sábado, setembro 21, 2013

A Europa de Rui Tavares

Não conhecia pessoalmente Rui Tavares. Ontem, ao final da tarde, tive o gosto de com ele discutir a temática da União Política europeia, durante mais de hora e meia, numa participada sessão na Culturgest.

Com uma formação intelectual que lhe permite situar, com profundidade e brilho, o atual debate europeu no percurso histórico do continente, Rui Tavares desenvolveu uma leitura, simultaneamente realista e generosa, das opções possíveis para a superação da crise, muito assente na busca de uma maior democratização do processo europeu, com vista a uma crescente legitimação do projeto integrador. Um discurso onde a exigência ética esteve sempre presente, na linha do que tem sido a sua ativa participação no processo parlamentar europeu.

Gostei de o ouvir sobre a possibilidade de a eleição do próximo presidente da Comissão Europeia poder vir a converter-se num debate entre diferentes perspetivas sobre as linhas que a política económica e financeira da Europa deve assumir perante a crise. Embora eu alimente sérias dúvidas de que o "centrão" europeu (PSE e PPE) venha a confrontar-se publicamente, de forma radical, em torno das saídas para a crise, pareceu-me interessante a ideia que desenvolveu sobre a importância de ver um futuro presidente da Comissão investido de uma legitimidade europeia própria, que poderia vir a dar origem a um potencial "choque" competitivo com os poderes do Conselho, com consequências interinstitucionais bastante curiosas. Quem sabe se isto, a ser possível, não poderia significar o início de um "big bang" institucional, que ajudasse a romper com o impasse em que nos encontramos.

No plano português, Rui Tavares defendeu a discussão de um "memorando de desenvolvimento" (em irónica oposição ao 'memorando de entendimento' com a "troika"), que possa ajudar a sociedade portuguesa a dotar-se de uma estratégia nacional clara, para um período de, pelo menos, uma década. Na sua visão, seria importante que Portugal pudesse refletir sobre a ineficácia do modelo que parece estar a servir de referência à organização sócio-económica do país, tributário do que pode entender-se como um acordo social implícito, gerado nos anos 70. E, saindo dele, procurasse discutir e consensualizar um novo paradigma, assente no conhecimento e na inovação, seguindo de perto as prioridades que a Europa está a adotar para as suas políticas comuns.

Julgo que, para todos quantos estiveram na Culturgest, foi muito estimulante ouvir, sobre a Europa, um olhar inteligente e culto, despido da ganga das velhas soluções. Algum idealismo e ousadia nunca fizeram mal ao debate europeu, antes pelo contrário.

Este e outros debates pode ser visualizado aqui.

2 comentários:

Anónimo disse...

Então que viva o Big-Bang, p'a renovar novo ciclo!
José Barros

Anónimo disse...

Estamos a precisar de caras novas e que não andem a "martelar" sempre no mesmo.

Isabel BP

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...