Um dia, numa deslocação que com ele fiz a Madrid, ao tempo em que iniciávamos a revisão do tratado de Maastricht, o professor André Gonçalves Pereira dizia-me que, sempre que ia à capital espanhola, aproveitava para ir "lavar os olhos" ao museu do Prado. Guardei a simbologia da expressão.
Aqui por Paris, tenho às vezes usado esse colírio artístico, em algumas das diversas oportunidades que por aqui surgem. Fi-lo de novo há dias. Mas, desta vez, devo dizer que fui assaltado por um sentimento contraditório.
Por um lado, deslumbrou-me visualmente a grande retrospetiva de Edward Hopper que está no Grand Palais. Para quem, como eu, levou uma vida adulta "à procura" dos Hopper espalhados pelos museus do mundo, ter o privilégio de apreciar este excelente "compacto" (faltam lá meia-dúzia de grandes peças, algumas que já "apanhei" noutros locais, mas há coisas "novas" magníficas) foi uma experiência muito interessante. Há alguma gente que desvaloriza Hopper, que acha o seu figurativo mais digno de ilustração de revistas que da grande pintura. Eu não. Gosto imenso de Hopper. Cada vez mais.
Porém, com esta exposição, tive o ensejo de estudar melhor a contextualização da arte de Hopper em certos tempos de uma América do século XX, marcada pelo o desalento da depressão, pela expressão trágica da solidão urbana, projetando o desencanto de existências que perderam sentido, num quotidiano em défice de esperança. E, por alguma razão, não saí do Grand Palais no melhor dos espíritos.
8 comentários:
deixo aqui este link a proposito
http://www.franceinfo.fr/culture-medias/sortir-ecouter-voir/premiere-retrospective-edward-hopper-a-paris-au-grand-palais-764197-2012-10-11
bem haja
E. Hopper também faz parte dos meus pintores preferidos e ha anos que esperava por esta oportunidade de ver a sua obra reunida, aqui em Paris. Ainda não a vi, mas vou ver-com calma- a semana que vem, que, um século depois, "o desalento da depressão, a expressão da solidão urbana e o desencanto" cada vez mais profundo nos cidadãos dos paises da europa do sul não difere, em nada, da dos contemporâneos de Hopper. (Re)vejo-me em muitas das suas telas...
Senhor Embaixador
Esta Helena também é grande apreciadora de Hopper, o homem que melhor retrata a "solidão contemporânea".
Quem me dera ter um...
Pois eu sou das Helena que não aguenta Hopper sem se desfazer em lágrimas.
Não quero olhar Hopper, como não quero olhar a miséria. Não tenho estatuto psicológico que me dê a capacidade de viver o que acredito, em vez de acreditar no que vivo.
Mea culpa.
Maria Helena
imenso pintor
Senhor Embaixador,
Magnifico solitario urbano pintor.
Parabens. Por alguns meses (ate Janeiro 2013)vai ter Hopper a espera das suas visitas. E bom ter um amigo sempre disponivel, nao e?
Ganas que eu tenho de apanhar o primeiro comboio de St Pancras'...
Cumprimentros
F. Crabtree
Este trio de Helenas ... são 63 maravilhosas gramas de alma!
Ainda bem caro escriba que gostou : )
Ainda nao fui mas irei...I Hope(r)
Visitei a da porta ao lado "Bohèmes" e a decepção foi grande : (
Pergunto-me mesmo se nao tera sido patrocinada pelo Ministério do Interior de tal forma os clichès sobre os roms, manouches e outros tziganes estao estigmatizados ...assim nao vamos la...desta forma continuarao a ser "Les gens du voyage" por muitos séculos aqui em França. Assim continuarao a nao ter direito a bilhete de identidade e a votar. Assim continuarao a ser Esmeraldas, bolas de cristal, leituras da palma da mao, pandeiretas, gens louches et tricheurs.
Esperava desta exposição um olhar novo uma esperança no futuro...uma integraçao...mas a sociedade francesa precisa destes clichés para se sentir protegida...hélas : (
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