sábado, setembro 21, 2013

"Pela Europa"

Tenho pena de não poder colocar aqui um link, mas o "Público online" não o permite. Porém, o excelente artigo que o meu colega embaixador Fernando d'Oliveira Neves hoje publica no jornal é de leitura obrigatória para quem, entre nós, se interessa pela questão europeia.

Fazendo um bosquejo histórico sobre o modo como o projeto integrador deu um sopro de paz ao continente europeu e se constituiu numa inédita esperança para o mundo, o texto, significativamente intitulado "Pela Europa", é um sinal mobilizador para abanar algum injustificado euroceticismo que por aí anda, propagado por quantos confundem a conjuntura com a História.

Não me custa admitir que alguns possam alimentar dúvidas sobre se certas políticas europeias, por ação ou omissão, não poderão ter estado na origem de alguns dos nossos atuais problemas. Mas não tenho a menor dúvida que é fundamentalmente na Europa, e com ela, que serão encontradas as soluções para os resolver.

9 comentários:

Anónimo disse...

O Tratado Europeu não é conjuntural e é a causa mais remota por aquilo que estamos a passar.
Alguns profesores doutores, andava eu na universidade, falavam-nos nos remédios, nos estabilizadores automáticos e etc, previstos nesta Europa de ponta, rendida aos encantos e desgovernos financeiros.
Assisti nestes tempos, pela primeira vez, à fragilidade da democracia, não em nome de ideiais radicais, mas tão somente em nome de oligarquias que nos desprezam, mas toleram um regime que não os penaliza.
Eu estou desencantado. Acredito na Europa, mas não me venham com fantasmas ou com chantagens.
Pelo menos financeiros (tão maus como quaisquer outros).
É necessário um abanão, mas não será certamente a Esquerda a fazê-lo (interiorizámos demasiados inimigos que, afinal, são os vizinhos do lado).
A Europa só volta a ser dos cidadãos (não cliente ou utente)quando alguém se relembrar que o maior inimigo da Europa é a própria Europa.

Helena Sacadura Cabral disse...

Ainda bem que continuam a existir "resistentes" a pugnar pelo sonho europeu.
Como economista venho do tempo do antes da UE. Trabalhei nela anos a fio. Nunca acreditei que fossemos capazes. Mas a louca era eu.
Concordo com o Anónimo das 17:20 mas, infelizmente, ao contrário dele, não acredito na/numa Europa.

Anónimo disse...

Estamos, pelo menos, a chegar à conclusão que a união política é simplesmente uma miragem!
No meu modesto parecer, para prosseguir com a cooperação entre os países europeus, os políticos deveriam reconhecer isso rapidamente, esquecerem explicitamente a união política e dirigir todos os esforços para a salvação da união económica. Caso contrário arriscam não ter nem uma nem outra.
Claro que estou a pensar na disciplina orçamental rigorosa em toda a zona euro.
António PA

Anónimo disse...

Mais uma vez insisio em convidar o nosso dr.Sousa para um lugar compatível á sua estatura intelectual, que segundo lido no Expresso e no Blog Blasfémias :

"José Sócrates terminou a sua tese de mestrado sobre a tortura, que publicará, muito em breve.

Podendo, embora, haver quem estranhe o ecletismo do tema para um licenciado em engenharia com vasto curriculum profissional em política e governação, nada de mais natural, se pensarmos que os trabalhos académicos devem ser sempre orientados conforme as preferências e utilidades profissionais dos seus autores.

No caso vertente, imaginem por onde começará o novel mestre a aplicar estes seus vastos conhecimentos?"

Uma dúvida perturba-me o cérebro sobre a Instituição Europeia prestigiada onde poderá leccionar?


Alexandre

Defreitas disse...

A Europa faz-me pensar no navio "Concordia", que o comandante enviou contra um rochedo por querer mostrar aos seus compatriotas que era muito bonito! A Europa encalhou por culpa da navegaçao perigosa imposta pela UE aos seus membros. O naufràgio era previsivel, porque os escolhos eram conhecidos.

Querer embarcar no mesmo navio passageiros de fortunas diversas, e ainda por cima dar-lhes o direito de, de vez em quando, pilotar o navio, esperando que todos os passageiros, os que enjoam e os outros, estariam de acordo com a navegaçao, era uma alta pretensao . Agora, falta pôr o navio à vertical e levà-lo para a sucata.


Sim, porque quando se olha para a paisagem do mundo vemos o quê? Enquanto a Europa navegava perigosamente ao som da orquestra, os novos paises industrialisados (NPI) açambarcaram 8O% das reservas planetàrias de liquidez.

Em 2010,as suas exportaçoes ultrapassaram os 50%, contra 30% hà 20 anos. A China é hoje a primeira potência economica mundial e a sua influência estender-se-à a todos os continentes antes do fim da decenia. As consequências das deslocalisaçoes estao à vista. A Europa desindustrialisou-se e o desemprego é o resultado. Nao da mesma maneira em todos os paises, mas as grandes industrias desaparecem. Quem diria, quando a Europa criou o embriao da UE com a CECA( Carvao e Aço), que um dia a siderurgia ocidental passaria para as maos dum Indiano. Como Jaguar e Land Rover.

A queda do crescimento économico europeu , com a excepçao da Alemanha é a culpa dos tecnocratas de Bruxelas.Quem nao viu que com a queda do muro de Berlim, a mao de obra das ex-republicas soviéticas, ao penetrar na economia ocidental, viria desiquilibrar a Europa social. Qualificados e "pas cher", sem direitos, os trabalhadores de leste ficaram rapidamente favoritos na corrida aos postos de trabalho. Para baixar os custos salariais e nao pensando noutra coisa que nos lucros, as industrias ocidentais deslocalisaram de dia e de noite para leste, ou importaram mao de obra destes paises.

E depois veio a China e os paises limitrofes da escravatura moderna.Sem legislaçao do trabalho, sem salàrio minimo, (mesmo na Alemanha) a exploraçao dessas massas de trabalhadores precipitou os nossos compatriotas no desemprego.O PIB de sonho adquirido graças à exploraçao vergonhosa do trabalho.Na Alemanha, os casais nao fazem filhos porque o dinheiro nao chega. Os 400 euros mensais, mesmo trabalhando os dois, nao permitem pagar a "nounou" ! Porque a politica social de Merkel e Schroder nao previu a construçao de creches ! O social nao se vende bem! Os 7 milhoes de pobres "des petits boulots" devem pacientar.

A demografia, por consequência, sente-se .
A Alemanha importa mao de obra. O 21% do PIB alemao, comparado ao francês - 17%-, nao explica a diferença de politica social.

,Quem sabe o que escreveu o "Guardian", que no RU 600 professores das escolas primarias levam todos os dias de comer para as crianças que vêm para a escola com o estomago vazio? Os pais no desemprego ou com salàrios precàrios nao têm ajudas sociais, porque Cameron, neo-liberal convicto, nao gosta do social. Como Thatcher em seu tempo!

Defreitas disse...

O Ssnhor Embaixador escreve, numa expressao de fé europeia, que : " Algum idealismo e ousadia nunca fizeram mal ao debate europeu, antes pelo contrário.";
O problema é que os tecnocratas
de Bruxelas, os actuais ou os futuros , estarao sempre debaixo da bota dos "fornecedores" de fundos europeus, e dos lobbies mais poderosos do Ocidente depois dos de Washington.

Mais ainda, creio que existe um plano "inteligente" desde hà muito, que visa a destruir a velha Europa das liberdades e da solidariedade social. E que lhes importa se hoje milhares de europeus nao vao ao médico ou nao se alimentam correctamente!

Utilisada pelo FMI , podemos vê-la em acçao hoje no nosso pais, e noutros, onde a crise da divida soberana traça as três etapas que levarao os povos europeus, considerados como "nababos" em relaçao aos escravos asiàticos, que os levarao,repito, para o infer
no da terço-mundialisaçao : empobrecimento, marginalisaçao e ghettoïsaçao.

Apesar da Europa constituir um mercado de 500 milhoes de habitantes, 20 milhoes de emprezas, e mais de 200 milhoes de trabalhadores qualificados.

Gostaria so de acrescentar à minha mensagem precedente, que a Alemanha pagarà um dia o preço da sua guerra economica, conduzida pelo egoismo e vontade de hegemonia, , matando a sua galinha dos ovos de ouro - os paises da Europa muribunda- que constituem 60% dos seus clientes! Ela perderà os mercados e conhecerà também o de-crescimento.

Peço desculpa pela ortografia e a pontuaçao. Estou na alta montanha e escrevo com o meu note-book rudimentar!

Anónimo disse...

Se não tivermos condições para continuar na Europa não sei muito bem o que será de nós. Talvez a Coreia do Norte nos queira como parceiro mas... não sei se a Coreia do Norte é um regime frequentável.
Enfim.... em Portugal já em 1581 face às grandes dificuldades, também financeiras, o nosso recurso foi a vizinha Espanha que pensámos que poderia pagar as nossas dívidas por troca das nossas pocessões. Desta vez não sei quem será...

Defreitas disse...

Ao anonimo das 16:15 :


Quando o embaixador alemao em Lisboa, se permite de dizer hoje na soirée eleitoral de Merkel,que "os efeitos colaterais da crise foram além das espectativas criando mais desemprego e sofrimentos para os Portugueses", e que agora é preciso tomar medidas para aliviar o povo, acho que faz pouco do povo Português.

Porque sabemos bem que aqueles que decidiram do tratamento sabiam que Portugal nao o podia suportar. O que os doutores pretendem é o reembolso da divida aos credores da finança internacional.

Agora que o mal està feito, so uma restructuraçao da divida, com um perdao total pode evitar o desastre absoluto.

Defreitas disse...

Na sequência da minha ultima mensagem ao anonimo das 16:15, gostaria de comentar o resultado das eleiçoes alemas.
A victoria de Merkel, enorme, nao é total na medida em que ela serà obrigada a escolher um outro parceiro para governar. E este serà o SPD. Como escrevi numa outra mensagem, a presença dos Socialistas no governo poderà servir para temperar a politica de austeridade da Chanceleira. A Europa pode benefeciar desta eleiçao na medida em que Merkel serà obrigada de caminhar, passo a passo, com Hollande, para construir uma outra Europa, mais social antes de tudo. O toque de socialismo de Hollande serà benéfico, finalmente, para todos os europeus, creio. Mesmo se Hollande , para mim, foi longe demais num certo socialismo liberal.

Os industriais alemaes vao meter Merkel sob pressao, também, porque necessitam de uma acceleraçao da economia, sem a qual a industria alema pode ela mesma empanar, sabendo que a Europa significa 60% das exportaçoes alemas, ferro de lança da economia alema.

Agora que os parceiros liberais de Merkel estao fora de jogo, e que os "verdes"estao reduzidos à mais simples expressao, uma "chance" existe de salvar ainda a Europa, implementando uma politica mais solidària com os paises do sul. O erro do inicio, misturar economias completamente desfasadas, mesmo se foi com a intençao de as "nivelar",os dois motores da economia europeia, podem e devem puxar pelo resto da Europa, com politicas adaptadas ao estado real das economias e tendo em conta o caminho que Portugal, por exemplo, teve de percorrer nestes ultimos anos depois da revoluçao, vindo das tenebras da dictadura.

Enfim, creio que o resultado desta eleiçao, pode proporcionar uma nova politica economica que reduza o fosso existente entre os ricos e os pobres na propria Alemanha, fosso que se alarga todos os dias. Tenho a impressao, sem ser politologo, que temos là uma oportunidade de reconstruir a Europa sobre outras bases. Seria catastrofico se Merkel nao agarrava esta oportunidade com a garra necessària. Ela pode entrar na Historia ou sair lamentàvelmente.

Vamos ver com que "molho" a Europa vai ser servida !!!!

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...