Mostrar mensagens com a etiqueta Artigos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Artigos. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, setembro 03, 2010

Ainda o Iraque

Vale a pena notar o que hoje escreve, num artigo publicado na imprensa internacional, o antigo MNE alemão, Joschka Fischer, a propósito do Iraque, após a saída das tropas norte-americanas:

"Nenhum dos problemas políticos urgentes originados pela intervenção americana - a repartição do poder entre shiitas e sunitas, entre curdos e árabes e entre Bagdad e o resto do país - foi verdadeiramente resolvido. O Iraque continua a ser um Estado sem uma verdadeira nação. Poderá, aliás, tornar-se num campo de batalha para os interesses opostos dos seus vizinhos. O combate entre o principal poder sunita, a Arábia Saudita, e os shiitas do Irão, pelo controlo do golfo Pérsico ameaça transformar de novo o Iraque num campo de batalha, cumulado por uma nova guerra civil. As vizinhas Síria e Turquia seriam provavelmente aspiradas para um tal conflito. Esperemos que o vazio deixado pela retirada americana não produza uma implosão de violência".

Não deixa de haver algo de tragicamente irónico nesta perspetiva, que é partilhada por muitos analistas. Quem, como Fischer, foi abertamente contra a intervenção americana, reconhece agora que, tendo-se ela produzido, tinha a obrigação de ter levado mais longe a sustentação da situação que acabou por criar.

quinta-feira, julho 15, 2010

Novas Fronteiras

"Europa - Novas Fronteiras", revista do Centro Jacques Delors, a entidade portuguesa que possui a melhor base de dados sobre assuntos europeus, acaba de editar mais um número, desta vez dedicado aos 25 anos de adesão de Portugal às instituições europeias.

Contribuí para este volume com um texto sobre um tema delicado: a atitude dos diplomatas portugueses em face do projeto europeu, antes e depois do 25 de abril. Tenho a consciência que não é um texto consensual, que alguns colegas meus nele se não reverão, mas é o que eu penso. Quem o quiser ler, pode fazê-lo aqui.

sexta-feira, junho 18, 2010

A nova ordem europeia

Confesso que não impressionam muito algumas reações de cariz nacionalista que contestam os modelos de coordenação das políticas orçamentais que ontem foram desenhados em Bruxelas. Não se pode ter "sol na eira e chuva no nabal", isto é, reivindicar o "chapéu" de proteção europeia quando as coisas correm mal e, ao mesmo tempo, pretender ter as mãos nacionais completamente livres para o desenho de decisões em matéria de agravamento do défice público, para satisfazer nichos de mercado eleitoral interno.

Não ignoro que o caminho que a presente crise obrigou a seguir comporta, em si mesmo, alguns riscos em matéria de legitimidade política, à escala nacional. Mais cedo do que alguns gostariam, a questão do conflito de competências entre as instituições políticas dos Estados e as estruturas (noto que não escrevo "instituições") europeias vai colocar-se, com grande acuidade. O assunto pode estar a ser menos sublinhado neste período em que todos estão ainda um tanto aturdidos pela crise, no qual as lideranças europeias demonstram que não conseguem mais do que ser reativas face aos mercados, mas estou convicto de que acabará por ser objeto de uma análise mais fria e mais fina, dentro em breve.

Porém, devo dizer que o que mais me preocupa, em todo o cenário que atualmente se vive, é que toda esta aparente "federalização" da gestão financeira europeia começa a assentar, já não nas instituições regulares, mas apenas nos arranjos, um tanto "ad hoc", impostos pela Alemanha e aceites pelos restantes parceiros como inevitáveis, cujo controlo democrático, a nível europeu, é hoje mais do que discutível. Haveria outra solução? Provavelmente não, mas isso não significa que não devamos pensar o problema, porque a democracia não é um conceito instrumental, mas sim uma condição "sine qua non" para a aceitação das soluções pelas pessoas. De certo modo, estamos, nestes dias, a assistir, no seio da Europa comunitária, a uma reprodução do novo modelo G20 à escala global, com a subalterinzação das instituições multilaterais regulares e a fixação de regras casuísticas ditadas pelos "powers that be".

Alguns, talvez com um realismo à flor da consciência, poderão, um tanto cinicamente, ser de opinião de que, se acaso as instituições decorrentes do Tratado de Lisboa fossem aplicadas em pleno como eixo de gestão das medidas para fazer face a esta crise, o resultado acabaria por não ser muito diferente. Para esses observadores, os desequilíbrios demográficos aceites e projetados por esse  tratado no processo decisório europeu, bem como a "subversão" interinstitucional que decorre do acordo que leva o nome da nossa capital, já haviam criado um dulcificado modelo de "diretório". Não sei se esses "realistas" têm ou não razão, apenas é evidente que já nem esses mecanismos são aplicados... A Europa está perigosa.

(Este texto foi publicado no jornal "Público" em 19.6.10)

segunda-feira, março 29, 2010

Europa

Para quem se interessa pelo futuro europeu, para quem quer ter um olhar realista sobre os caminhos possíveis na coordenação das políticas económicas europeias, recomendo o artigo que Maria João Rodrigues publica hoje no "Le Figaro", infelizmente não disponível para acesso.

Trata-se de um texto que reflete a aprendizagem das lições da aplicação da Estratégia de Lisboa, dela partindo para a necessidade de deverem ser tidas em conta outras realidades que, há uma década, não eram tão evidentes: "A concorrência internacional intensificou-se com a aparição de novos atores mundiais. a tendência para o envelhecimento é muito mais profunda, a mudança climática exige um outro modo de vida e estamos ainda a digerir uma crise financeira, económica e social sem precedentes".

A antiga ministra portuguesa aponta respostas novas que devem ser consideradas, para além de um quadro em que o crescimento seja o objetivo central: "Temos de nos voltar para um crescimento mais verde, mais inteligente e que favoreça a coesão social. A inovação para o desenvolvimento durável é agora a vantagem comparativa que a Europa deveria forjar".

Este artigo é tanto mais importante quanto se sabe que, no último Conselho Europeu, algumas das propostas da Comissão Europeia para a nova "estratégia" Europa 2020 sofreram grandes resistências, pelo seu caráter constrangente. Talvez assim se percebam melhor os obstáculos de percurso por que passou a Estratégia de Lisboa.

sábado, janeiro 09, 2010

Diplomacia e empresas


Chama-se "Bilatérale" a nova revista trimestral que a Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa, sedeada em Paris, apresentou recentemente.

Nela publico o artigo, sob o título "La diplomatie et les entreprises", que pode ser lido aqui , cuja versão portuguesa pode ser lida aqui.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Diplomacia e economia

Os membros do Fórum dos Embaixadores, que reúne as estruturas da AICEP com os chefes das representações diplomáticas portuguesas nos países com relevantes laços económicos connosco, vão hoje estar reunidos em Lisboa, para falar da dimensão económica da diplomacia, isto é, do modo como a nossa rede diplomática e consular melhor pode auxiliar à promoção da economia portuguesa. Trata-se de uma reflexão importante, para conseguirmos garantir maior eficácia ao modo como Portugal gasta o seu dinheiro na vertente externa - na promoção comercial, na captação do investimento estrangeiro, na divulgação turística.
Na minha carreira profissional, e embora não sendo economista, passei a maior parte do tempo a trabalhar na área económica, tentando que diplomacia se orientasse para objectivos importantes para a riqueza material do país.

Há precisamente sete anos, um então titular de um dos mais elevados cargos políticos em Portugal "descobriu a pólvora" e decidiu “decretar”, junto da imprensa, que tinha acabado o tempo da “diplomacia do croquete” e que “agora é que era!” na definição de uma diplomacia voltada para a economia. Porque quem não se sente não é filho de boa gente, e porque não admito que se brinque com a dignidade de uma profissão a que eu e muitos colegas dedicámos, com grande seriedade, grande parte das nossas vidas, respondi-lhe à letra, num artigo no “Público”, sob o título “Diplomatas & Croquetes”, que aqui deixo hoje, para memória futura:




Iniciativas recentes ligadas à dimensão económica da política externa portuguesa deram azo, uma vez mais, a que os diplomatas fossem brindados com notas depreciativas na comunicação social. Até aqui, nada de novo: zurzir os diplomatas, tidos como um nicho aristocrático e snobe da administração pública, tem uma audiência garantida à partida, por razões que a psicologia do despeito também ajuda a explicar.

Não tendo dos meus colegas qualquer procuração, nem vocação particular para titular reacções corporativas, entendo ter o dever de lembrar – porque, aparentemente, ninguém o fez de forma clara - que os profissionais do Ministério dos Negócios Estrangeiros não nasceram hoje para a chamada diplomacia económica. E afirmar publicamente a dignidade de quantos, como eu, se não sentem representados pela caricatura da “diplomacia do croquete”, a menos que aí caibam (porque frequentemente tais croquetes são digeridos nesse âmbito…) as diligências políticas que os embaixadores portugueses continuam a efectuar diariamente pelo mundo, a solicitação dos nossos interesses empresariais. 

Convirá, aliás, começar por nos entendermos quando falamos de “diplomacia económica”. Prevalece frequentemente a ideia simplista de a reduzir ao apoio político-diplomático aos agentes empresariais que actuam na área internacional (comércio de bens e serviços e promoção do investimento e turismo), bem como às acções para a captação de investimento directo estrangeiro para Portugal. Ora esta é apenas a definição da diplomacia de negócios.

Ninguém mais dos que os profissionais do MNE tem interesse em ver reforçadas as condições funcionais que permitam melhorar a eficácia do trabalho que o ministério sempre desenvolveu nesse contexto, quando para tal solicitado. É essencial, contudo, que haja uma definição de linhas incontroversas de autoridade institucional interdepartamental, o estabelecimento de uma formação técnica contínua dos seus quadros e a dotação dos serviços com os necessários recursos humanos, técnicos e financeiros, se se pretender que esse trabalho evolua para um diferente patamar de especialização. A partir daí, qualquer gestão por objectivos será sempre mais do que bem-vinda pelos diplomatas. 

Mas convirá notar, para quem não saiba ou possa entretanto ter esquecido, que a diplomacia de negócios está muito longe de esgotar o conceito de diplomacia económica. Com escassas excepções no domínio financeiro, o MNE assumiu, desde sempre, a direcção de praticamente todas as negociações internacionais relevantes na área económica, quer no plano bilateral, quer multilateral – neste caso, no âmbito das Nações Unidas, da EFTA, do GATT/OMC, da OCDE ou da CEE/UE. E sempre com uma eficácia técnica que nunca se viu contestada seriamente por ninguém. Por exemplo, quem, senão o MNE, coordenou as negociações económico-financeiras de onde derivaram os três Quadros Comunitários de Apoio que beneficiaram Portugal?

Por outro lado, a ideia de que os profissionais do MNE dão prioridade à “política”, entretendo-se na elaboração de especulações analíticas destinadas a arquivos, ignora que o mundo e a vida internacionais ainda são algo mais do que a economia, se bem que essa evidência pareça hoje escapar a alguns neo-fascinados pelos cifrões. E Timor? E as questões de segurança e defesa ? E as relações com os PALOP? E a ajuda pública ao desenvolvimento? E as negociações institucionais europeias? E a coordenação do ensino e dos leitorados no estrangeiro? E a gestão da imensa rede consular?

Neste tempo em que parece prevalecer uma cultura de diabolização do serviço público, está criado um terreno fácil para se projectar uma sombra de dúvida sobre o empenhamento e a qualificação profissional de diplomatas, técnicos e quadros administrativos do MNE, os quais, na sua grande maioria e em condições de trabalho muitas vezes difíceis, têm dado provas de grande dedicação aos interesses do país. Mais uma razão para assumir o risco de afrontar l’air du temps e tentar preservar essa coisa simples, mas essencial, que é a verdade das coisas. Doa a quem doer.”

terça-feira, dezembro 08, 2009

Brasil - um ano depois


Dia por dia, faz hoje precisamente um ano que deixei o Brasil.

Como memória desse tempo, fica o texto que então publiquei, na introdução ao meu livro "Tanto Mar? - Portugal, o Brasil e a Europa", e que pode ser lido aqui.

Previsões (2)


A propósito do post "Previsões", gostava de afirmar que, como qualquer mortal - e os diplomatas são simples mortais... -,  também já me enganei, e bem, em avaliações políticas.

Não tenho, aliás, qualquer dúvida em expor esses deslizes, como fiz na "Crónica de um erro diplomático" que publiquei no Diário Económico (16.5.07) e que pode ser lido aqui.

segunda-feira, novembro 30, 2009

Olhar o futuro




Aproveitando esta bela imagem de outros tempos, que ressalta a relação futebolística entre Portugal e a França, chamo a atenção para o artigo "Olhar o Futuro", sobre as relações político-económicas bilaterais, que publico no último número da revista da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, em Lisboa, e que pode ser lido aqui.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Arafat

Na ocasião em que passam cinco anos sobre a morte de Yasser Arafat, apetece-me recordar o que, nessa altura, escrevi no jornal "Público", sob o título "Com olhos em Gaza":

"A face pálida de Yasser Arafat tornou-se ainda mais lívida, ao ouvir o que lhe disse o colaborador que interrompeu bruscamente a conversa que o presidente da Autoridade Palestiniana mantinha com Mário Soares, na minha presença. Arafat balbuciou qualquer coisa e saiu, apressado, para uma sala ao lado, deixando-nos a conjecturar sobre o que tanto o perturbara. Quando regressou, denotava uma imensa preocupação: Shimon Peres, então ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, acabara de lhe confirmar que, pouco antes, o primeiro-ministro Itzhak Rabin havia sido alvejado num comício em Tel-Aviv. Não se conheciam ainda pormenores sobre o seu estado. Sem o dizermos, o cenário de um atentado de autoria palestiniana atravessou-nos a todos. Minutos mais tarde, veio a saber-se que o autor dos disparos fora, afinal, um judeu radical e que Rabin, entretanto, morrera.

Estávamos em Gaza, em 5 de Novembro de 1995, após um jantar oficial, regressados à "guest house" da Autoridade Palestiniana, numa inédita visita do Presidente da República portuguesa iniciada nessa tarde, que eu acompanhava em substituição de Jaime Gama. A simpatia por Portugal e o imenso respeito de Arafat por Mário Soares ficaram patentes em vários gestos, desde a nossa chegada. O líder palestiniano fazia questão de recordar a atitude corajosa e solidária de Soares quando, anos antes, este fora visitá-lo a Beirute, sob fogo, durante o cerco sofrido pelas forças da Al Fatah.

A comitiva portuguesa saíra de Jerusalém, nessa manhã, após uma visita oficial de três dias a Israel. A presença do presidente português ficara marcada pela contínua expressão da amizade e admiração de Itzhak Rabin e de Shimon Peres, que viam em Mário Soares, simultaneamente, um sólido amigo de Israel e um militante pela reconciliação no Médio Oriente, defensor dos direitos do povo palestiniano. Viviam-se os tempos de esperança posteriores aos Acordos de Oslo e Washington e, a avaliar pelas medidas de segurança excepcionais que rodeavam Rabin, que haviam obrigado a súbitas mudanças do programa, pressentiam-se os riscos que o primeiro-ministro israelita estaria a correr para forçar, de uma vez por todas, as portas da paz possível. Mas estávamos muito longe de pressentir a tragédia. Arafat despediu-se de nós, nessa noite, com uma sombra triste no olhar que não perderia na manhã seguinte, quando abreviámos a visita, para nos deslocarmos ao funeral de Rabin. Acto a que ele, contudo, não pôde assistir, como desejaria. Recordo as palavras trocadas por Soares com Arafat, no momento da nossa saída de Gaza. Do pesar que ambos sentiam pela desaparição de Rabin ressaltava a consciência mútua de que nada voltaria a ser igual no destino daquilo a que então se chamava o Processo de Paz do Médio Oriente.

Voltei a encontrar Arafat algumas outras vezes - em Barcelona, em Malta, em Bruxelas e em Nova Iorque. Sem excepção, perguntava-me sempre pelo seu "amigo Mário Soares" e teimava em relembrar, na sua voz cada vez mais trémula, aquela noite em Gaza, que lhe deve ter ficado na memória dos seus sonhos perdidos de uma Palestina livre.

Yasser Arafat cometeu, nos anos que se seguiram, uma imensidão de erros políticos, imerso numa conjuntura em que se deixou enredar, em que o radicalismo tomou conta dos acontecimentos, de um lado e do outro de uma barricada de ódio, hoje ironicamente simbolizada num muro real de incompreensão. O conflito israelo-palestiniano converteu-se, entretanto, numa imolação de inocentes, numa bola de neve de violência e de terror, com que já convivemos sem espanto, à vista do cinismo estratégico dos feiticeiros da realpolitik, da cobardia complacente de alguns e da fraternidade hipócrita de outros. O mundo tarda em perceber que, graças à aliança objectiva de messianismos contraditórios, alimentados pelo desespero e pelo fanatismo, se ateou a partir das margens do Jordão, à vista de todos, um incêndio imenso, que não pára de estender-se e que está, cada vez mais, longe de ser debelado, ardendo como o petróleo que lhe alimenta as raízes.

Em 5 de Novembro de 1995, morreu Itzhak Rabin. O ocaso de Yasser Arafat terá começado na mesma data, precisamente nove anos depois. Esta coincidência sela o destino trágico dos dois homens que mais perto estiveram de obter a paz para os seus povos."

Apetece-me perguntar: mudou, entretanto, alguma coisa?

segunda-feira, novembro 09, 2009

Muros

Há mais de três décadas, atravessei pela primeira vez o “checkpoint Charlie”, em Berlim, entre as duas Alemanhas. Fi-lo como interessado turista, naquela curiosidade de observador distante de uma Guerra Fria que apenas conhecia no preto-e-branco dos filmes e dos livros de espionagem. Tal como me iria acontecer em outros contactos com o “socialismo real”, a experiência deixou-me um sabor amargo e triste, como se consagrasse a despedida definitiva de uma ilusão residual – a mim, que nunca tinha cultivado nenhum fascínio pelo modelo que, para alguns, foi o “sol da terra”. Porém, pertencente a uma geração política de quantos, cada um à sua maneira, acreditaram na possibilidade dos “amanhãs” poderem vir a cantar, via-me forçado, pela força da realidade, a concluir que, no passado, o futuro era bem melhor…


Porque à época da queda do muro ainda alimentava algumas dúvidas sobre o que a Alemanha iria fazer com a sua nova unidade, não fiz parte daqueles que saudaram, com grande euforia, a festa de Berlim, embora percebesse bem a alegria dos que a partilhavam. Sei que hoje não é popular escrever isto, mas assumo-o sem o menor pejo, porque é pura verdade. Como é igualmente verdade que não verti nenhuma lágrima de nostalgia pelo fim daqueles regimes feitos de tristeza e de tom cinza que a tutela moscovita conservara como cómoda almofada entre si o Ocidente.


O fim da Guerra Fria, para quem, como eu, assume não ser, por natureza, um desbravador obsessivo das incógnitas do futuro, não me sossegava muito, principalmente porque sentia algum incómodo ao pensar que uns Estados Unidos “à solta” poderiam ser tentados a algumas aventuras, basicamente concentradas no egoísmo dos seus interesses, para as quais, de uma forma ou de outra, acabaríamos por ser arrastados.


Enganei-me numas coisas, acertei noutras.


Enganei-me no que pensava sobre os riscos que a Alemanha podia fazer correr à Europa. A unidade alemã foi extremamente positiva para o desenvolvimento do processo de reconciliação política do continente e (agora) Berlim constitui um dos factores em que assento a residual esperança de que o projecto integrador possa suplantar as tensões que hoje tendem a desagregá-lo.


Noutras coisas acertei. Deixada sem contrapoder, uma certa América fez-nos correr uma aventura cujo saldo está ainda hoje por apurar e que adubou, de forma trágica, alguns conflitos para que foi arrastada. A circunstância de uma “outra” América ter, entretanto, reaparecido, no mercado das forças políticas com expressão à escala global, pode ajudar-nos a tentar atenuar essas derivas, mas as hipóteses de retoma do curso normal das coisas estão, em definitivo, já afastadas.


O mundo que hoje vivemos, goste-se ou não, é ainda um mero produto da Guerra Fria. O modelo das nossas instituições multilaterais mais não é do que uma projecção dos equilíbrios saídos do final da Segunda Guerra Mundial. A prova provada é que ainda andamos às voltas para tentar dar à NATO uma finalidade diferente daquela para que havia sido criada. Verdade seja que, do lado de Moscovo, sente-se uma filosofia de acção externa muito tributária de uma mentalidade tradicional de cerco, que rigidifica posições e provoca contra-reacções do mesmo sinal. Para nos recordar que esses tempos não estão mortos, regressou recentemente a temática do Tratado CFE (sobre forças convencionais na Europa) e mantêm-se os “frozen conflicts” de antanho (Transnístria, Nagorno-Karabasch), alguns com afloramentos muito pouco saudáveis (Ossétia do Sul, Abcásia).


A Europa que aí temos, a União Europeia alargada, mais não é do que uma filha directa da Guerra Fria, embora agora liberta das antigas peias dos pais geradores. Algumas atitudes que detectamos em certas capitais europeias face a Moscovo trazem consigo os germes dos traumatismos passados e tornam-nos a todos reféns involuntários dessa História regional.


Ora o mundo mudou, o 11 de Setembro deu um forte sinal que parece não ter sido entendido, mesmo por quem o sofreu dramaticamente na pele. As lições do Iraque, os riscos novos no Irão, os impasses no Afeganistão, bem como o barril de pólvora no Paquistão parece não serem suficientes para nos fazer acordar para a necessidade de mudança de paradigma do nosso quadro das relações internacionais.


Nesta cegueira estratégica, a atitude de uma certa Europa perante a questão turca prova que vivemos ainda no mundo do passado e que alguns teimam em não perceber que, pedra a pedra, estamos a colocar as fundações para um novo muro.


(Texto publicado hoje num suplemento especial do Diário Económico sobre a queda do Muro de Berlim)


quarta-feira, outubro 14, 2009

Ainda a solidão

A tragédia do cidadão português cujo cadáver foi descoberto, aqui em França, apenas dois anos após a sua morte, foi objecto de um artigo que hoje publico no "Correio da Manhã".

Pode ser lido aqui.

segunda-feira, agosto 31, 2009

Cultura Europeia?

A questão da existência ou não de uma cultura europeia comum é um tema que atravessa a peça de teatro "L'Européenne", que vai ser apresentada no Théâtre de Ville, dirigido por Emmanuel Demarcy-Mota, e de aqui se falará mais tarde. A este propósito, deixo um texto retirado ontem do Télérama, da autoria de Alexis Tain.

E permito-me a imodéstia de juntar um artigo meu, sobre o mesmo tema, que proximamente será publicado numa obra colectiva a editar pela Fondation André Malraux. E que, se alguém tiver paciência, pode ler aqui.

terça-feira, agosto 18, 2009

Sérgio


“Você sabe, Francisco, só me aparecem desafios que não consigo recusar!” – foi a frase que retive da última conversa com Sérgio Vieira de Mello, quando lhe telefonei para Genebra a desejar sucesso para a sua nova missão em Bagdad. Ironizámos então com o facto de Paul Bremer, o primeiro "administrador" americano no Iraque, com quem Sérgio teria que se articular, ter coincidido comigo em posto diplomático na Noruega, nos idos de 70: prontifiquei-me para "meter uma cunha", se ele precisasse…

Só conheci pessoalmente Vieira de Mello em Setembro de 1999, quando o protocolo nos sentou lado-a-lado, num almoço em Nova Iorque. Acabara, há pouco, a sua missão nos Balcãs e entre nós passou, de imediato, uma corrente de empatia luso-brasileira, logo cimentada pelo mútuo culto do humor. Recordo-me de termos falado da possibilidade de ele chefiar a nova missão da ONU em Timor, ainda semanas antes de Kofi Annan lhe propor o lugar. Eu não tinha a pretensão de estar a ser presciente: limitava-me a ecoar o nome prestigiado que circulava já por alguns corredores, afirmando-lhe a certeza antecipada de que o Governo português o acolheria com muito agrado. Na altura, Sérgio retorquiu-me, com o seu sorriso confiante, que não, que “ia precisar de algum tempo para descansar”. Felizmente, isso acabou por não acontecer.

Sérgio Vieira de Mello fez em Timor um trabalho notável, como várias vezes tive ocasião de referir, em nome de Portugal, em intervenções no Conselho de Segurança da ONU. E – confesso – fi-lo com uma sinceridade que nem sempre é regra nos discursos oficiais. Com ele combinei, nas derradeiras fases do processo pré-independência, o tom comum das nossas intervenções em Nova Iorque, por forma a garantir o apoio que o secretário-geral da ONU e o Governo português entendiam necessário que fosse dado aos timorenses pela comunidade internacional, nos difíceis anos que se seguiriam. Recordo também os pedidos que fez, por meu intermédio, para que Portugal “deixasse cair”, a nível adequado, palavras de acalmia e bom-senso junto de responsáveis políticos de Timor, a fim de atenuar alguns litígios menores, mas que ameaçavam a estabilidade do processo interno.

Em Novembro de 2002, convidei Sérgio Vieira de Mello para ir a Viena, falar ao Conselho Permanente da OSCE, já na sua qualidade de Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos. Foi uma sessão memorável, que gerou um debate interessantíssimo, em que o à-vontade diplomático de Sérgio sublinhou o seu profundo conhecimento da situação internacional. Mas que também revelou a firmeza das suas convicções. No almoço em minha casa que se seguiu, e perante uma observação mais tensa avançada pelo meu colega americano, não deixou de lhe recordar que os prisioneiros de Guantanamo “não vivem na Lua” e que, também a eles, se deviam aplicar, em pleno, “todos os Direitos Humanos devidos aos cidadãos da Terra”.

Foi há precisamente seis anos, no dia 19 de Agosto de 2003, que Sérgio Vieira de Melo morreu, de forma violenta, em Bagdad.

(Este texto reproduz grande parte de um outro que inseri no meu livro “Uma Segunda Opinião”)

quinta-feira, agosto 13, 2009

Ibéria?


Pondo de parte a teoria conspirativa, alimentada por alguns, de que se trata de subtis balões de ensaio, confesso que frequentemente me interrogo sobre as motivações que poderão estar na origem do cíclico surgimento, entre nós, das teses iberistas. Benevolamente, atribuo-as à síndroma sazonal da "silly season", adubadas pelo esforçado internacionalismo de outros tantos, que se entretêm a brincar com a identidade nacional, em exercícios lúdicos de alguma irresponsabilidade.

O iberismo acabou por fundar-se, historicamente, no sentimento de finis patriae que nos adveio do declínio posterior à perda do Brasil, marcado pela dificuldade em gerirmos o nosso papel intraeuropeu, no ácido confronto cruzado de ambições coloniais, que nem o carácter de algumas alianças vetustas conseguiu disfarçar. Desde então, esse tropismo, derrotista e derrotado, tende a renascer sempre que surgem conjunturas que alguns identificam com a crise, não necessariamente do país, mas da ideia atormentada que dele alimentam. Tudo isto vale o que vale, mas devo confessar que começa a tornar-se irritante a sua reiterada emergência, com alguns inocentes úteis a dar-lhe foros de dignidade, por vezes mesmo com tentativas de teorização pseudo-intelectual.

Faço parte de uma geração educada "contra a Espanha", na magnificação do papel das batalhas que nos garantiram a independência, das figuras hagiografadas de recorte heróico quase caricatural, tudo se saldando na gestação de uma desconfiança atávica face aos "ventos" que sopravam de Madrid. Os livros de um Matoso anterior e de alguns outros "genéricos" da historiografia portuguesa defendiam essa espécie de doutrina patriótica incontornável, a que a própria diplomacia portuguesa não escapou. Esse culto quase paranóico da História, hiperbolizado ao ridículo pelo Estado Novo, gerou uma espécie de "inimigo nacional" obrigatório. Ainda hoje, alguns iluminados tendem por aí a esquecer uma meridiana realidade: quase nove séculos decantaram uma identidade portuguesa bem clara que, em todas as dimensões, se distingue hoje das "Espanhas" - de todas elas. E essa distinção já nada tem a ver com antagonismo.

A comum entrada de Portugal e Espanha nas instituições europeias fez com que se atenuasse, de um modo natural e num movimento de elementar racionalidade, essa doentia obsessão anti-espanhola, tornando natural o relacionamento dos dois Estados que coexistem na península. O modo como os temas de contencioso bilateral passaram a ser tratados, de que são exemplo os casos das pescas ou da gestão dos rios comuns, provou o carácter altamente benéfico da mútua convivência dentro do quadro formal europeu. Além disso, devo confessar que, para mim, foi uma verdadeira lição ver as novas gerações portuguesas começarem a entusiasmar-se com a "movida" madrilena ou desejosas de aproveitar a riqueza de vida das Ramblas de Barcelona.

A Espanha contemporânea, na sua diversidade e complexidade, é hoje uma realidade pujante, onde um sentimento colectivo de salutar orgulho fixou uma matriz que conseguiu federar autonomias e nacionalismos muito diferentes. É um país magnífico, com uma cultura interessantíssima, um povo optimista e que, em algumas décadas, deu ao mundo a lição de como foi possível desenvolver uma sólida democracia, uma sociedade de bem-estar e de franca modernidade, que conseguiu firmar-se sobre as memórias trágicas da Guerra Civil, as pulsões nacionalistas e as ameaças da barbárie terrorista.

A serena relação com a Espanha constituiu hoje um dos pilares importantes da nossa política externa. Com Madrid, encontramos, dia-após-dia, áreas para uma acrescida cooperação internacional em imensos domínios, definindo cada vez mais linhas comuns de trabalho em instâncias multilaterais. Como disse, há dias, o rei Juan Carlos, Portugal e Espanha são “duas nações antigas, vizinhas, amigas, sócias e aliadas”.

Existe hoje em Portugal uma grande simpatia pelo seu vizinho espanhol. Para que isso continue a ser assim, necessário é que continuem a existir dois países, Portugal e Espanha, como soberanias orgulhosamente diversas. Alguns não pensam assim? Deixemo-los a falar sozinhos. Portugal está aí para durar, gostem ou não.

Uma versão reduzida deste texto é hoje publicada, como artigo de opinião, no Correio da Manhã.

quinta-feira, julho 02, 2009

Rui Paula

Foi ontem à tarde, na Comédie Française. Rui Paula, o "chef" duriense que tem feito a glória do seu restaurante DOC, na estrada entre a Régua e o Pinhão, recebeu o prémio "O Melhor Primeiro Livro de Cozinha", durante o "Gourmand World Cook Books Awards'09".

O livro premiado foi "Rui Paula - Uma Cozinha no Douro", com textos de Celeste Pereira e fotos de Nelson Garrido, obra que foi igualmente seleccionada para a "short list" do prémio "Melhor Fotografia".

Note-se que o responsável pelos prémios, Édouard Cointreau, expressou publicamente na cerimónia que, na sua opinião pessoal, considerava o DOC "o melhor restaurante do Norte de Portugal".

Parabéns à equipa portuguesa, que esteve em peso no palco da Comédie Française, com o apoio moral do embaixador de Portugal na assistência.

Ah! Resta dizer que o livro traz um artigo da minha autoria, que pode ser ligo aqui.

quarta-feira, junho 17, 2009

Brasil e França

A nossa diplomacia no Brasil e na França, as comunidades portuguesas e o trabalho económico em Brasília e em Paris, medidas as respectivas diferenças, foram a base da minha entrevista ao site da Chambre de Commerce et Industrie Franco-Portugaise, que hoje foi publicada. Se acaso nisso tiver interesse, pode lê-la aqui em francês ou aqui em português.

quarta-feira, junho 10, 2009

"A Europa não nos divide"

Quem estiver interessado em ler o artigo que ontem publiquei no jornal diário português "i", sob o título "A Europa não nos divide", pode encontrá-lo aqui ou aqui.

sexta-feira, junho 05, 2009

Necessidades

A Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses acaba de tornar público o seu novo site. Para quem se interessar, pode aí ler várias opiniões sobre a carreira diplomática, entre as quais a minha, ligando aqui.

segunda-feira, março 16, 2009

Manuel Alvess (1930-2009)


Morreu Domingo, em Paris, Manuel Alvess, aquele a quem Daniel Ribeiro (num sentido artigo publicado no site do Expresso, que aqui se reproduz, com a devida vénia) chamou "o mais secreto dos pintores portugueses":

"Cultivava o que os franceses chamam um humor "décalé". Solitário, vivia num mundo à parte, parecia uma pessoa fria, mas não era. Habitava num pequeno estúdio no bairro da Bastilha, em Paris, e era o que o que se poderia chamar um "tipo extraordinário". Mostrava aí as suas obras aos amigos com entusiasmo e, sempre, com um sorriso irónico. A ironia era um sinónimo dele próprio e também da sua obra. Gostava de chapéus de abas e adorava Fernando Pessoa, com quem aliás se parecia fisicamente. A Fundação Serralves tirou-o do anonimato há cerca de um ano com um retrospectiva da sua obra que surpreendeu o mundo da arte em Portugal. Era um intelectual. Natural de Viseu, disse um dia a este correspondente que fazia um trabalho burocrático de contabilista. Fazia muito mais do que isso, evidentemente. Trabalhou sobre o papel selado da sua infância, sobre os pesos e medidas, perfurou minuciosamente telas, jogou com as matérias, o vazio, as cores, os pincéis e os objectos. Deixou uma obra de rara originalidade, longe, muito longe das modas e do mundo VIP da pintura. Foi amigo dos colegas Lourdes Castro e René Bertholo, que já viviam em Paris quando ele aí desceu, em 1963, do famoso comboio dos emigrantes portugueses - o Sud-Expresso, na estação de Austerlitz. Até ao fim, esta manhã, às 9 horas, manteve uma relação especial com outro pintor português, igualmente residente em Paris - José David. Encontrámo-nos diversas vezes no ateliê deste último, em Montparnasse, onde Zé David nos servia carinhosamente os melhores pratos de bacalhau cozido e frango com gengibre do mundo. Foi José David que me deu a notícia, a chorar, da morte de Alvess. "Era um irmão, um amigo, mais do que isso", disse. Muito afectado pelo seu desaparecimento, não quis acrescentar mais nada. Alvess, o solitário, adorava esses encontros no ateliê do amigo. Era de uma inteligência rara e, por vezes, parecia até um pouco extravagante. Viveu livre e procurou a sorte de conseguir ter tido uma vida vertical e digna, como uma obra de arte. Sempre com dificuldades financeiras, sem compromissos com críticos ou galerias - raramente vendeu um quadro antes da exposição em Serralves - foi feliz. O trabalho dele foi a arte. Viveu para ela e confundia-se com o seu trabalho - algumas das suas mais belas telas são soberbos e inconfundíveis auto-retratos. Nunca se preocupou por vender pouco ou nada. Foi um ser humano e habituou-se a reduzir as necessidades que a vida impõe. Pôde, assim, ser independente e viver em paz. Acrescentara um S ao nome de família. Manuel Nogueira Alves contou-me um dia a historia desse S a mais no apelido. Foi mais uma das suas ironias: os franceses teimavam em acentuar a ultima sílaba do seu nome, e ele fez-lhes a vontade, para acabar com as confusões. Fez "performances" que chocaram Paris. O jornal conservador, le Fígaro, não gostou de um dos seus primeiros happenings na capital francesa, nos anos 60 - à porta do Museu de Arte Moderna, o português despejava e limpava lixo, mecanicamente, horas a fio, como os seus compatriotas, emigrantes miseráveis, faziam, na época, durante todo o dia. O jornal reprovou a ironia do artista. Alvess foi mais do que um pintor. Na realidade foi um artista completo. Uma outra vez, noutra "performance", criou a "primeira imagem": fabricava em público um espelho e depois chamava alguém da assistência para ver o trabalho. O espectador via-se ao espelho e ele oferecia-lhe o objecto, cuja primeira imagem fora a do seu feliz primeiro proprietário. Construiu uma obra ao longo de décadas, repito, de singular originalidade. Exactamente à sua imagem de homem sincero, cheio de humor, a um tempo extremamente inteligente, simples e tímido. Paris e sobretudo os bairros da Bastilha, de Saint-Germain de Prés e de Montparnasse, onde adorava passear, não serão mais os mesmos. Vai faltar-lhe a figura fugidia de um artista português, um verdadeiro parisiense vindo da Beira Alta que aí viveu como uma sombra, mas que, no convívio como os amigos, ria com um sorriso luminoso e gargalhadas francas. Manuel Alvess foi um grande pintor e um homem sem nada na manga. "Tive sorte, vivi como um artista", disse há poucos dias, a um dos seus últimos visitantes. Nem o cancro que o vitimou lhe conseguiu apagar a ironia."

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...