quarta-feira, abril 15, 2020

Um “nabo” em quarentena



Não tenho “stock” de lâmpadas. E fundiram-se já duas. Haverá por aí lojas de material elétrico abertas? Ou um “take-away” de eletricistas? O rebordo de madeira de uma janela abriu um buraco. Está tudo podre por dentro. Por onde andais, carpinteiros do meu país? Hoje, de manhã (vamos ser honestos, ao fim da manhã, porque os fusos mudaram muito, cá por casa), interroguei-me: e se o comando automático dos estores das portas/janelas para o jardim, que abro da cama (já tenho idade para ter estes luxos, não acham) para ver se está sol ou se faz chuva, se avariam? O “senhor dos estores”, como diria a minha empregada (que já não vejo há um mês e que só espero que esteja bem), estará disponível para cá vir, em caso desse desastre ocorrer? Até temo que falhe a pilha (deve dizer-se bateria?) da balança? Esta, no entanto, seria a única “tragédia” sem drama: não constataria o que tenho engordado, nesta quarentena, sem dieta pascal, como acontece aos ímpios.

Quando vivi na Noruega, tinha um amigo (que será feito de ti, Erik? E da Marta?) que construiu, ele próprio, a sua casa. Construiu? Sim, de cima abaixo, das fundações ao telhado. Uma moradia, que recordo bem confortável. Deve ser uma sensação muito boa, viver na casa que é produto do nosso esforço pessoal. Lembro-me bem de que, quando ele me contava, com o orgulho contido dos nórdicos, os pormenores dessa árdua tarefa, que lhe levou largos meses, muitos fins-de-semana completos, eu me sentia bem “pequeno”. Hoje, quando, apenas por premente necessidade, entro a medo num AKI, quando vejo alguns amigos dedicados, com amesquinhante êxito, às tarefas caseiras de “bricolage”, quando constato que “rebento” com um parafuso (acontece-me muito) porque usei, com a brutalidade dos nabos, uma chave de fendas (na minha terra, dizia-se “desandador”) inadequada, sinto um princípio de vergonha. Mas é só um princípio, porque passa-me logo: cada um é para o que nasce, não é? Se não é, eu faço de conta que é.

9 comentários:

Anónimo disse...

Porque não tenho jeito sinto-me um grande "nabo" nessas matérias, complexado até.. Mas é, como diz, cada um nasce para o que nasce..

jj.amarante disse...

Qualquer supermercado que não seja mini (e talvez mesmo esses) tem uma secção de lâmpadas banais.

jj.amarante disse...

Para reparações mais complicadas o ACP talvez ajude.

Luís Lavoura disse...

Quando estive na Suíça numa Gaestehaus, soube que ela (uma grande casa com quinze quartos e um apartamento) tinha sido integralmente construída pelo seu porteiro, que era um português de Viseu.

Anónimo disse...

Já vi que gosta tanto de bricolage quanto eu.

Anónimo disse...

(...) cada um é para o que nasce, não é?
Oh dear ...

Anónimo disse...

Tretas! Snobismo!
A necessidade aguça o engenho, e sou mulher.
É ver se na cozinha também eles não se aperfeiçoam quando querem.

Take Direto disse...

Os supermercados tem isso tudo.

Pedro Sousa Ribeiro disse...

Sr. Embaixador, pode continuar a usar expressões nortenhas para que os lisboetas possam enriquecer o vocabulário. Eu, que habito em Lisboa, continuo a dizer " desandador".

Vou ler isto outra vez...