Passou-se hoje tanta coisa, sobre a qual tanta gente teve tanta coisa para dizer, com ar tão definitivo, a rasgar as vestes e com todas as dúvidas já esgotadas, que eu vou acabar esta segunda-feira, último dia de fevereiro, sem ter nada de especial para lhes contar. Passem uma boa noite. Amanhã pode ser que tudo seja diferente. Ou não.
segunda-feira, fevereiro 28, 2022
domingo, fevereiro 27, 2022
À distância
sábado, fevereiro 26, 2022
O papa e a guerra
Ontem, no termo de uma intervenção no Jornal das Oito, da TVI, decidi recordar que, nessa manhã, o papa Francisco se tinha deslocado à embaixada da Federação Russa junto da Santa Sé.
Tinha lido a notícia, durante o dia, algures na internet (mesmo nestes tempos de guerra, vejo muito pouca televisão), mas fiquei com a sensação de que o gesto quase não havia sido destacado.
E, contudo, ver o líder da igreja católica a ter aquela atitude de modéstia foi algo que me impressionou fortemente. Um chefe de Estado a fazer o que pode ser considerada como uma espécie de “diligência moral” é uma atitude sem precedentes.
Na altura, tive a tentação de contar, em estúdio, um outro episódio que faz parte da memória das relações internacionais. Mas contive-me: relatar ali a “graça” de que me tinha lembrado menorizaria a dimensão do ato do papa Francisco.
Relembro-a agora. Conta-se que, em 1935, Stalin, teve um conversa em Moscovo com Pierre Laval, então ministro dos Estrangeiros de França (com justiça, pelo que fez futuro, a História iria dar a Laval um “infamous” lugar e um fim trágico). Laval ter-lhe-á dito que o papa Pio XI havia criticado as perseguições aos cristãos na URSS. A resposta desdenhosa do líder russo ficou nos anais: “E quantas divisões é que tem o papa?”
Não sabemos o que Putin possa ter respondido ao receber a mensagem de ontem do papa Francisco, cujo conteúdo também desconhecemos. Isso é indiferente, até porque o presidente russo não tem cara de quem é dado a um “bon mot”. O atual papa fez apenas aquilo que entendeu dever fazer.
E até eu, um empedernido ateu, não consigo deixar de sentir um particular apreço por este excecional argentino, um homem que gosta de futebol e que consegue o milagre, com este seu gesto de humanidade, de me reconciliar pontualmente com uma liturgia a que sempre me senti alheio.
sexta-feira, fevereiro 25, 2022
A palavra do ocidente
Numa noite do primeiro semestre de 1996, no edifício da União Europeia, o recém nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Yevgeny Primakov, jantou com os seus homólogos dos então “Quinze” (ou quem os substituía, como era o meu caso). Havia uma grande curiosidade em conhecer a nova cara do Kremlin para a política externa.
quinta-feira, fevereiro 24, 2022
“A Arte da Guerra”
Pode ver e ouvir aqui.
quarta-feira, fevereiro 23, 2022
Leonor Xavier
Recordo-me de uma conversa telefónica com a Leonor Xavier, em data que não posso precisar, na qual ela me disse, com grande entusiasmo, que estava a trabalhar num livro feito com base em alguns dos seus primeiros diários. A Leonor estava já muito doente, no meio de ciclos sucessivos de exames e internamentos. Nessas derradeiras conversas, sua voz estava marcada pela enfermidade, comigo a hesitar prolongar o diálogo, para evitar cansá-la. Arguta como era, devia sentir que tinha a vida a prazo. Alimentava-se visivelmente desse tipo incessante de atividade porque, para ela, cada livro era como que uma etapa mais de um percurso que se esforçava por percorrer, que duraria o que tivesse de durar. A Leonor morreu em meados de dezembro do ano que passou.
terça-feira, fevereiro 22, 2022
Não sejamos otimistas
Não tendo uma natural vocação masoquista, dei comigo a pensar, no final da tarde de segunda-feira, por que razão, por quase uma hora, me entretive tanto a ouvir, numa muito profissional interpretação simultânea (num site russo, em espanhol), a integralidade da comunicação que Vladimir Putin fez ao país e ao mundo.
segunda-feira, fevereiro 21, 2022
Ainda temos tempo?
A grande questão que atravessa os dias de quem tem responsabilidades na “governance” mundial, na equação clima-energia, é, de há muito, esta: “Ainda temos tempo?”
domingo, fevereiro 20, 2022
“Podia ter sido pior”
José Cutileiro morreu vai para dois anos. Deixou um não preenchido vazio na reflexão, inteligente e culta, sobre as coisas internacionais. Mas não só. Ele era bem mais do que isso. Ao longo da sua vida, foi o original cultor de uma espécie de sociologia irónica de um país que ele via como que acomodado a um destino assim-assim.
Prazeres da carne
Destinos
sábado, fevereiro 19, 2022
“Não foi penalti!”
sexta-feira, fevereiro 18, 2022
Aeroporto Gago Coutinho
No ano do (visivelmente pouco comemorado) centenário da travessia aérea do Atlântico Sul, a qual, por sua vez, teve lugar 100 anos após a independência do Brasil, acabo de ler que um grupo de cidadãos decidiu propor que ao aeroporto de Faro seja dado o nome de Gago Coutinho, o bravo almirante que, com Sacadura Cabral a seu lado, levou a cabo essa heróica e marcante proeza. Gago Coutinho nasceu em S. Brás de Alportel.
Recuar ou não
Deceção
quinta-feira, fevereiro 17, 2022
“Houston, we have a problem!”
A direita democrática francesa, nos dias de hoje a única herdeira do que resta da tradição gaullista, foi descobrir uma antiga ministra de Sarkozy, Valérie Pécresse, que tinha deixado uma imagem relativamente positiva, para ser portadora das suas cores.
Tendo conseguido derrotar a concorrência em “primárias” dentro do “Les Républicans”, Pécresse parecia poder ir buscar alguns votos de direita que Macron recolhera em 2017, desgastando, ao mesmo tempo, a deriva para a extrema-direita, que hoje polariza mais de 30% do eleitorado. Para isso, “direitizou” fortemente o seu discurso, num percurso iniciado com Sarkozy e que Fillon acentuou.
A cerca de 60 dias das urnas, Pécresse foi, há dias, submetida um banho partidário de multidão no Zénith, um espaço público de Paris usado para estas ocasiões, numa estudada encenação de campanha, tendo a seu lado os grandes tenores do partido.
Embora a vitória de Macron, numa segunda volta, pareça, a esta distância, muito provável, se Pécresse conseguisse vir a estar presente nessa ocasião, aproveitando a circunstância do extremismo xenófobo e racista estar por estes dias dividido (entre Le Pen e Zemmour), e mesmo que viesse a perder, isso seria um bom sinal para a afirmação futura do seu partido, o qual, sendo embora o maior de França, está fora do Eliseu e do governo central francês há uma década.
A aguardada prestação pública de Valérie Pécresse, contudo, acabou por ser “pitoyable”. O texto era mau e sem chama, a sua incapacidade de o “vestir” foi evidente, pelo que o grande “meeting” acabou por ser um espetáculo quase tragicómico, com Pécresse a demonstrar uma patética falta de jeito. As vozes, dentro do partido, foram, de imediato, impiedosas, em especial nas ironias e silêncios. As sondagens vieram a refletir o mesmo, com a candidata a cair abaixo dos representantes da extrema-direita.
As posteriores entrevistas de Pécresse vieram a confirmar a sua inabilidade de “atuação”, algumas contradições no seu programa e, essencialmente, uma imagem “figée”, humanamente pouco simpática, a querer fazer passar por determinação o que parece ser um caráter rígido, numa figura que também parece revelar alguma falta de rasgo. O estilo burguês “bem” da candidata, aquilo que os franceses chamam “bobo”, também não ajuda.
E é pena, digo com sinceridade. Como atrás referi, se conseguisse chegar à segunda volta contra Macron, Pécresse retiraria bastante força à extrema-direita. Se isso não acontecer e se, ainda por cima, no caminho e por desespero, ela vier a poluir o discurso do “Les Républicans” com um argumentário de propostas ainda mais radical e reacionário do que aquele que agora já usa, Pécresse terá prestado um péssimo serviço à democracia francesa.
De votos
“Fazer peito”
Biden está a fazer subir a parada contra a Rússia. Podem ser boas notícias para o acordo nuclear iraniano. O presidente americano só teria condições de o fazer aprovar no congresso desde que pudesse “fazer peito” em outras geografias. É mais fácil com a Rússia do que com a China.
“À suivre”
“Madri me mata!”
“ A Arte da Guerra”
Na edição desta semana de “A Arte da Guerra”, o podcast do “Jornal Económico” em que converso com o jornalista António Freitas de Sousa, analisamos as tensões mundiais à volta da Ucrânia, a agitação nas ruas do Canadá e outros lugares do mundo provocada pela resistência às leis sanitárias e o passo em falso que terá sido dado pelo Partido Popular espanhol ao provocar eleições antecipadas em Castilha-Léon.
quarta-feira, fevereiro 16, 2022
terça-feira, fevereiro 15, 2022
5-0
segunda-feira, fevereiro 14, 2022
A NATO e nós
domingo, fevereiro 13, 2022
Lítio
Bola
Davidovichios
De voto
sábado, fevereiro 12, 2022
DeRaiz
Assim não vamos lá! Ou há mudanças drásticas ou este país não se endireita! Não há dietas que resistam, o colesterol (como a inflação, os juros e o serviço da dívida) não para de aumentar, os trigliceridos disparam, os açúcares ficam sem dono. O SNS, assim, estoura! Ou se aproveita esta maioria absoluta para pôr cobro a isto ou o país fica ingovernável!
sexta-feira, fevereiro 11, 2022
É isto que eu penso!
quinta-feira, fevereiro 10, 2022
Tempos
Estas pessoas, e outras com elas, sonharam, em outros tempos, vir a implantar em Portugal a chamada ”ditadura do proletariado”. Consideravam ser esse o modelo de sociedade que melhor correspondia aos interesses do povo português, que entendiam representar, em sintonia com muitos que, pelo mundo, cultivavam projetos similares.
‘A Arte da Guerra”
China, Ucrânia e Guiné-Bissau são os três temas que, esta semana, analiso com António Freitas de Sousa em “ A Arte da Guerra”, o podcast do “Jornal Económico”.
Pode ver clicando aqui.
quarta-feira, fevereiro 09, 2022
Amizade para a vida
Naquele que era o meu primeiro dia de Paris, num agosto de brasa, já na segunda metade dos anos 60 do outro século, eu tinha iniciado uma espécie de peregrinação pelos clichés da cidade, que trazia bem gravados na imaginação, fazendo, à passagem em cada um, como que um “vêzinho” mental. E eles eram tantos!
João Ferreira Amador
terça-feira, fevereiro 08, 2022
Cáucasos
segunda-feira, fevereiro 07, 2022
Patos e fascistas
Maria Carrilho
Restaurantes
Dito isto, com toda a frontalidade e transparência, e reconhecendo bem os problemas que atravessam muitos restaurantes, sou hoje obrigado a uma triste constatação: está a haver um obsceno - sublinho, obsceno - e brutal agravamento de preços em algumas dessas casas, em muitos casos acompanhado de alguma visível degradação da qualidade do serviço (em especial, pela redução em termos de recursos humanos). Tem-me sido dada a justificação da forte subida de preços que estará a ocorrer em alguns produtos. Em alguns casos, posso aceitar essa explicação, mas deteto, para além disso, algum oportunismo circunstancial.
Acho, em particular, menos honesto - e meço bem o que digo - o escandaloso salto de preços que, quase de um momento para o outro, se verificou nos vinhos. Porque trabalho, já há quase uma década, numa empresa de distribuição de produtos alimentares, sei comparar os preços que me surgem nas listas dos restaurantes, não apenas com aqueles que se praticam nas grandes superfíceis (onde me abasteço como cliente) e os que os restaurantes obtêm, através dos distribuidores, em condições ainda mais favoráveis. Sei, por isso, que não há nenhuma justificação para o escandaloso exagero que está a ser praticado nos vinhos, em muita da nossa restauração. Procurar compensar perdas passadas com um brutal encargo sobre vinhos que são comprados (ou que, algumas vezes, já estavam em adega) a preços muito mais baixos é uma prática comercialmente muito pouco ética.
(Tenho um amigo, profundo conhecedor do setor da restauração e, há muitos anos, ele próprio produtor de vinhos de qualidade, que não se cansa de dizer: “Num país como Portugal, não há a menor justificação para que o preço médio de uma garrafa de vinho num restaurante ultrapasse o preço médio dos pratos”.)
A prosseguirem esta prática especulativa, alguns restaurantes, podendo ainda não o ter percebido, estarão matar, a prazo, “a galinha dos ovos de ouro”: irão começar a perder rapidamente grande parte da sua clientela habitual, que tenderá a não voltar com tanta frequência, chocada com o “saldo” das visitas mais recentes. Pensem nisto!
domingo, fevereiro 06, 2022
Um abraço, Edite!
Espero sentado?
sábado, fevereiro 05, 2022
Fernando Silva Marques
sexta-feira, fevereiro 04, 2022
Diversão da legislatura
Mandaram-me um extrato de uma intervenção, numa televisão, de um patusco novo deputado do Chega, a dar-se ares de quem quer ser levado a sério, pretendendo fazer vingar um discurso de moralismo reacionário à quinta potência. Aposto que vai ser umas das diversões da legislatura.
Vamos ser sérios!
Crimeia
Casamento de conveniência
Estabilidade “a mais”
Amorim 2
Louçã e Tavares
Amorim 1
Assim também eu!
quinta-feira, fevereiro 03, 2022
“A Arte da Guerra”
Pode ver aqui.
quarta-feira, fevereiro 02, 2022
A força do PC
“Assim se vê a força do PC!”, é um estribilho conhecido de todos. A força do PC, depois das eleições de domingo, é muito inferior à força que o PC tinha no parlamento antes da respetiva dissolução, que o PC ajudou a consumar. Como resultado, cada vez menos se vê a força do PC.
Ontem, na televisão, ouvi atentamente João Oliveira, um dos quadros mais salientes na vida parlamentar dos comunistas, nos últimos 15 anos, que não foi eleito como cabeça de lista do partido pelo distrito de Évora. Se alguém me dissesse, no sábado, que os comunistas deixariam de estar representados no alentejano círculo eleitoral de Évora eu “explicaria”, com facilidade, a implausibilidade desse cenário.
É extraordinário como João Oliveira conseguiu, ao logo de toda a entrevista, não fazer um mínimo de autocrítica sobre a atuação do partido, não confessando um único erro, tático ou estratégico, que pudesse ter levado àquele desfecho. É que o PCP nunca tem a menor culpa, o PCP está sempre correto, são os outros, com a sua ação ou a força enganadora da ilusão a que induzem, que contribuem para tudo o que de mal sucede ao partido, no estiolar progressivo da sua capacidade de representação (“formal”, dirão, talvez) dos “interesses dos trabalhadores e do nosso povo”. O PCP fala sempre em nome do povo, muito embora, de forma crescente, esse mesmo povo tenda a fazer-se representar por outros partidos, o que vai diluindo a legitimidade dos comunistas de se considerarem os seus legítimos defensores.
Tudo o que é dito em nome do PCP - com indiscutível seriedade e óbvia genuinidade - surge sempre embrulhado num discurso previsível, repetitivo, entre um marxismo primário e mecanicista e um populismo sempre autocongratulatório, em face do trabalho político desenvolvido, ainda que marcado por uma esforçada modéstia, atrás da qual espreita a consabida “superioridade moral dos comunistas”. Ao ouvir João Oliveira ontem, tal como ao escutar o triste texto lido por Jerónimo de Sousa no domingo (num auditório coreograficamente encenado só com jovens, algo inesperado para uma força política que não nos habituou a esses artificialismos), fica-se com a sensação de que, com maior ou menor imaginação semântica, os comunistas continuam a dizer a mesma coisa, repetem quase sempre os mesmos chavões. No passado, falava-se muito da “cassette” do PCP. Se estiverem atentos, verão que pouco mudou, até na entoação das frases.
O PCP - partido pelo qual sinto uma eterna gratidão histórica, pela sua abnegada luta contra a ditadura - permanece fechado numa narrativa monocórdica, feita da mistura de palavras saídas de um léxico fixo, como se arriscar uma qualquer evolução semântica pudesse fazer incorrer os seus responsáveis numa perigosa heresia doutrinária. Dir-se-á: mas o PCP está na vida política portuguesa há 100 anos e isso deve significar alguma coisa. Devo confessar que, ao ouvir o que o PCP hoje nos diz fico com a sensação de que, mais do que um partido antigo, estamos perante um partido irremediavelmente velho. E sinto alguma pena por isso.
Confesso os figos
Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...