centena de pessoas, entre as quais uma trintena de oficiais britânicos. Um dos responsáveis pelo ataque foi Menachem Begin, mais tarde primeiro-ministro de Israel. 

- Ó Mario, que conversa mais despropositada para quem vai dormir aqui! Bom, vou-me deitar, disse Maria Barroso, de quem os presentes se despediram.

O olhar atento de Soares seguiu-a até ao elevador, com um enigmático sorriso nos lábios. Quando a figura da sua mulher desapareceu do horizonte, com uma gargalhada, pediu:

- Ó Zé Blanco, agora que a Maria de Jesus já foi para o quarto, traga lá "A Relíquia" para nós recordarmos o que o Raposão dizia sobre a Terra Santa...

O meu amigo José Blanco e outros presentes na conversa recordar-se-ão.

... e Biden chegou à Penn Station


 

É isto!

 


quinta-feira, novembro 05, 2020

Ridículo

O estado americano no Nevada tem menos de um terço da população de Portugal. Passaram dois dias e ainda não conseguiram contar os votos por lá. Se isto não é ridículo, num país que se pretende a maior democracia do mundo, não sei o que o será.

Papéis

Nesta renhida jornada eleitoral americana, com as televisões e os sites a darem-nos, segundo a segundo, mudanças nos números, pergunto-me o que vão dizer os jornais em papel amanhã (isto é, daqui a pouco).

Diferenças

Nas percentagens eleitorais, devemos sempre lembrar-nos que uma diferença entre quem tem 52% e quem tem 48% não representa quatro pontos de diferença, mas apenas dois: subindo de 48% para 50%, empata-se, porque o adversário desce dois pontos. É elementar, mas muita gente esquece.

quarta-feira, novembro 04, 2020

Eleições presidenciais nos EUA

 


Trump e a Rússia


Há quatro anos, estive num fórum sobre questões estratégicas em Kiev, na Ucrânia. Faltavam poucas semanas para as eleições presidenciais americanas e o tema, como não podia deixar de ser, dominava o ambiente. 

Se a escolha de um presidente americano é sempre relevante para o mundo, muito mais o é para um país charneira como a Ucrânia, ainda atravessada por uma espécie de fronteira residual da Guerra Fria. 

Os ucranianos de Kiev não esqueciam o apoio que administração Obama dera ao afastamento do presidente pró-russo do país, num golpe político que, no entanto, acabou por ter, como preço, a perda da Crimeia e a fixação de um conflito “congelado” no Donbass, na zona leste do país. 

As estranhas declarações que Trump então já produzia, dando sinais, em caso de vitória, de ser favorável a um apaziguamento com Moscovo, punham os cabelos em pé ao poder ucraniano. 

Jogando pelo seguro, a organização do fórum tinha convidado americanos de ambos os lados do espetro. Por ali andavam nomes do republicanismo radical, como Karl Rove, Newt Gingrich ou John Bolton, mas também figuras do mundo democrático, como Leon Pannetta ou David Axelrod, até gente que tinha transitado de administração, como Robert Gates. 

Uma maioria achava provável uma vitória de Clinton, mas as hipóteses de Trump não eram descartadas. Recordo o vaticínio sossegante de Gingrich: “Estou certo que Trump, se ganhar, vai rodear-se de gente experiente, do ‘establishment’ republicano”. Como ele se iria enganar! 

Passaram umas semanas mais. As eleições americanas tinham tido lugar na ante-véspera. Eu participava de um seminário luso-alemão, em Berlim. Todos – repito, todos – os que por ali andavam estavam aturdidos com a vitória de Trump, embora à época, ele fosse ainda uma daquelas incógnitas que não prenunciam o melhor. 

Se a delegação portuguesa estava ainda sob o efeito desse choque, não pode imaginar-se o estado em que fomos encontrar os nossos contra-partes germânicos, gente do governo e da oposição. Vivia-se por ali um ambiente de tragédia anunciada, o que, à luz do que hoje sabemos, teria com certeza a ver, uma vez mais, com a questão das cumplicidades de Trump com a Rússia.

O mundo de dúvidas sobre a verdadeira natureza da estranha relação política entre Trump e Putin permanece até hoje. Não sabemos se o que vier agora a passar-se pode abrir caminho a que o assunto seja esclarecido ou se, pelo contrário, ajudará a enterrar ainda mais esse mistério. Fosse eu crente e diria: “God bless America”!

segunda-feira, novembro 02, 2020

Marcelo

Raramente tive tanto prazer em ver e ouvir uma (tentativa de) entrevista como aquela que António José Teixeira fez hoje ao presidente da República. Só de imaginar as imprecações que o discurso presidencial suscita em tanta gente, já ganhei o dia!

Os dias loucos da América

Os ataques públicos de Donald Trump ao Supremo Tribunal, por este ter mostrado abertura (embora ainda sem a nova juíza conservadora na sua composição, o que pode alterar o sentido do voto coletivo) para admitir uma contagem dos votos por correspondência durante mais alguns dias, subsequentes ao dia 3 de novembro (no passado, foi sempre impossível escrutinar esses votos no próprio dia, sendo que este ano a situação será, com certeza, muito pior, pelo facto desse tipo de voto se ter popularizado, em especial no campo democrático, com vista a evitar o voto presencial, devido à pandemia), parecem revelar que algum desespero começa a afetar a confiança no seu campo político. 

Nas últimas horas, Trump atacou também bem o FBI, por ter iniciado uma investigação sobre ameaças físicas organizadas contra a campanha de Biden. Trump apoiou essas ações, que considerou levadas a cabo por “patriotas”, segundo referiu num “tweet”. 

A mais recente “novidade” é a afirmação de Trump de que se considerará eleito se os resultados apurados até ao final do dia 3 de novembro lhe forem favoráveis, sem levar em consideração as dezenas de milhões de votos por correspondência por contar, parece ser um expediente para vir a criar um “fait accompli”, o qual, após consagrado, teria de ser contrariado por via judicial, o que implicaria uma longa batalha legal. 

Há, entretanto, sinais de que milícias armadas estão organizadas um pouco por todo o país para contestar uma possível vitória de Biden. Mas há também indicações de que, em caso de uma eventual declaração unilateral de vitória por parte de Trump, isso poderia suscitar reações violentas simétricas no outro campo. Biden, porém, já reiterou que aceitará qualquer resultado que resulte das urnas e que seja validado pela justiça. Resta, porém, saber o que farão os seus apoiantes.

O que irá passar-se? Se não houver aquilo a que os americanos chamam um “landslide”, isto é, uma vitória alargada e muito expressiva para qualquer dos lados, o que parece altamente improvável (em especial favorecendo Trump), a acreditar em muitas sondagens, a hipótese de haver fortes distúrbios nas ruas dos Estados Unidos é muito elevada. Mas há mesmo quem pense que, qualquer que seja o cenário político pós-eleitoral, os confrontos violentos são já inevitáveis. 

Neste quadro de potencial conflito público, que há poucos anos ninguém pensaria poder vir a ocorrer numa democracia como a americana, o que farão as forças armadas, que ali são vistas como uma espécie de “reserva moral” do país? Manter-se-ão neutras, perante o caos nas ruas? Ajudarão a um “golpe” institucional de Trump? Ou farão um sinal de advertência ao presidente, apontando-lhe a porta de saída, se a situação chegar aos limites do escândalo político e de confrontos públicos muito graves? Estamos no terreno de cenários-limite, é certo, mas vale a pena pensá-los, porque parece que tudo já pode acontecer nesta América.

domingo, novembro 01, 2020

América

É triste ter de constatar que praticamente nenhum canal de televisão americano que nos seja acessível oferece uma cobertura independente da eleição presidencial. Ao vê-los, temos sempre de descontar o viés político, seja pró ou contra Trump, que os sistematicamente os mobiliza.

Cheia

 


A lua cheia a fazer pouco do crescente na noite das bruxas.

Pandemia


António Costa esteve muito bem, na sua intervenção sobre a pandemia. Mostrou ter consciência da realidade e dos meios disponíveis para lhe procurar fazer face. Sem triunfalismos, com serenidade e determinação. Ele sabe que este é o maior teste da sua vida política.

Observare


Numa parceria com a Universidade Autónoma de Lisboa, a TVI passa a apresentar, semanalmente, aos sábados à noite (com repetição posterior), o programa “Observare”, sob a coordenação de Pedro Pinto, no qual Carlos Gaspar, Luís Tomé e eu analisaremos a situação internacional.

O primeiro programa pode ser visto clicando aqui.

Lembrem-se!

Há algo que ninguém parece querer notar. O Serviço Nacional de Saúde português é um extraordinário milagre, atendendo à qualidade do serviço que presta. Sendo Portugal o país mais pobre da Europa ocidental, seria natural que o seu serviço público de saúde acabasse por ser o pior dentre esses países. Ora, com todos os seus problemas, é, sem a menor dúvida, dos melhores.

sábado, outubro 31, 2020

Observare

 


Hoje, às 23:00 na TVI 24, “Observare”, o novo programa semanal sobre relações internacionais. Apresentado aqui.

É isto que eu penso

Muito - mas muito! - do que se está a passar, entre nós, com a pandemia deve-se, simplesmente, à falta de educação cívica, de prudência básica, de respeito pelos outros e de bom-senso. 

Deixemo-nos de histórias e de tentar “passar a bola” para os outros.

O meu Prémio Camões 2020

 


Sem covid


No auge do debate sobre o Brexit, que foi uma questão que se tornou obsessiva no quotidiano do Reino Unido, a Sky News decidiu criar noticiários onde esse tema nunca era referido. 

Acho que a saúde mental do nosso país ganharia muito se algum dos nossos canais de televisão emitisse notícias “covid-free”, isto é, sem nunca falarem do tema. 

Mas receio que ninguém tenha coragem para fazer isso.

Eleições presidenciais americanas


Veja aqui o Expresso da Meia Noite de ontem, em que participei num debate sobre as eleições presidenciais americanas.

Diga lá, Moneypenny!


Mas há a menor dúvida de que Sean Connery foi, a grande distância, o melhor James Bond de sempre? 

Diga lá, Moneypenny, se não está de acordo comigo!

O génio e o caráter

A História regista vários casos de personalidades que, tendo revelado um mérito excecional nas áreas em que operam, com isso concitando a admiração e respeito da sociedade, praticaram, noutras dimensões da sua vida, atos graves de natureza cívica. A questão que se coloca é saber se a comunidade, ao querer reconhecer publicamente os méritos de uma atividade que todos aplaudem, o pode fazer sem levar em conta os restantes aspetos.

Esta questão veio à baila a propósito da atribuição do prémio Camões ao professor Vitor Aguiar e Silva, cuja empenhada partilha dos valores da ditadura fascista, com reconhecida militância política contra a liberdade de quem lutava pela democracia, suscita legítimas dúvidas sobre a oportunidade de um reconhecimento académico que iluda esses outros aspetos da sua vida.

Provavelmente não há uma resposta de sim ou não a esta questão, dividindo-se as opiniões, mas colocá-la, muito abertamente, é a expressão da dúvida que a muitos assalta. Como é o meu caso.

quinta-feira, outubro 29, 2020

França


Hoje, é dia de sermos todos franceses, por muito que a adaptação da expressão histórica já esteja banalizada. Pertencemos à família de quantos se recusam a ver a vida, o nosso modo de vida, ceder à barbárie ou sequer à cobardia de não lutar pelos nossos ideais, para apaziguar os energúmenos do extremismo. Estar hoje com a França - sem nenhum “mas”, note-se! - é estar do único lado da História por que vale a pena lutar. Só isso! Viva a liberdade!

"Então e o ... ?"

Agora, parece que anda na moda. Fala-se ou escreve-se sobre um determinado assunto e é certo e sabido que aparece logo um fabiano a dizer: ...