sexta-feira, novembro 04, 2022

Américas


Creio que, na Europa, não existe uma real consciência sobre o que se passa na vida política americana. Dir-se-á que esse é um problema deles. Os quatro anos de Trump provaram que não é assim. A crispação entre Republicanos e Democratas acarretará consequências para a Europa.

Há hoje duas Américas e as pontes entre elas são muito frágeis. Há relevantes setores do Partido Republicano, com suporte na opinião pública, que continuam a entender que a eleição de Joe Biden foi uma fraude.

Se, como tudo indica, os Republicanos vierem a ganhar as eleições na Câmara dos Representantes, no dia 8 de novembro, há sinais de que poderão iniciar um processo de “impeachment” a Biden, sob um pretexto qualquer, para “vingar” a derrota de 2020.

Embora as possibilidades de afastamento de Biden sejam remotas, o desgaste e fragilização que um processo de “impeachment” provocará terão forte um efeito negativo sobre a sua autoridade política, nos dois anos anos que lhe restam de mandato.

O re-surgimento de Trump, até ao final do ano, como putativo candidato republicano, no caso de uma derrota clara dos democratas nas “midterm elections”, é uma forte possibilidade. Nada indica que, no campo republicano, qualquer outra opção tenha hipóteses.

Na área democrática, a tradição manda que ninguém se oponha a um presidente em busca de reeleição. Mesmo que Biden pareça hoje cada vez mais frágil, e as eleições confirmem isso, só um “landslide” catastrófico poderia abrir caminho a outro nome.

A Europa tem de começar a pensar que um cenário americano de novo com Trump não é implausível. E, por isso, vai ter de fazer pela vida. Será capaz?

8 comentários:

manuel campos disse...


Um excelente texto que partilho na íntegra.

Os processos de "impeachment" não dão em nada, como se sabe desde Clinton a Trump, são habitualmente iniciados com motivos de duvidosa importância e apenas servem, como bem diz, para fragilizar os presidentes em exercício (Clinton) ou para evitar que eles se possam recandidatar (Trump).
O problema é que também Biden tem mais de um "pretexto qualquer" disponível para ser aproveitado para o efeito e um ou dois bem poderia ele ter evitado.
Não se pondo sequer em questão ser alguma vez afastado, esses dois anos vão decerto ser muito complicados para ele, que se mostra cansado e me parece estar cada vez mais isolado dentro do Partido Democrata.
Onde andam agora os jovens (e menos jovens) turcos que tanto ajudaram a derrotar Trump, com excepção de Obama e Hillary?
Penso que quietinhos à espera da vez deles, sem fazerem ondas nem se deixarem identificar muito com ele, perceberam que não vai ser agora e como são jovens têm tempo para esperar sem queimar cartuchos.

Na área Republicana, para já, só há outros nomes no "wishful thinking" europeu, o tal que acha que os outros não vivem sem nós.
No seu último parágrafo está toda a questão mas, como estamos a ver, lá está outra vez a Europa agarrada à "umbrella USA".
É que, se não me falha a memória, foi o próprio Trump que disse há uns anos que a Europa tinha que se empenhar mais na sua defesa, alguns países fizeram um esforçozito para não o aturarem enquanto lá esteve mas depressa voltou tudo ao mesmo.

Uma nota final.
Aqui há uns meses pôs ligação para um artigo de um antigo embaixador em Lisboa que conheceu bem, senhor esse que - se bem me lembro - sugeria a Biden que não se recandidatasse.
Pois é o melhor conselho que ele pode seguir daqui a 2 anos.

Anónimo disse...

Depois da saída gloriosa do Afeganistão, do pandemónio da Ucrânia e da miséria da economia, digamos que não é caso para verter uma lágrima.

Quanto à Europa, como as coisas estão, é esperar pelo desassossego social e político.

Lúcio Ferro disse...

Bom dia, Biden foi eleito a 3 de novembro de 2020, não em 2019. Dá sinais de ser cada vez menos talhado para o cargo e faz 80 anos daqui a duas semanas...

Luís Lavoura disse...

A Europa tem de fazer pela vida já agora.
O facto é que a política externa de Biden não difere da de Trump a não ser nas palavras; nos atos, ambos (Trump e Biden) são iguais.
Como Chomsky ensinou, a política externa americana é moldada pelos interesses das classes dominantes e tem um amplo consenso nacional. Não podemos esperar que ela difira substancialmente entre um presidente e outro, independentemente do partido que representem.

Anónimo disse...

Fernando Neves
A democracia está em perigo iminente, desde que o Neo-capitalismo, a que o Papa chamou “ o terrorismo que atinge toda a humanidade” começou a destruir a classe média, que é o sustentáculo davdemocrscia.estas sanções comerciais contra a Rússia não, que vão provocar uma depressão na Europa e aumentar o descontentando e a contestação popular vão aumentar o apoio aos partidos de extrema direita. Se vocês não é de excluir, Trump for reeleito, vai como sempre quiz, aliar-se com Putin e tentar acabar com a democracia na América, enquanto aumentarão os governos fascistas né Europa. É onde arriscamos que nos leve a çegueira dos actuais líderes europeus.

manuel campos disse...


Estou em parte na linha do Luís Lavoura.
Há muitos anos que digo que nos EUA não há um partido de esquerda e outro de direita com o significado que a isso é dado na Europa: nos EUA há dois partidos de direita, ainda que um esteja mais à esquerda que o outro.
E depois há o "good old" complexo militar-industrial "baptizado" por Eisenhower no seu discurso de despedida, que é um toldo onde todos se defendem "de la pluie et du bon temps".

A Europa toda (sem a Rússia) só tem mais 7% de área que os EUA e quase o dobro das pessoas.
E nós que estamos aqui na Europa vivendo mais ou menos amontoados em territórios relativamente pequenos não podemos transpôr os nossos tipos de raciocínios para lá, as pessoas aqui não conseguem interiorizar que aquilo não é um país, aquilo é um continente e cada estado é mais diferente de muitos outros que os países da Europa uns dos outros, os estados da costa leste pouco têm a ver com os da costa oeste senão o tradicional orgulho da bandeira e do hino.

O problema dos EUA, onde as pessoas votam "com a carteira", chama-se China+ Índia a que agora se juntam 8% de inflação e, em breve, 4% de juros.
E isto são ameaças de mais ao "american way of life", mesmo que actualizado aos novos tempos.
E basta ler os jornais de lá para ver o nível de preocupação com a Europa (no Brasil não é muito diferente mas, lá está, são territórios imensos com populações enormes e cá estamos nós, 10 milhões neste cantinho, a achar que os percebemos e portanto eles nos devem escutar).

Flor disse...

É preocupante! O Mundo está em reboliço :(

Nuno Figueiredo disse...

é + q plausível...

25 de novembro