Para uma certa geração que acompanha(va) com atenção a política portuguesa, Margarida Marante foi uma figura mediaticamente saliente. Talvez haja sido das pessoas a quem vi construir algumas das melhores entrevistas políticas feitas na televisão portuguesa. Notava-se que as preparava com imenso cuidado e a prova do seu sucesso era a regular inquietude que provocava nos seus interlocutores, que tratava com uma displicência que chegava a raiar a provocação. Admirou-me sempre o risco assumido pelas televisões ao colocarem uma jornalista tão jovem nesses exercícios de grande responsabilidade. Dos quais, diga-se, nunca a vi sair mal, embora não raramente eu próprio me irritasse imenso, porque ela deixava bem claro que sempre esteve longe daquilo que eu próprio pensava.
Falei pessoalmente com Margarida Marante poucas vezes. Recordo uma noite, mais longamente, num jantar em casa de amigos comuns. Não me pareceu uma pessoa de feitio fácil, nem sequer mobilizadora de uma automática simpatia - e seria fácil não o dizer, no dia seguinte àquele em que sei da sua morte. Era uma mulher muito bonita, mas percebia-se que se recusava em absoluto a abusar disso. Depois de ter lido, há tempos, alguma coisa sobre os seus problemas pessoais, só posso lamentar ver uma pessoa com o seu talento desaparecer tão cedo, muito provavelmente "desta vida descontente".
9 comentários:
Nem mais... "Desta vida descontente"...
Abraço
.((
Também a admirava imenso.
A foto que escolheu além de Lhe realçar a beleza, expressa empatia com a vida.
mais um obituário.. são semanais, agora.
Uma GRANDE SENHORA
Jornalista a sério.
Não era das que fazem de ponto.
Fazia contraditório sem cortar o pensamento.
Deus deve andar distraido.
Esteja onde estiver que continue bela e inteligente.
Quem partiu "desta vida descontente" foi Dinamene e não Inês.
Sobre Margarida Marante, nada direi.
Excelente comentário, qualidade com que nos tem habituado. Obrigado. Contrariamente ao meu caro, não a conheci pessoalmente. Mas sempre a admirei pelo seu estilo, muito à britânica, embora atualmente, com outro/as colegas da TV ou da Rádio, a sua juventude e impreparação ronde pela insolência. Abraço.
PS. Ainda não tive tempo para ler a sua entrevista que deu à revista de Direito. Fiz o "downloading" pelo que aguardo uma melhor oportunidade. Abraço e bom fim de semana. Gilberto
Caro Anónimo das 20.29: obrigado pela correção.
O que a "Década VIII de Diogo do Couto menciona não é o nome Dinamene mas "Dina mente" e «no modelo que copiavam (da versão extensa)provavelmente o próprio original, a grafia da palavra não era muito clara, talvez porque abreviada». Conheço bem a Professora M. Augusta Lima Cruz a quem ouvi esta discussão e interpretação. Também de referir que o Professor José Hermano Saraiva "pendia" para este lado. Conheço a pessoa que será talvez quem melhor terá estudado Diogo do Couto (de quem temos a certeza de que privou com Camões na ilha de Moçambique mas não só aí)e que terá tido uma influência crucial nas leituras de Lima Cruz... Haveria portanto uma "Dinamente" e nã Dinamene. Ou não seriam todas as amadas que Camões perdera?
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