quinta-feira, outubro 18, 2012

Hopper

Um dia, numa deslocação que com ele fiz a Madrid, ao tempo em que iniciávamos a revisão do tratado de Maastricht, o professor André Gonçalves Pereira dizia-me que, sempre que ia à capital espanhola, aproveitava para ir "lavar os olhos" ao museu do Prado. Guardei a simbologia da expressão.

Aqui por Paris, tenho às vezes usado esse colírio artístico, em algumas das diversas oportunidades que por aqui surgem. Fi-lo de novo há dias. Mas, desta vez, devo dizer que fui assaltado por um sentimento contraditório. 

Por um lado, deslumbrou-me visualmente a grande retrospetiva de Edward Hopper que está no Grand Palais. Para quem, como eu, levou uma vida adulta "à procura" dos Hopper espalhados pelos museus do mundo, ter o privilégio de apreciar este excelente "compacto" (faltam lá meia-dúzia de grandes peças, algumas que já "apanhei" noutros locais, mas há coisas "novas" magníficas) foi uma experiência muito interessante. Há alguma gente que desvaloriza Hopper, que acha o seu figurativo mais digno de ilustração de revistas que da grande pintura. Eu não. Gosto imenso de Hopper. Cada vez mais. 

Porém, com esta exposição, tive o ensejo de estudar melhor a contextualização da arte de Hopper em certos tempos de uma América do século XX, marcada pelo o desalento da depressão, pela expressão trágica da solidão urbana, projetando o desencanto de existências que perderam sentido, num quotidiano em défice de esperança. E, por alguma razão, não saí do Grand Palais no melhor dos espíritos.

8 comentários:

Anónimo disse...

deixo aqui este link a proposito


http://www.franceinfo.fr/culture-medias/sortir-ecouter-voir/premiere-retrospective-edward-hopper-a-paris-au-grand-palais-764197-2012-10-11


bem haja

Helena Oneto disse...

E. Hopper também faz parte dos meus pintores preferidos e ha anos que esperava por esta oportunidade de ver a sua obra reunida, aqui em Paris. Ainda não a vi, mas vou ver-com calma- a semana que vem, que, um século depois, "o desalento da depressão, a expressão da solidão urbana e o desencanto" cada vez mais profundo nos cidadãos dos paises da europa do sul não difere, em nada, da dos contemporâneos de Hopper. (Re)vejo-me em muitas das suas telas...

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Esta Helena também é grande apreciadora de Hopper, o homem que melhor retrata a "solidão contemporânea".
Quem me dera ter um...

Anónimo disse...

Pois eu sou das Helena que não aguenta Hopper sem se desfazer em lágrimas.
Não quero olhar Hopper, como não quero olhar a miséria. Não tenho estatuto psicológico que me dê a capacidade de viver o que acredito, em vez de acreditar no que vivo.
Mea culpa.

Maria Helena

patricio branco disse...

imenso pintor

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

Magnifico solitario urbano pintor.

Parabens. Por alguns meses (ate Janeiro 2013)vai ter Hopper a espera das suas visitas. E bom ter um amigo sempre disponivel, nao e?

Ganas que eu tenho de apanhar o primeiro comboio de St Pancras'...

Cumprimentros

F. Crabtree


Helena Sacadura Cabral disse...

Este trio de Helenas ... são 63 maravilhosas gramas de alma!

Julia Macias-Valet disse...

Ainda bem caro escriba que gostou : )
Ainda nao fui mas irei...I Hope(r)

Visitei a da porta ao lado "Bohèmes" e a decepção foi grande : (

Pergunto-me mesmo se nao tera sido patrocinada pelo Ministério do Interior de tal forma os clichès sobre os roms, manouches e outros tziganes estao estigmatizados ...assim nao vamos la...desta forma continuarao a ser "Les gens du voyage" por muitos séculos aqui em França. Assim continuarao a nao ter direito a bilhete de identidade e a votar. Assim continuarao a ser Esmeraldas, bolas de cristal, leituras da palma da mao, pandeiretas, gens louches et tricheurs.

Esperava desta exposição um olhar novo uma esperança no futuro...uma integraçao...mas a sociedade francesa precisa destes clichés para se sentir protegida...hélas : (

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