segunda-feira, outubro 29, 2012

Decanato

O novo presidente da Assembleia Nacional francesa, Claude Bartolone, tomou a simpática iniciativa de organizar, na noite de ontem, um jantar de debate, reunindo um grupo pouco comum de embaixadores: os representantes diplomáticos dos países da zona euro. Ao sentarmo-nos à mesa, reparei ter tido direito ao lugar de honra, entre os convidados. Olhei à volta e dei-me conta que já era o "decano" dos diplomatas presentes. Como o tempo passa...

A rotação temporal dos embaixadores é uma regra comum. Em geral, em cada quatro ou cinco anos, os embaixadores mudam de funções, indo assumir a chefia de outras representações diplomáticas ou consulares no exterior, ou regressando temporariamente às suas capitais. Esta regra aplica-se também aos restantes diplomatas, sendo que há alguns países que optam por seguir modelos diferenciados.

Com o tempo, percebi que essa mudança regular dos diplomatas tem todo o sentido. Se bem que, à primeira vista, se possa argumentar que se ganharia em ter as pessoas mais tempo nos postos, aproveitando a sua experiência e melhor explorando as redes de contactos entretanto estabelecidos, a verdade é que se constata que o "refrescamento" dos lugares favorece a assunção de novos olhares sobre a realidade local, evitando a queda em rotinas e vícios de perspetiva. Não raramente, o diplomata que fica muitos anos num posto deixa de "ver" o que entretanto mudou e acultura-se a uma certa leitura dos factos e das pessoas, que pode acabar por afetar a eficácia do seu trabalho. Além disso, a rotação permite um enriquecimento dos diplomatas, através de experiências diferentes, em contacto com outras sociedades e situações, o que constitui um importante fator de formação profissional. Não será por acaso que a generalidade das carreiras diplomáticas segue um procedimento basicamente idêntico.

Mas há exceções. Em 2001, nas Nações Unidas, vi-me um dia confrontado com um caso singular. Tinha chegado há escassas semanas e fiquei sentado, num almoço, ao lado do embaixador do Kuwait. Perguntei-lhe há quanto tempo estava em posto, em Nova Iorque. A resposta deixou-me siderado: "21 anos". Comentei que, assim sendo, deveria ser o "decano" dos embaixadores. Respondeu-me que não, que o colega do Iémen estava por lá há ... 28 anos!

Mal eu sabia então que, no meu caso, iria ficar por Nova Iorque apenas cerca de ano e meio...

8 comentários:

patricio branco disse...

28 ou 21 é muito ano, sem duvida, e lá continuarão possivelmente...

Isabel Seixas disse...

já era
Como o tempo passa...

Com o tempo,
novos olhares
fomos criando

por acaso
regra vulgar
há exceções

caso singular
há quanto tempo

"decano" dos embaixadores

estava por lá
ia por lá ficar

Anónimo disse...

Os seus colegas "estabelecidos" nessa grande instituição vinham de países do antigo Império Otomano e depois de uma presença anglo-saxónica muito forte. Os países estão em pontos estratégicos e sensíveis às "andanças" do petróleo... tudo isto para lhe dizer que se calhar andam por lá a tratar de outros negócios à pala do posto, enquanto o nosso Embaixador estava sómente pelo posto em si mesmo. São uns James Bond na América ao serviço de algumas magestades. Quem sabe?

Isabel Seixas disse...

Desculpe Sr. Embaixador, por lapso, não lhe paguei os direitos de autor na citação dos excertos do seu post.

Falta no fim a referência
In FSC"Decanato"

Anónimo disse...

maJestade, car@ anónim@ às 11:58!
:)
xg

Guilherme Sanches disse...

Nova Iorque, um ano e meio.
Como num anúncio que aqui passa muito, de um tipo a deitar fumo pelo cabelo:
- é! é espetacular!

Um abraço

Guilherme Sanches disse...

Nova Iorque, um ano e meio.
Como num anúncio que aqui passa muito, de um tipo a deitar fumo pelo cabelo:
- é! é espetacular!

Um abraço

Helena Oneto disse...

Nem o Senhor Embaixador sabia nem ninguém imaginava que a sua missão nas NU pudesse ser interrompida nem da maneira como o foi. Pior ainda é verificar-se que esse tipo de erros, digamos, estratégicos, são recorrentes.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...