segunda-feira, março 02, 2015

Refletir é preciso

Na carreira diplomática, que me encheu a existência profissional até há uns tempos, existe uma regra de ouro, em face de situações que nos incitam a uma reação imediata, a qual nos pode parecer óbvia e indiscutível: parar um pouco para refletir. Quando a pena ou a tecla nos apelam para enviar, logo de seguida, um "telegrama" ou uma "nota verbal" com uma reação forte e dura, a boa experiência aconselha a "dormir sobre" ela.

Quantas vezes, perante uma patetice qualquer, recebida da "Secretaria de Estado" (designação que damos ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa), não me apeteceu arrasar de imediato, com um "telegrama", o funcionário expedidor, acobertado sob o heterónimo de "NEstrangeiros" (expressão que assina vulgarmente as comunicações que recebemos nos postos). Mas, como referi, a profissão ensinou-me a saber "dormir sobre o telegrama", fórmula há muito consagrada na casa. É que, no dias seguintes, com mais calma e ponderação, a validade dos nossos argumentos aparece quase sempre servida por uma linguagem mais elegante e aceitável, embora não necessariamente menos firme.

Lembrei-me disto a propósito da Grécia. Nos tempos que correm, o eixo daquela diplomacia que é sempre relevante afastou-se do Palácio das Necessidades. Não é coisa que me agrade constatar, mas é a realidade das coisas. E assim, do reino profissional dos "telegramas", passámos, nos últimos anos, à glória das folhas de Excel feitas política externa (às vezes, com alguma irresponsabilidade que vai até ao ponto de "tweetar" garotices). Do "terceiro andar" do Palácio, local do poder, a reação político-diplomática aparece regularmente transferida para outras sedes, quase sempre desenhadas com cifrões à mistura. E tenho pena que, por essas novas bandas, não haja hoje, ao que tudo parece indicar, uma massa crítica suficiente que evite que as reações dos políticos, quando confrontados com os "cornetos" das estagiárias televisivas, não haja sido antes aculturada por umas horas de reflexão. E, já agora!, com algum sentido e responsabilidade de Estado, se não for pedir muito.

Por isso, ó gentes deste governo cessante, não "syrizem" as vossas emoções, "durmam sobre" o assunto, reajam com um estilo "cool", percebam que a precipitação pode estragar duradouramente uma relação bilateral, tendo de caber aos vindouros sarar as feridas e juntar os cacos. É que, depois, como ensinou o meu amigo e colega Marcello Duarte Mathias, "gasta-se uma vida inteira a corrigir um erro de trajetória". Ouçam-no, tanto mais que ele tem ascendência grega...

11 comentários:

Anónimo disse...

Uma bicada, bem dada, no Maçães...o homem é compulsivamente viciado do Tweeter, escrevendo em inglês, sobretudo, nunca perdendo uma oportunidade em criticar este novo governo Grego. A criatura é um ser estranhíssimo! Mas, lá continua e manda tanto ou mais do que o Ministro, neste bem-abençoado MNE. Não admira: foi guru do Passos, quando fazia parte do seu gabinete.

Anónimo disse...

Mais do que o Ministro? Eu diria mais do que o PM, infelizmente. Para quem o conhece, o homem é intolerável.

Anónimo disse...

Maçães bichada... Gostei da imagem do "corneto". Os "cornetos",frente àquelas bocas de perguntadoras no mínimo analfabrutas, venerandas e obrigadas,são, subliminar e contextualmente, algo. No meio do atropelo simultâneo de perguntas, que nos resta? Um corneto p'ra ti, um corneto p'ra mim. Os cornetos perguntadores são uma delícia.

Anónimo disse...

União Europeia não significa o contrário é o seu oposto. Os graus de liberdade de Portugal deveriam obviamente ser reduzidos depois de termos conseguido a proeza de termos tido a presidência da Comissão, que nos deveria servir, no futuro, para capitalizar no estatuto de brokers de consensos e de mediadores. Mas para perceber isto deveria quem nos governa ver mais além. A compra de uma inútil é despropositada querela com a Grécia mostra que nesta fase do campeonato andamos paroquialmente travestidos de Don Camilo e Pepone e pouco mais.

Anónimo disse...

O Bruno Maçães é uma figura caricata. Uma pústula política. De algum modo, aquilo que infelizmente cada vez mais se nos depara. Aquela ânsia em mostrar-se, em se evidenciar, em querer dizer o que pensa - e pensa mal, naquele seu servilismo americo-germânico, que aflige. Mas, atenção, com alguém aqui já referiu, um "guru" de Passos Coelho, quando ainda Francisco Ribeiro de Menezes era seu Chefe de Gabinete (hoje em Madrid).
a)Rilvas

Maria disse...

Bom, eu confesso que me sinto atraída pelo Maçães, mesmo que ele seja insuportável :)

Anónimo disse...

Porque será que todos os comentários (até agora) a este post são anónimos?
JPGarcia

Anónimo disse...

Cessante????

Isso quer muitas gente (eu também), mas a esperança em Costa é nula. Muitos devem estar arrependidos do que fizeram a Seguro. Costa não tem qualquer perfil oposicionista e Lisboa continua toda esburacada. O que anda ele a fazer???

Correia da Silva disse...

Caro JP Garcia:
Não havia " necessidade", em ter colocado essa questão.
A resposta é óbvia e evidente.

Melhores cumprimentos


Anónimo disse...

Caro Correia da Silva,

Havia sim - e o seu comentário ainda me leva mais a acreditar de que continua a haver. Se as coisas fossem feitas às claras, a prepotência desta gente desapareceria, ou pelo menos seria menor.

JPGarcia

Correia da Silva disse...


Caro JPGarcia

Não percebo , em que medida, o meu comentário, o leva a acreditar ainda continuar a haver mais "necessidade" .
No segundo ponto do seu comentário, estou completamente de acordo.





Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...