quinta-feira, outubro 18, 2018

Gostos e desgostos


A excelente palestra sobre o Gosto que José Bento dos Santos, o indiscutível “papa” da Gastronomia portuguesa, nos fez ontem ao final da tarde de ontem no Grémio Literário, foi um momento muito interessante e instrutivo. Houve várias “experiências” práticas propostas aos participantes, desde molhos mais ou menos “históricos” (dos usados na Idade Média a sabores contemporâneos mais comezinhos) à prova de pães de diversa natureza - da textura à acidez, sublinhando a prevalência em cada um deles de vários componentes. 

A fala terminou com um interessante teste de aferição da variação do gosto dos presentes. Bento dos Santos dividiu os presentes na sala em três grupos, aos quais apresentou outros tantos produtos culinários. Cada um dos grupos só provaria um desses três produtos e, sobre essa sua experiência, cada pessoa deveria fazer, num boletim distribuído para o efeito, uma cruz, numa das três hipóteses: “excelente”, “razoável” ou “horroroso”. O primeiro produto era qualificado como um gelado, o segundo tinha um nome cabalístico do tipo XPTO e o terceiro, que me coube experimentar, era uma mousse fria.

O gelado foi um insucesso: muitas poucas pessoas o consideraram “excelente” e os votos no “horroroso” foram bastantes. O XPTO também não teve muita sorte mas, apesar de tudo, foi aprovado à tangente, somados os “excelente” e os “razoável”. Mais sorte teve a mousse que provei, onde os “excelente” ganharam por larga margem.

No final, José Bento dos Santos revelou: todos tínhamos comido exatamente a mesma coisa! Só o nome variava e, exclusivamente por essa razão, pela adequação do sabor à diferente expetativa criada pelo nome, as pessoas tinham gostado, mais ou menos, desse mesmo produto - uma espécie de pasta de salmão. Curioso, não é?

5 comentários:

alvaro silva disse...

Infelizmente por isto se vê quão subjectivo é o gosto de cada um. Tal como na política as pessoas dão uma importância exagerada á palavra e desvalorizam o conteúdo. E em tantas outras coisas,

Luís Lavoura disse...

Experiência muito interessante. Espero que esteja em manuais de psicologia.
Revela que ao fim e ao cabo as lições de culinária do Bento dos Santos pouca utilidade têm, porque é mais importante a expetativa do cliente do que a qualidade culinária do produto.

Anónimo disse...

A influencia determinante da imagem mental da palavra, uau que áreas cerebrais afrodisíacas ativa a palavra mousse para merecer um excelente de tão profissionalizado praticante e decerto indiscutível por idoneidades juri.. Ai

Mousse a textura do macio um engolir sem travo a custo.
Cá pra mim um teste diagnóstico para batismo adequado num grupo de bons consumidores da produto e pronto ficamos então pela mousse de salmão.

E...deve ser boa
1 chávena de molho bechamel,1chávena de maionese,1 chávena de salmão fumado cortado em pedaços pequenos ou triturado na picadora, envolver no liquidificador com milo de azeitonas pretas a gosto(20).levar a congelar numa forma média untada com óleo durante 7h . desenformar 1h antes de servir com tosta(eu gosto da do pingo doce)

Isabel Seixas
1chavena de molho bechamel




Anónimo disse...

Chama-se a isso marketing coisa que ha muito os americanos já perceberam como funciona.

Anónimo disse...

Experimente comer uma pêra com um troço de maçã ao lado do nariz...

Ou sirva uma bebida errada (mas de aspecto similar a outra pedida) a uma pessoa sua amiga.

Uma tribo em africa utiliza a mesma palavra para verde e azul e não consegue distinguir as cores
https://6thfloor.blogs.nytimes.com/2012/09/04/its-not-easy-seeing-green/
https://www.gondwana-collection.com/blog/how-do-namibian-himbas-see-colour/

Também ha aquela versão de ficar a pão e agua (ou similar) durante uma semana e depois darem-lhe um bifinho ou peixinho, vai ter, de certeza, outro gosto!...

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...