Mostrar mensagens com a etiqueta Política francesa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Política francesa. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, abril 17, 2012

O tempo dos outros

O título deste post é o de um livro de Adriano Moreira, publicado nos anos 60 do século passado.

(Recordo-me de o ter utilizado como epígrafe equívoca de um artigo em "A Voz de Trás-os-Montes", em outubro de 1969, quando a Oposição democrática, que se opunha ao já então decadente marcelismo, aproveitava, com ansiedade, o estreito espaço de manobra pública que a censura da época lhe dava. Como um dos efémeros "porta-vozes" dessa mesma Oposição, em Vila Real, inundei o jornal de vários textos, até que a paciência do censor local, o capitão Medeiros, se esgotou e fui finalmente privado dessa tribuna, para aberto desagrado do diretor do jornal, (o então padre) Henrique Maria dos Santos*).

Lembrei-me deste título hoje, a propósito da imensa curiosidade com que o corpo diplomático acreditado em Paris acompanha as declarações dos responsáveis que a candidatura de François Hollande, o principal "challenger" do atual presidente, mantém para os vários setores governativos, em caso de vitória. Neste tempo que, segundo muitas sondagens, poderá vir a ser por aqui "o tempo dos outros", é importante podermos garantir às nossas autoridades uma previsão daquilo que uma possível nova administração pode vir a fazer, se acaso o resultado das urnas lhe vier a ser favorável. O respeito que é devido aos poderes instituídos, bem como à possibilidade de serem reconduzidos, pela livre expressão da vontade dos franceses, não deve nem pode limitar o nosso interesse e legitimidade em estarmos preparados para todas as eventuais alternativas. 

Com alguma ironia - sem a qual de há muito não sei viver -, costumo dizer que, basicamente, só há três circunstâncias em que os embaixadores têm por certo que as suas comunicações são lidas, com algum interesse, nas respetivas capitais: quando há crises nas relações bilaterais, quando há golpes de Estado nos países onde estão acreditados ou quando há localmente eleições marcadas por algum grau de indecisão quanto aos resultados. No dia de hoje, não sendo embaixador espanhol em Buenos Aires, nem estando na ingrata posição do meu colega em posto em Bissau, resta-me assumir o popular risco de opinar sobre a campanha presidencial francesa - na esperança, quiçá vã, de alguns dentre quantos me leem em Lisboa não tendam a dar mais crédito ao que, sobre o tema, vão escrevendo o "Financial Times", o "International Herald Tribune" ou mesmo o "Le Monde".

Em tempo: um comentador informou que Henrique Maria dos Santos faleceu em 13 de abril, quatro dias antes deste post em que eu falava da sua louvável abertura de espírito, nesses tempos complexos.

sábado, abril 14, 2012

O bacalhau e a política

Entre os políticos portugueses, os períodos de campanha eleitoral são conhecidos pelos "circuitos da carne assada", esse infindável périplo por mesas de restaurantes e pavilhões gimno-desportivos, com comida portuguesa, quase sempre mais em força do que em jeito.

Aqui em França, presumo que as coisas não devam ser muito diferentes. Mas, para além do predomínio da comida do seu país, o proselitismo de conjuntura obriga a que os políticos franceses em campanha não se eximam a provar a gastronomia típica das comunidades cujo voto pretendem conquistar. Já me contaram histórias deliciosas dos tempos de Jacques Chirac, ao tempo em que se interessava pelo voto dos portugueses.

Na campanha presidencial em curso, um determinado restaurante português ganhou foros de alguma fama, ao ter-se convertido numa espécie de cantina diária informal da candidata Marine Le Pen e da sua equipa. Há dias, foi a vez do presidente candidato Nicolas Sarkozy ter organizado um almoço, na periferia de Paris, num restaurante com cozinha portuguesa. Na passada semana, a "Academia do Bacalhau" de Paris, uma convivial agremiação de portugueses, convidou representantes das candidaturas de François Hollande e de Nicolas Sarkozy para, à volta do "fiel amigo", explicarem de que modo os interesses de afirmação cultural e linguística da comunidade de origem lusitana seria protegidos, em caso de vitória do seu candidato.

Nunca se saberá qual o sentido político maioritário dos cidadãos de origem portuguesa que dispõem de direito de voto nas eleições presidenciais que se concluirão em 6 de maio. Pelo que todos ficaremos sempre sem saber se o esforço de simpatia dos candidatos pela cozinha portuguesa teve algum efeito nessa opção. Mas, enfim, a verdade é que alguns tentaram...

quarta-feira, março 21, 2012

Sondagens

Amigos e conhecidos (alguns bem conhecidos...) interrogam-me, algo perplexos, sobre o caráter algo errático das sondagens em torno das eleições presidenciais francesas. Umas contrariam as outras e as suas linhas tendenciais não são claras. Além disso, se tivermos em conta as margens técnicas de erro, então as coisas ficam ainda mais confusas.

Para quem quiser acompanhar, com algum rigor, essa estranha dança das sondagens, aqui deixo um precioso "link".

segunda-feira, março 19, 2012

Paris, março de 1973

Naquele mês de março de 1973, vim a Paris, por cerca de uma quinzena de dias, para "ver" as eleições legislativas desse ano. Eu entrava no serviço militar obrigatório no final desse mês, por um período de tempo que poderia vir a ser superior a três anos, pelo que havia decidido oferecer a mim mesmo umas curtas "férias políticas", tiradas no banco onde então trabalhava.

Paris fervilhava. A "rive gauche" aparecia, a essa nossa geração lusitana de então, como o centro de um mundo do futuro, do qual a ida para a "tropa" nos iria afastar, por muito tempo. O dinheiro disponível era escasso, os livros eram a nossa principal perdição, com a "Joie de Lire", a que sempre chamávamos "a Maspero", a surgir como a principal "meca", embora, para um familiar maoísta que me acompanhava, o destino de eleição fosse então a livraria Fenix, no boulevard Sebastopol (que hoje ainda existe, contrariamente à primeira). Para além dos comícios políticos, na "Mutualité" e em certos teatros de bairro, ia-se obsessivamente (e quase por "obrigação" cultural) a algum cinema que não passava em Portugal, frequentava-se espetáculos musicais ou teatrais gratuitos, comprava-se o "Le Monde" como uma espécie de ritual vespertino, ia-se pelas universidades onde tínhamos amigos como estudantes. Verdade seja que, para além da muita conversa e do flanar, pouco mais se fazia, mas, por algum mistério, os dias estavam sempre bem cheios.  

Na Cité Universitaire, por onde dormi uns dias na "Maison de Norvège", graças ao Joaquim Pais de Brito, cruzavamo-nos com cambodjanos entrapados, por aí recém-envolvidos numa trágica confrontação, fruto da deslocalização da sua guerra civil, com mortos e feridos em Paris.

Uma tarde, na universidade de Vincennes, fui ouvir uma aula de Nicos Poulantzas. O seu "Fascismo e ditadura" era então uma "bíblia" laica, muito em voga entre nós. A certa altura, e para minha grande admiração, vejo-o interpelado por uma figura de bigode farfalhudo, que lembrava o "pai dos povos": "Cher Nicos, je suis tout à fait en désaccord avec toi...". Alguém me esclareceu: o interpelante era português e chamava-se Silva Marques. Não o conhecia, mas logo me recordei da famosa "carta aberta" que, anos antes, Silva Marques enviara aos militantes do PCP, demitindo-se, com fragor ideológico, do lugar de principal responsável do partido na margem sul. (Mais tarde, vim a reencontrá-lo como deputado do PSD, nos anos 90). Nessa mesma tarde de Vincennes, depois da aula, fui-lhe apresentado. Na conversa, perguntei-lhe por um amigo, que presumia comum e que sabia estar por Paris. Grave, retorquiu-me: "Você é da PIDE?". Fiquei supreendido com a reação. E indignado. E disse-lho, logo apoiado por quem mo apresentara. Silva Marques, didático, explicou: "Só os provocadores é que costumam perguntar assim por alguém que está na clandestinidade". Fiquei a saber. Mas imaginava lá eu que o meu amigo andava clandestino...

Num outro dia, também em Vincennes, o José Carlos Serras Gago, com quem muito andávamos nesses dias de Paris, começou a afastar-se de nós num corredor, dizendo que ia a ver uma outra aula: "de quem?", já que aquilo parecia uma parada de vedetas da cultura. "Bachelard", foi a resposta. E lá desapareceu, numa esquina. Uáu! O Bachelard! O homem da epistemologia, de quem eu tinha folheado alguns textos, nesse tempo em que julgávamos poder "ir a todas". Mas logo me surgiu a dúvida: o Bachelard ainda seria vivo? Não havia ainda o Google à mão para tirar teimas mas, tinha quase a certeza!, o Bachelard, com a sua patriarcal barba branca, já deixara este mundo há uns anos. O Serras Gago levara-nos, "à certa". Horas depois, à saída, confrontei-o: "Com que então, o Bachelard!? Foste à campa?". O José Carlos, sereno, esclareceu que ele nunca tinha dito que era "o" Bachelard. Ele fora à aula de filosofia de Suzanne Bachelard, filha do filósofo e, também ela, filósofa (morreu em 2007). E, comigo mais calado, partimos, de metro, de volta à Cité universitaire, onde o Zé Carlos pousava na "Maison du Danemark".

Sem surpresas, a política continuava a andar à nossa volta, muito para além da campanha eleitoral. Através do João Fatela e do António Gomes, por indicação do António Massano, fomos uma noite a um apartamento a Colombes, conhecer outros "amigos de amigos". À volta de umas garrafas de vinho, falámos por algumas horas do Portugal distante de que se haviam exilado e de que sentiam evidentes saudades. O tempo dessas pessoas era contado: não havia noitadas, porque começavam a trabalhar de madrugada. Sem que isso desse origem a perguntas, recordo que havia lá por casa pilhas de documentos da LUAR (Liga de União e de Ação Revolucionária), que então tinha Palma Inácio, preso em Portugal, como figura cimeira. Onde estará hoje toda essa gente dessa noite de Colombes? 

Foi também assim esse meu mês de Março, em Paris, em 1973. Há 39 anos, quase dia por dia.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Presidenciais

As bancas das livrarias parisienses estão a ficar cheias de livros assinados pelos candidatos às eleições presidenciais francesas. E, também, de obras sobre essas mesmas personalidades, algumas mais ou menos hagiográficas, outras algo críticas.

Há dias, comentava com um amigo francês que, passado que seja o dia do ato eleitoral, as obras dos derrotados ou a eles dedicadas deixarão imediatamente de se vender, porque, pelo menos por algum tempo, essas figuras passarão ao "caixote do lixo da história", para utilizar a cruel expressão de Karl Marx.

O meu amigo reagiu, com graça: "E as obras assinadas por quem vencer as eleições? O autor delas bem gostaria de as ver desaparecer e serem esquecidas, para não ter de ver confrontada a sua prática futura com aquilo a que se compromeu por escrito..."

Não está mal visto!

sábado, janeiro 28, 2012

Outros tempos

Um programa de televisão trouxe-nos, ontem à noite, Régis Debray e Jean-Pierre Chevènement, num debate interessante, onde o conceito do "sagrado" serviu a Debray para uma brilhante incursão filosófica e a Chevènement para abordar a "sacralização" que, a sua ver, importa manter como elemento identitário do poder de Estado.

Debray e Chevènement fazem parte das minhas memórias de juventude. Com o primeiro, "viajei" os tempos em que andara com Guevara nas matas da Bolívia, nessa desesperada e infausta tentativa de criar "um, dois, três, mil Vietnames". Com o segundo, segui as páginas dos "Cahiers" do CERES (Centre d'Études e Recherches Socialistes), o início da aventura cívica desse homem quase solitário, em quem o soberanismo não matou, por completo, uma certa ideia de Europa. Ambos trabalharam com Mitterrand, embora de modo desigual. Hoje, Debray escreve filosofia e ensina. Chevènement também escreve sobre as águas políticas que ainda teima em agitar.

Há cerca de dois anos, fui apresentado a Jean-Pierre Chevènement. Perguntou-me várias coisas sobre Portugal e quis saber por onde andava Otelo. Otelo é, por aqui, um nome recorrente na memória dos tempos de abril, um período que se liga fortemente à imagem contemporânea de Portugal.

No ano passado, falei com Régis Debray, para convidá-lo a vir à Embaixada, para um debate com uma figura portuguesa, sobre as diferenças no conceito de República, entre a França e Portugal. Não recusou em absoluto, mas foi dizendo que o tema não estava já no centro das suas preocupações (eu lembrava-me dos seus "Que vive la République!" e do "La République expliquée à ma fille"). Sugeriu-me que convidasse... Jean-Pierre Chevènement.

Por razões várias, o meu projeto não teve sequência. Ontem, ao vê-los, juntos e cúmplices de um passado onde cruzaram as suas fidelidades, lembrei-me deles noutros tempos. E, sei lá bem porquê!, também de mim, nesses mesmos tempos.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Prognósticos

Com crescente regularidade, amigos e conhecidos portugueses perguntam a minha opinião sobre o possível desfecho das próximas eleições presidenciais francesas. Lamento sempre não poder satisfazer a sua curiosidade, mas a verdade é que um diplomata estrangeiro não sabe, sobre este assunto, mais do que... os franceses, que são quem acabará por escolher o seu presidente, para os cinco anos seguintes. E eles também não sabem...

Se há algo que aprendi na vida diplomática foi relativizar a minha própria opinião. E a não acreditar na minha presciência. Uma das vantagens da rotação regular dos embaixadores, entre os vários postos, tem a ver com a necessidade de produzir olhares novos sobre a realidade local. A experiência mostra que um diplomata que se eterniza num posto, independentemente de poder, por essa via, garantir um grande conhecimento da vida e da sociedade do país, de criar uma rede forte de interlocução e teste de ideias, pode também facilmente acabar por "go native" (isto é, passar a ter as reações de um local) ou perder o rigor na perspetiva de observação das mutações no país onde está acreditado. É que, rotinado numa certa leitura, um diplomata que fique por muito tempo num posto pode não estar aberto ao surgimento de novas realidades ou, confrontado com elas, pode ser tentado a rejeitá-las por as considerar incompatíveis com a grelha de observação em que se viciou.

Há uma história, auto-crítica, que costumo contar, passada comigo em Angola, nos anos 80. À chegada do novo embaixador, António Pinto da França, desenhei-lhe um quadro muito completo da relação de forças no seio do comité central do MPLA. Expliquei-lhe quem era quem, o que cada um representava, qual a política de alianças de grupos que prevalecia, tudo isso com o objetivo de apontar para aquilo que iriam ser as mudanças na liderança angolana, a ocorrerem no próximo congresso do partido.

O novo embaixador tomou nota mas, por si próprio, com os conhecimentos que entretanto foi criando, começou a fazer as suas próprias avaliações e juízos. Passado algum tempo, dei-me conta de que os telegramas que enviava para Lisboa, sobre a situação política interna angolana, começavam a afastar-se da linha que eu tinha como correta. Mais: a sua leitura sobre as personalidades que iam subir ou descer no próximo congresso do MPLA começava a divergir fortemente daquela que eu, observador com mais de três anos da vida política local, considerava dever ser transmitida às nossas autoridades. Isso preocupava-me. As minhas fontes, que tinha por excelentes e testadas, eram perentórias sobre as hipóteses de evolução tendencial do equilíbrio político, mas eu não conseguia convencer disso o meu embaixador. Não querendo contrariá-lo, lembro-me de ter trocado impressões sobre o assunto com outros diplomatas em posto, com vista a que o tentassem chamar à razão, reverter o caminho errado pelo qual prosseguia nas suas análises, cada vez mais diferentes das minhas. Mas não tive qualquer sucesso.

"To make a long story short", como dizem os anglo-saxónicos, as coisas passaram-se exatamente como o embaixador António Pinto da França as estava a ver e não como eu pensava que elas iam ser. O tempo em posto, por vezes, "desajuda" mais do que favorece.

Mas, afinal, qual é a minha perspetiva sobre o que sucederá politicamente em França, neste primeiro e decisivo semestre? O que penso sobre o assunto reservo-o, naturalmente, para as minhas autoridades. Mas devo adiantar que, nesta matéria, é capaz de ser prudente seguir o famoso preceito daquele lateral-direito de uma equipa do norte que, perguntado sobre como via a partida que o seu clube ia disputar, adiantou, com simplória sabedoria: "Prognósticos? Só no fim do jogo".   

sábado, janeiro 21, 2012

Afeganistão

A decisão ontem anunciada pelo presidente Nicolas Sarkozy, de suspender temporariamente a atividade das tropas francesas presentes no Afeganistão, na decorrência da morte de quatro soldados seus e ferimentos em vários outros, provocada deliberadamente por um militar afegão, foi um gesto que encontrou grande eco na opinião pública deste país. Com efeito, há qualquer coisa de estranho quando tropas que estão no terreno para ajudar à formação e à ação de pacificação de um exército se tornam vítimas indefesas de membros dessas mesmas forças armadas, por virtude da falta de um mínimo de condições de segurança para a sua atividade.

O envio de forças para o Afeganistão, por parte de vários países, que se iniciou há cerca de uma década, foi um gesto de solidariedade política para com os Estados Unidos, no pós-11 de setembro, e, ao mesmo tempo, foi o reconhecimento de que a segurança futura de todos nós começava nessa longínqua fronteira, onde o terrorismo se afirmava e prosperava com impunidade. Foi uma iniciativa justa, coberta por um mandato internacional incontestável, cuja legitimidade não pode ser posta em causa. E Portugal foi, com toda a naturalidade, parte desse esforço, que honra a sua política externa.

Os resultados desta iniciativa estão, porém, muito longe das expetativas então criadas. O Afeganistão é uma sociedade muito complexa, onde os aliados internos de quantos pretendem ajudar à pacificação do país parecem, por vezes, enredar-se em estranhas flexibilidades táticas com o inimigo, muitas vezes cruzadas com comprovadas venalidades. Dá frequentemente a sensação de que aqueles que se esforçam por criar condições para uma sociedade afegã mais justa e democrática são como que forçados a "respeitar" um certo relativismo cultural, tido como essencial para a estabilização do poder interno, mesmo à custa de uma fragilização de princípios básicos em matéria de direitos fundamentais. E, aqui e ali, fica a impressão de que algum transigência, nomeadamente na política de alianças, pode colocar em causa o caminho para o futuro democrático e de tolerância que não pode ter deixado de estar por detrás da contribuição externa para a operação militar.

Começa a ficar claro que os parceiros internacionais do governo afegão, que têm procurado encontrar soluções para garantir as melhores condições para a solidificação do seu estatuto de autoridade, se começam a interrogar sobre se esse imenso esforço está a ser devidamente recompensado com reais resultados e com um total empenhamento de quantos, no país, têm obrigação de acelerar as condições para virem a tomar nas suas mãos, de forma autónoma, o seu próprio futuro.

A decisão francesa de repensar a sua ação no Afeganistão, deixando aberta a porta a uma possível retirada das suas tropas antes da data prevista de 2014, no caso de não encontrar uma resposta satisfatória às suas preocupações, é talvez um momento de verdade que pode ser útil a uma reflexão mais alargada, que ajude a ver mais claro quanto ao futuro do conjunto da ação militar internacional no país. O respeito pelos mortos em ações militares no Afeganistão, como os muitos que a França já teve de enfrentar nesta década, justifica bem este gesto. 

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Cargos

Um livro recém-publicado aqui em França recorda que Valéry Giscard d'Estaing, depois de ter deixado a Presidência da República, se sugeriu, anos mais tarde, como candidato ao cargo de primeiro-ministro ou, mesmo, de ministro dos Negócios Estrangeiros. A atualidade traz-nos o facto de Alain Juppé, antigo primeiro-ministro, ter sido, posteriormente, ministro de várias pastas, sendo hoje chefe da diplomacia francesa. No passado, também Michel Debré, depois de ser chefe do executivo, desempenhou várias funções ministeriais.

Não passa pela cabeça a ninguém, em Portugal, que um presidente da República ou um primeiro-ministro venham assumir, num governo posterior, um cargo de ministro. Estou certo que, no nosso país, nenhum titular desses cargos aceitaria essa possibilidade e que a opinião pública reagiria, com alguma estranheza, se acaso isso viesse a acontecer.

É muito interessante verificar como as culturas políticas podem ser tão diferentes, de país para país.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Triplo A

A eventual perda da classificação "triplo A", que a França detém nos "ratings" das principais agências de notação, é uma questão que tem atravessado os debates neste país, nos últimos meses. A questão tem implicações económicas sérias, porque um eventual "downgrading" da França provocaria maiores custos no seu endividamento nos mercados. Outros observadores olham também para o aspeto político do problema, interrogando-se sobre o papel futuro da França como uma das vozes com maior autoridade nas grandes decisões europeias, se acaso a sua desqualificação se processasse. Este último argumento é desvalorizado por outros, que assinalam que a degradação da notação dos EUA não fez perder a Washington um papel central no quadro decisório global.

Uma coisa é certa: para além do efeito sobre a própria França, não seria uma boa notícia para a Europa em geral se as agências de notação viessem a baixar a sua classificação, eventualmente com as de outros países europeus que ainda detêm o "triplo A". Para além dos efeitos de mercado, as consequênciais globais sobre a imagem da Europa seriam muito negativas e teriam imediatas implicações na credibilidade da zona Euro. A somar-se a tudo isso, e se acaso essa degradação viesse a acontecer nas próximas semanas, ela teria um inevitável efeito de antecipado descrédito sobre os esforços em torno da fixação do novo tratado intergovernamental europeu, cuja única verdadeira razão de ser é a tentativa de mobilizar a confiança dos mercados.

Um reputado economista francês contava-me, há dias, uma conversa tida com um responsável de uma agência de notação, que o teria deixado perplexo. Esse responsável assumiu que muitas das decisões, em termos de notação, que a sua empresa fazia eram, não apenas constatações feitas na base de dados objetivos relativos à sustentabilidade financeira de empresas ou Estados, mas traduziam já uma espécie de antecipação daquilo que se podia qualificar como o estado de espírito dos mercados. Assim, para além de uma notação vir a influenciar os mercados, ela própria já "presume" aquilo que os mercados estariam predispostos a ouvir. Interessante e preocupante.  

sexta-feira, dezembro 23, 2011

A História e a justiça

A Assembleia Nacional francesa aprovou ontem a criminalização do "negacionismo" de todos os genocídios, isto é, o seu não reconhecimento ou desvalorização no discurso público e mediático. O que estava imediatamente em causa era o reconhecimento do alegado genocídio da população arménia pelos turcos, entre 1915 e 1917, tema altamente sensível em Ancara, que reagiu com esperado desagrado.

Sobre o tema do "negacionismo", há duas posições opostas.

Há quem considere, à luz dos trágicos extermínios nazis, que não se pode deixar morrer a memória às mãos de uma dolosa contestação de factos incontroversos, que representam crimes contra a humanidade, para os quais é imperioso manter alerta a consciência das gerações seguintes.

Outros entendem que não é pelo direito que se corrige a perceção da História e que a negação pública de uma evidência se combate pelo esclarecimento e pela demonstração de uma verdade que, sendo-o, deve ser suficientemente sólida para enfrentar o seu contraditório público.

domingo, dezembro 11, 2011

Quai d'Orsay

Há mais de um ano, falei aqui do "Quai d'Orsay - chroniques diplomatiques", um álbum de banda desenhada passado no ministério francês dos Negócios Estrangeiros, ao tempo que era dirigido por Dominique de Villepin (embora, nesta ficção, sob o nome de 'Alexandre Taillard de Vorms'). Saiu agora um segundo volume dessa série, dedicado ao período da guerra no Iraque (país designado por 'Lousdem").

Não estou seguro que a curiosidade com que um diplomata é motivado a ler este tipo de histórias seja comum à de qualquer outro leitor, para quem a vida dos gabinetes e das relações internacionais é marginal ao seu quotidiano. Por mim, devo dizer, diverti-me bastante ao ver reconhecidos no álbum alguns tiques do "métier".

Por lá se encontra a obsessão dos titulares de cargos políticos em conseguir ter, numa simples folha de A4, o essencial de um relacionamento com um qualquer Estado, a "fácil" ordem para preparar um artigo de jornal "para ontem", a determinação em garantir um transporte "impossível" ou a impaciência com alguns detalhes onde, como se sabe, se esconde o "diabo". O texto não escapa à fina caricatura, neste caso muito bem conseguida, de alguns diplomatas-tipo: os irónicos, os "nonchalants", os angustiados, os "workaholics", os autoritários, os "definitivos", os cínicos e outros que tais.

Por uma qualquer razão, o serviço de "cifra", por onde passam as comunicações (os "telegramas diplomáticos") é particularmente visado neste álbum, onde o ministro é colocado a dizer ao chefe desse serviço: "Convosco, podemos sempre ter a certeza de ser informados em tempo real do que se passou na véspera"...

Ainda uma nota para o reaparecimento da figura de 'Claude Maupas', chefe de gabinete do ministro, que retrata, à perfeição, a serenidade e lealdade de Pierre Vimont, um bom amigo que era chefe de gabinete de Villepin, e que hoje dirige o Serviço europeu de ação externa (SEAE)  e de quem já falei aqui.

Finamente, porque a ficção se cruza com a história, vale a pena dizer que, há escassas horas, em solene anúncio na televisão francesa, 'Alexandre Taillard de Vorms', ou melhor, Dominique de Villepin, acabou de anunciar a sua candidatura à presidência da República francesa.

A importância da política

Todos se recordam do sobressalto público causado, já há uns tempos, pelo facto de um antigo primeiro-ministro português ter visto interrompida uma conversa que estava a ter com uma jornalista, durante um noticiário televisivo, comentando temas do quotidiano da política pátria, para abrir tempo a um curto direto do aeroporto, para onde a estação havia enviado repórteres, há várias horas, à espera de José Mourinho, num contexto de uma qualquer expectativa que então existia quanto ao futuro do famoso treinador. A figura política, enquanto viu o direto, deve ter ficado a matutar e, quando a emissão regressou ao estúdio, fez uma declaração firme, logo seguida de um abandono de cena espetacular, indignando-se pelo facto do seu verbo ter sido interrompido por um motivo tão corriqueiro. Não saiu a meio do direto, que lhe estaria a fazer perder o seu precioso tempo, mas apenas saiu no fim, para poder bem "explorar o sucesso", utilizando uma imagem militar. Foi talvez pena que à jornalista entrevistadora não tivesse ocorrido interrogá-lo sobre o tema do direto, tanto mais que essa personalidade pública era bem conhecida como comentador regular, bem avençado, das coisas da bola. 

Vem isto a propósito da edição das 20 horas do noticíário da televisão pública France 2, um dos mais vistos em França, no dia subsequente ao recente acordo europeu de Bruxelas. A emissão abriu com o jornalista que a conduzia, David Poujadas, a mostrar, ao seu lado, o primeiro-ministro François Fillon, que iria falar mais tarde sobre a necessidade da França, no novo contexto, ter de introduzir ou não planos acrescidos de austeridade, tema que aqui causa algumas naturais ansiedades públicas. O noticiário prossegiu, com um alinhamento que juntava a crise europeia aos novos horários dos comboios, incidentes securitários e eventos regionais a temas diversos de política internacional, com curtíssimos diretos e todas as notícias do desporto, claro! No estúdio, Fillon permaneceu todo esse tempo silencioso, à espera da sua hora, que apenas foi às 20.24, quando pôde finalmente começar a falar. E o telejornal acabou, claro, às 20.30, porque a meia hora de duração é por aqui coisa sagrada.

A televisão que interrompeu a entrevista do antigo primeiro-ministro português, já há muito fora de funções, era e é privada. A estação que fez esperar vinte e tal minutos um PM francês em pleno exercício é pública. Cada terra com seu uso. Isto não nos ensina nada? 

terça-feira, novembro 22, 2011

Danielle Mitterrand (1924-2011)

Alguém disse, um dia, que Danielle Mitterrand, que agora desapareceu, era a consciência de esquerda do seu marido. Mulher de causas, atenta à vida e às injustiças internacionais, nunca deixou de ser uma personalidade bastante discreta na vida pública francesa, onde media as suas aparições com grande parcimónia. Apaga-se agora o sorriso daquela cara com olhos felinos, atrás do qual se adivinhavam os segredos de uma relação complexa com um dos homens mais misteriosos da história francesa contemporânea.

quinta-feira, novembro 17, 2011

François Bayrou

François Bayrou é um dos mais experientes políticos franceses. Antigo ministro e presidente do partido centrista MoDem, obteve mais de 19% dos votos nas eleições presidenciais de 2007. Em 2012, irá de novo a votos. Entretanto, vai publicando, pelo seu punho, alguns livros que são tão polémicos como admiravelmente bem escritos.

Ontem, Bayrou almoçou com os embaixadores da União Europeia e, num tom solto e bem humorado, disse-nos o que pensa da situação política interna francesa, explicando também a sua visão sobre as mais importantes temáticas europeias. Fê-lo num tom franco e "sem papas na língua", o que me levou a dizer-lhe, em jeito de elogio, numa questão que lhe coloquei, que, ouvindo-o, ninguém diria que a expressão "langue de bois" era francesa...

Aproveitei este encontro com François Bayrou para pôr com ele algumas contas em dia.

Alguns se lembrarão que, em 2000, no início da presidência portuguesa da União Europeia, ocorreu o chamado "caso austríaco". 14 dos 15 países da então União, descontentes com o facto de estar iminente a entrada no governo austríaco de um partido tido como de extrema direita, resolveram impor algumas "sanções" às autoridades de Viena.  Tratava-se de medidas de natureza bilateral, que não afetavam os direitos austríacos como país membro da União, mas que significavam o descontentamento dos parceiros europeus da Áustria pelo facto do paradigma governamental do país poder conflituar com a ordem de valores pelo qual a Europa comunitária se deveria pautar. Mal sabíamos nós, à época, o que o futuro nos traria noutras paragens do continente...

O tema era muito polémico, por toda a Europa. Como polémica foi a necessidade de Portugal ter sido colocado, pela generalidade dos seus parceiros europeus, no centro do problema, como "coordenador" da posição dos 14. O Parlamento Europeu também não escapou a ele e, numa tarde de fevereiro, em Bruxelas, com o areópago a abarrotar, a presidência portuguesa, que tivera de assumir as "dores" dos 14, esteve no centro de um longo debate. Coube-me assegurar as nossas "cores" e defrontar um ambiente muito tenso, com centenas de deputados a vaiar a posição que nos competia defender, lado a lado com outros que hostilizavam a opção austríaca.

A base de argumentário de que eu dispunha para o debate era muito escassa: um mero comunicado de alguns parágrafos, laboriosamente acordado entre os 14, com aquela linguagem ambígua que esse tipo de textos fortemente negociados sempre tem. Era muito pouco, para cerca de duas horas de debate, mas era essa a minha margem, pelo que tive de improvisar em torno do texto comum, cuidando em o interpretar criativamente, correndo o risco de alguém me poder dizer que estava a ir longe demais. 

Acresce que a Comissão europeia, na bancada em frente, escudada na prudência, havia decidido tomar um caminho de retração opinativa num tema em torno dos valores, aguardando talvez que o vento soprasse de forma clara num qualquer sentido. Pela voz do presidente Romano Prodi, assumiu uma posição equívoca, a qual, a partir de certo momento, me deixou numa situação algo embaraçosa. Nem uma intervenção mais "assertive" do comissário Neil Kinnock em nosso apoio, a quem eu fizera entretanto chegar uma nota do desagrado por essa tibieza inicial, foi suficiente para reverter o ambiente de isolamento em que a presidência portuguesa se encontrava.

No plenário, o "ping-pong" entre a esquerda e a direita foi-se processando, com a presidência a ser considerada, ora tímida e complacente, ora demasiado agressiva com Viena, sendo raros os que se reviam na "craftly worded" linguagem do comunicado dos 14. 

Por razões que só a "petite histoire" acolherá um dia, a maioria dos deputados portugueses dispensou-se de intervir em defesa a posição da "sua" presidência, pelo que, sozinho, tive de fazer as "despesas da conversa". Nada que fosse impossível, mas era uma posição bastante difícil de ir sustentando sem apoios claros no plenário. Mas estes eram raros. Contra nós, por exemplo, falaram figuras como Jean-Marie Le Pen, que vociferou graves coisas denunciando a atitude que titulávamos - repito, não em nome de Portugal, mas de 14 dos 15 países da União cuja posição e razões nós ali tentávamos sustentar.

Foi então que uma voz do centro do espetro político europeu se ergueu, com grande vigor e determinação, apoiando as razões assumidas pela presidência portuguesa, destacando que ela estava a representar os princípios de ética democrática da União e uma linha justa de abordagem do problema: essa voz era a de François Bayrou. Com as suas reconhecidas qualidades de tribuno, colou-se às nossas posições e foi uma preciosa ajuda para equilibrar o ambiente.

Ontem, tendo com ele coincidido numa das mesas do almoço organizado pelo meu colega polaco, tive o ensejo de lhe relembrar a ocasião e o seu gesto. Ainda que com mais de uma década de atraso, foi-me grato poder expressar esse agradecimento que estava a dever a François Bayrou.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Liberdades

Há dias, falámos aqui das ações de grupos integristas católicos que tentam pôr em causa a liberdade de expressão no Théâtre de la Ville, em Paris, a propósito de uma peça aí representada.

Na noite de ontem, e na óbvia sequência da abordagem irónica de temas islâmicos no último número da publicação humorística "Charlie Hebdo", as instalações deste jornal, também em Paris, foram incendiadas.

O radicalismo religioso integrista tem ser combatido com todas as armas da liberdade, a principal das quais é a lei. A mesma lei que agora impede que Julien Assange, o fautor do WikiLeaks, se não socorra do falso argumento da defesa da "liberdade de informação" para escapar a um outro processo criminal, por acusações de outra natureza, movido num Estado que, como a Suécia, tem um sistema judicial acima de toda a suspeita.

Cada coisa no seu sítio.

segunda-feira, outubro 24, 2011

Teatro livre

Emmanuel Démarcy-Mota é uma das grandes figuras do teatro francês contemporâneo. Filho da atriz portuguesa Teresa Mota e de Richard Démarcy, encenador e autor, dirige atualmente o Théâtre de la Ville, em Paris, e o Festival de Outono da cidade. Emmanuel mantém-se fortemente ligado a Portugal, colaborando com diversas instituições nacionais. E, além de tudo isso, é uma personalidade fascinante.

Desde há dias, o seu espetáculo «Sur le concept du visage du fils de Dieu», de Romeo Castellucci, tem sido objeto de boicotes violentos por parte de grupos religiosos integristas. Com coragem, afrontando a fúria sectária, Emmanuel e o Théâtre de la Ville mantêm a determinação de prosseguir as representações.

A luta pela liberdade de opinião e expressão não tem fronteiras. E estar ao lado de quem a protege e promove é um dever mínimo para quem preze a democracia, Assim, lá irei, num dos próximos dias, ao Théâtre de la Ville para ver o espetáculo e para dar um abraço solidário ao Emmanuel. Quem quiser conhecer melhor este "homem de teatro de Paris cuja pátria é o Alentejo", pode ler aqui

terça-feira, setembro 06, 2011

Livros efémeros

É muito significativa a lista de livros, subscritos por figuras da cena política francesa, que surgem nesta "rentrée". A aproximação das eleições presidenciais, bem como o cumprimento de um ritual que aqui, historicamente, como que "obriga" algumas personalidades, em especial na oposição, a revelarem as suas ideias de forma encadernada, conduz a esta abundância de publicações. Quase sempre, trata-se de obras de natureza conjuntural, que raramente ultrapassam as 200 páginas a letra larga. Cumprida a sua função de intervenção política imediata, estes trabalhos desatualizam-se semanas depois e, com certa rapidez, logo desaparecem dos escaparates.

Os analistas da coisa política dão, quase sempre, escassa importância a este tipo de obras, tidas como meros instrumentos de propaganda. Outros, porém, cuidam em tentar perceber se os textos são ou não redigidos pelos titulares do livros, sabendo que muitos não têm propensão para a escrita ou sequer tempo para tal. Mas o iniludível estilo e conhecida capacidade de escrita de alguns dos autores também faz destacar quem assina o que verdadeiramente escreve e não usa "nègres" (como aqui se diz) para essa tarefa. Por mim, devo dizer que, desde há muito, já aprendi a distinguir o trigo do... outro trigo.

quinta-feira, agosto 25, 2011

Regresso

É muito interessante voltar a mergulhar, de um dia para o outro, na realidade política de um país do qual estive afastado algumas semanas. É verdade que, entretanto, fui lendo as notícias que surgiam sobre a França, que já me atualizei com a produção informativa para Lisboa feita, nesse período, pelas minhas excelentes colaboradoras diplomáticas (curiosamente, todas senhoras). Mas nada é igual à presença no quotidiano. E que quotidiano, em escassos dias!

Desde logo, os desenvolvimentos na Líbia, onde a França teve (como já tive oportunidade de assinalar) um papel relevante, que será coroado com uma reunião em Paris, ao mais alto nível, logo no início de Setembro. Depois, os desenvolvimentos do caso Dominique Strauss-Kahn, que encheu debates e entreteve analistas prospetivos. Num terreno que lhe está (e continuará a estar) ligado, prossegue a "liça" no seio dos socialistas franceses, para escolha do "challenger" que disputará a corrida presidencial de 2012 com o atual presidente. E, para culminar estes dias franceses bem cheios, com vista a tentar acalmar os mercados e prevenir os humores de quem os antecipa, surgiu o anúncio pelo governo de um importante plano de austeridade, abrangendo o domínio fiscal e os cortes na máquina do Estado.

Paris-cidade ainda vive em ritmo de férias, com o próximo fim de semana a representar o grande regresso ao trabalho. Mas a "rentrée", essa, já aí está, em pleno!   

quinta-feira, julho 14, 2011

"14 juillet"

No dia da sua Revolução de 1789, a França homenageou hoje as suas tropas, como é de regra, com um desfile militar pelos Champs Élysées.

O desempenho dos militares franceses em teatros de guerra, onde cumprem missões legitimadas por mandatos internacionais, justifica bem este gesto de gratidão.

Ainda ontem, no Afeganistão, cinco militares franceses morreram naquela que é uma das novas fronteiras da nossa segurança.

Às vezes, os cultores de certas escolas de pensamento, motivados por preconceitos ideológicos ou por animosidades políticas, tendem a esquecer que há operações militares justas. E que temos obrigação de saudar os militares que nelas se empenham.  

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...