segunda-feira, julho 19, 2021

Da fornada de Wilton Park


Foi no primeiro semestre de 1986. Portugal tinha acabado de entrar para as então chamadas Comunidades Europeias. Recém-chegado de Luanda, eu estava colocado na Direção-Geral que, entre nós, se ocupava das questões das ditas.

Um dia, o sub-diretor geral, Paulo Castilho, perguntou-me se eu queria ir fazer um curso sobre assuntos europeus a Wilton Park. Tratava-se de uma instituição dependente do Foreign Office, situada perto de Brighton, onde se têm lugar interessantes seminários residenciais sobre temáticas internacionais. Para essa ocasião, além de diplomatas, académicos e jornalistas britânicos, o governo do Reino Unido convidava um diplomata de cada um dos outros 11 países das Comunidades Europeias.

Mal eu sabia que, nessa semana de “colégio interno”, com debates de manhã à noite (mesmo à noite, porque havia quase sempre um convidado para uma palestra “au coin du feu”), iria conhecer gente, ligada aos assuntos europeus, que fui depois encontrando pela vida fora, alguns dos quais guardei como amigos. 

Foi uma semana de extrema utilidade formativa e uma ocasião muito divertida, no belo ambiente de grupo que se gerou. Ao final da tarde, jogava-se “croquet” no jardim ou sentavamo-nos, a ler ou a conversar, nas várias salas ou na biblioteca da mansão, nesse tempo em que ninguém pensava se havia ou não wifi...

O “pub” dentro de Wilton Park fechava muito cedo. Uma noite, eu e o colega espanhol, convidando alguns outros, em três táxis, organizámos uma romagem a Brighton, para completar a jornada. A direção de Wilton Park não pareceu ter ficado excessivamente agradada com a iniciativa ibérica. Em anos seguintes, no entanto, tive o gosto de regressar algumas vezes à magnífica mansão de Wilton Park, como orador convidado.

Hoje de manhã, aqui pelo Twitter, a mais brilhante das cabeças jurídicas que alguma vez encontrei na área europeia, Jean-Claude Piris, sublinhava o facto de um nosso comum amigo, Tom de Bruijn, ter sido nomeado ministro do Desenvolvimento e do Comércio Externo dos Países Baixos. 

Foi precisamente naquela jornada de Wilton Park, há 35 anos, que eu conheci Tom de Bruijn. Na sua carreira, Tom iria ser um brilhante diplomata, diretor-geral dos Assuntos Europeus e embaixador junto da União Europeia, tendo ainda vasta experiência académica. Era um bom negociador, como testemunhei nos debates para a fixação dos tratados de Amesterdão e de Nice, onde ele foi o “deputy” de Michael Patijn, demonstrando um conhecimento notável da realidade europeia. Só me resta desejar-lhe felicidades nas novas funções.

As redes sociais continuam a ser o meio privilegiado para se saber por onde andam os amigos.

1 comentário:

AV disse...

O conceito de ‘study school’ britânico é extremamente feliz e eficaz. Durante um período de tempo relativamente curto mas intenso, pessoas de variados sectores, de partes do Mundo diferentes, ou do mesmo curso, ou grupo de investigação, reunem-se num retiro, num espaço agradável, muitas vezes numa casa senhorial como Wilton Park, para trabalharem e conviverem. Sessões de trabalho intensas são alternadas com actividades sociais, como o cricket, caminhadas, jogos variados, conversas à lareira, e refeições em comum. Formam-se muitas vezes laços pessoais fortes e um entendimento tácito sobre questões que ficam para a vida.

Nota: Os pubs fechavam tradicionalmente às 23.00h (hoje em dia variam e podem fechar mais tarde) e as ‘last orders’ seriam 10 minutos antes - talvez demasiado cedo para noitadas ibéricas.

Sai um Kennedy!

Kennedy na equipa de Trump! Ouviram-no durante a campanha? Tudo isto pode vir a ser dramático, mas lá que vai ter piada de observar, lá isso...