sábado, outubro 20, 2018

História das Arábias


O triste episódio do dissidente saudita assassinado no consulado de Riade em Istambul trouxe-me à memória um episódio com quase 20 anos.

Estávamos, creio que por esta altura do ano, em 1999, em plena presidência finlandesa da União Europeia. Portugal era membro da "troika" e preparávamos então a agenda para a nossa presidência, que teria lugar no primeiro semestre de 2000.

Por esses dias, fui ao Dubai, como responsável português dos Assuntos Europeus, com a ministra finlandesa dos Negócios Estrangeiros, Tarja Halonen, para uma reunião ministerial entre os países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) e a UE. O CCG tem como país mais importante a Arábia Saudita, incluindo ainda o Bahrein, o Kuwait, o Omã, os (sete) Emirados Árabes Unidos e o Qatar - este último, nos dias de hoje, em crise política com os restantes, em especial com a Arábia Saudita.

Dos então Quinze países da UE, menos de uma meia dúzia decidira fazer-se representar a nível de membros do governo. Isso foi "premiado" pelas autoridades do Dubai com a oferta do nosso alojamento no fabuloso Burj Al Arab, um hotel em forma de vela, de 7 estrelas, então aberto há muito escassos meses. Os delegados dos países que haviam decidido fazer-se representar por embaixadores ou altos funcionários foram colocados numa unidade hoteleira bastante mais modesta.

A agenda de relações externas prevista para a nossa futura presidência era bastante ambiciosa, mas tinha pouca expressão na área do Médio Oriente. O tema veio à baila numa conversa minha com o MNE do Oman, que eu já conhecia de uma anterior reunião, dois anos antes, em Mascate. "Portugal tinha toda a vantagem em organizar uma reunião com o Conselho de Cooperação do Golfo para o ano. Sabemos que vocês têm uma especial sensibilidade para esta região", disse-me o ministro Al-Zawawi (que está no cargo desde 1997!). Fiquei a pensar no assunto, durante os três dias de passados no Dubai. Chegado a Lisboa, "vendi" a ideia a Jaime Gama e, oportunamente, avisámos os nossos parceiros. A reunião UE-CCG far-se-ia nesse primeiro semestre de 2000.

Hoje, tenho fortes dúvidas sobre se foi uma boa ideia.

Na soturna sala do Justus Lipsius, em Bruxelas, em que nos reunimos, meses mais tarde, com o grupo de ministros do Golfo, todos com trajes brancos que, à nossa vista, pareciam idênticos, que já nos haviam obrigado a um penoso almoço acompanhado de sumos e águas minerais, a discussão, para além de temáticas económicas, acabou por cair, a certo ponto, em temas de Direitos Humanos.

Havíamos tido o cuidado de atentar bem nas notas que o Secretariado-Geral do Conselho nos preparara e Jaime Gama, que presidia pelo lado da UE, adotou uma linguagem de medida firmeza: era preciso não nos afastarmos do "discurso" europeu, mas cada presidência podia adaptá-lo com maior ou menor sabedoria. As mesmas coisas podem dizer-se de formas diferentes. E nós sabíamos fazer isso muito bem, sem a menor perda de eficácia. Mas não podíamos evitar, da parte de algumas delegações, que surgissem intervenções bastante "maximalistas" no tom. E isso veio a acontecer. Alguns ministros que não tinham ido ao Dubai, poupando então a presidência finlandesa, "vingavam-se" ali e dificultavam o nosso exercício. 

A reunião, a partir de certa altura, acabou por ser o bom e o bonito! O lado árabe, capitaneado pela Arábia Saudita, reagiu violentamente a algumas das intervenções, invocou "ingerência" nos assuntos internos da região e a reunião descambou num "bate-boca" tenso e incómodo, de certo modo, diluindo os aspetos positivos que, até então, tinham merecido um confortável consenso, nomeadamente em matéria económica. Jaime Gama, com a placa da presidência da UE à frente, voltou-se a certa altura para mim, que chefiava a delegação portuguesa, com um olhar que tinha a seguinte transcrição semiótica: "Que raio de ideia você teve de incluir esta reunião na nossa presidência!". E tinha toda a razão.

As monarquias do Golfo habituaram-se, desde sempre, a uma grande complacência do mundo ocidental pelas suas práticas, quer em matéria de valores democráticos, quer em termos de Direitos humanos, fruto de uma "realpolitik" com cheiro a petróleo que tem sido a regra do jogo do cinismo internacional. O que agora aconteceu no consulado saudita na Turquia não desmerece a prática anterior. A experiência mostra que, depois de alguns sobrolhos carregados, o mundo euro-americano regressará por lá, à cata de encomendas e de bons negócios, colocando os princípios e os valores nos parêntesis da conveniência. 

sexta-feira, outubro 19, 2018


O Sport Clube de Vila Real, o clube da minha terra, que esta noite defrontou o Futebol Clube do Porto para a Taça de Portugal, comemora proximamente 100 anos da sua existência. 

Honra à mais antiga agremiação desportiva de Trás-os-Montes!

Notícias do absurdo


Eram os tempos da eleição presidencial brasileira de 1989. Por um acaso, eu estava de férias no Rio de Janeiro e vivia fascinado com o espetáculo televisivo dos tempos de antena, que, naquele país, têm uma extensão temporal equivalente ao peso relativo dos partidos que apoiam cada candidato. Recordo-me bem de um dentista barbudo, chamado Enéias, que surgia por breves segundos, só tendo tempo para dizer: “Meu nome é Enéias!”

À época, estava em construção a imagem vencedora de Collor de Mello, um candidato sob os favores televisivos da Globo, que o transformava em “mais igual” do que outros. Entre estes, avultava a imagem do líder sindical Lula da Silva, uma figura de discurso engrolado, fácies grave e léxico agressivo. Longe vinham ainda os tempos de 2003, do Lula “paz e amor”, da “carta ao povo brasileiro” que seduziu os meios económicos e lhe faria ganhar o caminho de esperança para o Planalto.

Nesses dias de outubro de 1989, o então cônsul-geral de Portugal no Rio, José Stichini Vilela, convidou-nos para um almoço de domingo, a que estava presente um importante empresário brasileiro. A conversa derivou, a certo passo, para a segurança, ou melhor, para a insegurança - nesses tempos ainda a anos-luz da tragédia que hoje o Rio atravessa. 

O empresário contou que residia numa moradia num ponto alto da cidade, próxima de uma conhecida favela. À nossa curiosidade sobre a sua relação com a vizinhança, esclareceu que tinha, com os líderes daquela comunidade, uma espécie de “gentlemen’s agreement” que, em princípio, o isentava de riscos. Mas contou-nos que, à revelia desse “acordo”, a sua casa fora um dia assaltada. O empresário contactou então os seus interlocutores na favela que, surpreendidos e desagradados, prometeram atuar. E assim aconteceu: “Em poucos dias, apareceu tudo o que fora roubado”, referiu. E, com voz indiferente, isenta de emoção, acrescentou, em jeito de detalhe: “Ah! E os corpos dos bandidos também...” À volta da mesa, algumas faces gelaram, perante a naturalidade assumida da “vendetta”. Mas não, ao que me pareceu, as dos convivas brasileiros.

A ditadura militar, que marcara os dias do Brasil por duas décadas, até quatro anos antes, mantinha-se então viva, e bem positiva, na memória do empresário. Como o estava na de Jair Bolsonaro, que agora vai ser o próximo presidente do Brasil e que curiosamente seria eleito pela primeira vez para um cargo público, no sufrágio desse ano. O regime que perseguiu, prendeu, torturou e matou muitos brasileiros, colando as suas instituições às que padronizaram a vida latino-americana de então, manteve sempre os seus defensores no país. 

Pensava-se, porém, que seria um sentimento minoritário, residual, desaparecido sob as vantagens da democracia. A perceção destas não foi, contudo, suficiente para contrabalançar os medos, as inseguranças, as raivas e a desilusão, capazes de credibilizar uma aposta no absurdo. Se, há uns anos, uma presidência desta natureza iria provocar, pela certa, uma reação escandalizada do mundo, hoje os tempos mudaram e o absurdo tornou-se no novo normal.

quinta-feira, outubro 18, 2018

Gostos e desgostos


A excelente palestra sobre o Gosto que José Bento dos Santos, o indiscutível “papa” da Gastronomia portuguesa, nos fez ontem ao final da tarde de ontem no Grémio Literário, foi um momento muito interessante e instrutivo. Houve várias “experiências” práticas propostas aos participantes, desde molhos mais ou menos “históricos” (dos usados na Idade Média a sabores contemporâneos mais comezinhos) à prova de pães de diversa natureza - da textura à acidez, sublinhando a prevalência em cada um deles de vários componentes. 

A fala terminou com um interessante teste de aferição da variação do gosto dos presentes. Bento dos Santos dividiu os presentes na sala em três grupos, aos quais apresentou outros tantos produtos culinários. Cada um dos grupos só provaria um desses três produtos e, sobre essa sua experiência, cada pessoa deveria fazer, num boletim distribuído para o efeito, uma cruz, numa das três hipóteses: “excelente”, “razoável” ou “horroroso”. O primeiro produto era qualificado como um gelado, o segundo tinha um nome cabalístico do tipo XPTO e o terceiro, que me coube experimentar, era uma mousse fria.

O gelado foi um insucesso: muitas poucas pessoas o consideraram “excelente” e os votos no “horroroso” foram bastantes. O XPTO também não teve muita sorte mas, apesar de tudo, foi aprovado à tangente, somados os “excelente” e os “razoável”. Mais sorte teve a mousse que provei, onde os “excelente” ganharam por larga margem.

No final, José Bento dos Santos revelou: todos tínhamos comido exatamente a mesma coisa! Só o nome variava e, exclusivamente por essa razão, pela adequação do sabor à diferente expetativa criada pelo nome, as pessoas tinham gostado, mais ou menos, desse mesmo produto - uma espécie de pasta de salmão. Curioso, não é?

quarta-feira, outubro 17, 2018

Remodelar


É curiosa a expressão que, entre nós, qualifica as mexidas nos governos. “Remodelar” parece significar a adoção de um novo “modelo”, literalmente uma retificação do anterior, como se as mudanças configurassem, não a descoberta de pessoas para melhor servir o modelo que já lá estava, mas sim construir, com as recém-chegadas, um formato renovado.

Em inglês, “reshuffle” parece mais divertido: é tornar a “baralhar”, numa lógica de um novo conjunto para um novo começo, como num caleidoscópio. Em francês, o conceito é mais burilado: “remanier” acarreta um “manuseamento” por quem detém os cordelinhos dos atores da peça. Mas, no fundo, é tudo a mesma coisa.

As remodelações, ocorram pelos motivos que ocorrerem, fazem parte do dia a dia dos governos. A imprensa fica furibunda quando as não prevê, mas adora-as: especula sobre elas, aponta-lhes candidatos, para as saídas como para as entradas. Uma remodelação é uma festa mediática, presta-se a intrigas, os lóbis funcionam nos seus bastidores. E, entre nós, tem uma regra quantitativa: substituir um ministro ou dois não configura uma remodelação. Nem mesmo três. Mas quatro, já é! Exatamente como as “goleadas”, no futebol.

Sempre entendi que uma remodelação nem sempre é a confissão de uma aposta falhada. Alguns ministros podem ter correspondido ao que deles se exigia. A mudança pode significar apenas que se esgotou o seu tempo útil na governação e que, perante uma fase subsequente na aplicação das políticas públicas para o setor, uma cara fresca permite ganhar tempo, suscitar expetativas, diluir temporariamente a pressão. É que as caras “gastam-se”, os discursos cansam e, mesmo sem o registo cínico do “Leopardo”, às vezes é preciso que alguma coisa mude para que tudo continue na mesma.

Ficou célebre, no Brasil, a história de um não-convite para um governo, numa anunciada remodelação. Alguém havia alimentado a esperança de integrar o executivo. A imprensa já dava o convite em letra de forma, os amigos do visado felicitavam-no por antecipação. Só falhava um “detalhe”: o diabo do convite tardava em surgir. O potencial governante decidiu não fazer esperar a sorte e foi falar com o titular do poder. Este, franco, disse-lhe que, na realidade, nunca tinha pensado nele para o tal cargo. O homem caiu das nuvens! Ia ser um vexame! A família, os amigos, que horror! O chefe do executivo sugeriu uma solução: à saída da audiência, o nosso homem diria à imprensa que tinha sido convidado mas que decidira recusar... E assim foi!

terça-feira, outubro 16, 2018

Há um ano


15 de outubro de 2017, domingo. O telefonema surgiu ao final da tarde: um familiar, bastante doente, acabara de falecer, numa cidade do norte. O funeral seria no dia seguinte. Com duas outras pessoas, parti de Lisboa, pela A8/A17. O tempo estava abafado, muito quente, ventoso. A espaços, começámos a observar clarões, visivelmente de incêndios, num horizonte que, progressivamente, se foi aproximando de nós. Liguei a rádio: música e conversa fiada. A certo ponto, perto da zona do pinhal de Leiria, as chamas aproximavam-se da estrada. Uma viatura de assistência corajosamente ali estacionada dizia para abrandar, mas a vontade era acelerar, para tentar fugir logo daquilo. Senti o vidro do meu lado a aquecer, embora as chamas estivessem bem para além da faixa de rodagem contrária, mas não falei disso a ninguém. Subitamente, porém, vimo-las já do outro lado da estrada, isto é, do nosso lado. Só podíamos prosseguir, ziguezagueando às vezes um pouco, com algum risco, para fugir ao calor das matas ardentes que dava a ideia que iam cair sobre a estrada, com as chamas arrastadas pelo vento. Havia faúlhas incandescentes, que pairavam à nossa frente. O ar adensava-se já dentro do carro, com forte cheiro a queimado. Comecei a ver a inquietação subir nos meus parceiros de viagem. A certo ponto, porém, durante algum tempo, as coisas deram ar de estar a acalmar. Haveria incêndios mais a norte? A rádio, repito, continuava na sua inconsciência lúdica. Não passaram, contudo, muitos mais quilómetros quando, de novo, em dimensões que iam variando mas não diminuindo, novos fogos iam surgindo. A ideia, sugerida por alguém, de comprarmos água, numa estação de serviço, num espaço que parecia menos afetado, depressa foi abandonada: o que era preciso era sair daquela zona, tão rapidamente quanto possível. Foi então que, de um momento para o outro, como se as coisas não estivessem já muito preocupantes, tudo se agravou imenso. Dos dois lados da estrada iam surgindo, em ritmo galopante, novos fogos, soprados por ventos, que se aproximavam dos carros, num baile vermelho, imprevisível e de quase terror. Eu tentava gracejar, no meio dos nervos, “explicando” que se havia cenário para utilizar o termo “dantesco”, usado pelos jornalistas sem imaginação, era mesmo aquele. Mas começava a haver fumo por todo o lado, o ambiente tornava-se dificilmente respirável, os vidros escaldavam, comecei a temer pelo estado dos pneus. Conduzia já com escassa visibilidade, com os outros carros por bem perto, agora com um forte receio de bater noutra viatura. Se houvesse um acidente, impeditivo de prosseguir, que nos aconteceria? Eu fazia das tripas coração, tentando transmitir uma confiança que não tinha, a quem ia comigo. A falta de informação da rádio continuava angustiante. Sair da estrada, numa próxima oportunidade, podia ser uma solução ou condenar-nos-ia a um destino idêntico ao das pessoas que, em julho, tinham morrido num túnel de fogo numa via secundária? Que estradas não estavam então utilizáveis? Sem o deixar transparecer, comecei a ficar já sem saber bem o que fazer, temendo que continuar na auto-estrada deixasse de ser uma opção sensata. Foi então que, finalmente, uma milagrosa brigada da GNR nos travou o caminho e indicou uma saída, na direção de Vagos. Eram, contudo, muitos os carros que por ali iam sendo encaminhados, andando a imensa fila num ritmo muito lento, às vezes com largas paragens, que nos deixavam inquietos, não fosse o fogo aproximar-se. Isso não veio a suceder, felizmente. Demos uma grande volta, mas lá conseguimos atingir um caminho seguro, sem fogos. Chegámos muito tarde ao norte. Vivos. No dia seguinte, um dia triste por razões de morte, o cheiro a queimado, impregnado no carro, recordava a angústia da véspera. Que noite! Não vou esquecê-la nunca!

segunda-feira, outubro 15, 2018

Paris, em meia dúzia de notas (6)


Custou um euro e meio, num alfarrabista no boulevard St. Michel, na manhã de domingo. É um livro de Marie-France Garaud, de 2006. Muitos leitores deste espaço não devem fazer ideia de quem foi. Quem seguiu a vida política francesa, em especial o movimento gaullista pós-De Gaulle, lembra-se bem do “tandem” conspirador que ela fez com Pierre Juillet. 

Marie-France Garaud chegou a ser considerada a mulher mais influente de França. Era uma “viúva” de Pompidou, uma estratega contra Mitterrand, que apoiou Giscard d’Estaing “faute de mieux”, pelo ódio a Chaban-Delmas (o Lisboa-Porto, em França, tem o seu Paris-Bordéus. Alain Juppé que o diga!). Protegeu Jacques Chirac, de quem se afastou com a definição lapidar: “Eu pensava que Chirac era feito do mármore de que se fazem as estátuas. Afinal, é feito da faiança de que se fazem os bidés...”. Teve o “desplante” de tentar concorrer às eleições presidenciais de 1981 (obteve pouco mais de um por cento...), passou depois à França anti-europeia mais radical, ao ponto de vir a apoiar Marine Le Pen, em 2017.

O livro é um expressivo manual de perfídia, que ajuda a perceber os truques e as artimanhas da França conservadora - que tentou atrasar, sem sucesso, as ascensão ao poder da esquerda, em 1981. Dou-me conta de que nunca tinha lido nada desta fantástica “operacional” da política reacionária e, devo dizer, é um texto muito bem escrito. E eu gosto muito de ler livros com que sei que não vou concordar e que pouca gente lê...

Assumo-me como um “dependente” da história política da França contemporânea (como o sou da britânica, da espanhola, da americana e da brasileira - e de mais nenhuma!) e dou comigo a pensar da imensa “sorte” que tive, durante os anos em que por aqui trabalhei, de ter tido os meus dias muito ocupados e sem grandes “escapadelas” para pesquisas de bibliografia lúdica. Ai de mim, se tivesse tido tempo para me “atulhar” destes livros, ao “preço da chuva”, dos “bouquinistes” às vendas a retalho, sobre essas décadas que me interessam imenso. Agora, dentro da reforma, posso dar-me a estes “luxos”, por €1,50... Desde que caibam na mala!

Na esplanada em que ontem almoçava, num dos mais deliciosos fins-de-semana em Paris neste ano, com sol e calor qb, notei que um cavalheiro idoso (isto é, mais ou menos da minha idade), da mesa ao lado, me olhava com circunspecta curiosidade. Por que diabo, devia estar ele a perguntar-se, um tipo de cabelos brancos, pela certa estrangeiro (a minha pronúncia não engana), lia um livro, com mais de uma década, da autoria Marie-France Garaud, dele citando em francês passagens a quem o acompanhava? O homem estava visivelmente perplexo. Tinha uma comenda da Ordem de Mérito, no blazer azul forte, com lencinho vermelho com motivos, a pingar do bolso. Deixei-o no mistério. Afinal, intrigar gente claramente de direita constitui para mim, desde há muito, um bom e justo objetivo de vida.

Paris, em meia dúzia de notas (5)


Foi na (quase insuperável livraria) “L’Écume des Pages” que ontem me cruzei com Élie Cohen. E que logo me lembrei (e já explico porquê) do Artur “Kiko” Castro Neves, um amigo que nos dias de hoje me faz muita falta.

Não sou um amigo antigo do “Kiko”. Comecei a “frequentá-lo” na Mesa Dois do Prócópio, creio que nos anos 90, sob a ”tutela” benévola do também saudoso Nuno Brederode Santos. (E, por saudades, naquela mesa, vale a pena deixar a triste lista: Zé Cardoso Pires, Jorge Fagundes, Raul Solnado, Zé Medeiros Ferreira, Simão Santiago, António Dias).

O “Kiko” baixava do Porto, com o seu ”papillon” e o seu sorriso, trazendo para a tertúlia um sopro de frescura nortenha, algum cosmopolitismo e muita graça. Depois de ter vivido muitos anos em Paris, onde se formou e deu aulas, regressou ao Porto, onde lecionava e publicava. Apareceu-me por mais de uma vez no Brasil, onde me apresentou gente de quem me tornei amigo. Em Paris, onde ia visitar a sua mãe, surgia-me a espaços, às vezes com a Isabel, iluminando-me sobre locais da cidade a que, sozinho, eu nunca chegaria. Era uma excelente “onda”!

Um dia, em Paris, convidou-me para almoçar com Élie Cohen, um economista francês de relevo e de renome, há muito seu amigo. Cohen era próximo de Hollande, ainda antes da chegada deste ao poder e foi-me muito útil para perceber o que seria a orientação económica da França pós-Sarkozy. Foi um contacto que, a partir daí iríamos repetir várias vezes, em algumas ocasiões na embaixada. Cohen é uma figura muito interessante, com a vantagem de ser um espírito livre e pouco ortodoxo. O “Kiko”, que o conhecia de há muito e por quem Cohen tinha imenso respeito, desenvolvia com ele conversas que me foram muito úteis. Cohen e eu comungamos as saudades pelo “Kiko” Castro Neves.

(ps - ilustro o post com uma foto do velho “Aux Trois Canettes”, que há muito fechou, lugar a que o “Kiko” Castro Neves gostava de ir - e onde se dava bem com o Alexandre - mas onde, de facto, nunca se comeu muito bem...)

domingo, outubro 14, 2018

Paris, em meia dúzia de notas (4)


Foi muito bom ter tido ontem a oportunidade de proferir, a convite das estruturas comunitárias portuguesas em França, uma palestra sobre a Europa, nas instalações da Câmara Municipal de Paris. Agradeço a Marie Hélène Euvrard a simpatia do seu convite.

Tendo saído de funções na nossa embaixada há mais de seis anos, foi excelente poder reencontrar antigos colaboradores e amigos de outros tempos e de outras ”guerras”. 

Durante mais de uma hora, discutimos os desafios da Europa, os seus problemas e derivas recentes. Não há pessoas mais bem colocadas para entender as vantagens da cidadania europeia do que os portugueses que, por aqui, eram já parte da Europa comunitária antes do nosso país integrar as instituições europeias. Eles sabem, melhor do que ninguém, o valor acrescentado que esse passo político trouxe às suas vidas.

Paris, em meia dúzia de notas (3)


O Patrice, chefe de sala da Lipp, disse-me não ter visto nem ouvido falar de nada. Na noite de ontem, ficou muito surpreendido quando eu lhe contei que o “Figaro” trazia, nessa manhã, a história dos reis da Suécia que, há dias, ali teriam surgido, sem reserva, à hora de almoço.

Ao que parece, há muito que a Lipp não via realezas por lá, mas a sabedoria imediata de quem por lá reinava, na hora, terá de imediato encontrado uma solução e uma excelente mesa. Talvez a mesma de que Mário Soares muito gostava e que sempre me era mais fácil obter quando, na reserva, eu dizia que ia com ele. Não por acaso, imagino, a mesma de Mitterrand. Como manda a regra, “à tout seigneur, tout honneur”. Republicano ou monárquico.

Paris, em meia dúzia de notas (2)


O episódio sinistro do jornalista saudita que um comando enviado de Riade terá feito desaparecer, há dias, de um consulado da Arábia Saudita na Turquia faz recordar o rapto, e o subsequente assassinato, de Ben Barka, o oposicionista marroquino que, em 1965, foi preso à porta da Brasserie Lipp, com a posterior cumplicidade dos serviços secretos frances. A imagem de Marrocos veio a sofrer bastante com esse facto e só podemos desejar que a da Arábia Saudita, e da sua polémica nova liderança, não venha a escapar à crítica internacional, para além dos efeitos de tensão que o episódio já induziu no eixo sunita.

Durante anos, nas grades das escadas para o parque de estacionamento, entre a Lipp e o Flore, estava a placa que deixo na imagem. Ontem, passei por lá e o memorial tinha desaparecido. Que estranho! Espero que não seja já um efeito de “realpolitik” acomodatícia.

sábado, outubro 13, 2018

Paris, em meia dúzia de notas (1)


O museu d’Orsay tinha aberto há muito pouco tempo. Estávamos na segunda metade dos anos 80. Eu andava numa breve passagem por Paris e tinha grande curiosidade em perceber como é que naquela antiga estação de caminhos de ferro tinham sido acomodados os impressionistas que já não cabiam na l’Orangerie, o espaço das Tulherias, hoje com um destino híbrido. 

De repente, vi dois cavalheiros (conhecidos, mas apenas de vista) de braço dado. Eram figuras portuguesas. Um deles, que se movimentava já com alguma dificuldade, era Azeredo Perdigão, o homem a quem o nosso país deve a Gulbenkian - para mim uma das personalidades portuguesas mais marcantes do século XX. O outro, que o orientava pelo novo museu, era um homem fascinante: José Augusto França. Historiador de arte, mas não só: memorialista, ficcionista, homem dos sete instrumentos culturais, que tive o privilégio de conhecer e que, infelizmente, nos dias de hoje, passa, aqui em França, onde reside, por um período muito difícil de saúde.

Lembrei-me de ambos, ontem, com admiração e respeito, quando voltei (volto lá, de dois em dois anos, para “lavar os olhos”) ao Museu d’Orsay, desta vez para ver algum Picasso, parte do qual nunca esteve no seu museu do Marais (agora renovado, e que também vale muito a pena visitar).

sexta-feira, outubro 12, 2018

RTP

Integro, desde há uns meses, o Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, órgão responsável pela definição das orientações estratégicas que a empresa deve observar, em especial das suas obrigações de serviço público, bem como pela designação do respetivo Conselho de Administração. 

Sou também, enquanto simples cidadão, um espetador, tanto quanto possível atento, da generalidade do panorama audiovisual português. 

Nessa singela qualidade, ainda antes de ingressar no CGI, tinha formado a opinião de que a informação da RTP, estando muito longe de ser ideal, era - para mim, sem a menor sombra de dúvida - a mais equilibrada e isenta existente em todo o panorama televisivo nacional, muito em especial nos últimos anos. O CGI não intervem minimamente na condução dessa informação, mas entendo que os seus membros, como é o meu caso, não estão impedidos de, a título pessoal, a apreciarem.

Estes anos foram aqueles em que Paulo Dentinho, que agora abandona a direção de informação da RTP, por virtude de um incidente que, embora inultrapassável e ao que parece claramente impeditivo da sua continuidade em funções, mas que rigorosamente nada tem a ver com a produção noticiosa da estação, foi por esta responsável. 

Naturalmente que, por essa razão, funciona a crédito de Paulo Dentinho, bem como de colaboradores que escolheu para com ele trabalharem, a qualidade de muito daquilo que a RTP fez, desde essa altura, em matéria de informação. E esse é um património que deve e tenho a certeza que vai ser preservado.

Isso deve ser-lhe reconhecido, nesta hora de fim de ciclo, porque joga em favor do seu profissionalismo, do seu sentido deontológico, do grande repórter televisivo que sempre foi e que, seguramente, continuará a ser, para benefício de todos nós, nas funções e tarefas que o seu futuro na RTP estou certo lhe destinará.

Quero aproveitar esta nota para destacar que a RTP tem sido a “bête noire” daquilo que é a sua concorrência no panorama audiovisual português, em sinal aberto ou no cabo. Posso estar equivocado, mas creio que, se acaso dependesse da vontade desta, com certeza que a televisão pública já não existiria.

Talvez por isso, mantêm-se hoje, em especial na imprensa dependente de algumas das empresas que controlam meios televisivos privados, colunas regulares de denegrimento especializado contra a RTP, nas quais, quase diariamente, se procura vilificar o trabalho da televisão pública e dos seus colaboradores. Julgo que era preciso dizer isto, alto e bom som, porque o não tenho visto constatado com a necessária frontalidade.

O mais pequeno sobressalto interno na RTP é hoje explorado e potenciado, como se de uma imensa crise existencial da empresa se tratasse. Nomeadamente, vejo combatido, com escandalosa demagogia, o princípio do custeio do serviço público de rádio e televisão através da taxa incluída na fatura energética - escondendo que a RTP custa ao contribuintes portugueses uma fração ínfima daquilo que é praticado pelos seus congéneres estrangeiros, que a RTP tem apenas metade do tempo de publicidade que por cá é permitido aos operadores privados, com limites absurdos neste domínio na TDT, que a empresa suporta as obrigações estratégicas que o país tem perante a África e no quadro do seu serviço internacional (coisa que não se passa noutros países), e que os canais de rádio, portugueses e universais, mantidos pela RDP, neste caso sempre sem recurso a qualquer apoio de publicidade, prestam hoje um inestivável serviço ao país, às suas relações externas e às diversas culturas que se expressam em língua portuguesa.

E, convém lembrar, porque alguns parece que teimam em esquecer, que, em incumprimento daquilo que a lei postula, a “contribuição audiovisual” não tem sido atualizada à luz da inflação e o Estado não tem feito o reforço do capital da empresa a que está obrigado. Pena é que a Assembleia da República persista em manter, sobre este assunto, um estranho silêncio.

Como cúmulo da atenção negativa sobre a RTP, há hoje por aí alguns cronistas/jornalistas, alguns na indisfarçável nostalgia de tempos em que estiveram avençados pela RTP, que fazem do ataque à RTP e ao próprio princípio do serviço público audiovisial o seu “fond de commerce” e de ácido comentário. Trata-se de um “jornalismo” estranho, bizarro, que será facilmente identificável em algumas reações que este meu post virá com certeza a suscitar, bem como na exploração que o caso ocorrido com Paulo Dentinho, mobilizará, com toda a certeza, nos próximos dias.

Tem isto alguma importância? Na realidade, nenhuma! Mas é um sintoma que não deixa de ser preocupante, revelador de um país que vive mal com um setor que representa, com toda a liberdade e equilíbrio, o interesse coletivo e público que é comum a todos nós.

Seria mais fácil, e até mais cómodo, não escrever o que acabo de escrever? Seguramente. Mas entendo ter o direito de, de uma vez por todas, chamar os bois pelos nomes e o dever de não fugir à verdade das coisas, doa a quem doer. E entendi - repito, a título exclusivamente pessoal - que esta era a ocasião adequada para o fazer.

quinta-feira, outubro 11, 2018

Estrangeiro


Ontem, num gesto de rotina, perguntei a alguém se queria alguma coisa do “estrangeiro”, para onde parto daí a pouco. A resposta foi natural: “Não, obrigado. Já há cá tudo e, se não houver, manda-se vir pela Amazon ou diretamente das lojas”.

De facto, o mundo do comércio mudou muito, já há tudo em toda a parte. Há uns tempos, passeei por Tallin, na Estónia, numa tarde, a “fazer horas” para o avião. Com exceção de imprestáveis lojas de artesanato e de inúteis livrarias numa língua rara, as marcas comerciais eram-me quase todas familiares. Flanar ali num shopping, para escapar ao frio da rua, acabou por ser um imenso e bocejante “déjà vu”. E se atravessasse a fronteira para as terras do “amigo” russo, o panorama comercial não variava muito.

Dei então comigo a pensar o “mundo” fantástico que, nos anos 60, era o da pequena localidade de Verin, na Galiza, perto de Chaves, onde se ia, de Vila Real, uma vez por ano, pela festa do Lázaro. Aquela vilória, hoje sem o menor interesse, era então um deslumbre de coisas “diferentes” das nossas. Quantas inutilidades por ali comprei, a contar as pesetas que o meu pai me dava para “extravagâncias”!

Hoje, lembrei-me da Mothercare, umas lojas de roupa de criança que havia em vários locais de Londres (a maior era em Tottenham Court Road, creio) e que, imagino pela diferença face ao que por cá então existia, se tornou na coqueluche da minhas amigas portuguesas, nos anos 70. Sempre que ia a Londres (e ia bastantes vezes a Londres, sei lá bem porquê), era certo e sabido que levava encomendas, feitas de uns “códigos”, que eu, meio sem jeito, passava às empregadas da loja. Depois, vinha de lá atulhado de roupa e acessórios para bebés. Há dias, num “site” sobre retalho, que agora consulto por razões profissionais, li que a Mothercare está em grande dificuldades. Acontece aos (que foram os) melhores.

quarta-feira, outubro 10, 2018

Meu caro amigo...


O meu Brasil, como você sabe, já é antigo. Começou por me chegar nas latas de goiabada que primos já com sotaque nas vogais nos mandavam, nos exemplares das Seleções (isso mesmo, já sem “c”) onde testávamos os “Flagrantes da Vida Real”, ainda antes de por aí terem deixado de ter graça as “Piadas de Caserna”. Ri muito com o Amigo da Onça, com o Juca Chaves, com o Jô e outros tantos, portadores geniais do sorriso do tal país cordial que alguns de vocês sempre rejeitaram como retrato. Com as novelas e alguma cinematografia, comecei um dia a entender que também se chorava em “brasileiro”, que nem tudo era “dia de luz, festa de sol, um barquinho a deslizar no macio azul do mar”. Nos 23 Estados brasileiros que visitei (são 27, não é?), pude apreciar a grandeza da vossa esperança, a diversidade da vossa gente, a brasilidade que a todos marca os genes. Li - li muito! - da vossa extraordinária literatura, do romance aos poetas e aos cronistas do quotidiano. Passei muitas horas nas vossas universidades, com gente de grande qualidade, figuras de excelência que pedem meças no mundo académico global. Por noites infindas, em botecos ou tertúlias, entre copos de amizade, discuti convosco o vosso/nosso dom Pedro – mas também o pai João que aí se fez rei e a espanhola que lhe queria trocar as voltas. E, com a abertura que só vocês permitiriam, afrontei por escrito, com desassombro quase pouco diplomático, uma lusofobia que ainda espreita em algumas esquinas do preconceito. Mas, sempre, gozando do espírito de tolerância, do debate contraditório, com admiração por um país que sempre vi eternamente grávido de uma saudável esperança no futuro. Criei por aí uma imensidão de amigos. Exultei com os vossos sucessos, tentei explicar o Brasil a tantos que nunca o perceberam e a outros tantos que nunca o perceberão. Mais do que um posto diplomático, o Brasil foi para mim uma segunda casa, onde quase “I went native”, no maior erro que os diplomatas podem cometer. Falei com gente de todas as lateralizações ideológicas, dos “petistas de carteirinha” aos nostálgicos da “revolução”, como os que vertem lágrimas pelo regime das fardas chamam à ditadura, passando pelos moderados de várias tonalidades. Tentei entender o país, as suas raivas e as suas ambições, os seus medos e as suas angústias. E, claro, vi chegar o que agora por aí têm. De novo com tanto mar a nos separar, só queria dizer-lhe que, vista daqui, a coisa aí está preta, meu caro amigo!

terça-feira, outubro 09, 2018

Jamais!

E aquela figura, acusada de um procedimento errado, que negava veementemente, repetia a quem o queria ouvir:

- Nunca fiz isso e nunca mais volto a fazer!

E chegou longe na vida...

segunda-feira, outubro 08, 2018

O craque insuspeitado


O escritor Hélder Macedo é um contador de histórias admirável. Há dois dias, durante uma viagem de automóvel que fizemos, recordou os tempos em que, para além do trabalho docente na universidade, em Londres, colaborou com o serviço português da BBC.

Em 1962, o Benfica foi a Inglaterra jogar com o Tottenham. A equipa integrava dois famosos jogadores de quem tinha sido amigo e companheiro de “peladas”, em Lourenço Marques, onde tinha passado a sua infância e juventude: Coluna e Costa Pereira. Segundo o Hélder, nesses tempos já então idos há muito, todos haviam participado em improvisadas partidas de futebol, com a particularidade de Costa Pereira aparecer pelo meio dos jogos, a oferecer-se para “reforçar” a equipa que estivesse a perder...

No final do jogo de Londres, que aliás o Benfica viria a perder por 2-1 face aos “Spurs”, Hélder Macedo foi, pela BBC, ao balneário, para recolher algumas entrevistas. Mário Coluna acolheu-o com grande simpatia, falando-lhe desse velho tempo comum. Também Costa Pereira o reconheceu, dando-lhe um grande abraço e surpreendendo-o com a pergunta insólita: “Ó Helder! Onde é que agora tu estás a jogar?”. 

Hélder Macedo, que me confessou nunca ter passado de um jogador apenas razoável, não deixou de ficar “inchado” com a elogiosa pergunta do grande guarda-redes do Benfica e da seleção.

domingo, outubro 07, 2018

Caballé e Marti


Ontem, morreu a grande soprano Monserrat Caballé.

Um dia dos anos noventa, recebi um convite para ir ouvi-la ao CCB. Numa parte do espetáculo, seria acompanhada da sua filha, Monserrat Marti.

Algumas figuras sociais ficaram numa área reservada. No intervalo, no regresso aos lugares, estava a cena preste a reabrir-se, veio à conversa, no grupo, a questão de saber de onde viria o nome "Marti", da filha de Caballé. 

Pensando fazer uma graça que logo daria lugar a algumas gargalhadas, pelo ridículo da sugestão, adiantei:

- Deve ter sido o resultado de algum "caso" entre a Monserrat Caballé e o revolucionário cubano José Marti...

À minha volta, fez-se um silêncio reverente, prenhe de respeito pelo meu "conhecimento" histórico e biográfico. José Marti viveu no século XIX, tendo morrido em 1895. 

De todos os presentes, apenas Manuel Maria Carrilho fez um largo e culto sorriso de gozo. E eu entrei em silêncio, porque há muito já aprendi que é muito sério brincar com a ignorância.

sábado, outubro 06, 2018

Helder Macedo


No dia de hoje, Helder Macedo recebe o Prémio D. Dinis, pelo seu livro “Camões e outros contemporâneos”. Como seu amigo e admirador, fico muito satisfeito por mais este reconhecimento da valia de alguém que, vivendo há muito em Londres, onde hoje é professor catedrático emérito do King’s College, se converteu numa das mais prestigiadas figuras da cultura portuguesa. Tal como, há quase três anos anos, tive o gosto de estar presente na homenagem que a Universidade de Oxford lhe prestou, também hoje vim a Vila Real para dar ao Helder um forte abraço, celebrando a partilha de uma cumplicidade já de décadas, em diversas dimensões da vida e das ideias. Deixo um beijo a Suzete, que não tendo podido acompanhar-nos nesta jornada celebratória, estará virtualmente connosco, desde Hampstead, neste dia também para ela feliz.

Mateus



A fotografia não é de hoje, os sorrisos sim. 

A Maria Amélia e o Fernando Albuquerque são a “cara” da Casa de Mateus, que constitui o centro da respetiva Fundação - uma estrutura que, com delicada discrição, mas sempre com imensa elevação, presta, há muitos anos, um importante serviço à cultura portuguesa.

O “diálogo” da Fundação da Casa de Mateus com a cidade de Vila Real passou por vários e diversos tempos, na leitura que faço como observador exterior e distanciado, só muito raramente presente ao corpo de iniciativas levadas a cabo. É para mim uma evidência que o saldo do que tem sido feito em Mateus resultou amplamente positivo para a imagem da cidade e da região. 

Deixo aqui - como vila-realense, mas também como português - o meu sincero apreço e admiração pelo trabalho desenvolvido pela Fundação da Casa de Mateus.

O futuro