segunda-feira, abril 27, 2020

A outra imprensa rosa


Comprei o “Financial Times”, o FT, este fim de semana. Por muitos defeitos que tenha, é um extraordinário jornal. Mas só o compro às vezes. Sai-se sempre mais “rico” depois de o ler, embora não seja barato. E, por estes dias, não é muito útil o belo suplemento dos sábados, “How to spend it”, que ajuda a perceber onde quem é realmente rico gasta o seu dinheiro.

Uma tarde, também de sábado, nos anos 90, em Londres, fui ao mítico e já desaparecido velho estádio de Wembley, para ver uma final da Taça de Inglaterra. Apanhei o metro, metido na fauna dos apoiantes das duas equipas, que, por essa hora, ainda estavam no tempo de relativo sossego que, por lá, antecede as grandes partidas. O ambiente era galhofeiro, sem agressividade, embora com muitas "bocas", a maioria num intraduzível "cockney".

Alguns, embora escassos, viajantes liam tablóides, tipo "Sun", "Today" ou "Daily Mail". Jornais pequenos, comparado com os “broadsheet”. Distraído, recostei-me num banco e deliciava-me com o FT do dia. Não me tinha dado conta que, naquele ambiente, ter nas mãos aquele imenso jornal cor-de-rosa era quase tão natural como ler "O Diabo" num "centro de trabalho" do PCP.

A certo ponto da viagem, percebi que alguns olhares convergiam sobre mim. E algumas "bocas" também. Até que um grandalhão, vestido a rigor de apoiante de clube, me espetou o dedo no jornal e inquiriu: "Hey, bud! What the hell are the pink sheets you're reading?". A situação não era fácil. Dar explicações era descabido, recolher o jornal seria cobardia. Já havia um público para a cena. Com um sorriso amarelo, saiu-me: "Wanna see the weather forecast?". Não estava seguro de ter sido a melhor deixa, mas foi o que me saiu. Para meu imenso alívio, o grandalhão sorriu. E lá seguimos para mais uma "Cup Final". No regresso, com metade do metro zangado com o mundo, viajei prudentemente com o FT debaixo do braço.

Há dias, na net, descobri que há mesmo dicas sobre como dobrar o FT do fim-de-semana, mesmo sem o suplemento! Elas aqui ficam.

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Vou ler isto outra vez...