Quando François Mitterrand chegou ao poder, em 1981, muitos foram surpreendidos pelo facto do Quai d'Orsay ter passado a chamar-se "Ministère des relations extérieures", rompendo com o seu nome clássico de "Ministère des affaires étrangères". A tradição não deixou sobreviver a ousadia, pelo que o nome antigo regressaria, anos mais tarde (agora com o acrescento de "et européennes"). O autor da proeza, que assim procurava romper formalmente com o passado, foi o novo ministro escolhido por Mitterrand, Claude Cheysson, que dizia: "il n'y a pas d'affaires étrangères, la politique extérieure fait intégralement partie de la politique nationale". Uma verdade como punhos!
A nomeação de Cheysson trouxe para a frente da política externa "un diplomate hors norme", como Laurent Fabius ontem disse. Antigo chefe de gabinete de Pierre Mendès-France, e por duas vezes comissário europeu, Cheysson era um convicto "tiers-mondiste", grande defensor da causa palestiniana e com uma vocação rara para abrir a França ao mundo árabe, muito em particular à Argélia, suscitando sérios anti-corpos em Israel. Pessoalmente, tinha um feitio complicado, era uma "gaffeur" desinibido ou, como disse o próprio Mitterrand, "il est extraordinaire de voir un spécialiste de la diplomatie aussi peu diplomate". Mas era um homem de princípios e convicções, coisa que, às vezes, alguns acham que os diplomatas não devem ser.
Claude Cheysson morreu esta semana.
8 comentários:
Mais um senhor Embaixador!
bom obituário, pouco conheçia do senhor, mas percebi o perfil.
Claude Cheysson teria razão. Relações Exteriores tem uma semantica diferente...
Até para Portugal poderia fazer mais sentido falarmos em termos de "Relações Exteriores" do que em termos de "Negócios Estrangeiros". Sobretudo que os Negócios Estrangeiros integram os assuntos da Emigração... e que há opiniões que não querem considerar que a emigração seja um bom negócio!
José Barros
José Barros,
Não concordo, a escolha de "relações exteriores" ao invés de negócios estrangeiros (como no Brasil ou em Angola) parecem-me redutora....
Nem falo das "novas" correntes da diplomacia económica que parecem dar razão à nossa "nomenclatura", falo na raiz da palavra "negócio" ... ou seja, o que "não é ócio".
Desconhecia Claude Cheysson, sendo mais uma das figura sobre o qual tomei conhecimento neste recanto da blogosfera...
Sendo esta uma das razões de me ter tornado "viciado" neste blog, a partilha de conhecimento, quer do seu autor quer dos seus convidados, é avassaladora.
Nuno 361111
Quando José Barros refera o femómeno "Emigração" dobro a minha atenção, porque Ele percebe disto. Países como Portugal, que com os seus "fluxos migratórios" fizeram grande parte da sua História. Países onde a emigração se impõe como "um bom negócio" quando "os melhores ou os mais aventureiros" dos seus cidadãos partem muitas vezes sem terem "custado um cêntimo ao erário público". Países aonde a actividade que melhor se desenvolve e é visível é a dos "Negócios Estrangeiros", só têm que reconhecer que o fenómeno não acabou, que está aí, que se repete "sempre da mesma maneira" como já escrevera Ferreira de Castro com as características do Ralismo do seu tempo, que não tem nada a ver com o estilo actual do "Realismo Fantástico" que pulula por aí...
parecido com josé hermano saraiva este cheysson, nesta fotografia, quando se abre o blogue.
ministério dos negócios estrangeiro (simplificando e omitindo o resto) é o nome que deve ser, tradicional e que diz tudo.
Senhor Embaixador,
Se isto continua neste ritmo vai ter de fazer um acordo com esta página :
http://www.inmemoriam.com.pt/
Pois é... pelos anos de 1734 D. João V criou a "Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra". Em 1821 tiraram-lhe a "Guerra" para lha devolverem pouco depois. A arrogância dos esclarecidos também fez com que Claude Cheysson quisesse mudar o nome dos "Affaires Etrangères", tambem durou pouco. Mas... eu não sei
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