Faz hoje precisamente 60 anos que foi inaugurada a cidade de Brasília, a nova capital do Brasil.
Por lá, imagino que os tempos não vão para grandes comemorações, mas, não obstante, quero deixar aqui um abraço aos muitos amigos que ali deixei, com alguns dos quais mantenho um contacto regular.
Nesse abril de 1960, Portugal foi convidado a estar presente, ao nível religioso mais elevado, nas cerimónias: o cardeal Gonçalves Cerejeira celebrou a missa inaugural da nova capital. Diz-se que a homilia do prelado luso foi de muito difícil compreensão por parte do auditório, o que ocorre muitas vezes quando o português de Portugal é falado de uma forma muito cerrada. Acresce que o “ch” beirão do amigo de Salazar deve ter agravado ainda mais essa dificuldade.
Ao seu lado na celebração, Cerejeira tinha um arcebispo brasileiro. Era um nome, à época, ainda pouco conhecido. Mas, curiosamente, era um homem que iria ficar na História do Brasil, por, anos mais tarde, ter tomado posições de grande coragem, ao lado dos pobres e dos perseguidos pelo sinistro regime militar que, quatro anos depois, iria tomar conta, por quase duas sangrentas décadas, do quotidiano sócio-político do país.
A missa inaugural de Brasília seria assim celebrada pelo prelado que abençoou a ditadura portuguesa, Gonçalves Cerejeira - pessoa que não levantou um dedo face às perseguições de que foi alvo o padre Abel Varzim ou António Ferreira Gomes, bispo do Porto - e por Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que seria a face da dignidade da igreja brasileira face ao arbítrio da ditadura brasileira.
Uma imensa ironia, nesse dia 21 de abril de 1960. Faz hoje 60 anos.
(Há trze anos, a convite da TAP, publiquei na sua revista de bordo uma espécie de homenagem à cidade. Tirando referências de conjuntura, o texto permanece válido, para quem tiver interesse em lê-lo aqui.
10 comentários:
Nos anos 50 em que vivi no Rio, lembro-me de ver na rubrica da revista O Cruzeiro "Ninguém Conhece Ninguém", uma prosa sobre D. Hélder Câmara, ainda este prelado não era conhecido pelo epíteto de bispo vermelho. Tenho pena de não possuir o exemplar dessa defunta revista, embora possua outros, um designadamente sobre o Marechal Rondon.
Sendo MGC nascido em Lousado, Vila Nova de Famalicão, onde terá adquirido o ch beirão ?
Se é que adquiriu, já me não lembro.
amf
um minhoto com ch beirão ?
cumprimentos
amf
beirão, sem ch
Conhecíamos a vertente do Sr Embaixador como "Guia Gastronómico". Mas esta de "Guia Turístico" ainda não. E não fica nada atrás.
Eles que não se impacientem porque estamos quase a construi a nossa embaixada no terreno que eles nos deram só há 60 anos
Fernando Neves
Tratando-se de inauguração de uma cidade é justo mencionar o nome do seu principal criador, o arquiteto Óscar Niemeyer, um artista extraordinário.
Dor em bsixa devia ler o texto referido no final do meu texto
Óscar Niemeyer SOARES DOS REIS.
Sr . Embaixador , e a liberdade de imprensa , existe ou não ? É preciso o anónimo das 23.38 levar uma “ reguada “ na mão , só porque não leu o texto até ao fim ? Há duas explicações : primeira , não teve pachorra , acontece . Segunda , estava distraído e resolveu divagar e aí decidiu usar a liberdade de imprensa . Não merecia a reguada , por tão pouco ...
O Cerejeira pelava-se por igrejas novas, achava que o betão dilatava a fé. Mas não era passivo em relação aos católicos dissidentes do salazarismo. Tirou o P. Varzim da Acção Católica e pressionou Roma durante anos para que o bispo do Porto fosse destituído (sem o conseguir).
Abraço,
Zé Barreto
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