Há meses, na antecâmara de um almoço, ouvi um secretário de Estado francês chamar a uma colega minha "madame l'ambassadrice". A embaixadora reagiu, com elegância, e disse que não era "ambassadrice", porque essa é a designação para a mulher de embaixador, pelo que devia ser chamada por "madame l'ambassadeur". Ela talvez tivesse razão, mas o governante limitava-se a seguir aquilo que é, por aqui, uma prática comum: designar por "ambassadrice" quer as mulheres embaixadoras, quer as cônjuges dos embaixadores, que, na língua portuguesa, são embaixatrizes. O que, de facto, aqui em França, provoca alguma confusão.
Há três dias, no parlamento francês, um deputado dirigiu-se à ministra da Habitação como "madame le ministre". A ministra reagiu e exigiu ser tratada por "madame la ministre". Neste caso, o deputado limitou-se também a seguir a regra tradicional. Para a ministra, como a palavra não muda de género, só o artigo pode mudar.
Em Portugal, recordo-me ter havido um ligeiro debate quando Maria de Lourdes Pintasilgo foi indicada para a chefia do governo, em 1979. Por uns dias, discutiu-se se era "primeiro ministro" ou "primeira ministra". Venceu a segunda fórmula, com naturalidade. Já a decisão de Dilma Russeff de ser chamada de "presidenta" provocou várias reações, mais em Portugal do que no Brasil, ao que me pareceu.
Esta femininização dos nomes parece-me natural e não me choca, embora eu seja pouco permeável ao "politicamente correto". Mas hoje, não deixei de ficar ficar curioso, ao ler este comentário...
20 comentários:
É caso para se dizer que Platão se esqueceu de mencionar tais "pormenores", no "A República".
Se um piloto guia, conduz e dirige, porque não há-de a pilota de pilotar (perdão pela epanalepse).
Como diz um amigo, useiro e vezeiro no novo acordo: É um fato que, quando visto um fato, no primeiro ato ato o sapato...
Mais importante que brincadeiras semânticas é reconhecer o papel da mulher na sociedade de hoje, conquistado a pulso durante todo o século XX.
Finalmente sem quotas, nem outras discriminações positivas (nunca percebi bem o conceito, mas sei de quem afirme que ser alvo de benefício é bom quando nos calha a nós e mau quando é para os outros ... eu tendo a concordar), que possam servir de labéu para os mal intencionados.
Nuno 361111
A língua não passa de uma convenção que pode ser sempre mudada por acordo ou uso. Creio que até agora a tradição era tratar por "embaixatrizes" as mulheres dos embaixadores e por "embaixadoras" as que exercem a função; o mesmo, embora menos frequente, para cônsules e consulesas. No entanto, há um detalhe curioso na língua portuguesa: em muitos casos a forma feminina designa o exercício da função, como em actriz, imperatriz, etc. Aliás, porque não exigem os homens a "masculinização" de certos termos, tipo "presidento", "juízo", "professoro", etc?
O politicamente correto é, geralmente, uma manifestação de um mal que sempre afligiu a Humanidade: a estupidez.
No caso da história do "presidenta", junta-se a estupidez à burrice. É tão simples quanto isso.
... Masculinas e femininos...
Conheci uma diretora da Direction Départementale des Affaires Sanitaires et Sociaux (DDASS) que exprimia com veemencia a vontade de ser tratada por "Madame le Directeur" pretextando, creio, que o "journal officiel" evocava para o cargo de chefia da DDASS o termo de "Directeur".
Ninguém compreendia aquilo que parecia a todos uma "entorse" à lingua mas a maioria alinhava-se àquela vontade.
Eu também, pessoalmente, nunca contrariei a vontade daquela mulher diretor e terminei sempre os meus oficios com a frase feita de "je vous prie de croire, Madame le Directeur, en ma haute considération".
Como dizem os franceses, "cela ne mange pas de pain et ça fait du bien"...
José Barros
há como que um conflito que mete vários ingredientes, desde gramaticais a sociológicos, ideológicos, feminismos ou machismos, desconhecimentos, boas ou más intenções, sei lá.
por mim gosto de ouvir dizer a sra primeiro ministro, a sra presidente da republica, o ministro é a sra tal, etc. (embaixador/ra/triz não há duvidas em português).
diverte me por outro lado ouvir chamar la generale à mulher do general.
deixemos isso assim, é mais interessante haver várias possibilidades, não haver uma norma rigida, o acordo ortografico não se meta nisso, que se diga presidenta ou presidente segundo cada um quer.
talvez os de lingua inglesa sejam mais praticos nesta materia.
Nuno 361111,
Esse seu amigo é brasileiro, certo? É que se não é, então, ele não é versado em nenhum AO. Faça o favor de lho comunicar, não vá ele andar por aí dizendo baboseiras...
Agora é só diretoras, chefas, coordenadoras e secretárias (porquê que secretária parece ter uma conotação diferente de secretário?). A chefa, num serviço com uma quota feminina à volta de 50%, no mail a comunicar que ia de férias começou: meus senhores: … sou substituída pela…
(acreditem se quiserem…)
Caro anónimo das 10:05
Encontra-se desonerado de demonstrar à saciedade os seus putativos conhecimentos linguísticos, até porque, encontrando-se este limitado ao humor que escorre da boca, como forma, teria seguramente dificuldades em penetrar na substância, como conteúdo.
Bem haja,
Nuno 361111
Nuno 361111,
A história do "fato" em vez de "faCto" já só é repetida por quem persiste na desonestidade relativamente ao AO.
Outra coisa: escrever textos barrocos não lhe dá mais razão relativamente a nada.
Anónimo das 14:53...
Não quis ser nem enigmático nem pretensioso no comentário, fui simplestemente tonto, que é um defeito de juventude que em mim tarda a passar ...
E reconheço ser facto que no Brasil diriam: é um fato (facto) que quando visto um paletó/terno (fato) ....
Mas neste caso, em que se comenta o papel das mulheres no sec. XXI, considero ser redutor comentar o AO. É concentrar-se no acessório... como acessório é presidente ou presidenta ... embaixadora ou embaixatriz, é -smj- sucumbir à forma ao invés do conteúdo.
Nuno 361111
Senhor Embaixador que diz relativamente aos post que refere que diz desta nossa bela língua em "o piloto pilota aviões e a pilota pilota carros"?!
Faz-me lembrar quando entrevistava atores ou atrizes, como os americanos, e cada vez mais também com os britânicos, em vez de separarem, como nós, o sexo, se referem, simplesmente a "actors", para os dois sexos.~
Gilberto Ferraz
Esta nova moda de andar a discutir o "género" e as "quotas" já parece excessiva. A língua portuguesa tem uma raíz, o latim, que infelizmente tem andado a ser esquecida. Os anglo-saxónicos e os germânicos, por exemplo, felizmente, respeitam bastante essa influência nas respectivas línguas. Naturalmente, ninguém de bom senso quer que se fale, tal qual, hoje, o português do Gil Vicente, do Camões ou anterior. Mas deixem que seja o POVO a marcar o ritmo da evolução do Prtuguês e não uns supostos iluminados que fazem Acordos Ortográficos por via do Diário da República ou por moda de telenovelas importadas. Nenhuma família que se preze renega as suas origens. Bem procedem os franceses e os espanhóis, entre outros, por não andarem a introduzir alterações nas suas Línguas por razões de moda ou de snobismo pseudo-intelectual!
José Honorato Ferreira
Um debate interessante sobre as cogitações do sexo das palavras...
O simbolismo da imagem, a senhora, a farda, a divisa...
Os acessórios o boné, o lenço...
Caro Anónimo das 5.58: mais uma vez, a "velha senhora" não passa...
A presidenta parece ter um capricho de adolescenta, deve ter estado ausenta de várias aulas de português. Quando o electricisto for à casa dela talvez lhe diga que quer ser tratado como um pessôo.
um cumprimento à beleza e elegancia da sra major, que o merece totalmente. Fotografia bem escolhida e mostrando um bom gosto, pois
Quando vejo uma mulher fardada,lembro do milenar machismo que sobrevive até os dias de hoje.Mas o tempo como um bom senhor das transformações mostrou que a superação vence não somente o machismo,mas sim qualquer preconceito.Uma mulher de farda é a vergonha de imbecís que duvidaram da capacidade em igual ou superior condição de assumir qualquer profissão.Tá aí uma resposta a quem acha que a provocação se replica com as palavras,se replica com uma boa exibição da capacidade intelectual.
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