quinta-feira, abril 16, 2020

De culto


Há dias, passando de carro por um bairro de Campo de Ourique quase deserto, olhei o lugar onde, durante muitos anos, existiu aquele que foi um restaurante “de culto” de Lisboa: o “Stop do Bairro”.

O “Stop” mudou-se, já há uns tempos, para um novo espaço, em Campolide, por onde também já passei e onde, a bem dizer, comi assim-assim.

É, com certeza, defeito meu nunca ter engraçado muito com o “Stop” e com o que ali nos era servido. Não era mau, mas nunca me recordo de nada de muito especial que por lá houvesse alguma vez comido. Mas havia sempre quem fizesse comentários superlativos, que, infelizmente, nunca encontrei razões para subscrever.

Tenho amigos que se mantinham verdadeiros fãs daquele espaço acanhado, onde estávamos todos em cima uns dos outros, em mesas coladas, sem a menor privacidade nas conversas. Era típico por isso, o que, num certo sentido, podia ser considerado simpático.

Pelas paredes do “Stop”, havia camisolas de jogadores de futebol, onde as referências ao Belenenses, clube da predileção do dono, tendiam a ser dominantes. A simpatia de quem servia às mesas era, aliás, a compensação pelo carão que o patrão sempre fazia questão de exibir, no que parecia ser uma apreciada marca da casa.

Se o “distanciamento social”, essa praga anticomunitária que por aí se instalou por via do vírus, acabar por vir a ser a matriz futura dos locais comerciais de convívio coletivo, não sei o que virá a acontecer a tanto espaços esconsos que existem por esse país fora, como era o “Stop do Bairro” (ou o “Baralto”, quem ainda se lembra?).

Esse mundo vai mesmo mudar? O importante é continuar a andar por cá, com o pretexto de assim poder constatar se isso acontecerá ou não. O resto é conversa fiada.

2 comentários:

Anónimo disse...

talvez os pequenos restaurantes possam pelo menos servir algumas mesas na esplanada!?
porque na esplanada, os clientes não estarão em cima uns dos outros, nem confinados!

e já agora porque não instalam nos aviões uma espécie de cabine em redor de cada assento,
com separadores transparentes,
assim aí sim os passageiros ficariam confinados, para se protegerem uns dos outros, depois de terem desinfetados tudo o que é possível antes do embarque?

Luís Lavoura disse...

Pois eu recordo um restaurante muito barato e nada fino onde bastantes vezes comi, e comem muitos trabalhadores das obras que há aqui no bairro. Restaurante com mesas corridas, 12 lugares em cada mesa, onde toda a gente come lado a lado sem privacidade nem distanciamento nenhuns. Pergunto se alguma vez esse restaurante, com o seu peculiar público-alvo, poderá reabrir. E, se não reabrir, onde comerá a clientela.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...