quarta-feira, outubro 03, 2012

Voos

Já não passava pelo aeroporto de Frankfurt há alguns bons meses. Ontem, ao perder por ali algumas horas, esperando ligação para um destino bastante distante, cruzei-me mentalmente com um tempo em que, invariavelmente, por lá andava quase todas as terças-feiras, a caminho de Lisboa, vindo de Bruxelas, em anos em que, nesse dia da semana, não havia voo direto ao fim do dia e em que eu tinha a negociação do tratado de Amesterdão sob a minha responsabilidade.

Frankfurt é um dos mais movimentados aeroportos do mundo e, com a sua dimensão, tornou-se hoje extremamente desconfortável, não obstante a inegável eficácia do serviço que presta. As distâncias a percorrer são imensas e há um "stress" no ar que não é nada saudável. 

Ao andar por aqueles longos corredores, foi inevitável recordar o cansaço daqueles fins de tarde dos anos 90 e, em especial, o padecimento por que passava um colaborador e grande amigo meu, hoje embaixador num "hotspot", cujo perfil físico sempre causava insuperáveis suspeitas aos homens da segurança, que o obrigavam, para gozo dos restantes acompanhantes, a um "strip-tease" num reservado, do qual saía a bufar, com imprecações impublicáveis e comentários que faziam regressar os alemães a tempos por eles esquecidos.

Assim, ao calcorrear aquele aeroporto, por áreas bordejadas daquilo que para alguns ainda são tentações consumistas, dei comigo a dar graças por ter-me libertado, de há muito, da vida de viajante aéreo regular. Ainda me recordo do tempo em que viajar e passar por aeroportos tinha um certo "glamour" e funcionava como um sedutor choque de cosmopolitismo. Hoje, com a hiper-segurança, com as limitações e os controlos, viajar de avião tornou-se numa grande chatice. Por vezes inevitável, como ontem me aconteceu. 

10 comentários:

gherkin disse...

Uma boa razão para se pugnar pela extensão do Eurostar! Concordo plenamente, com os longos corredores do aeroporto de Francoforte por mim também há muito frequentado com os inúmeros convites do Ministério de Defesa Britânico para assistir às manobras da BAOR estacionada na então Alemanha Federal. Bons tempos, meu caro. Abraço

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Por motivos que nem a uma bruxa lembrariam, passo hoje com frequência por esse aeroporto.
Hoje viajar de avião na Europa é um verdadeiro martírio com as medidas de segurança que por uma qualquer má razão sempre me escolhem como possível bombista. É certo e sabido que só nua o raio da máquina não apita quando passo nela.
A sua descrição é completa. Até o ar está pesado nessa imensa garagem!

patricio branco disse...

que maravilha os aeroportos do funchal e ponta delgada e os voos entre madeira e lisboa ou madeira açores

patricio branco disse...

uma vez fiz escala em frankfurt num 24 de dezembro às 7 da tarde, não havia praticamente voos nem gente no aeroporto quase deserto. mas cheguei ao destino, um voo curto, a boa hora para o jantar de natal

Anónimo disse...

Ai, que horror! E o de Singapura? Os Km's que é preciso fazer para encontrar a salita dos fumadores!

Anónimo disse...

o de budapeste é lindissimo...


Anónimo disse...

http://expresso.sapo.pt/5-de-outubro-so-por-convite=f758014

margarida disse...

A primeira vez que aterrei em Frankfurt, fui recebida com um ramo de apaixonadas flores.
Inesquecível, pois.

Isabel Seixas disse...

Chatice mesmo, quando não se quer voar...

ARPires disse...

De Francoforte ou Frankfurt, só conheço mesmo esses enormes corredores. Quero no entanto realçar aqui a minha admiração, pelo serviço então prestado no aeroporto, quando no sistema de som, surge para grande surpresa nossa, e na língua de Camões, todas as informações tidas como necessárias/suficientes à nossa tomada de transporte de regresso a casa.
Pensei e disse para com os meus botões, isto só mesmo num país organizado como a Alemanha.
Pelo contrário a chegada a Lisboa, era digna de um DOC que a ter sido realizado, ia com toda a certeza ter mais êxito do que o vídeo de promoção do Turismo de Portugal, só que pela negativa.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...