sábado, março 07, 2015

Memorabilia diplomatica* (I): Comissões mistas

Naqueles tempos, as chamadas “comissões mistas”, as visitas técnicas de membros dos governos aos seus homólogos de outros países, para assinar ou cumprir acordos, demoravam vários dias, entrecortados de trabalho e de algum lazer. Bons tempos esses!

Estávamos em Marrocos, no início da minha carreira, e eu fazia parte de uma dessas delegações, chefiada por um político jovial e mundano, saído de uma área técnica que não vem para o caso referir.

Acabado o jantar oficial do primeiro dia, em Rabat, o nosso governante chama-me à parte e coloca-me uma questão: “Você é muito mais novo que eu, mas já ouviu falar do caso Profumo?”. Ora eu conhecia bastante bem a história do ministro da Defesa britânico, John Profumo, que, uns bons anos antes, havia caído em desgraça, com grande escândalo público, por partilhar uma amante com o adido militar soviético.

Estranhei um pouco que a curiosidade prosseguisse, numa linha inquisitiva: “E lembra-se do nome dela?”. Com algum gozo, mostrei a minha familiaridade com a intriga política londrina e disse-lhe que ela se chamava Christine Keeler. Ele ficou satisfeito.

Mas o que eu não sabia, e ele logo me revelou com um sorriso cúmplice, é que, segundo informações seguras de que dispunha, Christine Keeler vivia então em Marrrocos, mais precisamente em Casablanca, onde dirigia nada mais nada menos que uma próspera “casa de meninas”.

Chegado a este ponto, o nosso político – que, diga-se de passagem, não foi muito longe na sua carreira governativa – lança-me o desafio: “Meu caro, você é um homem do mundo, lá dos Estrangeiros e agora vai ter de mostrar o que vale. Tem como missão arranjar maneira de, numa destas noites, eu dar um salto lá à “casa” da Keeler. Fale com o protocolo marroquino, eles estão habituados a estas coisas. E você, se quiser, até pode vir comigo. Tome bem nota: é um encontro com a História!”.

Caí das nuvens, confesso. Fiz-lhe ver que, andando nós com batedores, com uma delegação relativamente numerosa e enredados em compromissos oficiais vários, era um pouco delicado e difícil montar uma escapada lúdica daquele porte, para uma cidade a quase uma centena de quilómetros da capital. Mas o nosso político insistia e, praticamente, só não ameaçou queixar-se de mim em Lisboa porque, apesar de tudo, este tipo de tarefas não fazia parte, pelo menos obrigatória, da “job description” dos nossos diplomatas.

A minha discreta missão junto do protocolo marroquino não teve, porém, aquilo que se possa qualificar como um acolhimento entusiasmado. No entanto, para atenuar os fulgores do nosso político, lá se conseguiu para ele um programa alternativo, através de uma espécie de “room service” feminino, que a viúva de um antigo chefe da polícia de Rabat tinha à época instalado para clientes VIP, no hotel onde nos alojávamos. Do mal o menos.

John Profumo morreu já há alguns anos, bem depois no nosso episódico governante. Christine Keeler, que tem hoje 73 anos (na bela foto que reproduzo tinha 19), acabou por ganhar renovada fama, em 1989, com o filme “Scandal“, onde era relatada a sua aventura londrina. Não verifiquei, na autobiografia que publicou, os relatos das suas posteriores noites de Casablanca. Mesmo que o tivesse feito, e graças à minha lamentável imperícia diplomática, eles não poderiam incluir qualquer nota sobre a visita de um fogoso político português, nos idos da década de 70. A menos que outros por lá tivessem andado! Quem sabe?...
* Memorabilia diplomatica : inicio hoje a republicação de historietas diplomáticas já inseridas neste blogue, que o tempo deixou para trás e que, naturalmente, dificilmente serão do conhecimento dos leitores mais recentes. Irei numerá-las à medida da sua republicação, que será feita sem qualquer critério temporal. Usando a frase que as escolas hoteleiras ensinaram a dizer, nos restaurantes, aos miúdos delas saídos, "espero que gostem".

sexta-feira, março 06, 2015

Quadratura do Círculo


Por amiga sugestão de Jorge Coelho, simpaticamente aceite pela equipa da "Quadratura do Círculo", substituí-o na última edição do programa. Agradeço-lhe a experiência. Como diria Américo Tomás, só tenho um "adjetivo" para a qualificar: gostei! 

O convidado foi muito bem tratado pelos episódicos companheiros de mesa. Quem o não terá sido da mesma forma foi o dr. Passos Coelho, sobre quem convergiram algumas críticas fortes, de que pode ver uma amostra aqui. É a vida, repetindo a frase de um seu saudoso antecessor no cargo que ocupa!

quinta-feira, março 05, 2015

"Público"


Hoje, o "Público" faz 25 anos.

Quando apareceu, em 1990. o diário representou uma lufada de ar fresco no panorama jornalístico português, com uma importância quase similar àquela que o "Expresso" teve nos estertores da ditadura - e não será por acaso que o "Público" foi criado por gente saída do "Expresso". O "Público" passou a ser o nosso "Le Monde", o nosso "El País", o nosso "La Reppublica". Era, manifestamente, era um corte cultural com a prática de imprensa diária em que, até aí, Portugal tinha vivido.

Sempre tive no "Público" pessoas que mereceram a minha estima e amizade, ao longo destas duas décadas e meia em que, com as limitações frequentes da distância, acompanho regularmente o jornal. Devo ao "Público" a simpática atenção que deu às diversas atividades que desenvolvi ao longo dos anos. Nele publiquei vários artigos, por ele fui entrevistado algumas vezes. A todos os meus amigos do "Público"-  mesmo àqueles que dele se afastaram há muito, como é o caso do seu fundador e idealizador, Vicente Jorge Silva - deixo aqui um forte abraço coletivo de parabéns.

Por muita água que tenha corrido sob as pontes, por muito que o "Público" tenha mudado, uma realidade é indiscutível: há uma imprensa portuguesa antes do "Público" e outra depois da sua aparição.

Profissionalismo


Ontem à noite assisti a uma demonstração pouco comum de profissionalismo. 

Paulo Dentinho, correspondente da RTP em Paris, fez uma excelente entrevista ao ditador sírio Bashar al-Assad. Com frontalidade, sem deixar de colocar todas as questões pertinentes, Dentinho conseguir conduzir, com extremo profissionalismo, um diálogo de onde nunca transpareceu a menor subserviência. Domínio dos assuntos, profundidade nas questões, assertividade na colocação dos temas.

Uma entrevista deste tipo é um poço de riscos. Deixar de colocar questões essenciais seria uma prova de tibieza e poderia ser vista como um "frete", como uma espécie de compensação pela obtenção deste raro "furo" jornalístico. Paulo Dentinho não se deixou cair nessa ratoeira, tal como, há quatro anos, havia feito o mesmo com Mouammar Khadafi, no auge da guerra na Líbia.

O profissionalismo é a marca de bons profissionais da RTP e é a prova provada de que a televisão de serviço público tem hoje, a servi-la, gente de imensa qualidade. Como é o caso de Paulo Dentinho. Apetece assim dizer a quem tutela a RTP, uma variante da frase clássica: deixem-nos trabalhar!

Quadratura do Círculo


Hoje à noite, a partir das 23 horas, na SIC Notícias, vou ter o gosto de substituir pontualmente Jorge Coelho no seu debate semanal com António Lobo Xavier e José Pacheco Pereira, sob moderação de Carlos Andrade.

quarta-feira, março 04, 2015

Indignidade parlamentar

Nunca fui deputado, mas julgo conhecer o essencial da ética de relacionamento entre os parlamentares. Nesse âmbito, para além da vivacidade dos debates, creio que há um código implícito de comportamento que rege as relações entre os eleitos. Nele se insere um mínimo respeito mútuo que, naturalmente, tem um maior rigor quando se trata de figuras cimeiras de qualquer dos grupos políticos.

Hoje, no quadro da polémica sobre as dívidas do primeiro-ministro à Segurança Social, a maioria vetou o envio de perguntas escritas ao chefe do governo. Pense-se o que se pensar deste assunto, PSD e CDS estão no pleno uso das suas faculdades parlamentares so assim procederem. Até aqui, tudo bem.

O que é inadmissível, e de uma baixeza e indignidade política que eu pensava ser impossível de ocorrer, foi ouvir um obscuro deputado social-democrata, de seu nome Adão e Silva, que falava em nome do seu partido no tratamento da questão, inquirir jocosamente sobre se a relutância do PS em utilizar o debate quinzenal para inquirir pessoalmente o dr. Passos Coelho não teria a ver com o facto dos socialistas não confiarem na capacidade do seu líder parlamentar. Já vi o nível das intervenções políticas descer muito, mas a triste realidade surpreende-nos sempre.

É nestas alturas que sinto saudades do tempo em que, com gente desta, isto se resolvia com umas bengaladas.

ps -  Fui agora informado que o "e" em "Adão e Silva" foi um erro do oráculo televisivo. Devo dizer que estava algo perplexo, porque conheço vários "Adão e Silva" e estava a estranhar que este senhor fosse da mesma extração familiar. Afinal é "Adão Silva". Ainda bem!

Queixas

Os governos português e espanhol queixaram-se à Comissão Europeia das acusações do PM grego de que Madrid e Lisboa - ainda não percebi bem por que ordem - tinham estado na linha da frente da tentativa de isolamento da Grécia no âmbito do Eurogrupo.

Hoje, o presidente da Comissão Europeia veio confirmar que os dois países ibéricos foram dos mais intransigentes, ainda mais do que a Alemanha, nessa discussão. 

Portugal vai agora queixar-se do sr. Juncker? E a quem?

Espionagem

Um pequeno escândalo abala a próxima candidatura de Hillary Clinton à presidência americana: aparentemente, durante a sua anterior encarnação como responsável pela diplomacia americana, a senhora terá usado, em regra, o seu endereço pessoal de mail, não tendo trabalhado usualmente com um endereço "corporativo" governamental. Ora isso, segundo os especialistas, poderá ter fragilizado a segurança das suas comunicações. A polémica está assim lançada.

Manifesto a minha solidariedade com a sra. Clinton. Passei os últimos anos a usar o meu email pessoal para coisas oficiais. Porquê? Isso não podia ser "apanhado" por terceiros? Não podiam ter lido o que eu escrevia? Claro, foi sempre esse o meu sonho...

A Cimeira das Lajes

 
Na edição correspondente a Dezembro de 2014 da revista "Relações Internacionais" publico uma recensão sobre o livro de Bernardo Pires de Lima "A Cimeira das Lajes. Portugal, Espanha e a Guerra do Iraque", editado pela "Tinta da China", que pode ser lida aqui.
 
O autor é um académico com um importante trabalho diário na imprensa sobre questões internacionais. Agora que passou mais de uma década sobre esse evento, parece ser importante revisitar esse momento em que se verificou uma quebra de consenso nacional sobre política externa. 

terça-feira, março 03, 2015

Yolanda Brígida

Você era uma criança. Falava à televisão, ao lado dos seus pais, emigrados na Suíça. Perguntaram-lhe o que gostava mais de ver nos noticiários. Com o olhar vivo e inocente, disse: os desastres! Essa sua resposta ficou-me para sempre.
 
Tempos mais tarde, curso tirado, estagiária da notícia, salário de recibo verde, telefonou-me para Brasília a inquirir do nome de um português envolvido num acidente. Expliquei que a ética da minha profissão não me autorizava a quebrar o sigilo. Não esqueci a sua reação: "A ética?! Deixe-se disso! Vá! Diga-me lá! É que se eu não consigo essa informação, o meu chefe põe-me na rua!"
 
Um dia, num jornal com mais de cem anos, na "silly season", li uma peça sua sobre um senhor chamado Eça de Queirós. Explicava, pedagógica, que era "um escritor realista português do século XIX", do qual citava obras a esmo. Fui ver: o texto era da Wikipedia. Fazia bem em apoiar-se em fontes prestigiadas, nessa Britannica da geração dos "shots".
 
Veja-a agora muito por aí, Yolanda Brígida ou Cátia Vanessa ou qualquer outra coisa assim que a rica imaginação dos seus pais tenha gerado. De "corneto" na mão, nos "travellings" na peugada do advogado desconcertante, à coca da casa dos "pulseirados", a perguntar como se sente à mãe que perdeu o filho no mar alto, a entrevistar o primo da vizinha de um tipo que conheceu o criminoso.
 
Vi um dia a sua glória. Uma baliza tinha caído sobre a cabeça de uma criança. O dia era “seco” em eventos. Os três telejornais abriram com a notícia, era o "seu" desastre. E lá estava você em campo, baliza ao fundo, preparada para a partida. Ao longe, as "repórteres" dos outros canais, seus heterónimos, filmavam-se comicamente entre si, debitando “buchas” para as respetivas câmaras, à espera do requestado edil local, que você entrevistava e que se prestava ao papel de alterne entre pantalhas, a todas anunciando o clássico "rigoroso inquérito". Um "must"!
 
É que onde eu gosto verdadeiramente de a ver é nos diretos, à porta de um tribunal fechado há horas, na soleira de uma urgência com uma velhinha a revelar o cancelamento da consulta numa greve, no rescaldo de um incêndio a recolher a clássica declaração sobre a "mão criminosa” no sinistro. Adoro as redundâncias em que ecoa, quase palavra por palavra, o que o “pivot” acabou de dizer, não vá alguém ter entrado na sala só nesse instante. Exulto quando se dirige, impante, à vedeta em estúdio, que mal a conhece, com um íntimo: "Daqui é tudo, Judite!'.
 
Há dias, vi-a numa de excelência. António Costa tinha acabado de falar sobre o seu "sermão aos chineses", que em ano eleitoral substitui o "sermão aos peixes", do outro António, mas Vieira. Ele saía já de cena, tenso, e você, marota, ética Cofina, reguila qb, sem esperar resposta, só para gáudio da malta lá na redação, atirou-lhe à cara: "O país está melhor, António Costa?". Eu, no caso dele, sabia o que lhe tinha atirado à cara, a si.

(Artigo que hoje publico no "Diário Económico")

segunda-feira, março 02, 2015

Refletir é preciso

Na carreira diplomática, que me encheu a existência profissional até há uns tempos, existe uma regra de ouro, em face de situações que nos incitam a uma reação imediata, a qual nos pode parecer óbvia e indiscutível: parar um pouco para refletir. Quando a pena ou a tecla nos apelam para enviar, logo de seguida, um "telegrama" ou uma "nota verbal" com uma reação forte e dura, a boa experiência aconselha a "dormir sobre" ela.

Quantas vezes, perante uma patetice qualquer, recebida da "Secretaria de Estado" (designação que damos ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa), não me apeteceu arrasar de imediato, com um "telegrama", o funcionário expedidor, acobertado sob o heterónimo de "NEstrangeiros" (expressão que assina vulgarmente as comunicações que recebemos nos postos). Mas, como referi, a profissão ensinou-me a saber "dormir sobre o telegrama", fórmula há muito consagrada na casa. É que, no dias seguintes, com mais calma e ponderação, a validade dos nossos argumentos aparece quase sempre servida por uma linguagem mais elegante e aceitável, embora não necessariamente menos firme.

Lembrei-me disto a propósito da Grécia. Nos tempos que correm, o eixo daquela diplomacia que é sempre relevante afastou-se do Palácio das Necessidades. Não é coisa que me agrade constatar, mas é a realidade das coisas. E assim, do reino profissional dos "telegramas", passámos, nos últimos anos, à glória das folhas de Excel feitas política externa (às vezes, com alguma irresponsabilidade que vai até ao ponto de "tweetar" garotices). Do "terceiro andar" do Palácio, local do poder, a reação político-diplomática aparece regularmente transferida para outras sedes, quase sempre desenhadas com cifrões à mistura. E tenho pena que, por essas novas bandas, não haja hoje, ao que tudo parece indicar, uma massa crítica suficiente que evite que as reações dos políticos, quando confrontados com os "cornetos" das estagiárias televisivas, não haja sido antes aculturada por umas horas de reflexão. E, já agora!, com algum sentido e responsabilidade de Estado, se não for pedir muito.

Por isso, ó gentes deste governo cessante, não "syrizem" as vossas emoções, "durmam sobre" o assunto, reajam com um estilo "cool", percebam que a precipitação pode estragar duradouramente uma relação bilateral, tendo de caber aos vindouros sarar as feridas e juntar os cacos. É que, depois, como ensinou o meu amigo e colega Marcello Duarte Mathias, "gasta-se uma vida inteira a corrigir um erro de trajetória". Ouçam-no, tanto mais que ele tem ascendência grega...

Fernando Madrinha


Devo-me ter cruzado no máximo umas três vezes na vida com Fernando Madrinha, jornalista do "Expresso" e seu colunista até ao seu último número. Não o conheço bem, quero eu dizer. Mas conheço-o de escrita, ao longo de quase 20 anos - eu que sou um leitor do "Expresso" desde o nº 1, isto é, há mais de 40 anos. E nem sempre estando de acordo com o que ele escreve, longe disso!, reconheço-o como uma voz livre e uma opinião ponderada e equilibrada, num mundo do jornalismo opinativo onde se passam muitos recados e se fazem ainda mais fretes. Tenho assim pena, desconhendo as razões de fundo, de vir a perder os seus textos. Só espero que o jornal nos não nos venha a "compensar" com (mais) alguns "talibans" de pena adjetivada, que fazem do radicalismo, de qualquer dos lados do espetro, o seu "fond de commerce". Cá estarei para ver.

José Quitério



Foi uma bela cerimónia aquela que ontem teve lugar na Reitoria da Universidade de Coimbra, no dia em que se comemorava o 725º aniversário da instituição. 

Tratou-se da entrega do "Prémio Universidade de Coimbra" 2015 a José Quitério, a figura do jornalismo português que dedicou à cultura da gastronomia mais de quatro décadas da sua vida. 

O elogio do premiado foi feito por outro nome cimeiro da gastronomia portuguesa, José Bento dos Santos, atual presidente da Academia Internacional de Gastronomia. Antes, havia sido feita a leitura de um belíssimo e clássico texto de José Quitério.

A unanimidade é muito difícil de se obter, em qualquer área da vida. Mas eu desafiaria alguém em Portugal a juntar, como aconteceu com José Quitério, o conjunto tão diverso de personalidades que apoiaram a sua candidatura, proposta pelo jornalista Fortunato da Câmara, que desde há semanas lhe sucedeu como crítico gastronómico do "Expresso". Senão, vejamos:

Álvaro Siza Vieira, arquiteto
André Jordan, empresário
António Lobo Xavier, advogado
António Mega Ferreira, escritor
Artur Santos Silva, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
Baptista Bastos, escritor
Carlos do Carmo, cantor
Francisco José Viegas, escritor
Francisco Pinto Balsemão, empresário
Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura
Helena Sacadura Cabral, economista
Joaquim Furtado, jornalista
José Bento dos Santos, empresário
José Carlos de Vasconcelos, jornalista
José Miguel Júdice, advogado
Luis Pato, empresário
Maria de Lurdes Modesto, publicista em culinária
Maria do Céu Guerra, atriz
Miguel Esteves Cardoso, escritor
Rui Vieira Nery, professor universitário.

domingo, março 01, 2015

O dever

Não me parece uma falta de extrema gravidade a existência de uma dívida do dr. Passos Coelho à Segurança Social. Pode acontecer a qualquer um.

Só que o dr. Passos Coelho não é qualquer um, é o primeiro-ministro do país, a quem sempre exige uma conduta impoluta, como se vê a Justiça exigir noutro contexto.

Por isso, representa uma evidente falta de cultura democrática, em lugar de procurar justificar-se em formalismos, não ter apresentado desculpas públicas ao país. O país ficaria satisfeito e o primeiro-ministro teria saído bem desta pequena história. 

Assim, não saiu.

Renso

Quando o novo primeiro-ministro italiano, de quem antes pouco tinha ouvido falar (não acompanho em pormenor a vida política italiana, devo confessar), tomou posse, o seu nome - Renzi - ficou às voltas na minha cabeça. Aquele apelido dizia-me alguma coisa, mas não conseguia pensar o que fosse.

Um dia, a luz surgiu-me. Um nome "próximo" era vulgar aos meus ouvidos, desde a infância. Fazia parte dos amigos que, com o meu pai, se sentavam na esplanada do Girassol, no jardim, nas férias de Verão, em Viana do Castelo. Chamavam-lhe "Renso". Um dia, tinha eu aí uns oito ou nove anos, referi-me a ele como o "senhor Renso". O meu pai corrigiu-me: "Deves chamar-lhe senhor Coutinho. Só os amigos próximos o tratam por Renso" disse, com um sorriso enigmático. Tomei devida nota.

Passaram uns anos e, no grupo do Girassol, que o meu pai continuava a frequentar em férias, ouvi um dia dizer que "a mulher do Renso tem andado adoentada". Nessa ocasião, inquiri, finalmente, da origem do "petit nom". E fui esclarecido.

O "Renso" tinha sido colega de escola primária do meu pai. Na realidade, chamava-se Coutinho. A crueldade dos colegas levou-os a apodá-lo de "toucinho". Com o tempo, a miudagem veio a mudar criativamente o "toucinho" para "ranço". A corruptela da vida transformou, finalmente, o "ranço" em "renso". Daí ao "senhor Renso" foi um passo curto. As voltas que os nomes dão!

Que o Estado Islâmico não pegue nisto, é o mínimo que se pode desejar, atenta a incompatibilidade entre Maomé e o toucinho...

sábado, fevereiro 28, 2015



Epígrafe

De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.
 
De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso   a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.
De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro   quando as digo.
 
Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
-- expressão da multidão que está comigo.

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, fevereiro 27, 2015

Regresso à escola

Há semanas, tive necessidade de obter uma certidão da minha licenciatura. Desloquei-me à secretaria da minha faculdade e, quando referi o ano de fim do meu curso, a simpática funcionária que me atendeu (já não era a Dona Irene, do meu tempo) voltou-se para as colegas e, como se apresentasse uma avis rara, disse alto: "Está aqui um aluno dos anos 70!". Ficou toda a gente a olhar para mim, comigo a não me reconhecer no qualificativo de "aluno"! A colega logo reagiu: "Esses anos já estão lá em baixo..." o que significava que jaziam nas catacumbas da faculdade tais registos do antanho, imagino que com patine de teias de aranha. (E devem ter ficado a perguntar-se: para que é que este homem quer uma certidão de licenciatura?). Dias depois, lá surgiram as papeladas que me diziam respeito e tiveram a amabilidade de me trazer, por curiosidade, no livro de registos, uma fotografia minha desses tempos, com forte cabelame e uma imponente bigodaça. As figuras que fazíamos!

Nos últimos anos, "regressei" à universidade. Já tinha feito uma incursão, há uns tempos, na Universidade de Aveiro, onde orientei uma tese de mestrado. Depois, na UTAD, presidi durante cerca de quatro anos ao respetivo Conselho Geral, uma experiência muito interessante, embora nem sempre fácil. Em Coimbra, colaboro com a respetiva Faculdade de Economia, de cujo Conselho Consultivo faço parte, desde há quase cinco anos. Na Universidade Autónoma, faço este ano letivo parte do corpo docente na área das Relações Internacionais. E, na Universidade Nova de Lisboa, além de integrar desde 2013 o Conselho da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, tive hoje a grata experiência de ser arguente em duas teses de mestrado na área das Relações Internacionais. Sabe-me bem este regresso à escola. 

Falando da Grécia


quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Tertúlias


Faço parte de várias tertúlias. Nenhuma delas tem uma agenda de intervenção pública, mas em todas aprendo coisas úteis. Como regra, congregam pessoas, homens e mulheres, que se sentem bem a falar umas com as outras, mesmo se oriundas de círculos muito diferentes e com perspetivas, políticas e não só, às vezes contrastantes. Algumas dessas tertúlias são semanais, outras acontecem todos os meses, outras "quando o rei faz anos". Umas são temáticas, outras de mero convívio, às vezes com copos e vitualhas à mistura. 

A tertúlia é uma magnífica terapia contra o sectarismo, a bem da tolerância. Ouvir os que pensam de forma diferente da nossa enriquece-nos. Conversar com quem connosco partilha identidades conforta-nos. O fim de ciclo de uma tertúlia começa a pressentir-se quando os debates se transformam em discussões acaloradas. Já assisti à diluição de algumas tertúlias de que fiz parte, algumas vezes com pena, outras com alívio. Mas sou um "tertuliano" militante, confesso.

quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Ucrânia


Paulo Sande, Bernardo Pires de Lima e eu próprio discutimos na Económico TV a crise político-militar na Ucrânia.

Pode ver esse debate aqui e aqui.

Hoje, aqui na Haia

Uma conversa em público com o antigo ministro Jan Pronk, uma grande figura da vida política holandesa, recordando o Portugal de Abril e os a...