Geraldo Alckmin, o nome que Lula foi buscar para vice-presidente, é um homem afável, uma figura serena, com muito bom “trânsito” (a expressão é brasileira) em vários meios sociais e políticos.
Disputou contra Lula as eleições presidenciais de 2006, com os debates televisivos a processarem-se com elevação, não obstante as picardias próprias desse tipo de ocasiões. Médico de profissão, regressou à vida comum depois de sair dos anteriores cargos políticos, o que muito lhe preservou a imagem. Foi um claro valor acrescentado para a candidatura de Lula.
Aquando dessa eleição de 2006, Alckmin veio a Portugal, numa deslocação pela Europa. E pediu para ser recebido pelo primeiro-ministro José Sócrates.
Lisboa consultou o embaixador em Brasília: devia o primeiro-ministro português receber, em audiência, o opositor do chefe de Estado brasileiro, um presidente que se estava a destacar por uma imensa atenção para com Portugal. Não seria isso considerado, por Lula, um gesto inamistoso?
Expliquei que não havia maneira de saber, excluindo eu, em absoluto, a hipótese, que nem sequer foi colocada, de se sondar o gabinete de Lula a esse propósito. Essa teria de ser uma decisão nossa.
Disse "a Lisboa" que o primeiro-ministro português não podia deixar de receber o candidato do partido de Fernando Henrique Cardoso. Alckmin era um democrata que, no termo da eleição, que tudo indicava, aliás, que ia perder, representaria quase metade do eleitorado brasileiro, no qual se inseria uma parte significativa da comunidade portuguesa ou luso-descendente.
Lisboa - “Lisboa” é aqui o símbolo do meu interlocutor de então, pessoa que, confesso, já nem sei quem foi - questionou: “Mas não será desagradável para Lula deparar, nos jornais, com uma fotografia de Sócrates e Alckmin, a cumprimentarem-se com sorrisos, a poucos dias das eleições?”
Tive que concordar que sim, da mesma maneira que também achava inevitável que o encontro tivesse lugar. E, nesse instante, tive uma ideia: “Não deixem entrar fotógrafos”. E assim aconteceu…
5 comentários:
Ora bem, excelente decisão.
A boa diplomacia exige segredo. Não deve ser feita sob a objetiva de fotógrafos.
Como disse Luís Lavoura, excelente decisão! Contrariamente ao que acontece por cá nestes últimos tempos que tudo é mostrado em fotos, selfies e até em vídeos.:(
Alckmin, não quereria ser recebido se soubesse o que sabe hoje. Ainda bem, para ele, que não houve fotografias.
Peço desculpa Senhor embaixador mas recordar figuras destrutivas do nosso país, seria desnecessário! Quanto ã solução diplomática encontrada, foi inteligente embora “pouco transparente”
!!!
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