Quando um dia, no ISCSPU, concluí a disciplina de Direito internacional público, que ele regia, com 13 valores, o professor Armando Marques Guedes chamou-me e disse-me: "Prometa-me que volta na segunda época. Não percebo esta sua nota. Você precisa de 'subi-la' ".
Não lhe fiz a vontade e só voltámos a falar do assunto alguns anos depois, no dia em que o voltei a encontrar, no júri de admissão ao MNE. Disse-me então, nos claustros das Necessidades, com alguma ironia: "Se você 'passar' nesta entrada para o MNE, acabará implicitamente por 'subir' aquela má nota que teve em Direito internacional público". Lembro-me de ter ficado surpreendido e um pouco orgulhoso por ele se ter lembrado. E, de facto, "passei", num júri em que tive também, como arguente, na área da Economia Política, um professor que dá pelo nome de Aníbal Cavaco Silva. Ambos me aprovaram.
Nos meus tempos do ISCSPU, dizia-se que Armando Marques Guedes tinha tido um dissídio com Marcelo Caetano na faculdade de Direito e que, tal como Adriano Moreira, tinha posteriormente seguido um percurso académico algo solitário. Era um homem muito agradável, de trato fácil, embora sempre me parecesse um aristocrata na vida universitária - com a leitura positiva que esta qualificação pode, às vezes, ter. Já o tinha encontrado na cadeira de Direito Administrativo, em que nos dava aulas com exemplos de grande sabedoria e uma procurada e hábil distanciação face aos tempos políticos que se viviam, nesse final dos anos 60. No que recordo, tenho-o por um professor rigoroso, que era por nós bastante respeitado, mesmo no seio de quantos eram academicamente mais "agitados", grupo do qual eu fazia (naturalmente) parte. Já o não via há muitos anos.
Acabo de saber do seu falecimento, com a bela idade de 93 anos. Deixo aqui um abraço sentido ao Armando, seu filho e meu amigo.
9 comentários:
Aguardamos também o obituário de Robin Flor, autor do símbolo do MES...
O Senhor Embaixador já se deu conta de quantos obituários já fez este ano?!
Trágico.
Senhor Embaixador,
Tanto quanto me lembro o segundo arguente do seu concurso foi o Dr. Joaquim Mestre, da Faculdade de Direito...
Teclei mal: O nome é Fior, não Flore. E vejo que já postou uma homenagem...
Caro anónimo das 15.43: claro que foi. Quem disse o contrário?
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: e já, depois deste, fiz outro. Isto começa a complicar-se. Comon dizia um amigo meu, "morrem os errados"...
O senhor devia ser um aluno bem acima da média, para o professor lhe sugerir melhoria de nota.
Se ainda me lembro bem desses tempos, 13 valores era uma nota bastante boa.
Pelo menos para a maioria dos estudantes.
Olhe que não, Carlos Fonseca, olhe que não!
Fui também aluno do prof. Marques Guedes e posso confirmar, sem o embaixador naturalmente precisar, as referências que faz à qualidade e ao carácter do prof. Marques Guedes. Fiz o último ano do curso no terrível ano de 75 , e com ele, nesse ano, a cadeira de direito internacional. Tive uma nota altíssima e desconfiando do seu valor, face ao tempo conturbado, fui-lhe perguntar o significado: Se era se não era semelhante ao valor de apenas dois anos antes, Não lhe pude arrancar mais do que a confirmação do número em si, com um sorriso de troça por eu ficar exactamente na mesma sem saber.
Foi, sem dúvida, um professor muito impressivo, dos poucos que se tinha pena de não continuar a ouvir.
João Vieira
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