quarta-feira, dezembro 10, 2014

"Safanões a tempo"

Interrogado por António Ferro sobre abusos policiais sobre detidos políticos, Salazar inquiria cinicamente sobre se não seriam legítimos alguns "safanões a tempo", por forma a prevenir atos terroristas.

Foi agora publicado, sob a responsabilidade da administração Obama, o relatório sobre as torturas ("interrogatórios intensivos", no eufemismo usado) cometidas pelas autoridades americanas, depois do 11 de setembro. Lá estão, entre outras, as simulações de afogamento, a hipotermia até à morte, a "estátua" por vários dias, a tortura do sono por uma semana e outras práticas bem criativas para extrair aos detidos, não a confissão daquilo que teriam feito, mas informações prospetivas sobre aquilo que os seus amigos poderiam vir a fazer. Eu sei que o autor não está na moda, mas saiu há meses um livro, intitulado "Confiança no mundo", onde este assunto foi tratado com algum cuidado e que pode ser interessante revisitar.

Comparando com a "qualidade" e a "técnica" das torturas praticadas nessa altura pela democracia americana, posso adivinhar que alguns nostálgicos do salazarismo devem estar a pensar, por esta hora, que, afinal, aquilo que a PIDE/DGS fazia eram quase brincadeiras de crianças.

Seria importante que alguém se lembrasse destas revelações quando, daqui a meses, o "State Department" americano vier, por aí, com o seu relatório sobre Direitos do Homem nos vários países do mundo, criticando as condições em algumas esquadras de polícia portuguesas e coisas assim. Neste ano, como no passado, nem só Guantanamo serviria de exemplo; tivemos há dias as imagens de um assassinato por asfixia, pela polícia, de um cidadão desarmado, a agitar-nos ainda a consciência. Pena é que uma espécie de temor reverencial ate então as mãos das autoridades nacionais, impedindo-as de reagir à letra. A pena de morte na Guiné-Equatorial mobiliza-as (e bem!), mas o silêncio sobre práticas idênticas na auto-proclamada maior democracia do mundo merece-lhes um prudente e regular silêncio.

Sempre a aprender

Há pouco, na rádio, ouvi pela primeira vez a palavra "femicídio" para designar o assassinato de mulheres. No fundo, trata-se da qualificação feminina do "homicídio", embora agora me interrogue sobre o termo específico para designar o assassinato de homens.

Ontem, li uma comunicação emanada de uma "adidância" militar. Décadas de carreira diplomática, nomeadamente alguns anos de Brasil, não haviam chegado para me dar conta da existência do conceito. E, claro está!, a "adidância" também se aplicará aos adidos culturais, económicos, de imprensa, sociais, do SEF, do SIED, da PJ e outros que tais. E por que não aos "adidos de embaixada", o primeiro degrau da carreira diplomática? Não desgosto do conceito: tem "movimento"...

Aprender até morrer!

Horas extraordinárias

Confesso que não entendo! Por que diabo as audições nas Comissões parlamentares de inquérito não ocorrem com a normalidade dos horários das pessoas comuns? Por que é que não começam às 9.00 ou 9.30 e encerram às 13.00, recomeçando às 14.30 ou 15.00 e encerram às 17.30 ou 18.00? O que é que é que leva - será a necessidade de dramatização? - os nossos deputados a entrarem com as suas reuniões pela noite dentro? Não é a pressa, com certeza, caso contrário já há semanas que podiam ter começado. O que é que se ganha com deputados e convocados exaustos, em maratonas patéticas? Responda quem souber, porque eu não sei.

terça-feira, dezembro 09, 2014

Presunção

 
Falemos claro. Está criado em largos setores da sociedade portuguesa o sentimento de que José Sócrates é culpado. O “esquema” das ligações financeiras, que alguém passou à comunicação social para credibilizar a “operação Marquês”, caiu como “sopa no mel” na convicção de quantos, de há muito, tinham o antigo primeiro-ministro como um potencial, ou mesmo consumado, delinquente. O que agora sucedeu só vem confortar aquilo em que sempre acreditaram. Julgo mesmo que, para essas pessoas, dificilmente é concebível outro desfecho que não seja a prisão por longo tempo de José Sócrates.
 
José Sócrates não beneficia assim da presunção de inocência, em grande parte da opinião pública. Pelo contrário, há mesmo uma forte presunção de culpabilidade que o afeta e que, nos dias de hoje, leva muitas pessoas a tentar apenas saber como se passaram as coisas e, em nenhuma hipótese, se esses factos são ou não verídicos ou se, sendo-o, pode haver para eles alguma simples e plausível justificação.
 
A perplexidade perante as acusações a José Sócrates atingem também, não vale a pena escondê-lo, muita gente que tem por ele um real apreço e que valoriza muito daquilo que fez como governante. Gente que não se revê no labéu de um Sócrates “coveiro” do país e que tem a sua leitura para o que aconteceu em termos financeiros até 2011. Inundadas por notícias que remam todas no mesmo sentido, muitas dessas pessoas mantêm a esperança de que Sócrates seja capaz de clarificar tudo e desmontar a operação instalada à sua volta. Outros há ainda que, escudados no que foi a falta de fundamento para outras acusações surgidas no passado, alimentam a tese de uma cabala urdida pelos operadores judiciários.
 
Muito se tem falado sobre o papel da comunicação social neste processo. Grande parte dos meios de comunicação, confessando-o ou não, já tomou partido e esse partido não é o de José Sócrates. Não vale a pena negar nos editoriais o que os títulos não escondem.
 
Sobre este assunto eu sei tanto como o leitor, isto é, nada. Como me recuso a deixar-me cair no “achismo”, vou acompanhando as notícias, sou delas dependente e procuro pensar friamente.
 
Tenho, porém, duas certezas.
 
Se José Sócrates fosse culpado por atos que tivesse cometido no exercício das suas funções de Estado, por ações ou omissões dolosas que pudessem ter traído a confiança que milhões de portugueses nele depositaram, tratar-se-ia de algo muito mais grave do que os próprios delitos. A vida pública concede a um grupo restrito de cidadãos a possibilidade de, por mandato de outros, gerirem o país. Quem trai este compromisso merece o opróbrio definitivo.
 
Se o caso contra José Sócrates não for suficientemente sólido, se do trabalho dos acusadores viesse a sair apenas um novelo de suspeições circunstanciais, um pacote de meras convicções, estaríamos perante uma canalhice sem nome, uma ação miserável sobre um homem, que credibilizaria então todas as suspeições que existem sobre a instrumentalização do setor da Justiça.
 
Artigo que hoje publico no "Diário Económico"

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Soares e Freitas



Ontem, no almoço comemorativo dos 90 anos de Mário Soares estava, naturalmente, Freitas do Amaral. E lembrei-me do combate entre ambos, em 1986. E de mim, por essa altura.

Tinha acabado de chegar de Angola, em novembro de 1985. Passara mais de três anos na embaixada em Luanda, em tempo de guerra civil, com recolher obrigatório permanente, numa cidade de vida difícil e muitos riscos. Pouco tempo antes, o diretor-geral dos Negócios políticos do MNE passara por Luanda e sondara-me sobre se eu estaria disposto a vir mais cedo de Angola, sendo que o "timing" normal seria meados de 1996. Oferecia-me a oportunidade de um interessante lugar de chefia em Lisboa, na estrutura dos assuntos europeus, que fora criada para a próxima entrada de Portugal nas comunidades. Isso mudaria inesperadamente a minha vida, mas decidi arriscar, não apenas porque estava bastante cansado de Angola mas, principalmente, pelo interesse que tinha em aproveitar essa experiência inédita na aventura europeia - mais interessante ainda porque, à época, eu estava muito longe de ser um entusiasta pelas ideias europeias. Fiz as malas um tanto à pressa e, ainda com uma casa em obras em Portugal, saí de Luanda e vim para Lisboa. Nesse entretanto, no mês anterior, tinha havido eleições legislativas em Portugal, que o PSD ganhara, já com Cavaco Silva. Quando cheguei às Necessidades, fui apresentar-me ao secretário-geral do ministério. Notei-o algo embaraçado, pouco à vontade. É que me esperava uma desagradável surpresa: o novo governo decidira não confirmar o convite que me fora feito. Eu não teria a chefia prometida. Melhor: não teria mesmo nenhuma chefia! E, por várias semanas, nem lugar para me sentar iria ter... 

Não era assim o melhor o meu estado de espírito, nesse início de 1986. Na política e não só. A campanha eleitoral em curso em Portugal não me entusiasmava muito. À esquerda, Mário Soares disputava com Salgado Zenha e Maria de Lurdes Pintasilgo a possibilidade de bater Freitas do Amaral, numa possível segunda volta. Tinha a maioria dos meus amigos distribuídos por aqueles três candidatos. Como cidadão, a minha preferência, embora sem excessivo entusiasmo, ia para Zenha, mas eu nem sequer estava inscrito para votar em Portugal. Confesso que então me assustou bastante o discurso da direita, os chapéus de palhinha e os "loden" verde-garrafa que marcaram a campanha de Freitas, por detrás de quem sentia escondido um Portugal contra o qual, pouco mais de uma década antes, eu fizera o 25 de abril. Algumas das caras que rodeavam Freitas do Amaral eram sinistras e não me mereciam a menor confiança democrática. Por semanas, criei mesmo a exagerada sensação de que a eventual chegada deste a Belém poderia significar o início de um regresso ao "fascismo". Por isso, a vitória de Mário Soares, numa muito difícil segunda volta, acabou por ser um dos mais felizes dias políticos da minha vida. Nessa bela noite de Lisboa, avariei, por excesso de utilização, a buzina do meu carro!

Uns anos mais tarde, numa deslocação a Nova Iorque quando estava no governo, andando pela rua com Freitas do Amaral, depois de um jantar, confessei-lhe: a possibilidade da vitória dele, em 1986, havia sido, para mim, um dos momentos mais angustiantes, como cidadão. Freitas do Amaral sorriu e disse-me: "Espero que, com o passar dos anos, tenha percebido que eu não era um fascista". Tinha toda a razão. Embora o futuro nunca me tenha dado uma absoluta certeza daquilo que Freitas do Amaral politicamente é, reconheço, sem a menor dificuldade, que não é um "fascista". E que, pelo menos por ele, o meu susto de 1986 era exagerado. Mas lá que essa vitória de Mário Soares foi muito saborosa, lá isso foi...  

Clain d'Estaing

Os artigos que Mário Soares enviava de França, onde estava exilado, para o jornal oposicionista "República", eram regularmente cortados pela censura.
 
Raul Rego, diretor do jornal, sondou um dia o serviço desse "Exame Prévio" sobre se poderia nomear como correspondente do jornal, em Paris, um primo do presidente Giscard d'Estaing. Aos coronéis do "lápiz azul" a ideia não mereceu objeção. E assim passaram a surgir no "República", com regularidade, textos de análise da situação política francesa subscritos por "Clain d'Estaing", o tal "primo" de Giscard. Que era nem mais nem menos do que Mário Soares.

Os incompetentes da censura nunca foram capazes de associar a homofonia do nome do correspondente à palavra francesa para "clandestino"...

Recordo aqui esta historieta, nestes que são os "dias" de Mário Soares.

As praxes e os militares

Há uns meses, o país indignou-se com a tragédia do Meco e, por umas semanas, discutiu as praxes. Depois, com a cobardia das autoridades universitárias, tudo voltou mais ou menos ao mesmo. Deparei, há uns tempos, com um grupo de energúmenos (significativamente da mesma universidade) a humilharem colegas no jardim do Campo Grande, em Lisboa. Dias depois, numa noite chuvosa e fria de Viana do Castelo, assisti a práticas idênticas. Porque a violência, mesmo "consentida", é crime, senti-me tentado a chamar a polícia. Desisti da ideia, pela certeza da inutilidade do gesto.

Há dias, a televisão trouxe-nos o caso de práticas violentas ocorridas nos Pupilos do Exército, bem documentadas e sem margem para quaisquer dúvidas. Trata-se do quarto caso, em duas semanas. Há décadas que estas denúncias ocorrem, sempre seguidas de "rigorosos inquéritos" de cujos resultados ninguém mais ouve falar. Há como que uma aceitação tácita deste tipo de agressões, protegidas por uma espécie de "omertà" que silencia as crianças e protege os agressores, com muitos pais cúmplices dessa atitude.

É pena que a imprensa não siga este caso com atenção, não deixando que ele caia no esquecimento. É triste que a hierarquia militar se cale, por um aparente corporativismo castrense que a não dignifica. E se a Associação 25 de Abril, cujos membros tanto se bateram pela democracia, se interessasse pelo assunto, provando que a liberdade não se perde ao atrevessar a porta de armas das instituições militares?

domingo, dezembro 07, 2014

Mário Soares

Começo por uma declaração de interesses: sou amigo de Mário Soares.

Vi-o pela primeira vez em 1969, à porta da Sociedade Nacional de Belas Artes, na rua Barata Salgueiro, em Lisboa, numa noite em que o então líder da oposição socialista pretendia aí fazer uma "sessão de esclarecimento". A polícia proibiu o "ajuntamento" e ouvi Soares, com voz forte e indignada, a contestar a decisão diante do famigerado capitão Maltez, antes deste ter ordenado a dispersão daquelas dezenas de pessoas, "por ordem do governo". Lembro-me bem de Soares perguntar, jocoso: "e que ministro é que deu a ordem? O da Agricultura?". Um grande jarrão à entrada de um vizinho restaurante chinês, atrás do qual me refugiei com uma amiga, ia sendo a vítima colateral da subsequente fuga dos circunstantes.
 
Cruzaria depois Soares, ainda nesse ano, em duas outras reuniões da oposição. Eu estava então noutra onda política, longe das suas ideias, mas apreciava-lhe já a coragem e a determinação. Depois das "eleições" de outubro desse mesmo ano, em que Soares e os seus amigos tiveram um resultado muito fraco - relativamente ao resto da oposição -, o líder socialista saiu do país e, mais tarde, seria obrigado a permanecer no estrangeiro, sob pena de ser preso se regressasse a Portugal. Só aqui chegaria em 29 de abril de 1974.
 
Verdadeiramente, a primeira conversa que me lembro de ter tido com Mário Soares seria quase 20 anos depois, em Londres, na nossa embaixada, aquando da sua visita de Estado, como presidente, ao Reino Unido. Falámos desses episódios da luta contra a ditadura e de amigos comuns. Criámos uma imediata relação de simpatia.
 
Em fins de 1995, dar-me-ia posse como membro do governo e, poucos dias depois, acompanhei-o a Israel e à Palestina, escassos meses antes dele abandonar Belém. Lembro-me de uma frase que então me disse: "Sabe que, em 10 anos como presidente, é a primeira vez que sou acompanhado numa visita oficial ao estrangeiro por um membro do governo da minha família política?" Era verdade. Fui o primeiro e o último, embora Soares me tivesse contado histórias que revelavam o cordial entendimento que tinha tido com alguns governantes do "cavaquismo", período a que Guterres tinha posto um ponto final, semanas antes.
 
Desde então, convivi bastante com Mário Soares. Tive o gosto de o ter a prefaciar e a apresentar um livro meu. Andei com ele por vários locais, de Estrasburgo a Roma, de Brasília a Paris. Em Lisboa, na sua Fundação e em várias outras ocasiões, tive o ensejo de trocar com ele impressões sobre o mundo, sobre a Europa e sobre as pessoas que ele cruzou. Integrei a "comissão de honra" da sua frustrada terceira candidatura à Presidência da República, que achei dispensável mas que entendi ter o dever moral de acompanhar. 
 
Tenho orgulho em poder hoje afirmar que sou amigo de Mário Soares. Tenho por ele um imenso respeito, uma profunda consideração pela sua postura cívica, pela magistratura ética que representa para o nosso país. No passado, nem sempre estive de acordo com ele e, ainda hoje, divirjo de algumas atitudes que toma ou de declarações que faz, sendo que essa divergência é muitas vezes mais pela forma do que pelo conteúdo. Mas essa é a "graça" de Mário Soares: ter a coragem da opinião forte, não se importar com a polémica, saber arrostar com a crítica, não se calar perante a indignação. Ter-lhe-ia sido mais fácil, se quisesse passar imune por entre as pingas da conjuntura, remeter-se a um silêncio de "Colombey", construir um currículo de silêncios graves, numa parcimónia de palavras e gestos que é a patine que molda os estadistas de cera. Soares não é assim e felizmente que o não é.
 
Mário Soares faz hoje 90 anos. Vou estar com ele e com alguns dos seus muitos amigos para lhe dar um forte abraço e para lhe agradecer a ventura que é tê-lo connosco. Soares não durará sempre e, quando um dia desaparecer, tenho a certeza que o nosso país ficará tristemente órfão do seu exemplo cívico.

sábado, dezembro 06, 2014

Tratado orçamental

Parece-me pouco sensato ouvir agora, da boca de alguns responsáveis da nova direção do PS, a ideia de que a anterior liderança não devia ter concedido o seu voto ao Tratado Orçamental europeu, quando, em 2012, esse instrumento jurídico foi submetido à ratificação pelA Assembleia da República, depois da sua assinatura.

O Tratado Orçamental foi uma medida de reforço do rigor macroeconómico desenhada para tentar acalmar os mercados, num tempo de grande incerteza. Não se nega o seu caráter constrangente e mesmo o eventual irrealismo daquilo que prevê em termos de metas. O PS votou a favor do Tratado na Assembleia da República. O que teriam feito os socialistas se acaso fossem poder em Portugal, à época? Se acaso tivessem conduzido o país a um voto contra, Portugal teria ficado isolado e seriam acusados de um gesto de grande irresponsabilidade. Basta pensar o que aconteceu com os socialistas franceses que, depois de uma grande agitação retórica antes das eleições presidenciais, acabaram por subscrever o Tratado, logo que regressados ao poder.

Alguns poderão dizer: mas se, em 2012, havia na AR uma maioria de direita suficiente para fazer aprovar o Tratado, não poderia PS ter evitado "sujar as mãos" com esse seu voto? Não. O PS é um partido de poder, não poderia ter gestos oportunistas dessa índole sem atingir a sua credibilidade política internacional. António José Seguro fez muito bem em fazer votar o Tratado Orçamental.

Outra coisa, agora, é a necessidade do PS, como António Costa tem vindo a defender, se juntar a quantos, um pouco por toda a Europa que subscreveu o Tratado, pugnam por uma sua leitura "inteligente", nomeadamente no tocante à discussão dos fundamentos em que assenta o conceito de "défice estrutural" e na questão dos critérios caraterizadores dos ciclo económicos, que poderão flexibilizar o rigor dos seus preceitos.  Essa, sim, é uma "bonne guerre".

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Gastronomia

Hoje, a Academia Portuguesa de Gastronomia, presidida por José Bento dos Santos e da qual faço parte, procedeu, no Grémio Literário, à entrega anual dos seus prémios. Com um almoço, naturalmente.

Dentre os prémios, quero destacar o prémio "Maria de Lourdes Modesto", destinado a premiar, "a título excecional", "um restaurante de cozinha tradicional portuguesa de grande qualidade". A distinção, cujo merecimento pessoalmente reitero, foi para o transmontano "Geadas", um excelente restaurante da cidade de Bragança.

Na ocasião, tive o gosto de conhecer a patrona do prémio, Maria de Lourdes Modesto. Para além de fazer parte da memória televisiva da minha geração, a ela se deve uma cuidadosa recolha de receituário culinário português que muito tem contribuído para a fixação desse nosso património cultural.

"Tudo pela Palestina?"

Há pouco mais de três anos, Paulo Portas, num sound bite mais apropriado a um título de “O Independente” do que a uma declaração de um responsável pela política externa de um Estado, saiu-se com a frase “Tudo pela Palestina, nada contra Israel”. Tentar resolver a quadratura do círculo é uma atitude estimável, mas gratuita.
 
A comunidade internacional vive, desde há anos, com o angustiante dilema de tentar proteger Israel do recorrente extremismo de alguns dos seus dirigentes. Simultaneamente, e não obstante a diversidade na abordagem, o mundo tem procurado dar alento, político e financeiro, à estruturação do Estado palestino, ciente de que não pode deixar de responder à profunda injustiça que atravessa o destino do seu povo.
 
Israel parece agora tentado a uma fuga para a frente a qual, a concretizar-se, pode vir a ter consequências naquilo que, até agora, era a sua identidade inatacável: a democraticidade do seu regime. Ao optar pelo caráter judaico do seu Estado, Israel caminha para um regime de “apartheid” – e devemos ter a coragem de dizer estas coisas com todas as letras.
 
É lamentável que o governo português revele uma imensa tibieza face ao crescente movimento europeu no sentido de reconhecer o Estado da Palestina, como se já não tivesse bastado a lamentável postura assumida por ocasião da integração da Palestina na UNESCO, que foi depois necessário retificar de forma atabalhoada na ONU. A política externa portuguesa deve mostrar-se coerente com o sentido de responsabilidade que revelou, por muitos anos, ao abordar a questão israelo-palestina. Assim, deveria agora ter estado na linha da frente deste reconhecimento, não ficando comodamente à espera da sua quase inevitabilidade, com conforto parlamentar, para fazer esse gesto. "Prudência e caldos de galinha" não ilustram uma postura internacional e tentar passar despercebido e ganhar tempo, apenas para agradar a amigos poderosos, é apenas uma forma de poder ser vir a ser acusado de oportunismo. Isso não dignifica Portugal, como nas Necessidades deviam saber.
 
Artigo que hoje publico no "Diário de Notícias"

Interrogação

Hoje, no "Diário de Noticias", publico um artigo que intitulei "Tudo pela Palestina?".
 
Olho agora para o "online" do jornal e verifico que o ponto de interrogação desapareceu. Apenas no "online". Mas muda tudo. É a vida!

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Sem Camarate

O exercício não deixa de ser fascinante, embora sem consequências.
 
Qual teria sido o futuro político de Francisco de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa se, na noite de 4 de dezembro de 1980, não tivessem morrido no desastre aéreo (fujo de qualificar como acidente ou atentado) de Camarate?
 
Há certezas: Eanes ganharia de igual modo as eleições presidenciais, dois dias mais tarde, contra Soares Carneiro. E Sá Carneiro não continuaria na chefia do governo. Mas haveria novas eleições, com Eanes a tentar "cavalgar" a sua vitória, ou a solução Balsemão iria de qualquer forma ter lugar, como aconteceu? E que faria Francisco Pinto Balsemão como primeiro-ministro, com Sá Carneiro fora de cena, a guardar para si a verdadeira legitimidade social-democrata? Sabe-se que Freitas do Amaral também não continuaria no executivo. E a Aliança Democrática? Manter-se-ia? Era muito pouco provável que Adelino Amaro da Costa viesse a ser a "cara" do CDS num governo Balsemão, tanto mais que fora ele o responsável pela falhada escolha de Soares Carneiro como candidato da direita. Que governo, liderado pelo PSD, surgiria no imediato?
 
Sá Carneiro teria hoje 80 anos. Qual teria sido o seu percurso desde então? Se não tivesse havido Camarate, seis anos depois, Portugal teria entrado de igual modo para a Europa comunitária. Que oportunidade teria entretanto tido Cavaco Silva para se afirmar no seio do PSD? Como teria sido a evolução da relação entre Sá Carneiro e Mário Soares, o verdadeiro contraponto geracional que se esperaria? Em 1986, Sá Carneiro teria sido eleito contra Mário Soares, que derrotou Freitas do Amaral com grande dificuldade? O carisma de Sá Carneiro seria suficiente para criar um grande partido de direita, absorvendo o CDS?
 
E Amaro da Costa? Continuaria a subordinar-se à tutela de Freitas do Amaral, ele que era politicamente muito mais hábil? Teria hoje 71 anos. Será que ele teria conseguido garantir uma melhor progressão dos centristas no espetro político, escapando aos períodos de grande instabilidade que afetaram o CDS?
 
Tudo isto são especulações. A realidade é o que está aí. 

As fotos

Há bastantes anos, num momento complexo de uma negociação financeira europeia, em que a posição portuguesa era muito delicada, dei uma entrevista a um jornal diário. Foi um prestação relutante, pela sua oportunidade, só realizada dada a particular consideração que a jornalista que a solicitou me merecia. Acrescia o facto de estar engripado e com um pouco de febre. A conversa correu bem, mas, talvez talvez pela minha concentração, distraí-me e não atentei no deambular do fotógrafo pelo gabinete. No dia seguinte, ao olhar para o jornal, dei-me conta do texto ter sido ilustrado por fotografias em que surjo com um braço estranhamente cruzado sobre a testa e numa atitude facial que poderia significar quase desespero. A seleção feita pelo paginador privilegiou imagens que pretendiam ilustrar um tempo de "tragédia". Na realidade, apenas refletiam um entrevistado febril.

Recordo-me que a jornalista que fez a entrevista ficou desagradada e me pediu desculpa pelo modo como ela fora tratada pelo jornal, no que havia sido, objetivamente, um ato de desrespeito pouco consentâneo com um profissionalismo correto. 

Com um fotógrafo a passarinhar à nossa volta durante largos minutos, é impossível que ele não fixe instantes que, se isolados, podem parecer ridículos. Os nossos gestos não são controlados ao ponto de mantermos sempre a maior das elegâncias, particularmente se estivermos descontraídos a falar com alguém. Todos nós temos a experiência de eliminar, com regularidade, fotografias em que achamos que "estamos mal". Imagine-se agora que era feito um álbum nosso precisamente com a coleção dessas imagens...

Tenho-me lembrado disto ao observar as fotografias que os jornais escolhem, nos últimos dias, para acompanhar as reportagens sobre José Sócrates. É uma interessante ilustração do modo como a seleção das imagens, o caráter sombrio dos planos ou os esgares captados numa imagem de rua ou numa pausa de uma cerimónia, servem para transmitir uma nota subliminar, ligada ao sentido da mensagem que o texto pretende fazer passar. Sublinho que esta minha observação não tem qualquer sentido crítico. É perfeitamente natural que isto assim suceda, que as reportagens procurem, nos arquivos, os apoios de imagem mais adequados, mas isso não impede que ache interessante que saibamos "desconstruir" o modo como as nossas sensações são condicionadas.

Uma questão talvez incómoda

Há semanas, num jantar com um antigo ministro de uma das antigas colónias portuguesas, que tinha vindo ao nosso país para estar presente numa evocação da Casa dos Estudantes do Império, coloquei-lhe uma questão: será que os novos países emergentes da colonização portuguesa manifestaram já o seu reconhecimento àqueles que, em Portugal, sob a repressão da ditadura, lutaram a seu lado, defendendo a independência dessas colónias?

A oposição ao Estado Novo chegou tarde ao anti-colonialismo. O patriotismo do movimento republicano, no final do século XIX, tinha a defesa das colónias no eixo da sua doutrina. Já no século XX, Portugal forçou a sua entrada na Grande Guerra como forma de poder sentar-se à mesa dos vencedores, que decidiria o futuro dos territórios. Cunha Leal e Norton de Matos, figuras destacadas da oposição a Salazar, eram orgulhosos "colonialistas", tendo-se confrontado nesse terreno com Salazar em termos meramente metodológicos. Nos anos 50, perante o movimento independentista que se generalizou às colónias britânicas, francesas e belgas, os democratas portugueses permaneceriam por muito tempo numa linha recuada.

Embora com um "timing" bastante atrasado face aos seus congéneres europeus, verificaremos que os comunistas portugueses foram os primeiros a iniciar uma leitura sobre a inevitabilidade da independência das nossas colónias. O desencadear da luta armada em Angola, e a tomada do Estado da Índia, em 1961, marcam o início desse novo tempo. Se nenhuma hesitação se pode igualmente registar da parte dos movimentos de extrema-esquerda, surgidos na vida política portuguesa a partir de 1962, já na área socialista o tema levou muito mais tempo a maturar: durante as "eleições" legislativas de 1969, o discurso "ultramarino" da Ação Socialista Portuguesa (ASP), liderada por Mário Soares na CEUD, manteve-se ainda muito equívoco. Já antes, aliás, na origem da crise da Resistência Republicana e Socialista, que daria origem à cisão entre a ASP e a Ação Democrato-Social, a questão colonial havia estado já ligeiramente presente.

Pode dizer-se que as eleições de 1969 representaram o momento em que a questão da luta anti-colonial passou a estar no centro do discurso oposicionista. É nessa altura que começam a multiplicar-se ações muito concretas de apoio aos "movimentos de libertação", com uma curiosa incidência nos meios católicos, enfunados pela leituras radicais do Concílio Vaticano II, de que o episódio da Capela do Rato (1972) é um exemplo importante. Exemplos como o CIDAC (Centro de Informação e Documentação Anti-Colonial, reconvertido, após 1974, em Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral) e as ações violentas conduzidas pelas Brigadas Revolucionárias e pela Ação Revolucionária Armada são apenas algumas dentre as muitas estruturas cuja ação ilustrou, de forma muito clara, essa atitude anti-colonial no seio da oposição à ditadura. Note-se que a repressão policial tinha as expressões de apoio à luta armada nas colónias como alvo prioritário.

Apoiar a independência das colónias nunca foi fácil. Com tropas portuguesas a morrerem nas frentes africanas, no combate aos movimentos independentistas, estava longe de ser cómodo assumir, em Portugal, um apoio a esses grupos. Quem o fez arrostou - e às vezes ainda arrosta - com um labéu de "traidor", que se estendeu com particular virulência aos desertores. Ter razão antes do tempo é, quase sempre, bastante complexo.

E volto ao princípio, para me interrogar sobre se os novos Estados, passados que são quase 40 anos sobre as suas independências, marcaram já, de forma clara e inequívoca, o seu reconhecimento histórico face a quantos, deste lado europeu - mas também, em alguns casos, no seu próprio território -, arriscaram a sua vida e a sua segurança para apoiarem uma luta que consideravam justa. Não creio que isso tenha sido feito e tenho pena: essa seria uma ação pedagógica junto das próprias opiniões públicas das antigas colónias, que assim melhor perceberiam que os seus povos puderam contar, a partir das suas primeiras movimentações de contestação dos poderes de Lisboa, com bons e leais amigos na "frente" do próprio país colonizador, que por eles correram fortes riscos e muitos dos quais pagaram por isso um imenso preço. Talvez a própria imagem de Portugal junto desses novos Estados pudesse vir a ganhar com isso. Mas, um gesto desses, a ser feito, teria de sê-lo num prazo de tempo razoavelmente rápido. É que essa geração portuguesa começa já a desaparecer.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

A esquerda e as greves

Às vezes, há a ideia que ser de esquerda é estar, como regra, ao lado daqueles que fazem greves. Assim, não sei o que há-de fazer alguém que se considera de esquerda e que se opõe:
 
- às greves do pessoal da TAP, que afetam dia após dia, o valor da companhia e parecem ter como objetivo desvalorizá-la para a "passar a patacos" na privatização;
 
- às greves de enfermeiros por altura do surto da "legionella";
 
- às greves dos maquinistas da CP, que já se fazem substituir por atrizes brasileiras na condução a alta velocidade;
 
- às greves dos professores comandados pelo inefável Mário Nogueira, cujos estudantes a quem deu a última aula devem estar já à beira da reforma.

Concerto de beneficência

A Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica (APELA) organiza no Teatro Nacional de São Carlos um concerto para angariação de fundos, na sexta-feira, dia 12 de dezembro.
 
O reduzido número de doentes a nível mundial desta enfermidade genética (em Portugal são "apenas" 700) levou ao desinteresse dos laboratórios no investimento em investigação desta terrível doença degenerativa. Nos Estados Unidos iniciou-se um movimento de sensibilização (o "ice bucket", o balde de gelo) que levou personalidades como Bill Gates a doar 8 milhões de dólares. Em Portugal, os amigos e familiares desses doentes - e eu conheço alguns - tentam alertar e mobilizar as boas vontades para a gravidade do problema. Todos se recordarão, nas televisões e jornais, das cenas dos "bandes de gelo", com vista à recolha de fundos. Mas é necessário fazer mais e daí a razão deste concerto.
 
Na primeira parte do concerto, haverá música sinfónica com a Orquestra do Norte: obras de Manuel de Falla e Luis de Freitas Branco. A segunda parte será dedicada à ópera, com o cantor russo Sergei Leiferkus, a soprano Elmira Karakhanova e o baixo Misha Gravilov, acompanhados pela Orquestra do Norte, dirigida pelo seu maestro titular, José Ferreira Lobo. Serão interpretadas diversas árias e duetos famosos.
 
Pode reservar os seus bilhetes através do 910690559 e obter informação complementar através do mais gala.apela@gmail.com

Necessidades

É um retorno inesperado, confesso. Não fazia parte dos meus cenários de futuro regressar a questões ligadas à vida interna dos Negócios Estrangeiros, das quais me tinha afastado, por completo. Porém, a persistente insistência de um grupo de jovens diplomatas fez com que aceitasse, pelo período de um ano, regressar às lides do associativismo sindical diplomático.
 
A difícil situação que atravessa a "condição diplomática" obriga-me a dar um contributo, ainda que modesto, à organização dessa inquietação no seio da Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP), como candidato à presidência da sua Assembleia Geral. É uma lista que tem os meus colegas e amigos Manuel Marcelo Curto e Josefina Carvalho, respetivamente, na chefia da Direção e do Conselho fiscal, acompanhados por gente das novas gerações que consideramos ser nosso dever apoiar, nestes tempos complexos.
 
Há precisamente 20 anos, tinha feito parte, como vice-presidente, de uma Direção da ASDP chefiada por António Santana Carlos, que desenvolveu um interessante trabalho de diálogo com o poder político de então, para a revisão do Estatuto da carreira diplomática. Agora, a agenda da ASDP centra-se precisamente no mesmo tema. Toynbee terá razão?

terça-feira, dezembro 02, 2014

Palestina

Quando, há algum tempo, publiquei no "Diário Económico" um artigo sobre Israel, muito crítico da posição do governo de Telavive, tive fortes mas espectáveis reações. Uma amiga israelita ofendeu-se e deixou de me falar, um amigo português telefonou a dizer esta frase curiosa: "Só hoje acreditei que não tens ambições políticas. Ninguém que as tivesse poderia escrever o que escreveste". Como se eu não soubesse isso.

Dou uma contribuição mais para essa avaliação ao dizer agora que acho profundamente lamentável que o Estado português revele uma imensa tibieza face ao crescente movimento europeu no sentido de reconhecer o Estado da Palestina. Como se já nos não tivesse bastado a triste postura assunida por ocasião da integração da Palestina na UNESCO, que foi depois necessário retificar de forma atabalhoada. A política externa portuguesa deveria mostrar-se leal e coerente com momentos do seu passado em que revelou um forte sentido de responsabilidade ao abordar a questão israelo-palestina e afirmar-se agora na linha da frente deste reconhecimento, não ficando comodamente à espera da sua quase inevitabilidade para fazer esse gesto. "Prudência e caldos de galinha" não ilustram uma postura internacional e tentar passar despercebido e ganhar tempo é apenas uma forma de poder ser vir a ser acusado de mero oportunismo. Isso não dignifica Portugal, como nas Necessidades deviam saber. Não me agrada trazer polémica a um terreno em que o consenso deve prevalecer, mas há limites.

segunda-feira, dezembro 01, 2014

O mistério da RTP

Com as trapalhadas supervenientes, dos vistos "gold" ao caso Sócrates, já quase esquecemos a desgraça do sistema informático da Justiça ou a incompetência sem par no início do ano letivo. 

Quando vivi no Brasil, num jantar, no auge de um escândalo qualquer, ouvi um político, entre o irónico e o sério, dizer mais ou menos o seguinte: "Temos de aguentar a pressão dos mídia uns dias mais. É que, pela estatística, deve estar por aí a surgir um outro caso que logo fará esquecer este..." E Portugal é uma "colónia" brasileira nesta matéria.

Mas uma coisa é ter de sofrer as eventualidades, outra é ser delas fautora. E, nesse aspeto, este governo não para de surpreender. É o que acontece com a crise na RTP, onde se espera que não venham a ser assacadas culpas à oposição (há ainda uma hipótese: dizerem que tudo é fruto da saída de Sócrates de comentador). Com uma inabilidade quase inédita no tratamento da RTP (e fazer pior que outros governos, de diferente orientação, é entrar para o Guiness!) este executivo fez "gato e sapato" da RTP, nomeou, desnomeou, teve e deixou de ter estratégias para a RTP 2, para a RTP i, criou conselhos, legislou sobre serviço público. O habitual na escola "agora é que é!" Lá dentro, na RTP mas também na RDP, vive-se um ambiente angustiado, de imensa incerteza, de grande desânimo e preocupação.

A propósito dos contratos do futebol - e seguramente mobilizado pelos concorrentes da televisão estatal, a quem é forçoso "ouvir", em época pré-eleitoral... -, está hoje estabelecida uma enorme confusão entre uma administração nomeada pelo governo e um conselho estratégico pelo governo nomeado. Se são tudo "valores entendidos", como antes se dizia, porque não se coordenam? Ou, como na anedota se recomendava: organizem-se! 

Jogos de guerra ou brincar com o fogo

(Vai para 10 anos (3.2.2015), publiquei aqui este texto, sob o título em epígrafe. Nos dias de hoje, imagino que a sua leitura possa chocar ...