Quem se ofende ou acha discriminatórias graças que podem tocar os limites da "correção" política deve abster-se de ler o que se segue.
Um dia, na segunda metade de 1996, um banco português decidiu convidar o cantor lírico Andrea Bocelli para um espetáculo em Portugal. Bocelli, um fantástico intérprete, cego (ou invisual, como parece ser hoje de regra dizer-se), exigiu condições financeiras substanciais. Porém, o banco, interessado como estava na presença do cantor, aceitou os números exigidos.
Não se contava, porém, com uma "competição" como a que viria a surgir: o recém reeleito presidente americano, Bill Clinton, queria ter Bocelli nas comemorações da sua segunda entronização. E as datas coincidiam. O cineasta Steven Spilberg, apoiante do presidente, estava mesmo disposto a deslocar-se a Itália, no seu avião particular, para garantir a presença de Bocelli em Washington.
O "combate" entre os dois concorrentes prolongou-se por algum tempo. A certo ponto, o caso pareceu perdido para o banco português, com Bocelli a dar sinais de ir optar pela sua prestigiante alternativa transatlântica. Foi então que um diplomata português, envolvido pontualmentr na questão, um homem que costuma cultivar o humor como um valor mais elevado do que as regras do politicamento correto, se saiu com esta frase que ficou na memória de quem esteve envolvido no assunto:
- Isto é incrível! Portugal raramente tem dinheiro para "mandar cantar um cego". Logo agora, que foi possível arranjar o dinheiro, o cego não quer cantar...
Para a história: Bocelli acabou por conseguir vir a Portugal e o avião, com o próprio Spielberg, ficou à espera do cantor no aeroporto do Porto, aguardando o fim da sua prestação. E foi possível compatibilizar os dois espetáculos.
Espero que ninguém tenha ficado ofendido com esta inocente e verdadeira história, que alguém, há poucas horas, recordou num grupo de amigos, que a achou bem divertida.