domingo, agosto 22, 2021

“Mon Oncle”


Em 1958, estava eu a entrar para o liceu, saiu o extraordinário filme “Mon Oncle”, de Jacques Tati. Hoje, esta imagem reapareceu, já nem sei bem porquê, nas redes sociais. E dei por mim a recordar que, há cerca de uma década, quando eu vivia em Paris, foi desaconselhada a exibição pública desta cena do filme. Porquê? O homem ia a fumar, a criança ia sentada de forma insegura e sem capacete, um velhote levava um miúdo de bicicleta, sabe-se lá para onde e para quê…

Testem com algumas pessoas este caso. Verão que há logo quem diga: “A verdade é que é pouco pedagógico estar a divulgar em cinema imagens de pessoas a fumar, porque é uma promoção subliminar de um atentado à saúde”; ou “Mostrar uma criança a ser transportada numa bicicleta em condições de muito escassa segurança constitui uma forma de normalizar situações de risco físico que a educação cívica procura combater”; ou ainda “A ocorrência, muito mais vezes do que se supõe, de atos abusivos contra crianças, por parte de pessoas mais idosas, mesmo de familiares próximos, recomenda que se procure verificar sempre se essa convivência inter-etária se processa em quadros comportamentais regulares e autorizados”.

A obsessão virou doutrina e ai de quem hoje se ria destes preconceitos! O “politicamente correto” passou a policiar-nos. É esta a sociedade do futuro. Habituem-se!

11 comentários:

aguerreiro disse...

Isto só vem reforçar a ideia que quanto mais evoluimos mais presos e limitados nos encontramos portanto menos livres, mesmo que muitos pensem o contrário,
Em 1958 andava na 2ª classe numa escola virada ao rio Minho, eramos mais de quarenta rapazes e raparigas , pois a aldeia era pequena e não de faziam discriminações de sexo. excepto nas retretes , o recreio da escola era limitado pelo adro da igreja por um lado e pelo muro do cemitério por outro. do lado do recreio a altura era de meio metro, do lado do cemitério era superior a 2 metros, todos brincávamos e corríamos sem peias por cima do adro e do muro e jogava-se á escondidas entre as cercas de buxo do cemitério, nunca durante esses anos alguém se magoou ou caiu desses muros. Se fosse hoje minha escola era um alfobre de doenças psiquiátricas, fonte de traumas a dar de comer a muito psicólogo e psiquiatra e pelo menos a dar ofício a mais 3 professores de ensino do 1º ciclo e a dois assistentes operacionais. Era assim a minha escola Pior? Melhor que a de hoje? Pelo menos sei que éramos mais livres, mais resilientes e preparados para as adversidades, mesmo que mais rotos e descalços. Era o que era

Ferreira da Silva disse...

Exmo Senhor Embaixador,
A viatura é uma "Solex", uma bicicleta motorizada.
Era utilizável como bicicleta ou como motorizada fazendo baixar o motor sobre a roda frontal.
Tudo no Tio Hulot é engraçadíssimo.
Ferreira da Silva

Joaquim de Freitas disse...

Ah, Senhor Embaixador : Temos o mesmo herói, pelo menos no cinema, porque Jacques Tati, é o Charlie Chaplin francês, e admiro os dois. O impagável Monsieur Hulot…Sabe que há alguns anos, decidi passar duas semanas de férias na Bretanha. Qual não foi a minha surpresa, quando chegamos ao Hotel Best Western – Hotel de la Plage, em Saint Marc-sur-Mer, e nos encontramos com a sua estátua, ao lado do hotel, onde passou férias e fez o filme “ Les Vacances de Monsieur Hulot”…Ah “Mon Oncle” Não sei porquê mas ele faz-me pensar em Joe Biden… Talvez por causa das “gaffes” memoráveis…

Flor disse...

Fico-me com a cara de felicidade do menino, voilà !

Jaime Santos disse...

Oh, Joaquim de Freitas, para uma pessoa que defende a Ostalgie e ataca o capitalismo americano, você tem gostos algo caros, recordo-me de ter dito que ficava no Meridien quando vinha cá ao Porto, que também não é exatamente o mais baratos dos hotéis...

Nada contra, se há coisa com a qual eu embirro é com o socialismo de miséria, mas se quer ser mesmo consistente, o melhor mesmo é levar a tenda e fazer campismo ;) ...

A.B. disse...

Paradoxalmente temos, actualmente, as muito woke (e muito rápidas) scooters Bird a circular literalmente por todo o lado. Muito perigosas para peões, muito incómodas para o trânsito automóvel.
E não me habituo a estes novos rempos, e nisso estou com o aguerreiro. Caír duma bicicleta e ficar todo escalavrado era um evento comum. Quando era miúdo andava sempre arranhado e com nódoas negras. Se a minha filha andasse nesse estado, já alguma professora tinha feito uma denúncia à CPCJ.
Estes novos tempos são, sobretudo, tempos duma grande hipocrisia. Não me quero habituar a isso.

Jaime Santos disse...

aguerreiro, as coisas eram o que eram e agora são o que são. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

E quanto aos que não se habituam, tarde ou cedo o cemitério resolve o problema...

Joaquim de Freitas disse...

Oh Jaime Santos, ou ainda não teve férias, ou teve e não serviram para nada , porque encontro-o hoje, como ontem, no mesmo estado…Não melhorou!

Olhe que um responsável comercial hoje, tem sempre no bolso uma dúzia de cartões que lhe facilitam as reservas e os …preços, em toda a parte. Mas para isso é preciso ter o nível! Que nem todos têm! Mesmo para escrever num blogue!

A.B. disse...

Caro Jaime Santos, você está tão habituado à canga que já a recomenda? Ou talvez esteja no negócio das cangas?
Ainda não vi protestos por causa das Bird, mas eles virão. Muito raramente vejo um utilizador com um capacete. Tecnicamente é um veículo motorizado, e se pode andar nos passeios também uma moto pode?
Talvez eu vá para o cemitério precocemente por ser atropelado à saída duma loja, num passeio, por uma coisa dessas. Não sou adepto de regras em excesso, mas o Código da Estrada é um conjunto de regras que me parece bastante racional.
Quanto ao que por aí se diz hoje sobre isto e aquilo, com o objectivo claro de criar discórdia e divisão onde ela não existia, faz parte duma agenda totalitária que desprezo. Nem sequer é uma agenda nova, é um ressurgimento. Como sempre, embrulhado no vistoso papel das boas intenções e do bem comum.

Jaime Santos disse...

Oh, Joaquim de Freitas, para si eu nunca irei melhorar. E ainda bem, porque no dia em que me disser o contrário, eu ficarei preocupado...

O meu caro pode ter no bolso todos os cartões que quiser, afinal vivemos numa sociedade livre e capitalista que permite esses pequenos prazeres, inclusive com desconto, a todos, longe da tristeza dos hotéis da DDR (a tal da Ostalgie), por exemplo (já não a visitei, mas no tempo em que vivi na Alemanha ainda havia no lado Leste muitos alojamentos com canos à mostra na parede, renovados claro :) ).

Já quanto a essa tirada sobre ter-se ou não o nível, que comentário mais pequeno-burguês (leia-se snob), meu caro... Enfim, aquilo que se esperaria de um responsável comercial... QED...

Os seus comentários sobre estas matérias dos pequenos prazeres da vida fazem-me lembrar um Economista ligado ao PCP que aqui atrasado acusou o Sr. Embaixador de 'Socialismo de Direita' (seja lá o que isso for), enquanto lhe elogiava com paternalismo as escolhas, bem burguesas naturalmente (mas não pequeno-burguesas), dos restaurantes e hotéis, que avidamente seguia, segundo o próprio.

Nós sabemos que a carne é fraca, mas se a hipocrisia é o elogio que o vício presta à virtude, convém que os (pequenos) vícios permaneçam privados para que ela não rebente na cara dos pequeno-burgueses com pretensões revolucionárias...

Caro A.B., cangas usam os bois, e eu nem sou tal animal (bem nobre e útil, por sinal) nem estou ligado ao negócio do gado que por vezes é tudo menos nobre, sobretudo quando envolve sangue nas arenas para gáudio de umas quantas, essas sim, bestas (que tal este comentário em termos de fomento de discórdia e divisão :)?).

O que eu não gosto muito é do discurso do 'antigamente é que era bom'. Pode ser que haja quem o aprecie, provavelmente porque tem saudades do tempo em que era jovem e isso até se compreende (já se tem saudades do regime em que vivíamos até 1974 e de como ele desprezava o saber e a educação, isso é outra coisa).

Já eu, que cresci nos anos 70 e 80, lembro-me bem das aulas nas escolas públicas que frequentei, onde se tiritava de frio e onde faltava o material para praticarmos desporto. Garanto-lhe que essas privações não fizeram de mim uma pessoa melhor ou mais livre, simplesmente fiquei mais vezes doente e tive menos oportunidades para desenvolver o meu físico franzino...

Tenho pois alguma inveja das crianças e dos jovens de hoje, que têm muitas mais oportunidades do que eu alguma vez tive. Mas assim é que deve ser, porque isso é sinal de progresso. E quem é mais velho deveria regozijar-se com isso, em vez de andar sempre a queixar-se que os jovens de hoje são isto e aquilo, têm os valores errados, são uns fracos e, naturalmente, não respeitam ninguém...

Sabe quantas medalhas olímpicas é que ganharam os atletas portugueses antes de 1974? Sete, duas de prata e cinco de bronze... Desde de então já foram 20, 4 das quais de ouro...

E quanto ao cemitério, não se preocupe, os que se habituam aos novos tempos também lá vão parar, seja atropelados por uma trotineta, seja pelo que for.

A morte é afinal, a grande niveladora. Simplesmente, os que se habituam consomem-se menos, porque não há nada que se possa fazer para impedir o futuro de chegar...

A.B. disse...

Ora ora, Jaime Santos, você sabe perfeitamente o que é uma metáfora.
A relação entre medalhas olímpicas e liberdade dos povos não é linear, a não ser que ache a RDA um modelo a seguir.
Na verdade, o tempo passa mais devagar quanto maior a velocidade. Para um fotão o tempo nem passa. Eu estou a envelhecer mais depressa que os mancebos das trotinetes eléctricas.
Sabe, os bois não são muito úteis. A esmagadora maioria do gado bovino é fêmea. O destino mais frequente dum boi é ser castrado ou abatido em bezerro. Quanto à nobreza, não sei.
Tive uma professora de psicologia que um dia disse que quem gosta de esfaquear devia ir para talhante. Sublimar a violência duma forma controlada tem vantagens, é para isso que servem as touradas e os jogos de futebol.
Não tenho saudades dos velhos tempos, tenho saudades de ser novo.
Bom fim-de-semana.

Regra

A única forma de poder avaliar, com honestidade, as culpas e as razões de cada um dos protagonistas, locais ou externos, do conflito no Médi...