domingo, setembro 01, 2024
Abraçada pela árvore
Bolas
sábado, agosto 31, 2024
Flores
Digo "tinha" porque não faço ideia se algum governo liberalóide, lá por Viena, não passou entretanto a casa a patacos. Por cá, um outro que nem em pesadelos quero lembrar desbaratou, precisamente do outro lado do Central Park, um magnífico apartamento, que o bom senso e o bom gosto anos antes tinham adquirido para o Estado português.
Volto ao jantar, que guardo na memória ter sido divertido, o que, convém que se saiba, está longe de ser a regra na chatice que muitas vezes é a vida social a que os diplomatas não conseguem fugir.
O serviço era assegurado por empregados contratados para a ocasião. As embaixadas nunca dispõem de pessoal suficiente para assegurar o atendimento aos convidados, nas refeições de maior dimensão e nos cocktails que organizam. Em todas as grandes capitais do mundo, existe sempre um batalhão de mão-de-obra disponível para servir nesse eventos, o mais das vezes fazendo disso complemento a outras profissões. São pessoas de diversas nacionalidades - na América e alguma Europa, sem surpresa, são muitos portugueses, espanhóis, latino-americanos, num " network" em que uns vão chamando os outros - que circulam entre essas funções sociais. Recebem à jornada, que é de algumas horas. Em todos os lados onde trabalhei, sabia-se que havia um valor para esses serviços.
Naquela noite, na casa do meu colega austríaco, no momento em que estaca a ser servido, ouvi um sussurro no meu ouvido, por parte do empregado: "Eu sou de Bornes, senhor embaixador".
Bornes, ao lado das Pedras Salgadas, é a nossa terra de família, pela parte da minha mãe, em torno da Casa do Pereiro, que foi do meu avô, que lá nasceu. Vou a Bornes de quando em vez, para visitar essa casa e para passar pelo cemitério onde estão os meus pais e toda a minha família materna que já se foi. Ou para visitar uma nossa amiga, antiga empregada da casa do meu avô, que há muito já faz parte da nossa família afetiva. Curiosamente, fiz isso precisamente hoje.
Mas regressemos a Nova Iorque e ao homem de Bornes que servia na 5ª Avenida.
Quando ouvi "Bornes", imagino que deva ter exprimido surpresa. Olhei para ele, nunca o tinha encontrado antes e pedi-lhe que, no final, me deixasse o seu nome e contacto. Ele assim fez. Chamava-se Orlando. Falámos ainda uns instantes antes de eu sair do apartamento. No dia seguinte, quando cheguei ao escritório, transmiti o contacto do homem ao meu secretariado e dei indicação para que o incluíssem na lista de empregados a recrutar para as nossas funções sociais futuras. Seria bem simpático, de vez em quando, ter alguém de Bornes lá por casa.
Seria mas não foi. Vieram informar-me de uma realidade que eu desconhecia: os empregados que circulavam nas residências da 5ª Avenida e áreas similares recebiam um "cachet" ligeiramente superior àquele que nós habitualmente pagávamos. As casas do "Upper East Side", onde fica a bela residência do embaixador português em Nova Iorque, não pagavam tanto como as zonas mais centrais da 5ª, da Madison ou da Park Avenue. E, por isso, o senhor Orlando nunca foi contratado.
Passaram entretanto meia dúzia anos. Uma tarde, lá por Bornes, em dia da festa anual da aldeia, eu estava encostado a um muro, a ver passar a procissão, quando se aproximou de mim, nem mais nem menos, o senhor Orlando, de Nova Iorque. Eu já andava então por outras paragens e ele permanecia na "Big Apple". Depois, nunca mais ouvi falar dele. Até hoje.
Há horas, à saída do cemitério de São Martinho de Bornes, notei que uma campa estava coberta com uma imensidão de flores. Deduzi que o funeral dessa pessoa tivesse sido na véspera. Conheço já pouca gente em Bornes, mas tive curiosidade de saber o nome de quem tinha convocado tão expressiva manifestação de pesar. Um amigo disse-me: foi o senhor Orlando, o homem que viveu em Nova Iorque. Morreu em Bornes, há dois dias.
Ele há cada coincidência, não é?
"O Forno de Jales" (Vreia de Jales)
sexta-feira, agosto 30, 2024
Helicópteros
À mesa
From Lisbon, with Hayek
Teria sido preferível, mas as coisas não funcionam assim, que o nome do comissário europeu tivesse sido consensualizado entre os dois partidos centrais do regime. Desta forma, o governo manda quem lhe apetece e, neste caso, e por um período de cinco anos, a Comissão terá uma voz ultra-liberal enviada por Lisboa.
A verdadeira posta
Correio do bago
Há um jornal que tem como uma das vertentes da sua linha informativa a alimentação obsessiva da inveja. ML Albuquerque vai para Bruxelas? A primeira "questão" a colocar qual é? Quanto vai ganhar.
O Brasil dos juízes
Não conheço país do mundo em que haja tanta exposição mediática do órgão máximo do poder judicial. Todos os dias e a todas as horas a comunicação social relata o que diz o ministro A ou B e as reações que isso provoca. Há um excesso de imagem pública do judiciário brasileiro.
Abreu Amorim
Antes era a "viradeira"
Belém
A procissão presidencial ainda vai no adro, mas Marques Mendes e Centeno já seguem nos andores de alguns fiéis. Parece tudo muito prematuro mas, se acaso, no boletim de voto, a alternativa viesse a ser entre os dois, gostava de lembrar que o país teria duas figuras respeitáveis entre quem optar.
O que sobra
A montante da eleição de 2016, Trump perdeu os "never Trump", envergonhados com o que pressentiram. Com o caos durante o mandato, os melhores foram saindo. Em 2020, com o episódio do Capitólio, afastaram-se os últimos decentes. Quem constituiria a administração Trump 2025?
Europinhas
O estertor das lideranças europeias está a provocar uma cacofonia insuportável: ele é Von der Leyen, é Borrell, é Michel, já é também Kallas, a não fazer jus ao báltico nome. Todos mandam bitaites adjetivados sobre a Ucrânia. O silêncio de António Costa tem sido de ouro.
Ai Montesquieu!
Temos obrigação de respeitar o modelo constitucional do Brasil, o qual, aliás, tem demonstrado ser capaz de sobreviver e enquadrar várias e fortes crises política. Mas compreendo bem quem possa estranhar o desmesurado papel do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as restantes instituições. Ver esse orgão, como vi acontecer, determinar o impedimento da reunião de uma comissão parlamentar é algo que deve pôr Montesquieu às voltas na tumba.
Digo eu, não sei...
A decisão do juiz brasileiro de proibir o Twitter/X no país parece-me "a bridge too far". O Brasil é um país demasiado relevante no quadro internacional para poder titular este tipo de gestos, mais comuns em autocracias.
Manda quem pode
As grandes indústrias de armamento há muito que são um elemento determinante no desenho da política externa das grandes economias de mercado. E, desta vez, não estou a falar dos EUA e do seu "complexo militar-industrial". Falo do modo como Macron meteu os pés pelas mãos para justificar a venda milionária de jatos franceses à Sérvia, país que não esconde de que lado está entre Kiev e Moscovo. Nos EUA, chamam-se a isso os "powers that be", em França "les autorités en place", por cá seria, simplesmente, "quem manda".
Estranho
Caiu o primeiro F16 dado à Ucrânia e parece que não foram os russos a abatê-lo. Estas coisas são muito difíceis de saber, mas ou foi "nabice" do piloto (primeira versão) ou o avião terá sido abatido por "friendly fire" dos Patriots dados pelos americanos (segunda versão). Em todo o caso, os russos esfregam as mãos de contentes. Que guerra esquisita!
Então?
Quando se começou a falar da possibilidade da Ucrânia passar a dispor de F16, ouviu-se dizer que os caças russos de última geração se encarregariam de os destruir, logo nos primeiros recontros. Não dei conta de isso ter acontecido, mas posso ter estado distraído.
quinta-feira, agosto 29, 2024
Avós, bifes e memórias
O comentário
Há quem se esforce por entender a racionalidade subjacente à atitude de cada lado nos conflitos. Há quem tente explicar-nos que tudo está sempre a correr bem àqueles de quem se gosta. Há os que espalham que aqueles de quem não gostam acabarão inevitavelmente por ser derrotados. E estamos nisto.
América, América
As eleições presidenciais nos EUA são, em regra, muito renhidas. As diferenças entre os finalistas não costumam ser grandes. Este ano, com a recuperação de Harris e algum desvario que se sente na campanha de Trump, está tudo mais imprevisível. Se isto fosse apenas um jogo, teria imensa graça. Mas, infelizmentr, não é só isso.
quarta-feira, agosto 28, 2024
Com frieza
Olhando um perfil técnico-político, há que pôr de lado os humores adversariais. Desde que o nome cumpra "os mínimos", o poder de turno tem direito à livre escolha do nome do comissário: nessa perspetiva, reconheço que Maria Luís Albuquerque é um nome adequado. Como o seria Poiares Maduro.
Um voto em Branco ?
Há algo que surpreende: o nome de Aguiar-Branco não surgir, do lado dos apaniguados de Montenegro, como potencial candidato a Belém. Não sendo eu da mesma "freguesia", e tendo mesmo algumas reticências sobre a sua condução da vida parlamentar, não me parece, contudo, que o PSD tenha muita gente melhor.
Comissária
Montenegro teve juízo e poupou- se a um grave erro de Estado. Pode ser que alguém lhe tenha estimulado o bom senso.
Quando a Adelaide toca
terça-feira, agosto 27, 2024
O Estado das coisas
A ideia de vir anunciar, como que "saído da cartola", o nome do futuro comissário europeu no contexto de um comício partidário do PSD, releva de uma imperdoável ligeireza no tratamento de uma questão que é de natureza nacional. A acontecer, demonstraria uma evidente falta de sentido de Estado. O senhor presidente da República, que se sabe ter um apurado sentido de rigor nestas coisas de Estado, é que poderia ter uma palavra de apelo ao bom senso de quem o não está a ter.
Saudades do frei Bernardo
Governantes
No comunicado em que afastou o grupo de Mélenchon de um futuro governo, Macron lembrou as responsabilidades políticas da esquerda "que já governou". Ora, de toda essa esquerda, feitas bem as contas, a única personalidade que já governou é precisamente Jean-Luc Mélenchon.
Fofura vermelha
Há uma imensa ironia no facto de Macron ter afastado das suas escolhas para o novo governo o "La France Insoumise", do antigo ministro socialista Jean-Luc Mélenchon, e ter sublinhado a sua abertura ao Partido Comunista. Os comunistas, quando fracos, ficam deliciosamente "fofos".
segunda-feira, agosto 26, 2024
Sismando
A melhor do sismo que li por aí é que ele tirou uma selfie com o Marcelo mas ficou tremida.
Conversa arbórea
Hoje, no Porto, tive um longo almoço com um amigo, uma figura pública bastante conhecida. Abancámos à uma hora e já passava das quatro quando nos levantámos. Nessa altura, no restaurante, só havia o pessoal da casa a comer, após o trabalho, numa mesa coletiva. Gosto destes meus encontros com a agenda pré-determinada de falar sobre o que nos dá na real gana, sem preocupação das horas e sem outro objetivo que não seja o prazer de conversar com o outro. A charla, para usar uma figura do meu pai, foi, como se previa, bastante "arbórea": vinha à baila um assunto, um nome, uma história e, desse "ramo", partia-se para outro nome, para outro episódio. E daí para outro. Por mais de três horas. Que me recorde, e eu tenho boa memória, não dissémos mal de ninguém e dissémos bem de muita gente. E, claro, não pedimos nada um ao outro. O que comi? Eu comi um "bacalhau à facho" e, para sobremesa, uns "matateus". O que bebemos? Não fomos parcos, porque a vida é o que dela se leva: um "grande reserva" da Quinta dos Arciprestes. E não houve digestivos, porque eu ainda tinha de guiar até Vila Real, passando, de caminho, por uma padaria de Paredes, em busca de uma regueifa, que teimei que devia ir bem com uma goiabada cascão que arranjei numa loja de coisas brasileiras. Cada vez me convenço mais: as férias são uma canseira, é o que é!
La France
A França vive um período constitucional muito interessante. Macron finge não ter percebido que o seu papel de "chef de l'État" já não é o de um presidente da V República. A oposição faz de conta de que tem maioria para forçar uma co-habitação. Volta, Duverger!
Eu, sem sismo
De facto, recordo-me de ter acordado durante a madrugada. Mas como é vulgar isso acontecer-me nos hotéis, fico sem saber se foi o sismo ou não. Por isso, com muita pena minha, não tenho uma história pessoal do tremor de terra para a troca, como toda gente tem no dia de hoje.
A Ferry Street em Vila Real
domingo, agosto 25, 2024
Um está aqui...
E aquele dia em que Trump quase morria com um tiro e a esmagadora maioria dos comentadores logo concluiu que, com a exploração do efeito de vitimização, a eleição já não lhe escapava? Por onde andam esses comentadores? Os outros não sei, um deles está aqui.
sábado, agosto 24, 2024
Bolas
Montenegro - take two
Perguntem a Luís Montenegro o que é que ele já fez de útil pelo país, para além de distribuir recursos públicos que o governo anterior tinha amealhado. Mas não perguntem a Luís Montenegro onde é que ele legitimamente passa férias com a família e amigos. "Mind your own business!"
Montenegro - take one
Mas que raio é que nós temos a ver com as férias de Luís Montenegro no nordeste brasileiro? O homem, com a trupe amiga, não pode ir de férias para onde muito bem lhe apeteça? Há uma imprensa transformada em "voyeurs", para exploração da inveja e do miserabilismo populista.
Manda quem pode, vota quem deve
Perante esta obsessão dos portugueses em "votar" nas eleições americanas: serão os americanos quem escolherá o seu presidente e, seja ele quem for, aquele de quem gostamos ou o outro, todos iremos obedecer àquilo que a América nos impuser, na sua inescapável liderança ocidental.
La gauche
A iniciativa de Mélenchon de dispensar a presença de figuras da sua LFI num possível governo liderado pelo NFP tira argumentos a Macron para não nomear uma figura de esquerda para Matignon. À suivre.
Américas
A muitos, parece chocante que um candidato presidencial americano possa ganhar tendo menos votos do que o seu adversário. Essas pessoas esquecem que os EUA são um compromisso político entre entidades que se uniram para fazer um país, mantendo alguns processos decisórios próprios.
sexta-feira, agosto 23, 2024
Bolas
Três jornais desportivos (tradução: sobre futebol) diários, alinhados por seitas, são um significativo sintoma. E é pelos sintomas que se chega à doença.
Lume brando
Anda-se pelas estradas do país rural e, por toda a parte, o mato seco ali está, sem ser cortado, a atiçar os incendiários. Depois, se há fogo, vêm às televisões uns senhores graves, anunciar medidas, leis e coimas. Passam uns anos e volta tudo ao mesmo. Será congénito?
Poluição
Não me vem à ideia nenhum país democrático, para além de Portugal, onde os partidos políticos disponham, em permanência, fora de períodos eleitorais, de largos espaços de propaganda, no meio das cidades e nas suas principais artérias. Visitem a Avenida da República, em Lisboa, por exemplo.
Segundo tempo
Não conheço nenhum país democrático, além de Portugal, onde titulares de cargos políticos, por eleição ou nomeação, disponham de colunas regulares na comunicação social (salvo na imprensa partidária). Trata-se de uma espécie de segundo tempo de antena. Por cá, vale tudo!
quinta-feira, agosto 22, 2024
"Crystal clear"
O líder parlamentar do PSD diz ao Expresso que "teria muita dificuldade" em escolher entre Trump e Harris. Já se suspeitava, mas é bom que fique dito, alto e bom som.
Os comunistas, os russos e coisas assim
Há dias, ao fazer notar nas redes sociais que, no usufruto da saudável tolerância que se vive no nosso país, um estandarte vermelho adejava na varanda de uma sede do PCP ao mesmo tempo que uma procissão passava pela mesma rua, constatei ter conseguido convocar, pela enésina vez, os demónios do anti-comunismo mais primário. Que espero se mantenham vigilantes, para o que vem a seguir.
quarta-feira, agosto 21, 2024
A democracia do mar
É chocante o contraste entre a farta cobertura noticiosa do naufrágio de um iate de um milionário britânico e a quase indiferença mediática em face das imensas vítimas anónimas da travessia de migrantes nas mesmas águas. Afinal, só o Mediterrâneo os trata da mesma forma.
terça-feira, agosto 20, 2024
"Israel e a armadilha da História"
Recordo que me recebeu com tempo, o que é raro neste tipo de encontros. Um amigo comum tinha-lhe dito que eu "sabia muito" do Brasil e, por um qualquer razão circunstancial, Araud estava bastante interessado em Lula e nos equilíbrios políticos que prevaleciam na cidade onde eu tinha acabado de passar quatro anos. Dei-lhe a minha opinião e a conversa prolongou-se.
Desse encontro, ficou-me a impressão de ser uma personalidade autoconfiante, muito bem preparada, no género dos excelentes profissionais que a França produz, para sustentar - umas vezes bem, outras vezes com maior dificuldade - aquela que é, porventura, a mais idiossincrática, ambiciosa e "sempre-em-bicos-de-pés" diplomacia do mundo ocidental.
Araud, que ocupava já há alguns anos um dos dois lugares de topo do Quai d'Orsay - o outro é o de Secretário-Geral, lugar que em França tem uma dimensão política pouco usual - estava quase de saída para embaixador na ONU. Anos mais tarde, sairia dali para embaixador em Washington, onde terminou uma carreira brilhante. Antes, tinha sido embaixador em Tel-Aviv, posto em que havia iniciado a carreira.
Nos seus anos nos EUA, Gérard Araud deu um ar da sua graça nas redes sociais, com comentários que, não raramente, o colocaram em posições delicadas. Esse seu estilo "outspoken", pouco comum na escola de "diplomacia pública" francesa, quase que o prejudicou profissionalmente.
Desde que saiu da carreira, Araud dedicou-se à escrita e publicou alguns livros sobre diplomacia e História.
No meu saco de livros para férias trazia um pequeno volume da sua autoria sobre Israel. Tinha-o comprado em junho (terá sido posto à venda nesse mês), numa livraria de Lyon. Quase que o tinha esquecido, no caos de tudo aquilo que ainda não li e que me enche estantes e mesas lá por casa.
Nos últimos dois dias, devorei o livro. A experiência profissional de Araud, em especial as duas estadas em Tel-Aviv, conferem a este trabalho uma qualidade muito rara. Equilibrado, informado e informativo, "Israël - le Piège de l'Histoire" ajuda quem se interessa pelos problemas do Médio Oriente (singularmente, os franceses chamam à área Israel/Palestina "Proche Orient" e, embora mais no passado, "Machrek" ao Médio Oriente) a assentar ideias e a ver de forma mais clara as coisas. Dada a experiência de Araud em Washington (posto onde serviu também duas vezes), o texto traz também dados muitos interessantes sobre o histórico da relação entre os EUA e Israel.
Guantánamo, lembram-se?
Agora, todos dizem que Biden é um homem decente. Obama era um homem decente. Ambos não foram suficientemente decentes para terem terminado com a indecência que constitui a prisão de Guantánamo, onde a América guarda, há mais de 20 anos, sem os julgar, suspeitos do 11 de setembro.
segunda-feira, agosto 19, 2024
Delon
Morreu Delon. Era um ator mediano (posso ter a minha opinião, não posso?), esteticamente arrebatador para muitas mulheres (e imagino que para alguns homens). Politicamente era de extrema-direita, mas não será por essa razão que lamentarei menos a sua morte, como acontecerá quando a Bardot morrer.
domingo, agosto 18, 2024
Mélenchon e a realidade francesa
A insensata proposta de Jean-Luc Mélenchon de destituição de Emmanuel Macron pela Assembleia Nacional francesa no caso, mais do que provável, do presidente não vir a aceitar a candidata a primeiro-ministro proposta pelo Nouveau Front Populaire (NFP), é uma atitude sem senso e sem o menor realismo.
A esquerda, que teve nas eleições legislativas uma maioria relativa que lhe confere alguma legitimidade, mas não necessariamente uma carta branca constitucional para governar, desbarata, com este gesto de Mélenchon, a imagem de responsabilidade que vinha a procurar criar.
Desde o início que o sonho de Macron é isolar o La France Insoumise (LFI) do resto do NFP. Ao atuar agora desta forma, Mélenchon torna-se cúmplice objetivo do equilibrista do Eliseu, que procura disfarçar a todo o custo a irresponsabilidade que cometeu, ao provocar eleições e lançar o caos no sistema político.
Mélenchon só tem uma agenda: bipolarizar a França e tornar-se no polo oposto a Marine Le Pen, a caminho das presidenciais de 2027. Como se alguma vez mais de metade da França o fosse escolher, para barrar a extrema-direita. É apenas uma jogada pessoal, de "tudo ou nada". O resto da esquerda, que se havia unido a ele no NFP, não está disposto a alinhar nessa manobra, por todas as razões válidas.
Macron, que coneçou por desbaratar e dividir a sua própria família política, está agora tentar forjar um arremedo de governo de uma França supostamente "moderada", afastando dele o Rassemblement National (RN) e o LFI. Na sua postura "ni-droite-ni-gauche", consagra-se como o expoente do presidente do equívoco: destruiu a direita republicana e partiu a esquerda moderada, na sua obsessão por um centrismo cada vez menos viável.
Mélenchon é um demagogo irrealista? É, mas nada de confusões! Mélenchon não pode ser comparado a Le Pen. Tem uma história pessoal "honorable", pelo que equipará-lo à extrema-direita constitui um insulto soez. Uma coisa, porém, é evidente: ao proceder desta forma, Mélenchon ajuda ao golpe de Macron e puxa o tapete à unidade d esquerda.
Este é o meu Portugal
sábado, agosto 17, 2024
sexta-feira, agosto 16, 2024
Assassinatos de caráter
"O Laranjeira" (Viana do Castelo)
quinta-feira, agosto 15, 2024
Um argumento jeitoso
A fragilidade revelada perante a incursão ucraniana parece desqualificar o argumento "ad terrorem" de que um qualquer êxito na Ucrânia qualificaria a Rússia para "chegar a Varsóvia" e ameaçar o ocidente. É o ridículo como argumento, mas admito que, embora falso, dê jeito.
"Montebelo" (Alcobaça)
quarta-feira, agosto 14, 2024
"Jornalismo"
A imprensa que se dedica a coscuvilhar os rendimentos dos políticos - os seus depósitos, casas, dívidas, carros, etc - não é inocente: sabe muito bem que, sob o hipócrita alibi da transparência, está a deitar achas de inveja na fogueira de ressabiamento miserabilista, de que se alimenta o populismo mais reles. No fundo, esse "jornalismo" sabe que contribui para que cada vez seja mais difícil que gente qualificada aceite exercer cargos públicos.
Férias...
Há um mês, quem havia de dizer que Kamala Harris estaria a ameaçar Trump e a Ucrânia estaria a entrar pela Rússia dentro? Fazer comentário internacional na televisão deve ser fascinante neste cenário, em que o mundo se mostra muito mais imaginativo do que os homens. Mas estou de férias...
terça-feira, agosto 13, 2024
"Il Mercato" (Lisboa)
Das cãs
Até há poucos meses, a maioria dos comentadores abordava as gafes e a óbvia senilidade de Biden com "pinças" e um extremo pudor. Agora, saído que foi Biden, é Trump o novo alvo. No mundo e no futuro, a questão da idade dos políticos nunca mais irá sair de cena. Não tarda, chegará também a questão da idade dos comentadores...
Smarties
O poder e o voto
"Drauche"
Em França, as soluções políticas de Emmanuel Macron são, quase sempre, aquilo que alguém um dia crismou de "drauche" - uma mistura de direita ("droite") e esquerda ("gauche").
Intelectual
Quase nunca falha: quando alguém, depreciativamente, usa a expressão "pseudo-intelectual", a propósito de outrém, é porque sabe que não corre o risco de, a si, alguém vir um dia a "acusar" de intelectual.
Extrema-direita
Quase nunca falha: quando alguém contesta o conceito de "extrema-direita", ou essa pessoa é de extrema-direita ou anda lá muito próxima.
segunda-feira, agosto 12, 2024
Bólide
"Mudámos o óleo e o filtro, os travões estão bem, vimos os outros níveis, os pneus estão excelentes. O motor parece um relógio. Boas férias!". Retorqui: "Então não recomenda que se faça mais nada no carro?" Ele olhou-me com um sorriso: "Nada. Está impecável. Costuma ir ao Norte, não é? Com uma coisa destas, com estes seis cilindros, quase 2500 de cilindrada, chega lá num instante". Entrei no meu carro, que tem uns orgulhosos 18 anos, e olhei a quilometragem: 272 mil quilómetros. Valor de mercado: 5 mil euros, mais coisa, menos coisa.
Olímpicos
A abertura dos Jogos Olímpicos, ainda que prejudicada pela chuva, mereceu muitos mais elogios do que críticas. Embora um tanto franco-francesa em demasia, revelou indiscutível rasgo e ousadia. E os jogos correram muito bem. O encerramento foi, para o meu gosto, um tanto chatote. No todo: muitos parabéns à França!
Delfim Netto
Belgas
Ontem, um amigo belga queixou-se: "Então você anda a fazer ironias com as diferenças linguísticas do meu país? E já alguma vez foi ao b...
