Há pouco, deu-me para olhar para as estatísticas de visitantes deste blogue, oferecidas pelo próprio sistema. Não resisti a fazer alguma breve interpretação do números, sempre tendo presente que visitas não equivalem necessariamente a leitores. Por exemplo, não acredito ter leitores nos 176 países de onde houve visitas registadas ao blogue. Por isso, valendo o que vale, aqui fica essa análise.
O blogue começou a ser publicado em fevereiro de 2009, quando era embaixador em Paris, lugar que ocupei até janeiro de 2013. O estilo dos textos, dadas as funções institucionais que desempenhava, era relativamente contido e politicamente neutral, naturalmente sem incursões pelas questiúnculas que então dividiam o país. Os índices de leitura do blogue foram crescendo, de forma sustentada, à medida que ele se tornava conhecido.
De 2013 a 2015, tendo deixado de ter funções oficiais, o blogue mudou de registo. Passei a poder tomar posições sobre temas que, no passado, me estavam vedados. E, com naturalidade, os textos passaram a fazer transparecer a minha aberta oposição ao governo que estava então em funções, em especial em artigos que escrevia para jornais. Os níveis de leitura aumentaram bastante. Até ao período do início da “geringonça”, o número de visitantes mensais chegou quase aos 100 mil.
Quando, a partir daí, passei a apoiar a nova solução de governo, o número de visitantes declinou: ser “da situação” não só não acarreta popularidade como afasta quem é hostil...
Os “boosts” que se notam, com súbitos altos e baixos, que passam a ocorrer entre um certo momento de 2016 e o início de 2018 têm uma razão muito especial: houve ali “mão” de uma empresa que, um dia, me informou querer “potenciar” mecanicamente as visitas ao blogue, com vista a poder propor-me, com a inclusão de publicidade, a sua exploração comercial (isto “fabrica-se”, sabiam?). Como acabei por não me mostrar interessado em retirar qualquer rendimento comercial do blogue (que poderia chegar aos dois mil euros/mês, ao que fui informado), a partir de janeiro de 2018 as “máquinas” desligaram-se e o blogue regressou aos seus “verdadeiros” visitantes. Confesso que foi um sossego, porque, nesse período “eufórico” de números, eu não percebia exatamente quantas pessoas me liam e qual era o “acréscimo” artificial que essas “máquinas” faziam.
Desde o início de 2018, passou então a registar-se uma descida de visitas, até cerca de 30 mil visitantes/mês, em inícios de 2019. Pensei que esse “trend” estivesse a ditar o declínio inexorável do blogue. Porém, a partir de inícios de 2020, houve uma sensível recuperação de leitores, que ultimamente não têm baixado dos 50 mil/mês. Convém notar que, a partir de 2013, grande parte dos textos passou a ser publicada, quase simultaneamente, no Facebook, pelo que muitos dos antigos leitores do blogue se deslocaram para esta nova plataforma, onde há hoje mais de 17 mil seguidores.
Há dois fatores que, verifico, influenciam bastante os “picos” ocasionais de leitura. Por um lado, o número de textos publicados (em 2020, aumentei bastante o número de posts, porque passei a reproduzir ali alguns dos textos curtos que publico no Twitter), com o número de leitores a acompanhar esse volume crescente de produção, mês após mês. O segundo - e, verdadeiramente, o mais decisivo - é quando algo publicado no blogue suscita alguma polémica pública, com consequente procura do Google. Esses textos passam a ter uma leitura excecional e as visitas ao blogue disparam logo.
Mas há uma realidade que creio inescapável: os blogues desta natureza, isto é, de ideias e sem objetivo comercial, estão a ficar fora de moda. Além disso, os blogues individuais dão muito trabalho a alimentar e começam(os) a ser raros os que se sustentam no “mercado”. As pessoas deslocam-se, cada vez mais, para outras plataformas nas redes sociais, até porque escasseia a paciência para ler textos longos, como os que por aqui frequentemente publico. Porém, até eu um dia me cansar, este blogue vai continuando.
Quanto às estatísticas, como as que aqui trago, confesso que elas me são quase indiferentes. Às vezes, passo meses sem as olhar. Não que o número dos meus leitores seja irrelevante, longe disso!, mas porque este exercício de escrita simplória é, pelo menos no meu caso, feito muito “para mim”, para registo pessoal de opiniões e de memórias. Porém, hoje, na madrugada do dia do trabalhador, deu-me para fazer, em modo impressionista, este “trabalho de casa”, que achei curioso, em especial para uso de quantos ainda se dão ao simpático cuidado de me lerem.