sábado, novembro 19, 2022

Qatar


Há precisamente uma década, ocupei, por um ano, o cargo de embaixador junto da Unesco, em Paris. Um dia, procurei o meu colega do Qatar, para uma questão de interesse para Portugal. 

Recordo que era um homem simpático e muito cordial. Quando lhe expressei o que dele pretendia, abriu-se num sorriso: “Para Portugal, tudo! Nasci perto de uma fortaleza portuguesa no Qatar e o nome do teu país faz parte da minha vida”. A apoiou logo a nossa pretensão.

O meu colega qatari referia-se à fortaleza de Al Zubarah, situada a cerca de 30 kms de Doha, a capital do país, criada pelos portugueses no final do século XVI.

Talvez aos nossos compatriotas que agora irão a Qatar, para acompanhar a aventura da nossa seleção de futebol, fizesse bem passarem por Al Zubarah.

(Em tempo: As referências oficiais a Al Zubarah não a identificam como tendo origem portuguesa, pelo que admito ter interpretado mal a informação que me foi dada.)

8 comentários:

manuel campos disse...


Fazia-lhes decerto bem mas não me parece que possa vir a fazer parte dos planos deles.

Falando disto tudo.
Não sei muito bem quando é que foi decidido que seria no Qatar mas há muito tempo terá sido.
Também há muito tempo que leio sobre os dramas humanos acontecidos por lá durante a preparação deste Mundial.
Todos os que se interessam por estes assuntos sabem que não é um país onde se respire muito (nem pouco) respeito pelos direitos humanos.
E de repente, uma semana antes de ter início, surgem apelos de todo o lado para boicotes àquilo tudo, apelos que não me lembro terem tido grande relevo até agora, incluíndo mesmo e no limite que as equipas não se apresentem e os políticos se abstenham de viajar porque com isso caucionam o que se passa naquele país (o que todos se apressam a contestar enquanto acabam de fazer a mala).
A última que li é a "terrível" situação de não poder haver bebidas alcoólicas nos estádios (*), pois isso abre a porta a que outras proibições sejam entretanto implementadas (e lá vi a hipótese de proíbirem membros da comunidade LGBT+ de assistir o que, francamente, me parece difícil de pôr em prática assim "a olho").

Mas há quantos anos se andam a organizar competições mundiais em regimes com as mesmas ou semelhantes características, algumas delas mesmo muito recentes?
O que é que deu a tanta gente para se indignar de repente na véspera quando anda tão caladinha há anos?
Não seria na sequência da muito noticiada "adjudicação" ou, quanto muito, quando começaram a surgir as primeiras notícias sobre o que por lá se passava, que deveriam ter começado a ouvir-se essas vozes?
É que em cima da abertura até parece "patrocinado" pela organização para, criando celeuma, levar a uma (ainda, se possível) maior procura e consequente cobertura do evento com os correspondentes lucros para muitos.
Muita hipocrisia à solta por toda a parte.

(*) Se não me engano é uma proibição que hoje existe, pelo menos, em França, Espanha, Portugal e Escócia.

Carlos Antunes disse...

Não tenho qualquer dúvida, como afirma e como o seu colega embaixador quatari tão bem acentuou, que a fortaleza de Al Zubarah, foi criada pelos portugueses no final do século XVI.
O curioso é que tal facto é omitido, inclusive no site oficial (http://www.alzubarah.qa/index.html) sobre a história da mesma.

Nuno Figueiredo disse...

whishful thinking...

Arber disse...

Bem lembrado Sr. Embaixador!
Imagino que entre os nossos compatriotas estivesse a ver os nossos mais altos representantes, Presidente, Primeiro-Ministro e Presidente da AR.
Será que têm tal visita na agenda?

manuel campos disse...


A decisão de ser no Qatar foi tomada a 2 de Dezembro de 2010, há 12 anos.

E a ida lá de P.R., P.M. e P.A.R. (que espero sigam o seu conselho) leva a que, segundo creio, um/a vice-presidente da A.R. assuma "a mais alta magistratura da nação" durante um tempinho.
Muito provávelmente será Edite Estrela, o que a poderia levar a parafrasear
D. Luísa de Gusmão numa frase famosa mas aparentemente apócrifa (não terá
sido exactamente aquilo que ela disse).

Lúcio Ferro disse...

Faz-me um pouco de espécie os moralistas de última hora, que não penso ser o seu caso, todos empolgados com o desrespeito pelos direitos humanos do regime local e tal, trabalhadores migrantes e tal, sexo e cerveja. E faz-me espécie porque parece que descobriram hoje uma realidade que foi lançada há mais de 10 anos. Quer-se dizer, acordaram agora, foi? Presunção e água benta, cada um toma a que quer.

José disse...

Na altura do nosso Império do Oriente já não se faziam castelos mas sim fortes, o que se pode constatar noutros exemplos de arquitetura militar portuguesa na "área".

Isto que se vê na imagem é um fraco castelo. Aliás, bastaria olhar para aquela porta para entender, logo, que não teria grande valor como fortaleza...

Mas há valor na história: tal como este castelito não é português, também a nossa equipa não é grande coisa.

ZeBarreto disse...

Caro Francisco
Julgo que há aí confusão com outro forte, Qal'at al-Bahrain, no Barém, que é conhecido por "Forte Português".
Esse forte da imagem, em Al Zubarah, no Qatar, foi mandado construir em 1938 (!!!) pelo sheiq Abdullah bin Jassim Al Thani. Vê:
https://qatarmuseumsstorageprd.blob.core.windows.net/media/documents/Al_Zubarah_Visitor_Guide_EN.pdf
Abraço do
JB

25 de novembro