Extrato de dois textos sobre Cuba aqui publicados:
(2014)
“Castro e os seus guerrilheiros, saídos da Sierra Maestra depois de uma saga político-militar que entusiasmou o romantismo de uma certa esquerda à escala global, cometeram o grave erro de reagir às recorrentes provocações americanas através de uma crescente dependência da União Soviética. A aventura da colocação de mísseis russos na ilha, em 1962, levou a um embargo americano que ainda hoje se mantém.
De regime libertador, a Cuba de Castro transformou-se num "exportador" de revoluções pelo mundo, aliás sem grande sucesso. Os "dois, três, muitos Vietnam" da retórica de Che Guevara (que, se fosse vivo, teria visto naquilo que o Vietnam se transformou) acabou por ser um imenso fracasso. Pressentido como executor de um "ousourcing" ditado por Moscovo, que durante décadas pagou as faturas de uma economia abafada pelo embargo, o regime de Fidel de Castro, que identificava a menor dissidência interna com uma traição pró-yankee, acabou por se converter num dos atores centrais da Guerra Fria.
No plano interno, Cuba é uma ditadura intolerante e repressiva. Jogou sempre com o sentimento de anti-americanismo como fator atenuador da leitura que o mundo podia fazer das condições em que o seu povo vive, passando as culpas do regime para as consequências do embargo - de facto, uma medida datada e sem sentido, unilateralmente imposta por Washington e que, bem vistas as coisas, acabou por facilitar fortemente o prolongamento do regime castrista. Cuba é hoje uma sociedade triste, vivendo numa penúria imensamente injusta para a felicidade possível das gerações que sofreram a sua tragédia geopolítica.”
***
(2016)
“Raramente tive uma experiência tão desagradável, como turista, como quando há uma década, sem guias nem mentores, passeei pela pobreza das ruas de Havana, então uma cidade de gente sem esperança, a que nem a graça que alguns acham à decadência dava alguma franca alegria.
Fidel libertou os cubanos do bordel dos Estados Unidos em que Baptista convertera o país, mas prendeu-os num pesadelo de vida que condenou gerações à penúria. E não me venham com a conversa do “orgulho” nacional, como se isso pudesse alguma vez substituir a possibilidade de dizer, alto-e-bom-som, podendo também escrevê-lo fora do “Granma”, o que se pensa, bem ou mal, dos dirigentes, que se querem eleitos e contrastantes.
A vida ensinou-me a deixar de ser complacente com a crueldade dos sonhos radicais, do “socialismo real” do Leste europeu a todos os modelos que relativizam o interesse em preservar as liberdades “burguesas”, reféns de amanhãs que o tempo veio o provar ser, infelizmente, muito similares o outros “ontens” que quero esquecer.
Para mim, guardarei para sempre o olhar triste daquela pintora cubana, uma mulher jovem, num subúrbio de Havana, que me contava ter vendido quadros seus em exposições nos Estados Unidos, e a quem, inadvertidamente, perguntei se tinha gostado da viagem: “Eu? Eu não fui! Eu não posso sair daqui. Eu nunca vou sair daqui...”. Aquele desencantado e nem sequer revoltado “nunca” marcou-me para sempre.”
12 comentários:
Eu não posso sair daqui.
Não sei como são as leis de Cuba, mas tenho já há muito tempo um colega cubano. Ele diz-me que pode ir a Cuba quando quiser, e a mãe dele, que vive lá, também pode sair para o vir visitar.
Nesta miserável Cuba (que conheço) onde tudo falta (não é de agora a falta de pão e medicamentos) em que o autóctone não filiado no partido se vê encurralado por um PCC ditatorial e autista e por uma polícia (tipo PIDE) bem mais numerosa que ousemos sonhar, que explora os paíese sul americanos e até Portugal, "vendendo-lhes" a alto preço "médicos" de mais que duvidosa competência e explorando-os como nenhum patrão é capaz, a unica solução é votar democráticamente com os pés ou porem-se a milhas em "balsa"!
Tudo muito certinho, muito politicamente correcto. Mas basta olhar para a "abastança" e as "liberdades" da Colômbia, do México, do Brasil, do Perú, da Guatemala ..... (só para falar de alguns) e ficamos esclarecidos quanto ao "não posso sair de aqui" e a "penúria de gerações". O meu fraco conhecimento de Cuba (in loco) mostrou-me pessoas que, mesmo discordando, são muito orgulhosas do seu país. E havendo penúria, sem dúvida, estamos longe das desgraças que se vêem noutros países sul americanos.
Francisco Tavares
aguerreiro:
Alto ai! tenho um sobrinho por afinidade medico cubano da mais alta competencia.
.maitemachado59
Cuba tem uma imensa diáspora que aliás a alimenta com moeda forte, como o Portugal triste de antes do 25 de Abril era alimentado pelos francos, marcos, dólares e rands dos emigrantes. Talvez essa pintora estivesse impedida de sair por dissidência política, mas não é certamente o caso geral.
Quanto à qualidade do sistema de saúde cubano e dos seus médicos, é à prova de bala, aguerreiro. Posso aliás testemunhá-lo pessoalmente, a minha oftalmologista nasceu em Cuba, e é excelente.
Como se essa qualidade (ou falta dela) do sistema de saúde ou social cubano pudesse justificar o que quer que fosse. Aposto que se o salazarismo tivesse providenciado desenvolvimento e Justiça Social, mantendo a PIDE, o Francisco Tavares até era capaz de o ter defendido, ou não?
É que essa é a lógica das suas palavras. Ou será que essa sua justificação vale para ditaduras de Esquerda mas não de Direita? Não preciso de lhe dizer o que se chama a alguém que é incapaz de aplicar a si próprio a mesma bitola que aplica aos outros...
Hoje, ao ver as notícias, brincava com um familiar dizendo que o PCP iria responder aos protestos dizendo que tinham sido orquestrados por serventuários do capitalismo americano. A locutora esclareceu que foi mesmo isso que o regime cubano alegou. Chapéu...
Do Sr. Embaixador : « A aventura da colocação de mísseis russos na ilha, em 1962, levou a um embargo americano que ainda hoje se mantém. “
Os EUA têm plataformas fixas de mísseis interceptores espalhadas por todo o globo, algumas equipadas com radares de detecção.
As principais instalações do escudo antimíssil estão em três países na Europa: Inglaterra, Polónia e República Checa...e Turquia, o fiel aliado democrata.
Do Sr.Embaixador: “De regime libertador, a Cuba de Castro transformou-se num "exportador" de revoluções pelo mundo”.
Exportações dos EUA em matéria de “golpes de estado” “regime change”, “libertações”, durante mais de um século! A lista seria demasiado longa. Mas o Sr. Embaixador conhece-os. São dezenas e milhares de mortos. Com o sucesso que sabemos: Afganistao; Iraque, Siria, Libia, Somalia, Vietnam, etc.
Em 212 anos os EUA estiveram em paz somente 15 anos…
Do Sr. Embaixador: “o regime de Fidel de Castro, que identificava a menor dissidência interna com uma traição pró-yankee, “
Edward Snowden, Nick Mottern, Daniel Hale e Bradley Manning, são dissidentes. E como foram ou são tratados pela justiça americana?
Nunca poderei compreender que os que impõem a sua lei ao mundo, esmagando com a sua força bruta os mais pequenos sob pretextos que vão das AMD à defesa dos interesses económicos a não importa qual preço, encontrem sempre advogados para os defenderem.
Claro que Cuba é pobre. E o Honduras, o São Salvador, a Guatemala, a Nicarágua, o Haiti, e todos aqueles países da horta das traseiras que vivem sob a ameaça permanente dos embargos e dos mercenários.
Entretanto, dessem os outros paises mais ricos o exemplo da solidariedade de Cuba na crise sanitària actual.
O Sr. Jaime Santos tem uma imaginação fértil. Não podendo argumentar utilmente, escreve coisas como: “se o salazarismo tivesse providenciado desenvolvimento e Justiça Social, mantendo a PIDE, o Francisco Tavares até era capaz de o ter defendido, ou não?” Monsieur de La Palice, não teria dito melhor !
Esquece a origem do movimento e das forças sobre as quais se apoiou que levaram Salazar ao poder; que não tinham um programa de desenvolvimento e de justiça social! Muito simplesmente. Tiveram 50 anos para o implementar, se o tivessem…
A “revolução” do 28 de Maio 1926 não era a da Sierra Maestra, Sr. Jaime Santos.
Da “revolução” do 28 de Maio, já ninguém se recorda no mundo inteiro, e em Portugal são poucos os que a conhecem. Mas todos “vivemos” o seu “sucesso”: os resultados estão à vista. Portugal na cauda do desenvolvimento na Europa. Os portugueses continuam a procurar no exílio a sua salvação. E Portugal perdeu a sua soberania. É o estrangeiro que o dirige.
Da Revolução da Sierra Maestra , não só o mundo inteiro a conhece, mas, e é isso que é imperdoável para todos os reaccionários, e antes de mais o vizinho do Norte, tantos anos depois da Revolução ainda a temem, e por isso a estrangulam por todos os meios.
Talvez porque esta é uma Revolução autêntica, uma revolução cuja força aparece fora das fronteiras de Cuba, cuja influência política e moral faz tremer os seus inimigos, que são os amigos de Guaido.
Tanto que a Revolução Cubana se torna o evento mais importante deste século na América Latina, o acontecimento mais importante após as guerras da independência do século XIX.
Pois estas guerras de independência não foram a substituição do domínio colonial pelo domínio das classes dominantes e exploradoras em todos estes países? ? E , ao ver como a corrupção e as forças do capital agem em muitos países , talvez se pudesse dizer o mesmo de certas revoluções, não?
Sr. Joaquim de Freitas, Cuba é uma ditadura de Partido Único que mete dissidentes na prisão como Salazar metia, mas o Sr. Francisco Tavares dispõe-se a justificá-la falando da comparação com outros países latino-americanos.
O Sr. pelos vistos também. Para si há ditaduras boas e más. Para mim elas são todas más e não há cá medidas de desenvolvimento social que justifiquem a falta de Liberdade. A mesma Liberdade (não falo cá em amplas liberdades, falo simplesmente da Liberdade de dizer e escrever o que penso) que lhe permite a si escrever os disparates que quiser.
É esta a minha linha de argumento útil que faz de si e de todos os que apoiam a ditadura cubana com base nesta espécie de argumentos um bando de hipócritas.
Como eu escrevo sempre, se aquilo de que o povo cubano (ou chinês, ou norte-coreano, etc) goza é soberania, tragam-me já as grilhetas de Bruxelas.
E vá morrer longe que não há quem o ature. Não passa de um estalinista da velha guarda, que perdeu e vai continuar a perder. Oxalá seja desta que o povo cubano se liberta do jugo comunista que o oprime. Para além da importância de tal evento, claro, eu ainda terei o secreto prazer de o imaginar a espumar-se de raiva :) ...
'Um juiz soviético sai de um tribunal a rir-se à gargalhada. Um colega pergunta-lhe o que se passa, ao que ele responde que ouviu uma excelente anedota. Conta lá, diz o colega. Não posso, retorque o juiz, acabei de dar 5 anos a um gajo por causa dela...'
A excelência da medicina cubana é uma fraude, um mito espalhado pela ditadura e pelos seus cães de fila por esse mundo fora, por forma a enganar gente desesperada e lhes ficar com fortunas em divisas.
Os cubanos aproveitam-se da desgraça alheia, esmifrando os infelizes que, desesperados, caem nas garras de qualquer solução "alternativa". Não são diferentes das bruxas e dos curandeiros que tanta gente enganam.
A medicina cubana e os seus "tratamentos" não são validados internacionalmente (tal como as vacinas contra a COVID), não têm apoio da comunidade médica, assentam muitas vezes em meros placebos e na possibilidade de, lidando com gente já condenada, poderem safar-se com um "se tivesse vindo antes".
Não há nenhuma "cura cubana" para as enfermidades terríveis que assolam gente com acesso aos melhores sistemas de saúde da Europa e América. Apenas há oportunismo e falta de ética.
Se os cubanos descobrissem curas "impossíveis", a obrigação deles era divulgá-las à comunidade médica internacional. Também poderiam rentabilizar os tratamentos patenteando-os e, até, abrindo clínicas no estrangeiro. Mas nada disso acontece porque é tudo propaganda!!!
Soube de um caso de um casal que se hipotecou para além de todos os limites para salvar uma filha que nem os melhores médicos americanos conseguiram tratar. E os cubanos aceitaram o caso e cobraram sabendo que nada havia a fazer. Devem passar duas vidas antes de que aquela gente consiga pagar as dívidas...
Quanto à história da falta de acesso a medicamentos, pergunto: os camaradas russos e chineses não podem fornecer medicamentos? Ou passa tudo por não haver dinheiro para lhes pagar? Embargo? É a desculpa para tudo...
Sr.Jaime Santos : A mediocridade dos seus argumentos e das suas anedotas, indicam que se enganou de blogue. Nao é do seu nivel, Sr.Jaime Santos.
Francisco Tavares
12 de julho de 2021 às 18:25: " Escreve! "mostrou-me pessoas que, mesmo discordando, são muito orgulhosas do seu país."
E hà uma razao para isso: Inicialmente, Cuba não era comunista. FIdel não era comunista.Uma política isolacionista dos Estados Unidos forçou Cuba a aceitar a mão estendida pelos comunistas. Neste preciso momento, a manobra do império americano funcionou, finalmente, podem legitimar o bloqueio.
Desde 1962, quando "os mestres do mundo" impuseram o bloqueio total e violaram todas as regras do direito internacional, Cuba tem resistido. O slogan escrito nas paredes da Cisjordânia "existe para resistir" agarra-se à pele de Fidel Castro.
Se os mortos não falarem, o falecido Presidente Kennedy alegou que Cuba era um perigo para os Estados Unidos. Como qualquer americano respeitador, insistiu em partilhar o seu delírio com o México para punir a revolução cubana. Contar a história de Cuba até aos dias de hoje não dará a resposta à pergunta. Os políticos são julgados por resultados, por isso vamos estabelecer o balanço de Fidel Castro:
De acordo com estudos relatados por organizações internacionais, para Cuba:
1- A taxa de analfabetismo é de 0,2% para enquanto na América Latina é de 11,7%
2- A taxa de mortalidade infantil é de 6 por 1000 contra 32 por 1000 na América Latina
3- Esperança de vida é de 76,5 anos contra 70 anos na América Latina
4- A taxa de matrículas no ensino primário é de 99% contra 92% na América Latina
7- Cuba tem mais de 4 milhões de estudantes em 11 milhões de habitantes, 15000 médicos praticam voluntariamente em mais de uma centena de países do terceiro mundo e 41000 estudantes estrangeiros têm podido prosseguir estudos médicos gratuitamente em Cuba.
Então por que é vista como uma ditadura?
Porque dá prioridade ao seu povo e propõe outro modelo contra a corrente do sistema capitalista ultraliberal que domina o mundo. No entanto, Cuba não tem os meios financeiros do G8. As Nações Unidas afirmaram mesmo que "a educação em Cuba é excelente e que a medicina não tem nada a invejar para o Ocidente". Então, quando nos Estados Unidos pouco menos de 30% da população é analfabeta, como podemos falar de ditadura em Cuba e de democracia nos EUA?
A "primeira das democracias" negligencia a educação. Nos Estados Unidos, os cuidados de saúde são privatizados enquanto são gratuitos em Cuba, pelo que rejeito o valor democrático do império americano. Não esqueçamos que o bloqueio também é económico e pretende levar à fome, a fim de fazer com que Cuba ajoelhe.
No entanto, é verdade que os cubanos estão a deixar o seu país.. A razão é óbvia: apesar da boa vontade política, o bloqueio enfraquece economicamente o país.
Por último, a Assembleia Geral das Nações Unidas de 28 de Outubro de 2009 confirma os seguintes factos:
"Nesse relatório, o Secretário-Geral apresenta as respostas escritas de 130 Estados-Membros e 26 organizações do sistema das Nações Unidas. Estados e organismos das Nações Unidas no seu conjunto condenam e apoiam o levantamento de sanções contrárias aos princípios a Carta das Nações Unidas e os princípios da igualdade soberana dos Estados, a não intervenção e a não interferência nos assuntos internos de outros Estados, mas também contra a liberdade de comércio e navegação.»
"Enquanto houver imperialismo, não podem dar-se ao luxo do multi-partidarismo. Nunca poderíam competir com o dinheiro e a propaganda que os Estados Unidos iriam despejar em Cuba.. Perderíam não só o socialismo, mas também a soberania nacional."
Vimos o que se passou na Bolívia.
Sr Jaime Santos, um pouquinho mais de moderacao em relacao ao s joaquim Freitas, esta bem?
maitemachado59
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