O Homem não jogou neste campeonato do 25 A, jogou no 28 M pelo que nunca poderiam jogar no mesmo campeonato. Prognósticos... só no fim do jogo (diz o sábio e mago da bola, mestre nela, João Pinto)!
Morreu na vã ilusão de que continuava a ser Presidente do Conselho, alimentada pelos seus sequazes que iam a despacho. Coitado do Botas. Saiu pela porta baixa!
Até na morte de Salazar sofri: Não pela sua morte! Mas sim pelo dano que me causou. Passo a exemplificar. Era soldado recruta no RI8 em Braga há mais ou menos oito dias (21/07/1970) e com o anúncio da morte de Salazar o RI8, julgo que todos os Quarteis do País, foi dado um dia de “folga” em virtude da morte de Salazar. Como fomos apanhados desprevenidos, só às sextas feira ao fim da tarde é que recebíamos o toque de ordem para passarmos o fim de semana em casa, tivemos à última hora de meter o “passaporte” e prepararmo-nos para a nossa saída. No RI8 por ser o mês de Julho e estar mais um contingente de recrutas a água era escassa. Quando fui para me barbear, havia revista feita por um Cabo Miliciano, que fazia de Sargento Dia, quando me dirigi a ele embirrou com a minha barba, disse que estava mal desfeita. Armei-me em esperto e disse-lhe que ia fazer de conta que ia desfazer a barba. Erro meu. Pediu-me o passaporte e disse-me para depois de desfazer a barba me apresentar a ele para receber o passaporte. Quando me dirigi a ele a maioria dos soldados recrutas já tinham saído. Comigo na recruta estavam mais três meus conterrâneos e amigos que sempre nos juntávamos para ir para a empresa de camionagem que fazia o transporte para a minha terra (Freamunde). Este transporte era directo. Derivado ao tempo perdido perdi o transporte. Encontrei outro soldado recruta na mesma situação que eu. Disse-me para ir para outra empresa que viajava, não era do mesmo local que eu, íamos para Famalicão e dali havia uma empresa que fazia transbordo para Freamunde. Só que quando chegamos a Famalicão o autocarro já tinha partido. Fomos de Famalicão para a Vila das Aves (Negrelos) a pé e à boleia. Não tivemos sorte nenhuma. Andamos por caminhos, montes e terras que desconhecia e nunca mais por lá passei. Chegado à Vila das Aves, o outro camarada foi para destino diferente, eram cerca das vinte e duas horas. Cansado cheio de fome e a transportar o saco de viagem dizia mal de mim, rogava impropérios a Salazar. A parte que me faltava para chegar a Freamunde era a subir. As botas militares e a farda já me incomodavam. O suor era quase em bica na minha testa. Este mês de Julho era calorento. Lembro-me de passar por mim uma senhora com uma criança e essa criança por me ver vestido diferente do usual disse: mãe quem é aquele senhor? Ao que a mãe respondeu: coitado! É um soldado. Se já caminhava aborrecido, dizia mal da minha vida e da morte de Salazar, fiquei mais maldisposto e não contive umas lágrimas que me afloraram nos olhos. Cheguei por volta das vinte e quatro horas a casa. Cansado e cheio de fome. O que devia ter acontecido se tudo corresse bem e não tivesse aparecido um Cabo Miliciano que mais parecia um chico da tropa, por volta das vinte horas. Foi este a herança da morte de Salazar. Fez mal a muitos portugueses na sua vigência à frente da Nação. A mim até na sua morte me fez muito mal. É esta a recordação que tenho do dia 27/07/1970.
Diziam que embora não parecesse, Ele tinha bastante censo de humor. Será que lá em baixo, no inferno, se rebola a rir com isto tudo que se passa por aqui?
8 comentários:
25 DE ABRIL SEMPRE, FASCISMO NUNCA MAIS.
O Homem não jogou neste campeonato do 25 A, jogou no 28 M pelo que nunca poderiam jogar no mesmo campeonato. Prognósticos... só no fim do jogo (diz o sábio e mago da bola, mestre nela, João Pinto)!
Morreu na vã ilusão de que continuava a ser Presidente do Conselho, alimentada pelos seus sequazes que iam a despacho. Coitado do Botas. Saiu pela porta baixa!
Porque não teria direito a um funeral nacional.
Até na morte de Salazar sofri:
Não pela sua morte! Mas sim pelo dano que me causou. Passo a exemplificar. Era soldado recruta no RI8 em Braga há mais ou menos oito dias (21/07/1970) e com o anúncio da morte de Salazar o RI8, julgo que todos os Quarteis do País, foi dado um dia de “folga” em virtude da morte de Salazar.
Como fomos apanhados desprevenidos, só às sextas feira ao fim da tarde é que recebíamos o toque de ordem para passarmos o fim de semana em casa, tivemos à última hora de meter o “passaporte” e prepararmo-nos para a nossa saída.
No RI8 por ser o mês de Julho e estar mais um contingente de recrutas a água era escassa. Quando fui para me barbear, havia revista feita por um Cabo Miliciano, que fazia de Sargento Dia, quando me dirigi a ele embirrou com a minha barba, disse que estava mal desfeita. Armei-me em esperto e disse-lhe que ia fazer de conta que ia desfazer a barba. Erro meu. Pediu-me o passaporte e disse-me para depois de desfazer a barba me apresentar a ele para receber o passaporte.
Quando me dirigi a ele a maioria dos soldados recrutas já tinham saído. Comigo na recruta estavam mais três meus conterrâneos e amigos que sempre nos juntávamos para ir para a empresa de camionagem que fazia o transporte para a minha terra (Freamunde). Este transporte era directo.
Derivado ao tempo perdido perdi o transporte. Encontrei outro soldado recruta na mesma situação que eu. Disse-me para ir para outra empresa que viajava, não era do mesmo local que eu, íamos para Famalicão e dali havia uma empresa que fazia transbordo para Freamunde. Só que quando chegamos a Famalicão o autocarro já tinha partido.
Fomos de Famalicão para a Vila das Aves (Negrelos) a pé e à boleia. Não tivemos sorte nenhuma. Andamos por caminhos, montes e terras que desconhecia e nunca mais por lá passei.
Chegado à Vila das Aves, o outro camarada foi para destino diferente, eram cerca das vinte e duas horas. Cansado cheio de fome e a transportar o saco de viagem dizia mal de mim, rogava impropérios a Salazar.
A parte que me faltava para chegar a Freamunde era a subir. As botas militares e a farda já me incomodavam. O suor era quase em bica na minha testa. Este mês de Julho era calorento.
Lembro-me de passar por mim uma senhora com uma criança e essa criança por me ver vestido diferente do usual disse: mãe quem é aquele senhor? Ao que a mãe respondeu: coitado! É um soldado.
Se já caminhava aborrecido, dizia mal da minha vida e da morte de Salazar, fiquei mais maldisposto e não contive umas lágrimas que me afloraram nos olhos.
Cheguei por volta das vinte e quatro horas a casa. Cansado e cheio de fome. O que devia ter acontecido se tudo corresse bem e não tivesse aparecido um Cabo Miliciano que mais parecia um chico da tropa, por volta das vinte horas.
Foi este a herança da morte de Salazar. Fez mal a muitos portugueses na sua vigência à frente da Nação. A mim até na sua morte me fez muito mal.
É esta a recordação que tenho do dia 27/07/1970.
Diziam que embora não parecesse, Ele tinha bastante censo de humor.
Será que lá em baixo, no inferno, se rebola a rir com isto tudo que se passa por aqui?
O septuagenário tem razão: Salazar censurava o humor.
É isso, o Salazar gostava muito de censos.
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